Marketing

“Mais do que sermos líderes, temos uma ambição maior e acima das vendas”

As vendas totais da Xiaomi em Portugal sobem 16% em unidades, em 2024, com a Xiaomi a crescer 50% e a Redmi sem oscilação. A quota em ‘smartphones’ é de 30%, com o predomínio do Redmi Note, diz Tiago Flores (na foto), CEO da Xiaomi em Portugal

Catarina Nunes
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“Mais do que sermos líderes, temos uma ambição maior e acima das vendas”

As vendas totais da Xiaomi em Portugal sobem 16% em unidades, em 2024, com a Xiaomi a crescer 50% e a Redmi sem oscilação. A quota em ‘smartphones’ é de 30%, com o predomínio do Redmi Note, diz Tiago Flores (na foto), CEO da Xiaomi em Portugal

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A propósito do lançamento de dois novos ‘smartphones’, com o objetivo de premiumizar os produtos Xiaomi e o ecossistema Human, Car, Home – que conecta os equipamentos destas três áreas de estilo de vida –, Tiago Flores, CEO da Xiaomi Portugal, revela ao M&P a estratégia seguida para afirmar a marca chinesa em Portugal, onde o carro elétrico ainda não tem data de lançamento.

O desafio da segmentação de duas marcas distintas (Xiaomi e Redmi) debaixo da marca ‘umbrella’ Mi, as quotas de mercado em Portugal e a nível global, e a adequação dos produtos à diretiva europeia Ecodesign são outros dos temas abordados.

Tiago Flores revela ainda que a Xiaomi tem uma ambição maior e acima de ser líder nos ‘smartphones’: ser disruptiva na conectividade dos equipamentos pessoais e de casa com o automóvel, tendo como foco a experiência do consumidor.

Estão a lançar dois novos telemóveis Xiaomi na gama 15. O que é que distingue um do outro e como é que se posicionam?

Estes equipamentos inserem-se no segmento premium, onde colocamos a maior tecnologia de hardware e de software, para premiumizar os produtos de ‘smartphones’ e de ecossistema, dentro da estratégia Human Car Home, definida há cerca de dois anos, que é a primeira grande revolução no posicionamento da marca.

Temos todos os equipamentos ligados à internet e adicionámos no ano passado o último pilar, que é o Car. Já tínhamos Human, com equipamentos pessoais como ‘smartphones’, tablets, relógios, bandas e trotinetes elétricas; e a parte de Home, com todos os eletrodomésticos conectados e as câmaras de vigilância.
Os novos ‘smartphones’ trazem uma proposta de valor muito acima aos do ano passado e pretendem entregar a melhor experiência de fotografia, onde se integra a parceria com a Leica.

Quando é que o carro vai chegar a Portugal?

Não será em 2025, mas não temos ainda o ‘roadmap’ do negócio de automóveis para mercados internacionais, nem para Portugal.

Qual é a estratégia de marketing para o lançamento dos novos equipamentos em Portugal?

Estes equipamentos são da gama Xiaomi, que está inserida na experiência premium em termos de tecnologia, em que estabelecemos como territórios a fotografia e a gastronomia, com o Guia Michelin, em que conectamos o conceito de experiência premium com a alta gastronomia.

Temos projetos de criação de conteúdos locais para campanhas digitais. Na última edição trabalhámos com o Rui Caria, fotojornalista Leica, e com o César Mourão, que além de ator é apaixonado por fotografia e fotografa com Leica, mas ainda não sabemos se agora vamos trabalhar com eles.
O tema a interpretar é ‘Human Passions’ e o resultado será levado para as nossas redes sociais, enquanto testemunho de como é que se pode tirar partido deste tipo de equipamento.

Vão ter comunicação em outros suportes?

Esse é o nosso conteúdo local, em que exploramos o tema global fazendo a interpretação para o nosso território local. Temos uma campanha multimeios, desde 2 de março, com digital, publicidade exterior em grandes formatos e ponto de venda – operadores, retalho tradicional e lojas Xiaomi.

Têm alguém em Portugal que seja embaixador da marca ou que crie conteúdos?

Temos com a submarca Redmi, que tem produtos de entrada e de segmento médio, e a estratégia é muito focada no digital e em microinfluenciadores da geração Z, que criam conteúdo com os nossos equipamentos numa perspectiva de cocriação, que usamos nas nossas redes sociais e campanhas digitais.

Esses cocriadores são da área da tecnologia ou de outras áreas, como o ‘lifestyle’?

Cobrimos vários pilares, como ‘lifestyle’, tecnologia e viagens, com um leque o mais abrangente possível dentro dos territórios que trabalhamos, muito focados na fotografia e no ‘lifestyle’.

Além do Bernardo Almeida, trabalham com outros youtubers?

No YouTube trabalhamos com o Nuno Agonia e com o Bernardo Almeida, que são os mais relevantes, mas trabalhamos também com o Filipe View e com o Toni Vicente.

Vão ter outros lançamentos mais importantes?

Temos três grandes momentos: o lançamento do Xiaomi no primeiro semestre, uma derivação desta tecnologia dentro do segmento Xiaomi, no segundo semestre, e o lançamento dos Redmi.

Qual é o montante a investir nesses lançamentos?

Não revelamos o orçamento de comunicação, mas tem acompanhado o desenvolvimento do negócio, em que temos crescido mais do que o mercado e atingimos os objetivos. Junto do ‘headquarter’ temos captado mais investimento para Portugal, para promover os equipamentos e melhorar a forma como estamos junto do consumidor.

Dobráveis estão aquém das expetativas

Vão apostar em telefones dobráveis em tríptico, como a Samsung, ou mantêm-se nos modelos com uma dobra?

Lançámos os equipamentos com uma dobra há cerca de quatro anos, na China. No ano passado lançámos nos mercados internacionais esse formato ‘flip’ e temos planos para continuar a expansão com mais portefólio de produto dobrável. ‘Triple fold’ não será apresentado, seguramente, este ano.

Os dobráveis têm algum eco junto dos consumidores, em termos gerais?

Em termos de perspectiva de utilização ou de comunicação é um formato que ganhou muito interesse por parte dos consumidores, mas do ponto de vista do mercado não teve uma penetração tão rápida como a indústria estava a projetar.

Qual é a barreira?

Os utilizadores apontam a vantagem de um ecrã maior – distinguido os ‘flips’ [dobrável compacto] dos ‘folds’ [expansão do ecrã], que é o que faz um ‘smartphone’ passar quase para o formato de tablet – como demasiado específico e o equipamento ser demasiado grande quando está fechado. Nos ‘flips’, isto não se coloca porque o formato é para ser de alta mobilidade.
Se calhar o mercado posicionava estes equipamentos em outro segmento de preço, o que faz com que também o custo ainda seja uma barreira.

Qual é a quota de mercado que têm com a Redmi, no segmento médio e baixo?

Temos quotas acima dos 45%, por trazermos para estes segmentos tecnologia topo de gama a preço justo.

O consumidor associa a Redmi à Xiaomi?

Inicialmente houve uma maior dificuldade de perceção entre o que é Xiaomi e o que é Redmi. Ao longo do percurso da marca Mi como ‘umbrella’ é cada vez mais evidente para o consumidor que há dois grandes segmentos de produto, um que são os topos de gama e os ‘premium experience’ que são os Xiaomi, e o segmento da Redmi.
Fizemos isto através de comunicação, com campanhas locais dedicadas a Xiaomi e a Redmi, que, no entanto, são comunicadas nas mesmas plataformas da Mi.

Qual é a primeira marca a aparecer, Xiaomi ou Redmi?

Na verdade é a Mi, com o primeiro telefone, o Mi 1, em 2010.

Era mais próximo da Xiaomi ou da Redmi, ou seja, era mais topo de gama ou gama média/baixa?

Nem um nem outro. Tem a génese da filosofia da empresa, porque pela primeira vez é possível na China democratizar um ‘smartphone’. O Mi 1 trazia características topo de gama a um preço muito justo. Foi vendido apenas no mercado chinês e exclusivamente online.

Crescer no segmento alto

A Redmi tem uma quota de mercado acima de 45%. E a Xiaomi?

Com Xiaomi, a penetração ainda é diminuta, não é acima dos 5%.

O objetivo é crescer dentro do segmento da Redmi ou no segmento mais alto, com Xiaomi?

Aproveitando para fazer uma introdução para a resposta, com os números do ano passado: em 2024 crescemos cerca de 16% em unidades. Os segmentos que mais crescem são os segmentos da Xiaomi, que crescem 50% em unidades face a 2023. Em 2025, a Xiaomi será o segmento de produto dentro dos ‘smartphones’ que vai apresentar o maior crescimento.

Os 16% de aumento é só com a Xiaomi ou inclui a Redmi?

É o total com Redmi.

O segmento alto é onde a Xiaomi tem mais dificuldade em conquistar mercado. É um segmento prioritário?

