Opinião: A falta que a inteligência e a emoção fazem ao líder
Aviso à navegação, semanalmente, irei partilhar os pensamentos e inspirações que toldam a visão, e as decisões, de um jovem gestor de marketing português. No caos do cenário de liderança […]
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Aviso à navegação, semanalmente, irei partilhar os pensamentos e inspirações que toldam a visão, e as decisões, de um jovem gestor de marketing português. No caos do cenário de liderança dos nossos tempos, há uma necessidade evidente que é muitas vezes deixada de lado. À medida que o mundo enfrenta desafios subsequentes – pandemias, montanhas-russas económicas e convulsões sociais – os dirigentes enfrentam uma escolha difícil: adaptar-se ou tornar-se obsoletos.
No centro desta saga que é a liderança, está a característica muitas vezes subestimada, mas revolucionária, a inteligência emocional. Na arena romana que são os mercados, a inteligência emocional não é apenas um adereço sofisticado, pode ser a arma secreta que separa os que fazem daqueles que somente correm pelos corredores e falam. Os líderes que agitam a vibração da inteligência emocional são os cavaleiros Jedi do reino corporativo – auto conscientes no controlo e focados nas pessoas.
Estes líderes são quem, não apenas dirigem o navio, como, navegam pela tempestade, com a certeza de que as emoções fazem parte da jornada, assim como do destino. Um dos maiores problemas que os portuguesas enfrentam é o turbilhão de mudanças. Os desenvolvimentos tecnológicos e os obstáculos globais tornaram o achómetro e o instinto obsoletos. Perante esta incerteza é requisito obrigatório ter, para além de perspicácia estratégica, resiliência emocional.
Quando não temos líderes emocionalmente inteligentes caminhamos para uma sociedade que permeia a erosão da confiança. A inteligência emocional é a base de uma liderança autêntica e, quando esta é visivelmente instável, a confiança, a força vital de relacionamentos eficazes, implode como um arranha céus cravejado de dinamite na base. A confiança é a moeda que sustenta a cooperação e a coesão social.
Sem uma liderança emocionalmente inteligente temos uma mistura tóxica de discórdia, ceticismo e desilusão que apodrece, semeando a divisão e impedindo o progresso. As repercussões da falta de inteligência emocional dos dirigentes são de longo alcance. Na ausência de uma visão que dá origem a orientações empáticas, os mal-entendidos aumentam e os conflitos intensificam-se. Os países, como as empresas, tornam-se terrenos férteis para a tensão, formando equipas fragmentadas pela ausência da acuidade emocional.
Na obra que considero um manifesto à inteligência emocional, Patty McCord presenteia-nos com a sua filosofia e as experiências que viveu na Netflix. “Powerful: Building a culture of freedom and responsibility” mostra-nos como o sucesso da Netflix não se substancia apenas em programas de recursos humanos bem estruturados, mas sim na conceção de uma cultura que respira liberdade, atribui responsabilidades e defende a inteligência emocional.
Neste universo, as pessoas não são meras peças de uma máquina, são vistas como fatores críticos de sucesso que têm o dever de serem donos da sua narrativa. O conceito de “liberdade com responsabilidade” de McCord capacita as pessoas a assumirem o seu trabalho e a tomarem decisões dentro do seu âmbito de especialização.
Esta abordagem cria uma cultura onde todos reconhecem o seu papel no sucesso da equipa. O respeito, como defende McCord, transcende a mera polidez, o foco é valorizar as contribuições de cada um e tratar todos com dignidade e consideração. Assim, ao final do dia conseguimos nutrir um sentimento de pertença que motiva e gera níveis de desempenho muito mais interessantes. A incerteza é a única certeza que temos, por isso ao cultivar a empatia, promover a comunicação aberta e transparente e abraçar uma cultura de responsabilidade e capacitação.
Os líderes podem aproveitar os talentos coletivos das suas pessoas levando-as ao sucesso. Liderança é trabalhar um ambiente onde as pessoas possam prosperar. Já pensou se está a ditar ou a capacitar? Se está a trabalhar o potencial das pessoas ou a prendê-las? Já procurou os talentos na sua organização, ou está a ignorá-los? O sucesso da sua equipa aguarda pelo líder que pode vir a ser.
Artigo de opinião de João Calado, head of marketing na SGS Portugal