As novas faces da rádio
Colocar canais temáticos online é uma aposta cada vez mais forte no seio dos grupos de media nacionais ligados à rádio. Diversificar e segmentar são duas das palavras de ordem. […]

Maria João Morais
Pika promove IA como escape do mundo em ruínas
41% das empresas portuguesas já usam inteligência artificial
Nova agência de comunicação foca-se na gastronomia
Amazon aposta em anúncios adaptados ao programa que está a ser visualizado
Joana Carravilla assume direção do grupo Elife na América Latina
Galp estreia-se no Nos Alive como patrocinadora oficial
QSP SUMMIT 2025 reúne líderes globais para debater os novos motores estratégicos
39% dos diretores de marketing vão reduzir orçamentos das agências em 2025
TikTok, Meta e LinkedIn apresentam novos formatos publicitários no NewFronts 2025
Miguel Baumgartner reforça internacionalização do GCIMedia Group
Colocar canais temáticos online é uma aposta cada vez mais forte no seio dos grupos de media nacionais ligados à rádio. Diversificar e segmentar são duas das palavras de ordem. Será este o futuro da rádio?Lançada recentemente no seio do grupo RTP, a Rádio Lusitânia é a primeira aposta da empresa em canais temáticos produzidos exclusivamente para o suporte online. Dedicada à música portuguesa e a emitir 24 horas por dia via web, dentro de pouco tempo a nova rádio vai deixar de estar sozinha, uma vez que o projecto será alargado brevemente a novos canais temáticos disponibilizados através da internet e a emitir de forma contínua. O exemplo da estação pública é acompanhado por outros grupos nacionais ligados à rádio, que estão neste momento a lançar-se em força no universo dos canais temáticos. Sendo certo que o público está cada vez mais na internet, marcar presença neste meio é hoje fundamental para os operadores. Diversificar a oferta, segmentar os ouvintes e alargar o alcance do meio são alguns dos motivos que os players ouvidos pelo M&P destacam.
A transferência dos ouvintes provenientes dos suportes tradicionais para a internet é apontada por Jorge Alexandre Lopes, programador executivo da internet no grupo RTP, como justificação para a “inevitável” aposta do grupo na web enquanto plataforma de colocação de conteúdos radiofónicos. “Quem não saltar para as novas plataformas perde o seu público”, refere o responsável. Não tem dúvidas que nesta matéria a rádio pública tem obrigação de “marcar posição”. O responsável distingue, no entanto, as “rádios estratégicas” das “rádios de oportunidade”, que a RTP tem lançado consoante necessidades da actualidade. Um canal dedicado à música de Mozart, que emitiu durante o ano passado, uma rádio dedicada do Rali de Portugal, já este ano e uma rádio dedicada ao Euro 2008 a emitir durante o próximo mês de Junho são alguns exemplos.
Mas a RTP não é o único grupo português a explorar a internet enquanto base para a colocação de novos canais de rádio. A Rádio Comercial tem desde Setembro de 2007 seis rádios temáticas em funcionamento no seu site. 80 à Hora, In the Mix, Água & Sal, Músicas para Sonhar, Romance e Tuga são os nomes dos canais disponibilizados pela emissora da Media Capital Rádios (MCR). “A internet permite que as rádios não estejam reféns do formato que possuem em antena”, começa por destacar Pedro Ribeiro, director da rádio Comercial, ao M&P. O responsável entende que hoje em dia uma emissora como a que dirige “não pode limitar-se ao que tem no ar”, mas sim ir “ao encontro de nichos de interesse musical”. A estratégia da Comercial passa por produzir canais “com a marca da estação”, direccionados para um público ligado àquela emissora. O responsável também sublinha o papel determinante da web nesta mudança de paradigma: “A internet dá a possibilidade de alargar a oferta de rádio e também o espectro de ouvintes”, adianta, frisando que os canais temáticos da Comercial são encarados sobretudo como um “complemento da estação”.
Também o grupo Renascença prepara para breve o lançamento de rádios temáticas. Nas intenções do grupo está a criação de “canais temáticos musicais, montados a partir de marcas muito conhecidas e emblemáticas do grupo Renascença”, garantia recentemente ao M&P José Luís Ramos Pinheiro, administrador do grupo que integra a Rádio Renascença, RFM e Mega FM.
Na dianteira ou na retaguarda?