Vamos continuar a investir nesse equipamento em R&D, na parceria de longo prazo com a Leica e para produzir melhores experiências em termos de portefólio. Em segundo lugar, queremos que esses equipamentos tenham cada vez mais expressão.
Ou seja, apresentamos equipamentos no primeiro e no segundo semestre, mas consideramos que dentro destes períodos podemos alargar o número de equipamentos no segmento alto, com outros formatos, novas configurações de ecrã e novos segmentos dentro destas linhas.

Em terceiro lugar, queremos que esteja em conexão com os outros equipamentos do ecossistema. Temos mais de 800 milhões de equipamentos conectados, globalmente, e quanto mais o nosso ecossistema for conectado e fácil de ligar, também a procura por novos equipamentos topo de gama será uma realidade. Para partilhar uma curiosidade: na China, a partir do momento em que lançámos o carro, as vendas da Xiaomi dispararam automaticamente, ou seja, o posicionamento da marca ao entrar na indústria automóvel também sobe.

Vender para um segmento mais alto tem a ver com a perceção da marca?

Exatamente. A introdução da plataforma automóvel posiciona a marca de outra forma e a integração desses equipamentos numa propriedade Xiaomi é uma experiência totalmente diferente. Quando se entra no veículo, há o reconhecimento do utilizador que está conectado com o ‘smartphone’ e todas as experiências de software estão integradas, o que cria um valor adicional para o consumidor. Isto será uma das vertentes de desenvolvimento futuro da marca neste segmento.

Quanto é que a Xiaomi investe globalmente em pesquisa e desenvolvimento?

O nosso compromisso para 2025 são cerca de 30 biliões de RMB (€4 mil milhões), em 2024 investimos 24 biliões de RMB (€3,15 mil milhões).

A Xiaomi ainda enfrenta algumas falhas no software. Como é que isto impacta a perceção da marca e a adesão dos consumidores?

Estamos no top em termos de avarias e de fiabilidade de software, de acordo com dados auditados pelos operadores de telecomunicações em Portugal. Temos tido um desenvolvimento muito grande do nosso software MIUI, que é a ‘skin’ que assenta sobre o Android, e tem tido um investimento muitíssimo significativo com a integração do HyperOS, novo sistema operativo que liga o Human Car Home.

Os problemas são precisamente com o HyperOS. Terão a ver com falhas a nível internacional e não em Portugal?

Provavelmente em Portugal não existiram, mas podem ter existido quando se fez a atualização dos equipamentos antigos dos utilizadores. Pode ter sido numa atualização que foi reportada alguma falha do sistema.

O trabalho de perceção da marca passa por afinação do software?

Não, aliás, o nosso software é reconhecidamente um dos mais leves em termos de sistema operativo, ocupa muito pouco espaço de memória num equipamento móvel. É muito fluido e tem um código que aumentámos, com o Xiaomi Opera OS, mais de 30% a velocidade do software em termos de experiência. Também na conectividade entre os equipamentos, o atraso no comando de um equipamento para o outro foi melhorado, que é um dos aspetos mais determinantes no desenvolvimento do nosso ecossistema Human Car Home.

Xiaomi tem 30% do mercado

Em termos dos resultados do quarto trimestre de 2024, que ainda não foram apresentados, estimativas da Bloomberg indicam que a Xiaomi terá crescido em todos os segmentos, mais na Internet das Coisas, 10,7%, e nos carros elétricos, que vêm de uma base menor, seguido dos serviços de internet e dos ‘smartphones’, que sobem 5%. Qual é a situação em Portugal, apesar de não terem ainda carros nem serviços de internet?

Em Portugal, só a linha Xiaomi cresce 50%, em unidades. No total, o número de unidades que vendemos em 2024 versus 2023 cresce 16%.
A Redmi é partida em vários segmentos: a Redmi Note cresce 16% e a Redmi Número, que são os mais baratos, ficaram ‘flat’ em relação ao ano passado.

A Xiaomi sem a Redmi cresce 50%. A quantas mais unidades corresponde esse crescimento?

O número total em Portugal não revelamos. A base era pequena.

Quais são as quotas de mercado em Portugal?

Com esses resultados atingimos uma quota em ‘smartphones’’ em unidades, de 30%, com o predomínio do Redmi Note.

Quais são os resultados nas outras áreas de negócio em Portugal?

No ecossistema, a receita cresce 50%, estou a falar em valor e não em unidades. Não temos carros, mas temos a outra panóplia de equipamentos. A mais emblemática no ano passado em ecossistema são as televisões, seguida dos relógios inteligentes, que têm um crescimento muito expressivo com quota em unidades acima dos 30%.
Temos a família da mobilidade urbana, com as trotinetes elétricas a pesar cerca de 18% nas receitas do ecossistema e uma quota de cerca de 35% a nível nacional.

Temos ainda a parte de aspiração, com os robôs e aspiradores que podem ser controlados pelos ‘smartphones’. Depois há os equipamentos de áudio e os tablets, em que os crescimentos foram muitíssimo grandes, porque não tínhamos quase portefólio de tablets.

Em termos de divisão da receita é 60% para ‘smartphones’ e 40% para tudo o que não sejam ‘smartphones’. O nosso grande objetivo é ter um balanço de 50-50 entre as duas grandes famílias, com os ‘smartphones’ com 50% e tudo o resto com os restantes 50%. Mas não queremos decrescer as vendas dos ‘smartphones’, queremos aumentar em muitas novas famílias do ecossistema.

É mais fácil crescer nas famílias de ecossistema do que nos ‘smartphones’?

Não, tem a ver com a estratégia de digitalização do utilizador e de amplificação do Human Car Home. Existem muito mais famílias fora dos ‘smartphones’ do que nos ‘smartphones’. Comercializamos em Portugal cerca de 30% das categorias que comercializamos na China. Existem 70% de categorias que não estão nos mercados internacionais.

Em Portugal não temos, por exemplo, as máquinas de lavar, os frigoríficos, o ar-condicionado nem os equipamentos de ‘lifestyle’ de desporto. O que temos feito, ano após ano, é introduzir nos mercados internacionais novas categorias. Umas são mais prioritárias do que outras e serão sempre aquelas que estão ligadas a equipamentos que já estão disponíveis. Os frigoríficos, as máquinas de lavar e o ar-condicionado são equipamentos mais fáceis de introduzir no mercado internacional do que outros equipamentos.

Os frigoríficos e as máquinas de lavar são as próximas categorias a lançar em Portugal?

Não temos ainda esse planeamento. Quando falamos em ir para mercados internacionais não é a questão de vir para Portugal, é o sair da China.

Portugal é relevante em termos estratégicos ou não estamos no mapa da Xiaomi na China?

Somos um país bastante relevante, não só por estarmos inseridos numa plataforma ibérica, mas acima de tudo pela presença e notoriedade da marca, e resultados nas outras famílias de produto. Somos uma região em termos ibéricos e um país como território de prioridade no ‘headquarter’.

Tem números concretos em relação a esses indicadores?

Quando comparamos a nossa quota de mercado de ‘smartphones’, em Portugal é cerca de 30%, na Europa é cerca de 15% e de 30% em Espanha. Em termos de notoriedade, os últimos resultados indicam que a consideração e a preferência em Portugal são, em termos de mercados internacionais, um dos mais relevantes em termos de posicionamento de marca junto do consumidor.

Houve algum trabalho nesse sentido ou tem a ver com o consumidor nacional ser mais experimentalista?

Há dois fatores determinantes. Primeiro, a marca teve uma grande exposição e interesse online. Somos um mercado onde o consumidor é altamente desenvolvido do ponto de vista da plataforma online. Não quer dizer que compre muito online versus outros países, mas é um consumidor muito informado e conectado com o digital.

Por que razão é a Xiaomi e não a Huawei a beneficiar desse contexto local?

O primeiro patamar é que os portugueses são muito digitais e a Xiaomi nasce como uma marca de serviços digitais. O MIUI nasce porque a Xiaomi começa a produzir software para outras marcas de telemóveis, no que diz respeito à utilização do Android.

Em segundo lugar, comparando com outras regiões na Europa, a Xiaomi é a marca que teve o desenvolvimento mais rápido a nível de parceiros comerciais locais e de lojas próprias. Temos 18 lojas próprias em Portugal, com venda exclusiva de produtos Xiaomi, que permitiram que o consumidor nacional conhecesse a marca e que houvesse um ponto de contacto para todo o ecossistema que foi trazido para Portugal.

As lojas físicas ainda têm impacto nas vendas, apesar da digitalização das compras?

Porque é a parte humana e a da experiência da marca. Esse fator é determinante e é o ‘layer’ associado à rápida disseminação da marca. O interesse que já havia no online provoca essa procura, que desperta a atenção também de retalhistas e operadores de mercado, o que contribui para o desenvolvimento muito rápido da penetração em outros pontos de venda que não os da própria marca.

O desafio da diretiva europeia Ecodesign

Como é que Xiaomi está a preparar a remodelação do portefólio, para se ajustar à diretiva europeia Ecodesign, que entra em vigor no segundo semestre?

Essa é uma questão super atual e muito interessante. A normativa Ecodesign obriga todos os fabricantes e agentes de mercado a desenvolver a arquitetura dos ‘smartphones’ e equipamentos de uma forma que cumpra essa legislação. A Xiaomi já tem vindo a adequar-se e o portefólio vai cumprir a 100% com as normas do Ecodesign, que serão integradas em Portugal.

