Porque a história se repete
Warren Buffett, um dos investidores mais bem-sucedidos do nosso tempo, tornou-se também conhecido pela sua reduzida simpatia por títulos que estariam valorizados acima do justo valor dos seus economics. Ao […]
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Warren Buffett, um dos investidores mais bem-sucedidos do nosso tempo, tornou-se também conhecido pela sua reduzida simpatia por títulos que estariam valorizados acima do justo valor dos seus economics. Ao contrário, a sua estratégia sempre foi encontrar ações de empresas cuja vitalidade do negócio e resultados deveriam projetar cotações mais altas que as atuais e mantê-las até corrigirem em alta. Parecendo simples e óbvio, isso fez com que não comprasse Apple, Google e Microsoft durante muitos anos, algo de que se veio a arrepender e que assumiu publicamente. É hoje um forte investidor na Apple, mas resiste aos encantos da Tesla.
Não acertando sempre, uma das lições que insiste em transmitir é que deveremos duvidar do que não entendemos. Investir significa que percebemos o negócio e que temos razões para acreditar que irá prosperar, e que fazer opções por títulos somente porque valorizaram é apenas especulação e exige sorte.
Quando olhamos qualquer percurso de sucesso ou de falhanço tudo parece lógico e evidente à posteriori. A dificuldade é sermos consistentes num critério, mesmo perdendo oportunidades pelo caminho, mas acertando na escolha das variáveis a perseguir e nas decisões nem sempre alinhadas com as da maioria.
A história da indústria de media e audiovisual desde o início do século ilustra-nos por várias vezes esses momentos, mas um dos maiores ocorreu a 10 de janeiro de 2000. A enorme Time Warner, que detinha as marcas Warners, HBO, CNN, TBS, Time Warner Cable e Time Magazine, foi comprada pelo valor record de $182 billion dollars pela AOL, em ações e crédito bancário. A Time Warner era cinco vezes maior em receita e quase seis vezes em número de colaboradores, mas foi adquirida pelo convencimento de Wall Street de que o futuro seria da AOL. Com 30 milhões de subscritores de acesso à internet em dial-up, a AOL era o maior “internet provider” e, juntando a enorme capacidade de produção de conteúdos da Time Warner, a combinação parecia ter tudo para dar bem. Mas não deu. Em 2002, a nova empresa apresentou prejuízos de $98,7 billion dollars, os maiores registados até então na história corporativa norte-americana.
O colapso da aquisição é hoje facilmente explicado. A empresa era grande de mais para ser ágil e a banda larga ultrapassou o dial-up em pouco tempo, os portais não se afirmaram como a porta de acesso à informação na web, e a combinação dos negócios queimava mais dinheiro do que proporcionava, além de muitos outros aspetos que mereceram ações legais.
Mas porque se enganaram tantas pessoas tão inteligentes e tão bem assessoradas até então? Porque em tempos de mudança rápida, não arriscar não é opção. Se todos identificam que o negócio vai mudar quem o aborda seguindo os novos paradigmas facilmente aparenta ser um vencedor seguro. E a AOL aparentava.
Mas é aqui que deveremos recordar Warren Buffett. Se não entendemos o negócio deveremos resistir ao encanto da novidade. Não seria fácil, como não é hoje resistir aos encantos do blockchain, do metaverso e sobretudo da AI.
Para quem está no negócio dos media e audiovisual, isso significa que deveremos esperar que a nossa receita continuará a exigir uma combinação de publicidade e de subscrição, direta ou através de agregadores, e que o que fazemos é informar e entreter. Se o continuarmos a fazer bem, continuaremos a ser relevantes, mesmo que as redes sociais e os motores de busca não nos valorizem. Se deixarmos de o conseguir, nem a AI nos poderá ajudar.
Em 2009, a Time Warner separou-se da AOL, que foi vendida à Verizon por $4,4 billion dollars, e em 2018 a AT&T adquiriu a Time Warner por $85 billion. Pode a história correr bem nesta repetição, ou até não correr, mas a Time Warner continuará o seu percurso se continuar a fazer bem o que entende melhor.
Artigo de opinião assinado por João Paulo Luz, diretor de negócios digitais e publishing da Impresa