Opinião: O beijo
Interessa aqui analisar, na perspetiva comunicacional, o mediático caso Luis Rubiales que tomou proporções mundiais em resultado do beijo do presidente da federação de futebol feminino à chefe de equipa […]

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Interessa aqui analisar, na perspetiva comunicacional, o mediático caso Luis Rubiales que tomou proporções mundiais em resultado do beijo do presidente da federação de futebol feminino à chefe de equipa da seleção espanhola, Jenni Hermoso.
Remete-me este caso para o quadro O Beijo, obra mais famosa do pintor simbolista austríaco Gustav Klimt, que vi na exposição do Belvedere Palace Museum, em Viena. Se, num primeiro olhar, vê-se a intimidade e a cumplicidade de um casal apaixonado, a pintura permite outras interpretações. Críticos defendem a tese de que a pintura é uma representação da agressividade masculina sobre o feminino[1]. Sob esse olhar, a mulher parece ser subjugada, pela postura de joelhos e pelos olhos fechados.
O tema também não é consensual nas redes sociais e nos media, com a polarização do discurso, nos comentários das notícias e nas publicações, com o ódio a infiltrar-se no debate público. Este caso aconteceu no final de um evento desportivo perante milhões de telespectadores. Independentemente do seu desfecho final, na qualidade de consultora de comunicação aquilo que aqui me traz é a evidente incoerência na gestão de crise da seleção espanhola e da federação espanhola de futebol feminino.
Primeiro tentou ter o controle sobre o processo na corrente de informações e num comunicado a defender o selecionador, para logo a seguir se perceber que não havia uma única voz, com os comunicados da jogadora nas redes sociais a demarcar-se da posição da federação. Porque não se sentiu defendida pela instituição que a representa. A assessora de imprensa também veio falar em pressões que alegadamente terá sofrido. Existe o direito à liberdade de expressão, mas passa a imagem de uma descoordenação total. Uma instituição, em termos de comunicação, deve ter uma só voz. Está no seu direito demorar a prestar comentários ou declarações num caso desta dimensão, mas pode ir dizendo o que está a ser feito para lidar com a situação, se está a criar um gabinete de gestão de crise com equipa jurídica e a equipa de comunicação ou uma comissão independente com elementos externos credíveis a avaliar a situação.
O que seria um momento de celebração do desporto e do futebol feminino, deixou de estar em foco pelos resultados alcançados por causa de um caso insólito.
Nos media, em geral, o foco está frequentemente na vítima e não no agressor. Neste caso, o alegado “agressor” aqui considerado está agora em foco e a alegada “vítima” não parece estar em primeiro plano. “As mulheres são mencionadas duas vezes mais em situações de assédio”, de acordo com o relatório da LLYC “Mulheres sem nome” divulgado este ano[2]. Outra conclusão deste estudo é de que o “desporto ainda é um campo de jogo masculino. As notícias sobre mulheres representam apenas uma em cada 20 notícias desportivas. O futebol sem mencionar o género é visto como masculino em 95% dos casos”. Temos de referir futebol feminino para indicar quando o género não é masculino. E ainda se concluiu que “não basta ser boa; parece que as mulheres precisam de fazer algo extraordinário para serem noticiáveis”. Não foi suficiente bom à seleção feminina espanhola ganhar o campeonato. Foi preciso algo excecional para desviar as atenções do que se alcançou em termos desportivos.
A seleção feminina de futebol espanhola precisaria de uma estratégia de comunicação concertada que recentrasse a atenção no desporto e futebol feminino, e para a conquista da taça. A leitura sobre o impacto deste caso no mundo desportivo deixou de ser clara para todos, nomeadamente crianças e jovens. Deveria ser delineado um plano de ação que ajude a recentrar o tema da importância de os jovens e crianças terem referências positivas masculinas e femininas do desporto, em geral, e no futebol, em particular. Os media precisam de notícias e de polémicas, mas por vezes as notícias positivas e o desporto ainda alimentam a cadeia de produção mediática.
Esperemos pelos resultados da 7ª edição do Global Monitoring Media Report em 2025 sobre o volume de notícias face aos resultados nos anos anteriores ao caso, para se avaliar o impacto na evolução das referências de género no desporto e em geral nos media. O beijo esse fica para as instâncias superiores decidirem.
[1] Ver em Cultura Genial disponível em https://www.culturagenial.com/quadro-o-beijo-klimt/
[2] Informe Mujer_PT disponível em https://resources.llorenteycuenca.com/pt-pt/mulheres-sem-nome-avancos-na-presenca-da-mulher-nos-meios-de-comunicacao-e-o-desafio-pendente?hsCtaTracking=8bc3caa4-2cbc-4771-a65d-ccb1ac0fbb1d%7C466e2c20-cab3-4ed1-96f5-3a1e2a990205 e consultado em março de 2023
Artigo de opinião assinado por Florbela Barão da Silva, consultora de comunicação e fundadora da ViewPoint_PR e autora de ‘Mulheres de Almada e Mulheres de Beja’