Os novos modelos que estão a lançar agora já cumprem essa diretiva?

Sim. O ponto mais visível tem a ver com o ciclo de carregamento da bateria, que tem de ser maior, e os equipamentos têm de ter uma tecnologia melhor, para providenciar esse ciclo de carregamento. A ideia é que o consumidor possa ter o equipamento por mais tempo e com melhores funcionalidades.
Por outro lado há a questão do ciclo de vida, em que a Comissão Europeia diz que equipamentos deste segmento têm de ter no mínimo X número de ciclos de carregamento, que corresponde, em termos teóricos, a X anos de utilização.

Isso significa aumentar quantos anos no ciclo de vida?

Depende dos modelos e da descodificação dos ciclos. Uma normativa mais recente já implementada recomendou a extensão da garantia do equipamento de dois para três anos, nos Estados da União Europeia. Nem todos adequaram esta normativa, mas o Estado português adequou, na perspetiva de aumentar o ciclo de vida do equipamento.

Isso agora materializa-se nas baterias, na proteção ao pó e à água que os equipamentos têm de ter, que é a proteção de resistência IP68. Todos os nossos equipamentos vão ter um ‘claim’ de resistência, não só à água e ao pó, mas também do vidro frontal, que modificámos para ser mais resistente às quedas.

Vão ter de retirar equipamentos do portefólio?

Não, a partir dessa determinada data, os equipamentos que sejam colocados no território nacional têm de cumprir essa normativa. Isto significa que a Comissão Europeia autoriza que os equipamentos que já estão no mercado continuem a ser vendidos. Não se refere aos equipamentos em ‘stock’, mas aos novos que vão ser colocados no mercado.

Quanto é que a Xiaomi está a investir para estar em conformidade com essas matérias?

Do ponto de vista de R&D exige a adequação a estas normativas, com os telefones a terem características melhores e mais adequadas em todas as linhas de produto. Em alguns equipamentos e segmentos será mais desafiante do que em outros, porque os topo de gama já têm há muitos anos esse tipo de características. O investimento que referi em R&D para 2025 já inclui os investimentos no Ecodesign.

Nº 3 no mundo, nº2 em Portugal

A Xiaomi é a marca número três em ‘smartphones’ a nível mundial e com crescimento mais acelerado, entre 2022 e 2024, segundo a Counterpoint Research, chegando a ultrapassar as vendas da Apple em unidades, em agosto de 2024. É possível a Xiaomi chegar à liderança, com uma posição fraca nos Estados Unidos?

Não consigo fazer grandes considerações a nível global, sobre territórios que não sejam Portugal. O que posso dizer é que a Xiaomi, mais do que a ambição de sermos líderes em termos de equipamentos móveis, tem uma ambição maior e acima das vendas de ‘smartphones’ em unidades.

A ambição, e já falámos aqui nisso, é ter uma estratégia disruptiva face a outros fabricantes, com a Human Car Home, que neste momento só é possível com a Xiaomi. Não se perspetiva que num curto ou médio prazo exista outra tecnológica com a penetração e ecossistema que a Xiaomi tem para desenvolver este tipo de estratégia, que posiciona o consumidor no centro da atuação, olhando para ele de forma 360º.
Há grandes e diferentes dinâmicas a acontecer, dependendo das regiões. Dando o caso ao contrário: a Samsung é um dos líderes globais e não vende no mercado chinês.

O mercado norte-americano continua a ser maior em termos de consumo?

Em unidades de ‘smartphones’, o mercado chinês é maior do que o norte-americano. Mesmo no segmento alto, o consumo é maior.

Mas há limitações na conquista dos Estados Unidos, na perspetiva da guerra geopolítica tecnológica entre ambos os países.

Por esse ponto não consigo comentar, mas esta nossa visão poderá posicionar-nos independentemente da questão do território. O posicionamento transversal com a Human Car Home vai possibilitar termos crescimentos e desenvolvimentos tecnológicos, também na área dos ‘smartphones’, mais rápidos do que os nossos parceiros da indústria, devido à aglutinação de novas tecnologias de integração.

Para chegar ao consumidor não basta ter a tecnologia, há a construção de marca, que tem sido a fragilidade das marcas chinesas no ocidente.

Esse caminho vai-se fazendo, região a região, país a país, com velocidades distintas, mas a empresa só tem ainda 15 anos, quatro anos em Portugal. O que continua a ser uma pedra basilar e altamente consistente na estratégia desde a fundação é a criação de um ecossistema inteligente a preço justo. Com isto temos conseguido fazer essa diferenciação. Mas, como diz e bem, a marca tem de ser construída e terá andamentos diferentes em determinadas regiões

Será mais fácil crescer a marca na Europa, até pelas dinâmicas EUA/China?

Sim, a marca está presente na Europa há muito tempo e já tem uma ‘pegada’ de consumidores bastante relevante. Essa é uma dinâmica quase natural.

Falou-me nas vendas em unidades em Portugal. E em valor?

Não lhe consigo dar.

Qual é a posição da Xiaomi no ranking em Portugal?

É a número dois em unidades, a seguir à Samsung e à frente da Apple, em ‘smartphones’, desde 2021, quando entramos e passamos de uma quota de 10% para 21%.

Incluindo os equipamentos Redmi, que não concorrem com a Apple?

Sim. Não temos culpa que a Apple só produza equipamentos acima de mil euros. Trabalhamos todos os segmentos de mercado, o que significa que temos uma proposta de valor para todos os segmentos, desde os cem euros até aos €1499.
O que a Samsung e a Apple fazem é lançar um equipamento novo, mas continuam a comercializar equipamentos dos anos anteriores, com um preço mais descontado.

A Xiaomi tem sempre à venda apenas as novidades?

Mantemos sempre em linha só os novos equipamentos. Queremos ter uma estratégia de portefólio de construção de proposta de valor, em que todos os segmentos que têm novos equipamentos ocupam os ‘slots’ em termos de preço.
No primeiro semestre lançamos os novos equipamentos com este posicionamento e, quando lançarmos os do segundo semestre – que são equipamentos ligeiramente mais baixos -, vão ocupar uma outra fatia de preço.
Se mantivesse os antigos, iria conflituar com outro equipamento novo, que tem um preço semelhante.

A posição que têm no mercado beneficia de operarem com mais do que uma marca para segmentos diferentes, consolidando quota de mercado?

Claro. O mercado é o mesmo, é o mercado de ‘smartphones’, com determinados tipos de consumidores. É como nos automóveis: há marcas que ficam só num segmento, outras que têm o portefólio todo e outras que se especializam no luxo e no alto luxo.
Nos ‘smartphones’ é muito similar.

Há mais marcas de telemóveis com marcas para segmentos diferentes?

Existem nomenclaturas diferentes dentro da marca. Por exemplo, a Oppo, que também é chinesa, tem a marca Reno para o segmento de gama média e para o topo de gama tem o X-Series. A Samsung é mais transversal, mas tem a Galaxy S para os topos de gama e a Galaxy A para os de média gama.
O que pode fazer alguma confusão é que a nossa assinatura de marca, que é Mi, não coincide com nenhuma das submarcas.

Como é comunicam, nomeadamente fora da China, essa segmentação tendo em conta que a marca ‘umbrella’ não está nos produtos?

É uma segmentação mais próxima do grande consumo, onde a empresa têm várias marcas posicionadas para determinados ‘targets’ de consumidor e não se canibalizam. Fazemos a segmentação pela comunicação: a Redmi fala para a geração Z, um consumidor totalmente distinto do da Xiaomi, que é mais velho e sofisticado.

Sobre o autorCatarina Nunes

Catarina Nunes

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Os orçamentos de publicidade no Reino Unido encolheram nos primeiros três meses do ano antevendo uma escalada da guerra comercial iniciada pelos Estados Unidos, segundo dados do Institute of Practitioners in Advertising

Daniel Monteiro Rahman

Os anunciantes britânicos estão a reduzir os orçamentos de marketing pela primeira vez em quatro anos de acordo com dados do Institute of Practitioners in Advertising (IPA), antevendo uma escalada da guerra comercial iniciada pelos Estados Unidos, noticia o Financial Times.

“Com receio do impacto das tarifas de Trump na economia mundial, é compreensível que as empresas no Reino Unido tenham adotado uma abordagem cautelosa de ‘esperar para ver’ relativamente aos gastos com marketing neste trimestre”, considera Paul Bainsfair, diretor-geral do IPA, citado no Financial Times.

Segundo os dados do IPA, os orçamentos de publicidade encolheram nos primeiros três meses do ano. Cerca de um quarto das marcas incluídas na análise do IPA referiram que cortaram nos orçamentos, enquanto que apenas um quinto referiu que haveria um aumento. Isto significa que, pela primeira vez desde o primeiro trimestre de 2021, a maioria das marcas britânicas vai diminuir o investimento em publicidade.

