Onde fica a fronteira entre jornalismo e os conteúdos patrocinados por marcas
No Eco o branded content e as iniciativas associadas ou apoiadas por marcas valem já dois terços da receita e no Observador 25 por cento. Se no caso do jornal […]

Rui Oliveira Marques
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No Eco o branded content e as iniciativas associadas ou apoiadas por marcas valem já dois terços da receita e no Observador 25 por cento. Se no caso do jornal de economia a expectativa, segundo o business plan inicial, era que representasse uma fatia de um terço do total, no caso do Observador a previsão é que dentro de dois ou três anos atinja metade da receita. Os números foram partilhados no painel Jornalismo, Conteúdos, Entretenimento e Marcas: Onde Fica a Fronteira, debate organizado pelo M&P esta terça-feira, onde participaram representantes do Eco, Observador, Global Media Group e RTP.
Ficou patente que os formatos de branded content ou native content vieram para ficar. “Por que estão as marcas interessadas em ter conteúdos no meio das notícias? Por que as notícias têm credibilidade. As marcas podiam optar por outras plataformas. Por que estão os jornais a adoptar estas novas formas? Porque são convenientes para os objectivos das marcas. Por que chegamos a esta situação? Porque as empresas de media são frágeis”, apontou António José Teixeira, director-adjunto de informação da RTP. “Estas fronteiras porosas e contagiantes têm soluções que permitem a sobrevivência de projectos, mas corremos demasiados riscos em que tudo seja confundido como sendo a mesma coisa”, aponta o responsável pela informação da estação pública.
A entrada de conteúdos de origem comercial num espaço que costumava ser reservado apenas à área editorial representa uma ameaça para o jornalismo? É preciso traçar fronteiras mais claras sobre o que é conteúdo editorial e comercial? “A fronteira está onde sempre esteve: jornalismo é jornalismo. Depois há o resto. Um canal de TV tem jornalismo e tem outras coisas, o mesmo acontece com uma marca de comunicação social, conta vários tipos de histórias”, considerou Catarina Carvalho, directora da área de revistas do Global Media Group. Rudolf Gruner, director-geral do Observador, jornal digital que no ano passado publicou 400 peças de conteúdos patrocinados, sustenta que “há uma fronteira inultrapassável: quem produz conteúdos editoriais não pode ser a mesma pessoa que produz conteúdos pagos”. No caso do Observador, a maioria desses textos são da autoria de ex-jornalistas. “Há a questão da transparência para com o leitor. Quando o leitor vai a um site de informação tem de perceber o que é pago e o que não não é pago por marcas. Nas redes sociais, onde é possível amplificar os conteúdos é também necessária transparência”, prosseguiu Rudolf Gruner, relembrando que no caso do Observador o conteúdo patrocinado pode aparecer ao lado de uma notícia sobre a Catalunha, Pedro Santana Lopes ou o FC Porto – e com bons resultados de audiências. “Na lista das mais lidas é frequente encontrar uma, duas ou três peças de conteúdo patrocinado”, apontou.
Também Paulo Padrão, director-geral do Eco, considerou que a “independência e autonomia do território jornalístico deve ser intocável perante a crescente influência das marcas e dos conteúdos de marcas. O facto de as marcas quererem ter mais informação na sua comunicação não deve levar a que esta separação básica e elementar seja posta em causa”. “Um jornalista não tem o objectivo de agradar a mais ninguém que não o público e os leitores, quando se trabalha com marcas há esta questão de ter de agradar a marca. O que me preocupa é o valor da confiança. Os órgãos que fazem jornalismo vivem da confiança que os leitores têm neles, a confiança é o mais importante, se a divisão estiver clara a confiança das marcas nessa empresa é também importante”, retomou Catarina Carvalho.
Este tema encontra-se desenvolvido na edição do M&P em papel desta quinzena