“Os jornais e as revistas que não evoluem com o digital têm o futuro claramente ameaçado”
Quatro anos após a vice-presidência, Cláudia Maia assumiu a presidência da Associação Portuguesa de Imprensa (ApImprensa), sucedendo a João Palmeiro, no cargo há 23 anos. Entre as prioridades para o […]

Sandra Xavier
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Negócio viável?
Mas há mais. “Os dados oficiais de estudos, como da Reuters, dizem que só 12 por cento da população portuguesa admite estar disposta a pagar por uma subscrição digital. Portanto, por um lado não temos receitas publicitárias e, por outro, as pessoas estão habituadas a consumir informação gratuita online”. Ao novo paradigma, somam-se os custos: “o do papel que, na pandemia, chegou a subir mais de 50 por cento, e os custos de impressão, que dispararam porque aumentou o custo de energia, com o conflito na Ucrânia e na Rússia”. Ou seja, os custos aumentaram e as receitas diminuíram, o que, segundo Cláudia Maia, coloca os editores perante a necessidade “de encontrar um negócio que seja viável”, e que pode passar pelo digital. No entanto, também aqui surgem dificuldades: “se os grandes até têm facilidade em adaptar-se, os mais pequenos – os regionais – nem por isso, pois têm equipas pequenas, poucos recursos e esta transição é muito complicada.”
Numa altura em que, segundo a APImprensa, um terço das publicações não tem suporte digital, “a mensagem que temos de passar é que a transição digital é fundamental. Como é que pode ser feita? Para chegar aos públicos mais jovens, por exemplo, é preciso arranjar formas simples de vídeos que passem a mensagem e trabalhar nas redes sociais, mas com informação de qualidade. O podcast é um produto que está em franco crescimento – já é exponencial fora de Portugal -, no nosso país está a crescer. Portanto, é preciso criar o hábito de consumir informação através do podcast. Temos de criar este ecossistema e é isso que pretendemos: mostrar aos associados que é possível criar este sistema editorial”.
Com todas estas dificuldades, será que o papel vai acabar? “Na minha visão, não. É um ciclo. Quando a televisão apareceu, dizia-se que o cinema e a rádio iam acabar. Quando os CD apareceram, dizia-se que a rádio ia acabar. Nada disso aconteceu. Acho que o papel vai funcionar para nichos e não para as massas, como até aqui. Isso traz-nos ainda mais responsabilidade de ter produtos de papel com muito boa qualidade. Todos os meios vão funcionar em complementaridade, quase como um ecossistema de informação”, enfatiza.
(Mais) preocupações para a APImprensa
As inquietações da APImprensa vão mais além. Uma investigação feita pela Universidade da Beira-Interior revela que mais de metade dos concelhos em Portugal é ou está na iminência de se tornar num deserto de notícias, ou seja, não ter quaisquer jornais ou rádios aí sediados. “É preocupante”, afirma Cláudia Maia, que também se mostra preocupada com os riscos das redes sociais. “O algoritmo percebe qual o comportamento das pessoas e dá-lhes o que elas gostam e veem habitualmente. Não há contraditório e é disso que se faz democracia: do confronto de ideias, da partilha, do debate”.
A par da “rápida desinformação nas redes sociais”, a APImprensa identifica como desafios “as falhas reiteradas na distribuição de jornais e revistas, que têm colocado em risco a sustentabilidade económica dos meios de comunicação social, mas também a credibilidade dos profissionais”. Para tal, contribuem os atrasos dos CTT. “Há muitos associados que têm um jornal diário, mas os correios só o distribuem de três em três dias. Como é que um órgão, que vive da atualidade, sobrevive se não se cumpre o seu propósito, que é dar informação atual e diária a quem o subscreve e a quem paga para receber essa informação? Esta questão da distribuição dos CTT tem de ser resolvida. Como? Essa é a pergunta de um milhão de dólares”.
Este artigo foi publicado na edição 939 do M&P. Para ter acesso ao artigo na íntegra clique aqui