O IPA conclui que marcas britânicas enfrentam um aumento acentuado nos custos de mão de obra, refletido nos orçamentos de 2024. No entanto, vários diretores de marketing ainda esperam que os orçamentos cresçam ao longo do ano. Segundo dados do IPA, cerca de um terço dos inquiridos prevê um aumento dos orçamentos de marketing o dobro dos que preveem uma diminuição.

Os dados revelam ainda que o marketing dirigido aos consumidores foi o que mais aumentou a despesa no primeiro trimestre de 2025, seguido dos eventos e das promoções. Por outro lado, os orçamentos dos canais de marketing de publicidade exterior, áudio e vídeo, foram os mais afetados pelos cortes no investimento.

Sobre o autorDaniel Monteiro Rahman

Daniel Monteiro Rahman

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Ricardinho é o novo embaixador da Betclic

O desportista (na foto), eleito o melhor jogador de futsal do mundo por seis vezes, protagoniza as próximas campanhas, associando também a imagem a conteúdos exclusivos e a ativações da marca

A Betclic acaba de anunciar Ricardinho, eleito o melhor jogador de futsal do mundo por seis vezes, como o novo embaixador da marca. O ex-desportista, que jogou no SL Benfica (Portugal), no Inter Movistar (Espanha) e no Nagoya Oceans (Japão), protagoniza as próximas campanhas, associando também a imagem aos conteúdos exclusivos e às ativações que a marca tem em preparação.

“Ter como embaixador um ícone do futsal mundial e do desporto português pelo mundo encaixa na perfeição no nosso espírito competitivo, bem como na marca que queremos deixar no desporto nacional”, explica Tiago Simões, gestor nacional da Betclic, citado em comunicado de imprensa.

A primeira campanha omnicanal protagonizada por Ricardinho tira partido da alcunha do antigo desportista, que ficou conhecido como Rei dos Cabritos, pela habilidade de fintar adversários com dribles imprevisíveis, mostrando o ex-atleta numa cozinha a preparar um prato de cabrito.

Com criatividade interna da Betclic e produção da Shot And Cut Films, o filme publicitário é realizado e editado por Filipe Correia dos Santos, com direção de fotografia de Tomás Brice, direção de arte de Camila Fernandes, direção de produção de Sandra de Sousa Melo e produção de Diogo Figueiredo. A edição de cor é assinada pela The Yellow Color e a sonoplastia pelos Salva Studios.

“Juntar-me à Betclic é mais um grande passo da minha carreira, desta vez fora do campo. Estou entusiasmado por me juntar a uma marca que vive o desporto com a mesma paixão do que eu. Será um prazer fazer parte deste projeto e continuar a dar a cara pelo desporto português”, assume Ricardinho, citado no documento.

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Há dois finalistas portugueses no The One Show 2025

Além de ‘Ikea Hidden Tags’ (na foto, à esq.), da Uzina, a lista de finalistas nacionais no festival de criatividade e design inclui ‘Save Us From The USA’ (à dir.), colaboração da Stream and Tough Guy com a Atlantic New York

Há dois finalistas portugueses no The One Show 2025. A campanha ‘Ikea Hidden Tags’, criada e desenvolvida para a Ikea pela Uzina, em colaboração com a Playground e a Mute Sound Design, figura entre os finalistas do festival internacional de criatividade e design, que divulga os vencedores a 15 de maio, na subcategoria Storytelling (Creative Use of Data) e na subcategoria Non-traditional & Guerrilla Marketing (Direct Marketing).

‘Save Us From The USA’, campanha desenvolvida pela Stream and Tough Guy em parceria com a agência criativa nova-iorquina Atlantic New York, cofundada pelo português João Coutinho, consegue duas nomeações. Para além de Integrated/Omnichannel Campaigns for Good (Integrated/Omnichannel), também pode conquistar o prémio da subcategoria Posters – Series (Out of Home).

Entre os finalistas do The One Show 2025 há ainda duas campanhas com mão portuguesa. ‘Magnetic Stories’, criada pela agência nova-iorquina Area 23 para a Siemens Healthineers, e com produção das portuguesas Bro Cinema e Sonido, tem 19 nomeações, nas categorias de Branded Entertainment, Creative Use of Data, Experiential & Immersive’, Music & Sound Craft, Pharmae Radio & Audio-First.

A campanha ‘Motorola Deep Connect’, da Dentsu Creative Gurugram, que envolve a Dentsu Creative Portugal, a Morphedo Technologies, a Noida e a Useful Garbage Creations, é finalista em cinco subcategorias: Technology as a Creative Tool e Experiential – In-person (Creative Use of Technology), Online & Mobile (Health & Wellness), Physical Product & Mobile Integration (Interactive, Online & Mobile) e Innovation – New Ideas in IP & Product Design (IP & Product Design).

A entrega dos prémios do The One Show, festival internacional de criatividade e design criado em 1973, está agendada para 16 de maio, no Cipriani Wall Street, em Nova Iorque.

Das 20 mil candidaturas, oriundas de 49 países, o júri – que conta com a participação de Steve Colmar, diretor criativo do Publicis Groupe Portugal, na categoria Moving Image Craft & Production – apurou 1.654 finalistas.

Sobre o autorLuis Batista Gonçalves

Luis Batista Gonçalves

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SIC é o canal mais visto na semana da Páscoa

Na semana de 14 a 20 de abril, o consumo global de televisão regressa à tendência de crescimento, aumentando cerca de vinte seis minutos por dia

Na semana da Páscoa, o consumo global de televisão regressa à tendência de reforço, aumentando cerca de vinte e seis minutos por dia, chegando assim às cinco horas e 50 minutos diárias.

A SIC mantém a liderança da semana, e é um dos canais que reforçam o ‘share’, a par com os canais por cabo e ‘outros’; com comportamento oposto, estão a RTP1 e a TVI, que registam quebra de ‘share’.

Dessa forma, a RTP1 desce até aos 10,3% de ‘share’ semanal, com a SIC a registar a tendência oposta e a reforçar a sua quota, chega aos 15,1% de ‘share’ semanal, já a TVI apresenta o comportamento oposto e desce até aos 13,4% de quota de audiência.

A oferta no cabo e o ‘outros” reforçam as respectivas quotas, com a televisão por cabo a atingir 40,1% de ‘share’, e o ‘outros’ (que inclui o visionamento em ‘time shift’, streaming e vídeo/jogos) a chegar aos 20,2% de quota semanal.

Na listagem dos canais mais vistos no cabo, o pódio permanece inalterado, ocupado ainda por CMTV, CNN Portugal e SIC Notícias; já nas posições restantes encontramos Star Channel, Globo, Star Movies, Hollywood, SIC Mulher, News Now e Star Life, que encerra o top 10 da semana da Páscoa.

Esta semana, é o ‘Jornal da Noite’, da SIC, que lidera a tabela global dos programas mais vistos da semana, onde é seguido pelo concurso da RTP1 ‘O Preço Certo’. Nas posições que se seguem estão ‘Casados à Primeira Vista V/Especial’, da SIC, o ‘reality show’ da TVI ‘Big Brother’ e a novela da SIC ‘A Promessa – 2ª Temporada/Especial’, que encerra a tabela da programação global da semana.

Os programas desportivos da CMTV que acompanham os jogos do campeonato, ocupam mais uma vez todo o pódio da programação da oferta no cabo, com ‘Duelo Final/V. Guimarães X Benfica’ na primeira posição, onde se seguem ‘Golos: Primeira Parte/V. Guimarães X Benfica’ e ainda ‘Golos: Segunda Parte/V. Guimarães X Benfica’.

Nas posições restantes estão o ‘Grande Jornal – Noite’ e ainda ‘Investigação CM/Lado Obscuro da Fama’, tudo programas da CMTV, como vem sendo habitual.

by Data Insights, Havas Media Network

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Agências no interior faturam milhões

Há agências de comunicação, marketing, publicidade e design que não precisam de estar em Lisboa e no Porto para trabalhar com grandes clientes, faturar milhões e conquistar prémios. Estar longe dos centros de decisão até aumenta a criatividade, mas também tem desvantagens

O número de agências de comunicação, marketing, publicidade e design que elege vilas e cidades menos populosas para se instalar está a aumentar. A distância dos grandes centros de decisão já não impede as agências criativas de prestarem serviços fora de Lisboa e do Porto, faturarem milhões e conquistarem prémios.

Com a digitalização caíram as barreiras geográficas e o trabalho remoto veio para ficar de forma definitiva, com custos operacionais menores. Atraídos por uma maior qualidade de vida, que beneficia as atividades criativas, os profissionais destas agências encontram no interior do país oportunidades globais.

“O talento não tem local de trabalho, sobretudo nas áreas criativas, no digital e no marketing. Se podemos trabalhar com talentos indianos e nepaleses, também podemos trabalhar com talento do Douro. Isto é bom para o país, que não deve ter a atividade económica centrada apenas em duas cidades”, afirma ao M&P Maria Domingas Carvalhosa, presidente da Associação Portuguesa das Empresas de Comunicação (APECOM).

Apesar de não existirem dados oficiais, Maria Domingas Carvalhosa não tem dúvidas que o número de agências a trabalhar em comunicação estratégica, criatividade e design no interior do país tem vindo a crescer. O perfil das agências também tem vindo a mudar. Estruturas mais pequenas e especializadas conquistam clientes internacionais.