Mas se as rádios nacionais estão agora a começar a lançar-se no mundo das temáticas online, no site Cotonete, pertencente à MCR já há algum tempo que se vive no futuro. Actualmente são 380 os canais temáticos disponibilizados online, que cobrem “todos os géneros de música” e cerca de 60 mil as rádios pessoais disponíveis no site, destaca Carlos Marques, director-geral do Cotonete. A aventura começou em 2001 e desde aí não parou de evoluir. Hoje o Cotonete tem “1 milhão de utilizadores únicos por mês”, o que é considerado um número “extraordinário”, tendo “superado claramente as expectativas” delineadas à partida, garante o responsável.
A “perspectiva global” trazida com a massificação da internet esteve na base da aposta. E se há alguns anos se verificou que a web iria abrir caminho à segmentação do mercado com as rádios temáticas, hoje percebe-se que isso está a acontecer de forma cada vez mais acelerada com a “possibilidade de qualquer pessoa ter a sua própria rádio”, sublinha Carlos Marques. De resto, as numerosas rádios pessoais, criadas pelos utilizadores do Cotonete, já permitem, para além da emissão de música, a inclusão de conteúdos próprios, uma particularidade que o director acredita ser “inovadora a nível mundial”.
Apesar das diferenças, o certo é que já ninguém consegue estar fora desta “nova” forma de emissão radiofónica. O importante nesta fase é “marcar presença”, sublinha Jorge Alexandre Lopes. E “os que chegam primeiro têm mais possibilidades de ganhar a liderança” neste mercado. Independentemente do retorno ao nível financeiro, estamos a falar de um retorno importante “em termos de influência”, destaca o programador executivo. “Nos media há um combate ao nível da influência”, daí que seja fundamental, do ponto de vista estratégico, a “relevância que se tem para o público”.
O responsável da RTP reconhece, contudo, algum atraso no lançamento das rádios ditas “tradicionais” neste mundo das temáticas. Segundo Jorge Alexandre Lopes, a incerteza em relação ao potencial de negócio gerado com esta estratégia estão na base desta entrada tardia.
Carlos Marques não se mostra muito surpreendido com o facto de só agora as rádios FM estarem a despertar para as potencialidades trazidas pela internet, referindo que também lá fora só recentemente se está a assistir à introdução generalizada das rádios temáticas.
Também não se mostra preocupado com o reforço da concorrência, pois “mais oferta favorece a qualidade, gera mais concorrência e faz crescer o mercado”.
Tudo isto numa altura em que a internet se mostra também como um meio privilegiado para ouvir as rádios “antigas”. Segundo Jorge Alexandre Lopes, hoje em dia cerca de 10% dos ouvintes escuta rádio através da internet.
Fragmentação
Segmentação, diversificação e fragmentação são palavras de ordem quando se fala de rádios temáticas. Jorge Alexandre Lopes considera que o universo da rádio tradicional em Portugal é “ainda muito imaturo em termos de diversidade quando comparado com outros mercados à escala europeia e mundial”. Embora haja uma oferta radiofónica grande em termos de quantidade (com as mais de 300 rádios locais existentes no país), o responsável assegura que “há pouca variedade” ao nível temático. “Para o ouvinte, a rádio não atingiu a diversidade que devia ter atingido, dada a quantidade de rádios existente”, sintetiza. É neste contexto que o responsável insere o mérito das rádios temáticas, nascidas para cobrir a necessidade de diversificação temática e de segmentação dos ouvintes. A massificação nas audiências de rádio será cada vez mais difícil de atingir. Jorge Alexandre Lopes assinala que “a estação líder na cidade de Nova Iorque tem apenas 6% de quota de mercado”. A realidade em Portugal estará ainda longe deste paradigma, uma vez que uma rádio como a RFM, com uma média de 14% de audiência acumulada de véspera, mostra que o “mercado nacional ainda não é suficientemente competitivo e não atingiu ainda o factor maturidade”. Mas “mais cedo ou mais tarde vamos caminhar para uma fragmentação de públicos cada vez maior”, acredita o responsável.
Embora concorde com a ideia de fragmentação trazida pelas rádios temáticas, Pedro Ribeiro refere que na Rádio Comercial “a ideia não é excluir, mas incluir cada vez mais gente”. A generalização do acesso à internet já está a originar uma concorrência cada vez mais acirrada, pelo que “as estações têm que estar preparadas para essa realidade”. Daí a importância de ter uma presença forte nesta plataforma, conclui Pedro Ribeiro. “Se as pessoas querem estes conteúdos, nós temos que dar”.
