A promoção internacional da Maratona das Areias está nas mãos de Xavier Nunes (na foto) que, a partir de Espanha, assume a direção global de expansão e de ativação de marca da Marathon Des Sables, sendo também diretor da etapa da prova que se realiza em Fuerteventura.
A empresa promotora da prova desportiva, que começa em 1986 nas areias marroquinas do deserto do Saara antes de se expandir para a Namíbia, a Turquia, a Jordânia, o Peru e as Canárias, tem vindo a reforçar o número de maratonas que realiza anualmente, contando com o português, que também já trabalhou em França e no Médio Oriente, para aumentar o número de participantes.
Na rubrica do M&P dedicada a profissionais expatriados, Xavier Nunes fala da experiência e aponta “a empatia, a humildade e a capacidade de escuta ativa dos portugueses” como vantagens competitivas nos mercados estrangeiros.
Trabalhar fora de Portugal era uma ambição ou houve uma circunstância a determinar a saída?
Desde os tempos da universidade e da minha ligação à AIESEC, sempre cultivei o desejo de ter uma experiência profissional internacional. Essa ambição foi também influenciada pelo percurso do meu pai, que emigrou para França e Reino Unido durante 11 anos, e pela origem espanhola da minha mãe.
Trabalhar em Espanha era um objetivo pessoal, para poder viver a cultura espanhola de forma autêntica. Concluí a minha formação em gestão de empresas no ISEG, com uma forte vivência associativa, tendo depois iniciado a minha carreira internacional em França, em Grenoble, integrando o departamento global de serviços de tecnologias de informação da Hewlett-Packard.
Em termos profissionais, quais são as diferenças entre trabalhar em Portugal e fora do país?
Nunca exerci atividade profissional em empresas portuguesas. Depois de França, segui para Espanha, para a Nestlé, rumando posteriormente para o Dubai, para a Kraft Foods, embora tenha trabalhado em outras organizações.
Atualmente, estou em Espanha, com foco no mercado global da Marathon Des Sables. Aqui, destaco a agilidade na concretização de negócios e uma informalidade no trato profissional, que facilita a colaboração.
No Médio Oriente, a dimensão relacional também é absolutamente central. Em mercados como a Arábia Saudita ou os Emirados Árabes Unidos, as interações comerciais são precedidas por conversas pessoais, sobre a família ou situação profissional, sendo fundamental estabelecer uma ligação humana antes de avançar com qualquer acordo.
Quais são as mais-valias e os obstáculos que o ser português tem no seu trabalho?
Os portugueses têm diversas mais-valias no contexto profissional global. Destaco a empatia como uma competência distintiva, bem como a humildade e a capacidade de escuta ativa. Temos uma notável facilidade em adaptar-nos a diferentes culturas, respeitando as suas especificidades, além de trabalharmos bem em equipa.
A nossa tradição de hospitalidade reflete-se nas relações profissionais, tornando-nos parceiros confiáveis e diplomáticos. Essa postura de respeito e abertura coloca-nos frequentemente como facilitadores naturais em ambientes corporativos multiculturais.
Qual é o momento que o mercado espanhol atravessa na sua área de atividade?
O mercado espanhol apresenta uma dinâmica bastante positiva no setor desportivo. Em Espanha, o desporto tem uma expressão mais ampla do que em Portugal, abrangendo múltiplas categorias em expansão e oferecendo referências inspiradoras tanto a nível nacional como internacional.
Existe um investimento significativo em modalidades para além do futebol, o que constitui uma diferença substancial face à realidade portuguesa. O segmento da corrida, em particular, tem registado um crescimento exponencial nos últimos quatro anos, sendo esse crescimento visível na presença constante de atletas espanhóis nos pódios de provas internacionais.

A Marathon Des Sables organiza maratonas em Espanha, Marrocos, Namíbia, Turquia, Jordânia e Peru, o que obriga Xavier Nunes, diretor global de expansão e de ativação de marca da empresa, a viajar pelos seis países
Que funções desempenha atualmente e que projetos tem em mãos?
Sou responsável pela ativação da marca Marathon Des Sables, liderando a sua expansão global, a partir de Madrid. Paralelamente, exerço também funções de direção da prova Marathon Des Sables Fuerteventura, que se realiza anualmente nas Canárias. Estou a preparar a edição deste ano, que acontece entre 20 e 27 de setembro.
Qual foi a experiência profissional que teve em Espanha que mais o marcou?
Durante o meu percurso na Nestlé Waters, em Barcelona, fui convidado a assumir a responsabilidade de marketing e vendas da marca Perrier a nível internacional, em articulação com a equipa global sediada em França.
Esta experiência marcou uma viragem na minha carreira, dada a aprendizagem intensiva na interseção entre marketing e vendas que me proporcionou.
E no Médio Oriente?
Nos Emirados Árabes Unidos, a experiência mais transformadora foi a minha integração a tempo inteiro na startup que cofundei, a elGrocer by Smiles, como diretor de marketing, ao lado de um colega da Kraft Foods, no dia anterior ao confinamento provocado pela pandemia, em 2020.
Gerir um negócio de retalho alimentar online neste contexto exigiu resiliência, criatividade e uma capacidade de trabalho fora do comum, sendo um serviço essencial para a população local durante o confinamento. Foi um período desafiante, mas profundamente enriquecedor.
Em termos profissionais, do que é que tem mais saudades, em relação ao mercado português?
Apesar de, no Médio Oriente, as relações pessoais e o interesse familiar serem essenciais, em Portugal há uma abordagem relacional ainda mais enraizada. As relações comerciais assentam frequentemente em encontros presenciais, em almoços de trabalho e numa construção relacional que pode evoluir para amizades pessoais. Esta dimensão humana do ambiente de negócios é algo de que tenho saudades.
Pensa regressar a Portugal?
Sim, gostava de regressar a Portugal, um dia, para estar mais próximo da família e para poder contribuir para posicionar o nosso país no panorama global. Atualmente, desenvolvo esse trabalho a partir de Espanha, organizando eventos de aventura na Jordânia, na Turquia, na Namíbia e no Peru, além das Canárias, mas acredito que, fazendo-o a partir de Portugal, a marca do país sairia mais valorizada.