“Os profissionais das áreas podem estar onde quiserem, desde que tenham talento. Podem estar no interior do país ou até no sul de Espanha. Quanto melhor instalados estiverem mais inspiração têm e os clientes sabem disso”, salienta. Mas há exceções à regra.

“Em tudo o que envolva influência junto de políticos e jornalistas, as empresas continuam, no entanto, a procurar agências de Lisboa, em primeiro lugar, e, depois, do Porto. Vai ser difícil encontrar uma consultora dessas a faturar milhões fora dessas duas cidades”, afirma Maria Domingas Carvalhosa que tem procurado atrair mais empresas de fora para a associação, desde que assumiu a direção da APECOM.

Márcio Cortez, CEO do 2Play, reconhece que Lisboa concentra as oportunidades, os eventos de networking e os diretores das marcas das maiores empresas, mas isso não impede a agência, criada há 15 anos, de crescer anualmente entre 15% a 20%. A 2Play fechou 2024 com uma faturação de €1,5 milhões, registando um crescimento de 29% face a 2023.

Márcio Cortez, CEO do 2Play, estúdio criativo sediado em Viseu, faturou €1,5 milhões em 2024, um aumento de 29% em relação a 2023

O estúdio criativo que idealizou a nova campanha de promoção turística que a Comunidade Intermunicipal do Douro (CIM Douro) apresentou na edição de 2025 da BTL – Better Tourism Lisbon Travel Market, está instalado em Viseu, onde os três sócios residem. “Já recebemos várias abordagens para nos mudarmos para o Porto ou Lisboa, mas optámos por abrir apenas uma delegação no Porto para estarmos mais próximos dos nossos clientes”, explica Márcio Cortez.

A agência desenvolve trabalhos para marcas, organizações e eventos como a Liga Portugal, a Solverde.pt, a Allianz Cup, o Novobanco, o Turismo de Portugal e a Sotinco, com 95% dos 33 colaboradores a residir em Viseu. “Muitos estudaram cá e outros regressaram após terminarem os estudos. Além da qualidade de vida, chega-se facilmente a todo o lado. Percorre-se um quilómetro num minuto”, salienta o gestor, que já se habituou ao rebuliço da capital, onde se desloca regularmente.

Rui Manuel Ferreira, fundador e CEO da agência de marketing digital Brand 22, que trabalhou com a 2Play na nova campanha da CIM Douro, também tem visto o negócio crescer. Atualmente com 12 colaboradores e 40 clientes fixos, faturou cerca de €500 mil em 2024.

Rui Manuel Ferreira, fundador e CEO da Brand 22, agência de marketing digital de Vila Real que, com 12 colaboradores, faturou €500 mil em 2024

Situada em Vila Real, a agência, que criou a marca Discover Douro, desenvolve trabalhos para a Randstad, a Caves de Murça, a Câmara Municipal de Chaves, a Carne Maronesa e marcas como a Lego, a Tomatina e a Arcádia, através do contrato que tem com o centro comercial Nosso Shopping. “Sendo transmontano, natural de Freixo de Espada à Cinta, depois de tirar licenciatura e mestrado na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), decidi ficar e apostar”, explica Rui Manuel Ferreira.

Em 2011, o empresário lança a agência de comunicação RMF, que em 2019 se converte em agência criativa e adota a atual designação. Nas próximas semanas, a Brand 22 assume, a partir de Vila Real, a gestão das redes sociais do Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida (ISPA), em Lisboa.

Embora ainda não os possa divulgar, a agência prepara-se para aumentar o número de clientes na capital, onde Rui Manuel Ferreira se desloca com frequência, mas a maioria está sediada no Norte. “Os trabalhos de produção audiovisual, que exigem a deslocação para criação de conteúdos, são os que mais nos limitam”, sublinha.

A localização não impediu, no entanto, a agência de desenvolver trabalhos na Suíça, na Irlanda e nos Estados Unidos. “Somos uma marca de Trás-os-Montes, mas temos a ambição de produzir para todo o mundo”, garante.

Em Vila Real, apesar de custos operacionais mais baixos e de uma vida com melhor qualidade, menos stresse e mais tempo para a família, o CEO da Brand 22 debate-se com a falta de profissionais qualificados e de reconhecimento. “Como há menos abrangência e valorização das empresas no que toca aos nossos serviços, o caminho de afirmação e valorização torna-se mais complexo”, assume Rui Manuel Ferreira.

Criatividade e inovação não têm código postal

A Oonify, agência de marketing da Nazaré, fundada em 2019, começou por prestar serviços de gestão de tráfego pago e de redes sociais, mas evoluiu rapidamente para o branding, a produção de conteúdos, a criação de campanhas, a gestão de eventos e a consultoria estratégica em comunicação. Com 22 colaboradores a tempo inteiro e uma rede de parceiros nacional, a Oonify não tem razões para sair da Nazaré. A empresa faturou €1 milhão em 2024 e cresceu 38% face a 2023.

“A criatividade e a inovação não têm código postal, além de que a Nazaré é hoje uma marca global. Tal como as ondas projetaram a vila para o mundo, nós também provamos que é possível construir uma agência de referência nacional sem estar nos grandes centros urbanos. Somos a agência que mais cresce no centro do país”, assegura Joaquim Henriques, fundador e CEO da Oonify.

A Oonify, sediada na Nazaré, faturou €1 milhão em 2024, a crescer 38%

A Infraestruturas de Portugal, a Casa da Música, a Arfai, a Casa Piriquita e a Ginja Mariquinhas figuram entre os clientes da agência que, além de vídeos de promoção turística de Leiria, Coimbra e Santa Maria da Feira, também assumiu a comunicação do projeto ‘Greater Porto’, no evento internacional MIPIM, em Cannes.

A conquista do prémio de Melhor Vídeo de Turismo do Mundo, na 36ª edição dos World Tourism Film Awards, em Valência, em 2024, é um dos feitos de que a Oonify mais se orgulha

Ao contrário dos gestores de outras agências, o CEO da Oonify, que ganhou o Prémio Gazela em 2023 e 2024 e conquistou vários troféus nos Prémios Lusófonos da Criatividade, além de prémios internacionais em Espanha, França, Alemanha, Brasil, África do Sul, Albânia e Japão, não se queixa da falta de profissionais qualificados.

“Esta região tem talento. Há criativos que procuram um projeto sólido sem precisarem de se deslocar para Lisboa ou para o Porto, embora a perceção de que as melhores oportunidades estão nos grandes centros ainda persiste”, afiança.

Para atrair novos profissionais à região, a agência criou o centro de formação Oonify Space, em 2023, que já acolheu 1.800 alunos, tendo também estabelecido um protocolo com a Lisbon Digital School, para ampliar o leque de formações.

“Afastamo-nos do ruído e da velocidade das grandes cidades para nos focarmos naquilo que realmente importa, que é criar estratégias e campanhas que façam a diferença, além de mantermos uma proximidade real com os clientes sem a pressão de um mercado saturado”, assegura Joaquim Henriques.

Apesar de estar a cerca de 380 quilómetros da Oonify, em Faro, Pedro Águas, CEO da agência de design, marketing e publicidade Kor Creatives, fundada como LCPA Creative Agencies em 2014, tem a mesma visão. “Não é a localização que define a excelência. Estarmos no Algarve permite-nos ter uma perspetiva diferenciadora, sem ser limitadora”, assegura.

Para atrair novos profissionais criativos à Nazaré, a Oonify criou o Oonify Space, que já acolheu 1.800 alunos

Com uma faturação de €925 mil em 2024, um crescimento de 27% face a 2023, a empresa emprega 16 colaboradores, mas prevê chegar ao fim de 2025 com 20. Ana Aeroportos, Universidade do Algarve e Multi Portugal, com um portefólio que inclui ainda os Armazéns do Chiado, o Retail Sintra, o Plaza Madeira e o Forum Viseu.

“Temos a vantagem de estar num local com custos operacionais otimizados mas a desvantagem de termos de fazer um maior esforço de posicionamento, porque existe a perceção de que tudo acontece nas grandes capitais”, lamenta o CEO da Kor Creatives, que já ganhou 11 troféus nos Prémios Lusófonos da Criatividade.

A agência, que acaba de ganhar a concessão de publicidade nas frotas de autocarros de Évora e Beja, faz parte das 5% melhores PME portuguesas pelo terceiro ano consecutivo, tendo também sido distinguida pela Great Place To Work Portugal em 2024.

Trabalho remoto agiliza processos

Ao contrário da administração da Brand 22 e da 2Play, que se recusa a abandonar o local da fundação, os dois fundadores da agência de design Bullseye, criada em 2011, tiveram de trocar Paços de Ferreira por Vila Nova de Gaia, onde era mais fácil contratar profissionais especializados, para fazer crescer o negócio. Com a pandemia, habituaram-se ao trabalho remoto.

