“Há espaço para todos, menos para quem denigre a profissão”
A GCI passou a contar com Nuno Leite como chief operating officer. Um pretexto para fazer o balanço das actividades da consultora de comunicação

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A GCI passou a contar com Nuno Leite como chief operating officer. Um pretexto para fazer o balanço das actividades da consultora de comunicação.
Nuno Leite assumiu há duas semanas o cargo de chief operating officer da GCI, ficando responsável pela definição dos planos e linhas estratégicas da empresa, coordenação das direcções executivas e orientação estratégica dos clientes de topo. O consultor de 38 anos, que esteve nos últimos três anos e meio na Hill+Knowlton Strategies, onde dirigiu a unidade de comunicação institucional, tinha já trabalhado na GCI durante sete anos, agência de onde saiu em 2012 para integrar a agência do grupo WPP.
Meios & Publicidade (M&P): Por que é necessário um COO na agência?
Nuno Leite (NL): O José Manuel Costa mantém as funções de CEO, mas a minha entrada ambiciona libertá-lo a curto prazo de algumas funções que continua a ter e reforçar a direcção-geral de operações. Vou rever uma serie de processos e metodologias de trabalho da empresa e prestar especial atenção à orientação estratégia dos clientes de topo.
M&P: Será o sucessor de José Manuel Costa?
NL: De todo. O José Manuel Costa é o accionista maioritário da empresa, ambiciona é libertar-se de algumas funções executivas, mas não com o objectivo de eu assumir a liderança una da empresa.
M&P: Como encontrou a GCI neste regresso?
NL: Bastante diferente. O meu regresso dá-se de uma forma inesperada. Estive dentro do grupo WPP cerca de três anos e meio, através da Hill+Knowlton. Tracei objectivos muito claros para a minha passagem pela Hill+Knowlton. A não ser acontecesse uma surpresa, ficaria entre três a quatro anos. Cumprido esse objectivo, em que recebi bastante e dei outro tanto à estrutura, tinha outras duas hipóteses em cima da mesa que estava a ponderar para a mudança que iria acontecer no primeiro semestre do ano. As hipóteses eram outra consultora do mercado e uma multinacional como responsável de comunicação. Esta foi uma proposta inesperada e que resultou de um almoço com José Manuel Costa.
M&P: A outra agência de comunicação era um concorrente directo?
NL: Não vou dizer qual era. Tratava-se de um processo em aberto em que tinha um convite para entrar para uma posição de topo. Acho que esta possibilidade de vir para a GCI foi inesperada até para o José Manuel Costa. Após a tal conversa, abriu-se essa possibilidade de vir e perceber o que é a GCI actualmente. A GCI tem 41 pessoas. Continua a ser uma empresa grande para a dimensão daquilo que é a maioria do tecido de consultoras de comunicação. Encontrei uma empresa diferente, mais madura e com um quociente de inovação. Sempre vi a GCI como uma consultora de projectos verdadeiramente holísticos, que envolvem quase todas as disciplinas da consultoria de comunicação. Aliás, tentei implementar essa visão em alguns projectos que montei com a minha equipa na Hill+Knowlton. Continuo a ver grandes projectos nesta casa, como Missão Continente ou o Open Innovation para a Sociedade Ponto Verde. Vejo claramente a GCI focada em montar esses projectos, mesmo pela grande marca de sustentabilidade que são os Green Project Awards. Os Food & Nutrition Awards e o Smart Waste Portugal também são projectos montados cá dentro.
M&P: O caminho é vender esse tipo de projectos aos clientes?
NL: Somos uma empresa e temos de ter resultados operacionais que permitam estarem saudáveis e sustentáveis no pilar financeiro. O caminho é esse, mas não é pela venda. Tem a ver com a orientação estratégica da empresa. Muitas agências dizem no mercado que são uma consultora estratégica. Nós saímos da comunicação muito verticalizada e orientada sobretudo para o stakeholder comunicação social. O que a GCI faz é estudar a fundo os nossos clientes, o mercado e a concorrência. Depois, descomplicamos a relação que essas empresas, clientes e potencias clientes que têm com essa matriz de stakeholders complexa que tem influência no negócio das empresas.
M&P: Trouxe algum cliente da Hill+Knowlton?
NL: Não, não trouxe nenhum cliente.
M&P: Aparentemente nos últimos tempos têm saído da Hill+Knowlton algumas pessoas e clientes e essas questões costumam estar relacionadas.
NL: De todo. A minha vinda para cá é muito clara, mas claro que um dos meus focos estratégicos passa pelo desenvolvimento de negócio.
M&P: Como é que nos dias de hoje se consegue ganhar um cliente?
NL: Através de um conhecimento profundo do mercado. O mercado tem de ser estudado. Aquela coisa que as agências tinham há uns anos, de prospecção de clientes com a apresentação de credenciais, não interessa hoje a ninguém. Apresentam-se as credenciais de uma empresa em 30 segundos. E depois? Temos de estudar a fundo o negócio dos nossos clientes. É aí que está a matriz das relações públicas actual, da consultoria de alto nível. A alternativa seria continuarmos a providenciar os serviços menos complexos, e não estou com isto a diminui-los. Algumas empresas sentem apenas necessidade de apoios na relação com os media, mas não é isso que acrescenta valor à GCI face a outras empresas do mercado. O que acrescenta valor é a capacidade de descomplicar a tal relação com os stakeholders e perceber a influência que têm no negócio. Temos de apresentar algo realmente estratégico que permita a um CEO perceber que estas pessoas entenderam o negócio, os seus riscos e que a proposta que vamos apresentar vai estar ligada aos objectivos de negócio.