A exploração comercial
A operar desde 2001, o Cotonete apresenta a experiência mais vasta no que diz respeito à exploração comercial das rádios temáticas. Mas também o site da Media Capital Rádios continua a testar novas possibilidades para os anunciantes. Garantindo que “o Cotonete é um sucesso em termos comerciais”, Carlos Marques refere que o portal que dirige tem apresentado diversas soluções ao mercado, que não se cingem ao tradicional banner, mas englobam o vídeo, áudio e imagem. Também neste âmbito o “leque de soluções é muito grande”, sublinha o responsável.
Já os canais temáticos da Rádio Comercial, não incluem ainda spots publicitários. A comercialização destas rádios é algo que ainda levanta algumas dúvidas a Pedro Ribeiro, que se questiona se “o consumidor online dos canais temáticos estará receptivo a mensagens de teor publicitário”. A estação da MCR está, por isso, ainda a estudar a possibilidade, tendo em conta que a ausência de anúncios pode ser um dos “motivos que leva as pessoas a consumir aqueles produtos”. Este novo meio tem, por isso, que ser “bem estudado”, pois o produto a anunciar terá que ser “coerente e integrado com o meio”, sublinha Pedro Ribeiro. Embora admita que uma das principais atracções das rádios online possa ser a “carga inferior de publicidade”, Carlos Marques constata que os ouvintes dos canais do Cotonete “não estão ainda saturados” com os spots publicitários. Por outro lado, a capacidade de segmentar também os anunciantes, permite ao mesmo tempo “dirigir melhor as mensagens”. A possibilidade de conhecer o perfil dos ouvintes, como acontece nomeadamente com as rádios temáticas, proporciona aos anunciantes uma melhor focalização para os alvos pretendidos”, sublinha Carlos Marques.
Pedro Ribeiro alinha neste ponto, frisando que nas rádios temáticas “as propostas comerciais devem estar em consenso com os produtos”.
O futuro da rádio
Jorge Alexandre Lopes não tem dúvidas de que a médio prazo os computadores e os telemóveis serão as duas principais plataformas de consumo de media. “A televisão e a rádio têm os dias contados”, defende o responsável, para quem a transferência no consumo da informação e do entretenimento já é uma realidade. Referindo estudos que apontam o ano de 2012 como a altura em que a internet já terá ultrapassado a televisão em termos de suporte de media, o responsável diz acreditar, contudo, que a transmissão tradicional se vai manter, mas garante que “as empresas de media têm que mudar a concepção de que transmitem através de televisão, rádio ou papel”. Na lógica da mobilidade, daqui para a frente as empresas que produzem conteúdos de informação e entretenimento têm que produzir para “as plataformas para onde as audiências estão a começar a migrar”.
O futuro irá trazer uma cada vez mais acentuada “customização individual do ouvinte, de acordo com o perfil de cada um”, sustenta o programador executivo da RTP. Do ponto de vista da interactividade, “esta fragmentação tenderá para o limite, que é o individual”. Daí que a produção de conteúdo também tenha que evoluir no futuro. “Os programas mais populares serão aqueles que forem escolhidos individualmente por mais pessoas”, pelo que o enfoque vai passar a estar em cada um dos conteúdos, argumenta. O actual momento é, por isso, de transição, sendo que as rádios online são apenas uma “plataforma de entrada”, sublinha Jorge Alexandre Lopes.
Futuro esse onde parece já estar o portal Cotonete, onde proliferam as cerca de 60 mil rádios pessoais criadas por utilizadores. No entanto, sobre o futuro da rádio, Carlos Marques tem uma visão moderada, uma vez que acredita que “os canais generalistas vão continuar a ter um papel importante”. As duas vertentes vão continuar a evoluir em paralelo, sendo que o director-geral do Cotonete sugere mesmo que as rádios ditas “tradicionais” poderão ser “potenciadas pelo online”.
Tendo em conta a limitação de frequências do espectro radiofónico, o meio poderá crescer tirando partido das potencialidades geradas com a internet, defende o responsável. Não acredita que as rádios online venham retirar ouvintes às emissoras tradicionais, pois “as duas formas de rádio têm possibilidades de crescimento”. Apesar da existência de canais feitos “à medida de cada um”, muitas pessoas vão continuar a “precisar de um programador que faça uma selecção do que ouvir”. Em suma, haverá sempre muitas pessoas com a necessidade de ter “quem programe para eles” garante.