“Mantemos esse modelo até hoje, com total integração, flexibilidade e foco no talento, independentemente da geografia”, afirma João Silva, cofundador e CEO da Bullseye. O portefólio de clientes integra empresas, organizações e marcas de diferentes dimensões, como a Metro do Porto, a Stockvirtual, a Arts 56, a Woodtale e a Evolve Media, além de trabalhos em países como São Tomé e Príncipe, Austrália, Rússia, Estados Unidos e Bélgica.

“Estamos a desenvolver o branding de uma empresa de topo no setor da energia no Dubai, uma das dez maiores do mundo da sua área”, revela o gestor, que com uma equipa de apenas quatro pessoas, “ágil, focada e multidisciplinar”, faturou €250 mil em 2024, um aumento de 15% face a 2023.

“Talvez ainda subsista algum estigma sobre as agências que não estão nos grandes centros urbanos, mas o trabalho consistente e diferenciador quebra qualquer preconceito”, admite João Silva, que descreve a conquista do prémio Agência de Design do Ano nos Prémios Lusófonos da Criatividade, em 2018, como um marco. “De lá para cá, já conquistámos distinções de Ouro, Prata e Bronze nesse concurso”, informa.

Invicta é alternativa à capital

Se para muitas agências estar fora dos grandes centros é uma escolha estratégica, para outras, o Porto surge como uma alternativa viável a Lisboa, ao combinar a dinâmica de um grande mercado com um custo de operações mais competitivo e uma concorrência mais reduzida.

Este é o caso da Porto de Ideias, agência de comunicação e relações públicas que nasce no Porto em 2008. Para a agência, liderada por Carlos Furtado e Isabel Côrte-Real, o Porto é mais do que uma escolha geográfica, é uma vantagem competitiva. “Conhecemos bem o mercado empresarial e associativo da região, o que nos continua a trazer vantagens. Foi a escolha acertada porque o mercado se apresenta global”, declara Isabel Côrte-Real.

Com menos concorrência do que em Lisboa, a Porto de Ideias destaca-se como uma opção de referência no norte do país, com clientes como a Água Monchique, a Leica, a Continental e a CustoJusto, entre outras. “As grandes agências multinacionais estão concentradas na capital e nem todas têm delegações no Porto. Isto fortalece a nossa posição no mercado enquanto opção de qualidade”, sublinha Carlos Furtado.

Ter sede no Porto em vez de em Lisboa não constitui um obstáculo para a agência, segundo Isabel Côrte-Real. “A concorrência em Lisboa é grande e não queremos entrar nesse campeonato. Quando há necessidade de o trabalho ser desenvolvido em Lisboa, temos uma parceria estratégica com uma consultora de comunicação que nos dá o apoio necessário”, revela.

Fundada no Porto, a Garra Publicidade é responsável pela campanha ‘Há Um Lugar Para Ti’, criada para a STCP

A poucos quilómetros da Porto de Ideias, encontra-se a Garra Publicidade, na freguesia de Ramalde. Fundada em 1994 por Manuela Sá, a agência criativa também não tem intenções de se expandir para a cidade das sete colinas.

“Nem está nos nossos horizontes abrir uma agência na capital. Nos dias que correm, confesso que já não há tantas as diferenças”, enfatiza Manuela Sá, CEO da Garra, que regista uma faturação de €2,9 milhões em 2024, equivalente a um crescimento de 4,43% face a 2023. A estratégia da Garra passa pelo fortalecimento da presença no Porto, tirando partido das vantagens competitivas que a região oferece.

“Mais a norte, sentimos uma economia forte e em crescimento. São muitas as empresas locais e estas valorizam a proximidade, o atendimento dedicado e um foco nos detalhes”, argumenta Manuela Sá.

Para a agência, que conta com um portefólio de clientes entre os quais se destacam a Sociedade de Transportes Coletivos do Porto (STCP), a Unilever, a Super Bock, a Olá e a Salsa, o facto de estar no Porto não influencia a captação de clientes. “Temos clientes de Lisboa e de outras regiões do país. Não são só do Porto ou do norte do país”, conclui Manuela Sá.

Mais a sul da cidade invicta, entre a Igreja do Carmo e a Torre dos Clérigos, encontra-se a Legendary People + Ideas, agência criativa fundada em 2014 por Diogo Pinheiro e Hugo Pinto. Atualmente conta com cerca de 40 colaboradores e, em 2024, regista um crescimento de 20% na faturação face a 2023, consolidando a trajetória que tem vindo a construir.

Através de clientes como a Corticeira Amorim, a Solverde, o ActivoBank, a Endesa e a Stihl Espanha, com quem colabora através do escritório que abre em Madrid em 2024, a agência reforça a aposta no Porto e consolida a presença no contexto ibérico.

“Fundámos a Legendary num momento em que o ecossistema criativo e publicitário se encontrava concentrado em Lisboa. No entanto, sendo ambos naturais do Porto, sabíamos que isso não constituía uma limitação, mas sim uma vantagem”, revela Diogo Pinheiro, CEO da Legendary.

Para Diogo Pinheiro, num mercado dinâmico, é a qualidade, a relação e a confiança que definem o valor de uma colaboração, não a morada da agência. “O Porto deu-nos identidade, deu-nos raízes, mas nunca nos impôs limites”, sustenta. A presença no Porto não tem constituído um obstáculo à captação de clientes a nível nacional e internacional para a Legendary.

“Atualmente, trabalhamos com marcas de norte a sul do país e não identificamos uma concentração de clientes na região norte. Essa diferença já não é tão evidente como há alguns anos”, considera o CEO da Legendary, acrescentando que “no início, o mercado estava mais concentrado em Lisboa e o Porto parecia oferecer mais espaço para crescer, mas hoje existem mais empresas espalhadas pelo país”.

“Se, no início, a proximidade foi um fator diferenciador, rapidamente percebemos que vivemos num país pequeno e que a distância nunca foi um obstáculo”, refere. A agência vai apostar numa nova localização no Porto e tem como objetivo criar um polo criativo, “com conversas abertas, conferências e formações, dirigidas não só à equipa interna, mas também acessíveis ao mercado”, revela Diogo Pinheiro.

O apelo de Lisboa

Ainda que algumas agências não possam, ou queiram, estar na capital, nem todas podem virar costas a Lisboa, como explica Sofia Barros, secretária-geral da Associação Portuguesa das Agências de Publicidade (APAP). “Os meus associados são as agências líderes, vulgo ‘grandes’. E, para se ser grande, infelizmente, tal como em muitas outras indústrias, na maioria dos casos é preciso estar em Lisboa”, realça.

Liliana Castro, que avança para a criação da agência de comunicação e relações-públicas portuense FES Agency em 2013, reconhece que trabalhar no Porto “fecha algumas portas, pois não estamos no centro da ação da capital”.

A CEO e fundadora da agência que trabalha com clientes como a Shamir, a STCP, a Startup Braga e a Câmara Municipal do Porto, entre outras, acrescenta que “algumas empresas contratam em Lisboa pelo simples facto de reconhecerem que as maiores agências estão na capital”.

Criada no Porto, a agência de comunicação FES Agency opera sob o conceito de ‘Filling Empty Spaces’

A FES Agency, que trabalha nas áreas de estratégia, organização de eventos, produção de conteúdos e redes sociais, não desvaloriza a importância da capital. “É recorrente termos de ir a Lisboa a reuniões e eventos, pelo que é importante estarmos presentes junto dos nossos clientes”, salienta a responsável.

No entanto, apesar da perceção de distanciamento, Liliana Castro acredita que é possível ter sucesso a partir do Porto. Por isso, ter uma presença física em Lisboa não faz parte da estratégia da agência. “A FES opera, desde sempre, em regime ‘full-remote’, com os nossos colaboradores a trabalharem a partir de diferentes cidades do país”, esclarece.

A localização da agência pode influenciar a captação de clientes, mas é o trabalho final que faz a diferença. “A nossa comunidade principal está no Norte, onde conhecemos mais profissionais e estabelecemos relações. Ser de Lisboa é visto como estar no centro da ação e estar no Porto retira um pouco essa ideia, mas à medida que desenvolvemos o nosso trabalho e entregamos resultados, desmistificamos essa visão”, sublinha.

Marta Kadosh (à esq.) e Mónica Pimentel (à dir.) fundam a agência de relações públicas HoneyGuide no Porto, em 2021

A HoneyGuide, agência de assessoria em relações públicas e comunicação fundada por Marta Kadosh e Monica Pimentel em 2021, é um exemplo de como a ligação à capital é essencial, mesmo trabalhando a partir do Porto. “A forma como trabalhamos, a nossa presença em Lisboa é constante, quer fisicamente, quer através das relações que temos vindo a construir”, declara Marta Kadosh, cofundadora da HoneyGuide, que aumenta o volume de negócios em 15% em 2024.

A agência portuense, que conta com um portefólio de clientes que inclui marcas como a Cantê, a Fora, o Oeiras Parque e a Atlanta Mocassin, entre outros, já tem uma equipa em Lisboa. “O nosso foco está mais em continuar a crescer com propósito do que em multiplicar moradas”, revela Monica Pimentel, cofundadora da HoneyGuide.