M&P: Está a pôr o foco na questão estratégica quando se nota o movimento no mercado de várias consultoras a apresentarem-se como agências ou grupos de comunicação de serviço completo. A GCI já teve no passado essa estrutura…
NL: Teve e tem. Não vou comentar nenhuma outra empresa do mercado, tenho opiniões formadas e respeito todos. Há espaço para todos, menos para quem denigre a profissão que eu e centenas de outros colegas temos. Refiro-me a práticas que não ajudam à reputação de empresas como as nossas, seja por dumping de preços, seja por vender aquilo que não podem oferecer.
M&P: Pode concretizar?
NL: Não vou fazer comentários específicos mas já tive várias situações em que são lançados briefings ao mercado em que a orientação era o preço. Oferecia-se muito por pouco e ao fim de dois ou três meses há o regresso a outras opções, o que fez perder tempo a toda a gente. Há espaço para todas as empresas e cada uma tem o seu posicionamento. É normal que as empresas estejam a fazer esta oferta pluridisciplinar porque é essa a necessidade dos clientes. A GCI já o faz nesse formato, pelo menos, desde a última vez que cá estive. Não o fazia com a escala actual porque as necessidades dos clientes eram outras.
M&P: A sua entrada implica a criação de alguma nova área de negocio?
NL: Estou neste momento a estudar a estrutura a fundo, a olhar para a estrutura do ponto de vista macro-financeiro. Ainda é cedo para dizer se vai implicar alguma área de negócio. Não tenho no meu mandato a criação de nenhuma área de negócio, tenho sim a orientação estratégica da empresa.
M&P: Como é que a GCI está organizada actualmente?
NL: Além dos serviços financeiros e administrativos, que se querem robustos e saudáveis, a GCI tem um board constituído por duas pessoas, o CEO e o COO, neste caso o José Manuel Costa e eu próprio. Tem um comité estratégico, que integra algumas pessoas da empresa e tem um comité operacional, tem três direcções executivas. Depois tem consultores séniores e júniores e a equipa de produção e design.
M&P: Em termos financeiros, como está a agência neste momento?
NL: Está saudável e recomenda-se. Eu decidi vir para a empresa e o encontro de vontades entre a minha pessoa e os accionistas é, por si, uma mensagem. A empresa está robusta, completamente ajustada ao que é o volume de trabalho e clientes que tem. Não vou falar de números, deixamos isso para o final do ano. Está sólida após a revisão de estrutura que teve, como muitas empresas de vários sectores de actividade.
“A empresa está bem de saúde e recomenda-se. Não diria se não estivesse, nem estaria cá”
M&P: Pode explicar o processo de redução da estrutura?
NL: A empresa era maior, tinha mais pessoas e clientes diferentes. O reposicionamento da empresa, para estar a trabalhar sobretudo em grandes projectos ligados aos nossos clientes, também careceu de rever o tipo de recursos que a empresa tinha. Nem todos os profissionais de comunicação estão habilitados a trabalhar desta forma holística. A revisão da estrutura não se dá apenas porque o negócio diminui ou porque os clientes mudaram. Os clientes nesta área e em todas as outras consultorias, seja de gestão ou de TI, têm uma tendência cíclica para entrarem e saírem. As relações desgastam-se, as visões mudam.
M&P: Quanto facturou a GCI no ano passado?
NL: Não estava cá e portanto não é algo que esteja preparado para responder. Posso dizer que neste momento a empresa está bem de saúde e recomenda-se. Não diria se não estivesse, nem estaria cá.
M&P: Há algum tempo falava-se de questões de dívidas e salários em atraso. Isso são já questões do passado?
NL: De toda a análise que já fiz até ao presente, não existe nada que motive a minha preocupação.
M&P: Quais são os clientes que garantem maior trabalho para a GCI?
NL: Um dos maiores clientes é a Sonae, para quem temos inúmeros projectos, nomeadamente com a insígnia Continente, na área do retalho alimentar. Na indústria temos Nobre e Sidul, na gestão de resíduos um dos grandes clientes é a Sociedade Ponto Verde, existem outros como a AM3E. No associativismo trabalhamos com a APED e a Cotec, no grande consumido, a Sovena e a Unilever para diferentes marcas. Nos seguros temos Zurich, na saúde IMS, Cerner e Tecnimede. No sector público estamos a trabalhar com EMEL. Na consultoria de gestão temos a Ernest & Young. Para além destes clientes temos os projectos desenvolvidos dentro desta casa e que são hoje plataformas multi-stakeholder: Green Project Awards, Smart Waste Portugal e Food & Nutrition Awards. São projectos de civic engagment, que são plataformas que se ligam à sociedade e que encaixam interesses de múltiplas variantes, entre os quais uma série de clientes nossos. Alguns destes projectos têm raiz nacional e projecção internacional.
M&P: Qual o ponto de situação da operação em Angola?
NL: Isso seria uma conversa com o José Manuel costa. Não vou ter funções executivas a esse nível.