‘Queremos criar a melhor redacção de conteúdos económicos’
Em meados de Março deverá estar concluída a fusão das redacções da Exame e secção de Economia do Expresso.
Ana Marcela
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Em meados de Março deverá estar concluída a fusão das redacções da Exame e secção de Economia do Expresso. Em entrevista ao M&P João Vieira Pereira, director-adjunto do Expresso, fala da criação de um “centro de competências” na área de economia no seio do núcleo de publishing liderado por Henrique Monteiro na Impresa Publishing. A fusão conclui assim um projecto de convergência que abarca igualmente a passagem da Exame da editora Medipress para a Sojornal.
Meios & Publicidade (M&P): A Exame vai começar a produzir conteúdos para o caderno de economia do Expresso. O que motivou esta convergência no papel e nas equipas?
João Vieira Pereira (JVP): A redacção da Exame não vai escrever para o Expresso porque não vai haver redacção da Exame nem do Expresso, vai ser uma redacção única dos dois. Os jornalistas [de economia] do Expresso e da Exame passam a escrever para cada um dos suportes conforme o que lhes for pedido, e quem lidera a Exame e o caderno de economia tem aqueles jornalistas. É muito mais profundo do que ter os jornalistas da Exame a escreverem para o Expresso, isso já acontecia. É algo mais profundo em termos de organização de trabalho e do mindset das pessoas.
M&P: Não vai haver mexidas nas estruturas directivas, então? A Isabel Canha mantém-se como directora da Exame…
JVP: E o Pedro Lima como editor de economia do Expresso. Em termos de organização há o Henrique Monteiro, publisher deste núcleo que inclui o Expresso, Courrier Internacional e Exame, e depois para a área de economia fico eu, a quem o Henrique [Monteiro] pediu para tomar conta desta área – tenho dentro da direcção do Expresso a responsabilidade dos assuntos de economia (caderno e site) – e depois estará o Pedro Lima e Isabel Canha. Iremos ter ainda uma terceira pessoa que irá ficar responsável pelo site Expresso/Exame, ainda não está definido quem é, e depois a redacção. A pessoa reportará à Isabel e ao Pedro Lima.
M&P: Mas o que motivou essa fusão?
JVP: Tem a ver com necessidade de reforçar as equipas e de criar um centro de competências. Temos dois produtos que não são entre eles concorrentes e que têm redacções separadas. Havia uma certa convergência e já trabalhavam para o mesmo produto para o online, o que fizemos foi alargar o âmbito.
M&P: A criação deste ‘centro de competências’ vai ter algum impacto no número de colaboradores? Por vezes as sinergias levam ao downsizing das redacções.
JVP: Não há sequer qualquer tipo de ideia, remota que seja, de haver uma redução de pessoal, do número de jornalistas. Não se trata disso, não é isso que nos move, nem nunca será. A nossa preocupação é fazer melhores produtos, quer seja o caderno de Economia do Expresso, o site ou a Exame e ter as melhores pessoas para o fazer. Não faz sentido, ainda por cima dentro do mesmo núcleo, recursos especializados estarem dispersos a fazer a mesma coisa. Por exemplo, há um convite de uma empresa para a inauguração de uma fábrica em Milão, faz sentido enviarmos em termos de recursos um jornalista da Exame e do Expresso? No futuro, se for necessário para a quantidade de conteúdos que temos de produzir, até fará sentido enviar dois, mas é muito mais fácil racionalizar esse tipo de custos de pessoal, e de certeza que fica melhor, se for uma pessoa ou uma equipa a fazer isso e a pensar logo como as coisas vão ser feitas.
M&P: Depois de um período em que funcionou de forma autónoma, o site da Exame passou a estar alojado no do Expresso. No caso do papel há planos de uma maior proximidade entre o Expresso e a Exame? A Exame vai continuar a sair em banca?
JVP: Não faz sentido nenhum, pelo menos para mim, pegar num produto como a Exame e vendê-la junto com o Expresso. Nunca sabemos o futuro, é verdade, mas para mim não faz sentido. A Exame é um produto autónomo, mensal, de venda em banca, é uma revista que se tem portado muito bem, as vendas têm subido, com uma identidade e marca definida, muito diferente do caderno de economia do Expresso, não há sequer esse projecto, mas percebo que as pessoas pensem nisso. O grande perigo nesses projectos é perdermos a identidade das marcas e temos marcas com identidades e leitores muito diferentes. Temos de perceber que tipo de conteúdos interessa a cada um deles.
M&P: O Expresso e a Exame passaram a assegurar o comentário de economia na SIC Notícias. A produção de conteúdos de economia para outros títulos do grupo, à semelhança do que sucede com a AutoSport na área motor, está a ser pensada?
JVP: Neste momento não… Até pode acontecer, mas a ideia não é criar um núcleo e depois andarmos a ‘vender’ conteúdos para todas as publicações do grupo. O projecto da SIC é para nós fantástico e está a correr muito bem, os jornalistas aderiram muito bem ao projecto, o que passa por assegurarmos os comentários de manhã, mas surgiu de uma necessidade de ambos: a SIC precisava desses conteúdos e para o Expresso e a Exame é bom estar presente na SIC Notícias em termos de divulgação de marcas e de conteúdos.
M&P: Imagino que essa necessidade da SIC Notícias tenha a ver com a saída do Diário Económico e com o clima ‘menos amigável’ entre os dois grupos.
JVP: Pois… A única coisa que sei é que o Diário Económico tinha um contrato com a SIC Notícias que acabava a 5 ou 6 de Janeiro deste ano e que houve uma decisão de não renovação de contrato – não sei de quem partiu essa decisão, se da SIC Notícias se do Diário Económico – e que precisavam de alguém [para comentar]. Fazia sentido dentro do grupo sermos nós a fornecer esses conteúdos e até agora tem corrido bem.
M&P: Com esta fusão pensam lançar novos produtos editoriais?
JVP: Temos um plano dos passos que vamos dar, mas as coisas fazem-se caminhando e no tempo certo porque isto é um passo de gigante. Não há muitos exemplos quando se fala de sinergias, de redacções únicas e de produção de conteúdos em termos de pool, há algumas experiências mas não há um manual de como as coisas se fazem. A minha preocupação neste momento, e de toda a equipa, é fazer isto primeiro, depois logo vemos o futuro. Há 11 jornalistas no Expresso em economia, mais dois no Porto. A Exame tinha seis jornalistas e passa a ter 19 e o Expresso tinha 13 passa a ter 19. Tem de haver uma redefinição do trabalho de cada jornalista e é isso que estamos a fazer. Novos produtos foi algo de que nunca falámos, isto foi feito para criar a melhor redacção de economia. Queremos criar a melhor redacção de conteúdos económicos do país.
M&P: Mas havendo agora 19 pessoas a trabalhar para um produto e duas pessoas pessoas a pensar um produto, há alguma novidade prevista para a Exame?
JVP: A Exame vai ter um novo grafismo que vai ser lançado em Março, já estava definido antes deste projecto. E continua a ter a sua vida, passa a ter uma redacção de 19 pessoas, quando antes tinha seis.