Quanto à principal desvantagem de não estar na cidade das sete colinas, Diogo Pinheiro, CEO da Legendary, salienta a falta de profissionais qualificados. “Desde o início, tivemos de assumir um papel formador, investir em talento e criar contextos de aprendizagem contínua. O lado positivo é que acabamos por construir equipas muito alinhadas com a nossa cultura e visão”, acrescenta.

Lisboa continua a fazer parte dos planos da agência de Diogo Pinheiro e Hugo Pinto, mas de uma forma estratégica. “A expansão só faz sentido se for uma decisão estruturada. A nossa intenção é concretizar essa entrada através da aquisição de uma agência que partilhe os nossos valores e complemente a nossa oferta. Queremos crescer com propósito e não apenas com o objetivo de marcar presença”, revela Diogo Pinheiro.

Globalização aproxima mercados

Criar agências fora dos grandes centros urbanos também pode ser uma opção estratégica. É o caso da Framework Lab, agência de comunicação de Braga especializada em ‘branding’, estratégia, marketing e multimédia, com 20 colaboradores, ligada à Universidade do Minho. É nas ‘startups’ da região que tem a maior base de clientes.

“A principal vantagem de estarmos em Braga é a perspetiva diferente que conseguimos dar às marcas, com abordagens um pouco diferentes das apresentadas pelas grandes agências”, sublinha Sérgio Costa, CEO da Framework Lab. Desde a fundação, em 2013, a agência já desenvolveu trabalhos para marcas como a Deeply, a TMG Automotive e o Jornal de Notícias, onde Sérgio Costa foi jornalista.

As pequenas e médias empresas são o foco do grupo Red, que no início de 2025 se mudou para Leiria, para estar mais próximo dos clientes. Fundado em 2007, em Fátima, o grupo já realizou cerca de cinco mil projetos para 600 empresas e organizações, incluindo o Burger King, a Everything is New, a Altice, a Federação Portuguesa de Futebol e o Hard Rock Cafe. Embora não divulgue valores, em 2024 a faturação do grupo cresceu 30%.

Além da agência de comunicação, Red Agency, o grupo detém o estúdio de fotografia, vídeo e multimédia Red Media, a agência de marketing Red Mkt, a agência de eventos e ativação de marca Red Events, a agência de produção gráfica Red Print, a agência de inovação e tecnologia Red Lab e a WMG, empresa de expositores. O mercado internacional é a próxima aposta e há planos para expandir a operação.

“Inicialmente estávamos numa posição estratégica entre Lisboa e Porto, o que nos permitiu acompanhar de perto as empresas da região de Leiria. No entanto, o mercado e as formas de trabalho evoluíram. Hoje, a localização física tem uma importância relativa”, conclui Michel Gonçalves, CEO do grupo Red.

A agência que só trabalha para a geração Z

A Strive, agência de marketing digital especializada em conteúdo para as redes sociais e em marketing de influência, sediada em Esposende, centra o negócio na geração Z, e desenvolve estudos e estratégias para as marcas que pretendem chegar a consumidores mais novos.

Fundada em 2022 por três sócios, André Campos, Tiago Costa e Lucas Monte, a agência foi pensada para estar longe das maiores cidades do país. “Esposende é um sítio calmo, com uma beleza natural incrível, estrategicamente localizada entre Porto, Braga e Viana do Castelo, três polos urbanos com enorme talento”, justifica Lucas Monte, cofundador e diretor de conteúdos da agência.

Ao longo dos últimos três anos, a Strive desenvolveu trabalhos para clientes como Fitness Factory, LuxSteel, Kōzōwood e Unilever. O vídeo que criaram para a Cif, integrado numa estratégia de conteúdos para TikTok, alcança 20 milhões de visualizações.

“O nosso trabalho é a prova de que as grandes ideias não nascem só nos grandes centros”, afirma o empresário, revelando que a aposta para 2025 passa pela criação de relatórios de análise exclusivos sobre a geração Z, com dados relevantes para as marcas que querem conectar-se com os consumidores mais novos.

 

A Bazooka prevê um crescimento de cerca de 50% em 2025

 

Bazooka em Lisboa para acelerar crescimento em 2025

Apesar de estar a crescer no Porto, onde é fundada, em 2008, a Bazooka, agência criativa cofundada por Flávio Gart, Raquel Belard e Telmo Silva, reforça a presença nacional e, em janeiro deste ano, abre um escritório em Lisboa.

A Bazooka, que começa por ser conhecida como uma agência de guerrilha ‘human-friendly’, consegue conquistar vários clientes fora do Grande Porto, incluindo alguns em Lisboa. No entanto, Flávio Gart admite que a ausência de uma presença física em Lisboa acabou por ser limitativa para a agência, que concentra a maior parte do negócio no norte do país, com um portefólio de clientes que inclui marcas como a Adidas, o Continente, a Danone e a Continental, entre outras.

“Já tínhamos clientes em Lisboa e, de forma a melhor servi-los e a potenciar essa proximidade com mais marcas, abrimos um espaço na capital e já estamos a trabalhar em novos projetos”, justifica Flávio Gart, que se muda do Porto para Lisboa para gerir o novo escritório da agência.

Ainda que trabalhe maioritariamente com clientes nacionais, a Bazooka tem uma trajetória de crescimento contínuo nos últimos anos, tendo desenvolvido campanhas publicitárias em países como a Alemanha, os Estados Unidos, a Espanha, o México, a Dinamarca, o Japão, a França, a Suíça e o Reino Unido. Para 2025, com o novo escritório, a agência prevê um crescimento de cerca de 50%, o que reflete a importância da capital no mercado da criatividade.

 

Fundada em 1962 no Porto, a Opal é uma das agências criativas mais antigas em Portugal

 

Opal: desafios e oportunidades globais

Fundada em 1962 no Porto, a Opal é uma das agências criativas mais antigas em Portugal e, talvez, uma das que mais cresce nos últimos anos, dentro e fora do país. Com vários escritórios, incluindo um em Lisboa, a agência aumenta o volume de negócios em cerca de 40% nos últimos três anos. As campanhas da Opal destacam-se pela criatividade e incluem clientes como a Super Bock, a Worten e a Galp.

A agência foi premiada com vários prémios ao longo dos anos, incluindo um Leão no Festival de Publicidade de Cannes, distinções nos World Independent Advertising Awards e ainda no Festival Internacional de la Publicidad Independiente, na Argentina. Bruno Rente, CEO da Opal, reflete sobre o mercado das agências fora de Lisboa.

Por que razão escolheram abrir a agência no Porto e não em Lisboa?

Quando a agência foi fundada o Porto era uma região efervescente, comercial e muito ligada ao exterior, quer pelo vinho do Porto, quer pela indústria da região norte. Hoje, estamos no Porto, sim, mas também em Lisboa e no mundo. A nossa presença estende-se da Alemanha ao Japão, do Brasil à Coreia do Sul, da China aos Estados Unidos, cobrindo mercados na Europa, América e Ásia. Temos raízes nortenhas, mas uma visão sem fronteiras.

O que distingue uma agência sediada no Porto de uma na capital?

Cada cidade tem as suas particularidades. Mais do que a localização, o que realmente distingue uma agência é a forma como opera. No caso da Opal, temos uma tradição e uma cultura que privilegia a relação próxima com os clientes, baseada numa disponibilidade e num compromisso incondicionais

A localização de uma agência influencia a captação de clientes?

Trabalhamos com empresas de todo o país. Entre os nossos dez maiores clientes, apenas três são da região norte. No entanto, o setor da comunicação e da criatividade está a evoluir tão rapidamente, impulsionado pela digitalização e pelas novas formas de consumo de media, que acredito que os desafios e oportunidades são globais e não territoriais.

Sobre o autorDaniel Monteiro Rahman e Luis Batista Gonçalves

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Meta e Amazon patrocinam caça aos ovos de Páscoa na Casa Branca

Numa clara aproximação das ‘big techs’ à Administração Trump, o patrocínio inédito inclui a exibição de logótipos e imagens das marcas durante a celebração

A tradicional caça aos ovos de Páscoa na Casa Branca, que decorre esta segunda-feira nos jardins presidenciais, conta com o patrocínio de algumas das maiores empresas tecnológicas norte-americanas, como a Meta, a Amazon ou o YouTube, numa clara aproximação das ‘big techs’ à Administração Trump.

A possibilidade de empresas privadas patrocinarem a celebração da Páscoa com contrapartidas promocionais dentro da residência oficial do presidente dos Estados Unidos é uma decisão inédita. A Casa Branca mantinha tradicionalmente uma parceria com a produtora Harbinger, que se limitava a financiar jogos e atividades para as famílias convidadas.

Este ano, segundo a CNN, as empresas interessadas desembolsam entre 75 mil dólares (€65 mil) e 200 mil dólares (€175 mil) para garantir visibilidade. O patrocínio inclui a exibição de logótipos e imagens das marcas durante a celebração, além de experiências exclusivas, como um brunch com a primeira-dama Melania Trump, conforme detalhado no material promocional.

A Administração Trump esclarece que o dinheiro arrecadado destina-se à Associação Histórica da Casa Branca, uma organização sem fins lucrativos. No entanto, há quem veja nestes patrocínios mais uma tentativa dos CEOs das ‘big tech’ de cortejarem Donald Trump.

A Amazon, por exemplo, oferece aos visitantes um cantinho de leitura, enquanto que a Meta propõe uma experiência tecnológica com recurso à inteligência artificial. O palco ‘Bunny Hop’ fica a cargo do YouTube, de acordo com o comunicado da Casa Branca.

A primeira-dama, Melania Trump, a procuradora-geral, Pam Bondi e a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, entre outras personalidades, vão ler para as crianças presentes na celebração.

A caça de ovos da Páscoa remonta à presidência de Rutherford B. Hayes e tem sido um dos principais eventos da Pennsylvania Avenue desde 1878.

 

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Justiça americana diz que Google tem monopólio ilegal na publicidade online

A Justiça provou que a Google praticou atos anticoncorrenciais, prejudicando tanto os editores como os utilizadores online. A decisão histórica poderá obrigar a gigante tecnológica a alienar parte do seu negócio de publicidade digital

Mais um revés para a gigante tecnológica num caso de ‘antitrust’ movido pelos Estados Unidos. Uma juíza federal diz que a Google violou as leis da concorrência ao construir um império no mercado da tecnologia de publicidade online.

Leonie Brinkema, juíza federal do distrito de Virginia, considera que a empresa de norte-americana monopolizou ilegalmente os mercados de servidores de anúncios de editores e o mercado de bolsas de anúncios que intermedeiam compradores e vendedores.

A decisão abre caminho a outra audiência para determinar o que a Google deve fazer para restabelecer a concorrência nesses mercados, possivelmente incluindo a venda de partes da atividade ou a alteração das práticas comerciais, num outro julgamento que ainda não foi marcado. Esta é a segunda decisão judicial que declara a Google detentora de um monopólio ilegal.

O Departamento de Justiça dos Estados Unidos, responsável pela aplicação das leis da concorrência, não conseguiu demonstrar que a empresa detinha um monopólio nas redes de anunciantes, escreve a juíza na sentença, citada nos media internacionais. O departamento declara que a Google deveria ser obrigada a vender pelo menos o Google Ad Manager, que inclui o servidor de anúncios de editores e a bolsa de anúncios.

“Para além de privar os concorrentes da capacidade de competir, este comportamento de exclusão prejudicou os clientes editores da Google, o processo de concorrência e, em última análise, os consumidores de informação na internet”, escreve ainda Leonie Brinkema.

Lee-Anne Mulholland, vice-presidente de Assuntos Regulamentares da Google, afirmou que a empresa irá recorrer da decisão quanto às partes que lhe foram desfavoráveis. “Ganhámos metade deste caso e vamos recorrer contra a outra metade”, referiu, acrescentando que a empresa não concorda com a decisão relativa às ferramentas para editores. “Os editores têm muitas opções e escolhem a Google porque as nossas ferramentas de tecnologia de anúncios são simples, económicas e eficazes”, concluiu.

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Kendrick Lamar é o novo embaixador da Chanel

Com a incerteza económica e a inflação a desacelerar o mercado de luxo, a marca aposta na parceria com o rapper norte-americano, escolhido para a campanha de óculos da Chanel

A parceria da marca de luxo francesa com Kendrick Lamar é revelada já no dia 22 de abril com o lançamento da mais recente campanha de óculos de sol, fotografada por Karim Sadli. O rapper norte-americano destaca o legado intemporal da centenária casa. “Como a marca não tem coleção de roupa para homem, tive de apostar nos óculos”. O rapper surge com um dos modelos no vídeo ‘Luther’, um dos temas do álbum GNX (2024).

Com a incerteza económica e a inflação a desacelerar o mercado de luxo, Bruno Pavlovsky, presidente da divisão de moda da Chanel, destaca o potencial dos óculos de sol. “Mais do que um simples acessório de moda, os óculos fazem parte do charme da Chanel e são vistos regularmente nos desfiles de moda. Com um estilo versátil, dão um toque final à silhueta”.

Embora seja raro a Chanel incluir roupas masculinas no prêt-à-porter, a marca já contratou alguns embaixadores, incluindo o ator Timothée Chalamet ou o cantor coreano G-Dragon.

A ligação de Lamar à ‘maison’ francesa começa em 2023, quando o cantor norte-americano comparece na Met Gala, que nesse ano homenageia Karl Lagerfeld, a usar um casaco ‘bomber’ de couro acolchoado e personalizado pela então diretora criativa Virginie Viard. A Chanel reúne-se novamente com Lamar e Dave Free para o desfile de alta-costura, em janeiro de 2024, que inclui a criação de um cenário megalómano, onde se destaca um medalhão iluminado da Chanel, e uma curta-metragem intitulada ‘The Button’.

O multipremiado artista de Compton tem mais de vinte e dois Grammy no currículo e um Prémio Pulitzer com o álbum DAMN, lançado em 2017. Aos 37 anos, é dono do estúdio criativo PGlang, que cofundou com Dave Free, e em 2023 ganhou seis prémios no festival de criatividade Cannes Lions, com a curta-metragem ‘We Cry Together’.
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Receitas da Netflix sobem 12,5% para €9,26 mil milhões

Com o impulso dado pelos recentes aumentos de preços, os lucros da Netflix excederam as previsões de Wall Street no primeiro trimestre

A Netflix anuncia um aumento de 12,5% das receitas totais mundiais no primeiro trimestre de 2025, para 10,54 mil milhões de dólares (€9,26 mil milhões), em comparação com o mesmo período em 2024, com o impulso dado pelos recentes aumentos de preços.

Em termos de lucro, a plataforma de streaming regista um aumento de 24% dos lucros para 2,89 mil milhões de dólares (€2,54 mil milhões) nos primeiros três meses do ano.

A empresa refere que conseguiu um desempenho sólido no primeiro trimestre, “com uma série (‘Adolescência’) e três filmes (‘Back in Action’, ‘Ad Vitam’ e ‘Counterattack’) a entrarem para as listas dos mais populares de sempre”, declara a empresa no comunicado que apresenta os resultados trimestrais.

A empresa supera as expetativas dos analistas de Wall Street em termos de faturação, excedendo os 10,51 mil milhões de dólares (€9,24 mil milhões) previstos, e não altera a previsão de receitas para este ano, projetadas entre os 43,5 e os 44,5 mil milhões de dólares (€38,25 e €39,12 mil milhões), apesar da incerteza provocada pelas políticas comerciais de Donald Trump.

Após ter registado o melhor trimestre de sempre em termos de aumento de assinantes, tendo conquistado 18,9 milhões de clientes no final de 2024, a empresa opta por não divulgar novos dados, que eram o principal barómetro seguido pelos analistas.

A Netflix avança ainda que Reed Hastings, cofundador da empresa, deixará o cargo de presidente executivo e passará a ocupar a função de presidente do conselho de administração como diretor não executivo.

 

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Dentsu Creative Iberia e Havas Portugal são finalistas nos Clios Awards

‘Drawn To Equality’, da Dentsu Creative Iberia para a Visa, e a ‘Look For Freedom’, da Havas Worldwide Portugal para a Amnistia Internacional, são os trabalhos na ‘shortlist’ dos Clios Awards 2025

Catarina Nunes

Há duas agências nacionais com campanhas na ‘shortlist’ dos Clios Awards 2025: a ‘Drawn To Equality’, da Dentsu Creative Iberia para a Visa, e a ‘Look For Freedom’, da Havas Worldwide Portugal para a Amnistia Internacional. Na final estão 1.410 trabalhos, de agências de todo o mundo e os vencedores serão anunciados numa cerimónia em Nova Iorque, a 13 de maio.

‘Drawn To Equality’, da Dentsu Creative Iberia para a Visa FOTO DR

O projeto da Dentsu para a Visa é finalista em Branded Entertainment&Content na categoria de Imprensa e diz respeito a uma iniciativa com o A Bola, em que é incluída uma personagem feminina na tira de banda desenhada Barba e Cabelo, que o jornal desportivo apresenta diariamente.

‘Look For Freedom’, da Havas Worldwide Portugal para a Amnistia Internacional FOTO DR

O ‘Look For Freedom’ da Havas Worldwide Portugal está na ‘shortlist’ de Moda&Beleza na categoria Uso da Moda & Beleza. Este projeto para a Amnistia Internacional é feito em parceria com a designer de moda Katy Xiomara e transforma em vestidos as burcas que mulheres afegãs deixaram nos aeroportos, quando abandonaram o Afeganistão na sequência da invasão dos talibãs, em 2021.

Na ‘shortlist’ dos Clios Awards 2025 está também o projeto piloto da CUF, em que os sons das ressonâncias magnéticas são transformados em histórias para crianças em audiolivros, com as histórias criadas pelos escritores Mariana Jones e João Pedro Mésseder, além dos testemunhos de crianças e pais portugueses. O ‘Magnetic Stories’ para a Siemens Healthineers não é concebido por uma agência nacional (a criatividade é da norte-americana Area 23/IPG Health Company), mas conta com a produção da Bro Cinema.

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