“O Porta dos Fundos cresceu mais de 100 por cento nos últimos dois anos”
Christian Rôças, CEO do Porta dos Fundos, explica em entrevista exclusiva ao M&P, a publicar na íntegra na próxima edição quinzenal, o percurso da empresa detida pela Viacom.
Rui Oliveira Marques
Prémios de Marketing M&P’23: ‘É uma menina’ vence Grande Prémio, Dentsu Creative é Agência Criativa do Ano, Mindshare é Agência de Meios do Ano e António Fuzeta da Ponte é Marketeer do Ano
Só 41% dos consumidores é que optam por marcas sustentáveis
Campanha da Dentsu Creative Portugal para Meo e Amnistia Internacional tem quatro nomeações aos prémios The One Show 2024
O que pode ler na edição 955 do M&P
Os vídeos do Porta dos Fundos estão quase a atingir os 10 mil milhões de visualizações. A plataforma de humor, detida maioritariamente, desde 2017, pelo gigante norte-americano Viacom, tem 17 milhões de seguidores no YouTube. Está presente no TikTok há um ano com quatro milhões de seguidores. A audiência mensal dos conteúdos atinge as 36 milhões de pessoas.
O projecto de humor criado por cinco amigos, António Tabet, Fábio Porchat, Gregório Duvivier, Ian SBF e João Vicente de Castro, conta agora com uma equipa de 80 pessoas. O Porta posiciona-se como uma empresa de entretenimento multicanal cujos formatos (sketches, filmes, programas de entretenimento, séries e webséries) são exibidos nas plataformas digitais (YouTube, Instagram, Facebook, TikTok, Twitter e Twitch), nas plataformas de streaming (Netflix, Amazon Prime Video ou Paramount Plus) e nos canais de televisão.
A internacionalização começou pelo México, sendo o BackDoor o canal online de humor mais popular do país. No último ano a produtora trabalhou com mais de 40 marcas. Em contexto de pandemia a facturação duplicou. Christian Rôças, CEO do Porta dos Fundos, explica em entrevista exclusiva ao M&P, a publicar na íntegra na próxima edição quinzenal, o percurso da empresa brasileira detida pela Viacom.
M&P: Como evoluíram as receitas neste contexto de pandemia?
CR: Nos últimos dois anos crescemos mais de 100 por cento como empresa, durante a pandemia.
M&P: Como é possível ter esse desempenho?
CR: Quando a pandemia chegou, fizemos uma série de mudanças para conseguimos estar presentes na vida das pessoas. Se ficamos presos em casa, vamos consumir mais conteúdos. Se preparamos conteúdos para todas as janelas, para todos os momentos, para todas as situações, as pessoas vão lembrar-se mais de nós, vão gostar mais de nós e as receitas vão aumentar. Se dermos mais atenção para os hábitos dos utilizadores e avançarmos para um diálogo em vez de um monólogo, a situação vai melhorar.
M&P: Quanto tempo demoraram a perceber que tinham de ajustar os conteúdos como consequência da pandemia?
CR: Foi muito rápido. No dia 12 de Março de 2020 já tínhamos mandado toda a gente para casa. Automaticamente enviámos para casa dos actores home studio, luzes, microfones e uma série de materiais que permitiriam que eles gravassem a partir de casa com qualidade. Fizemos encontros para rever os argumentos. Não fazia sentido enviar as coisas para casa dos actores e não ter um argumento adaptado a essa realidade. A produção, a pré e pós-produção, todas as pessoas passaram por um processo de se reinventarem para conseguir responder à pandemia. Foi um trabalho de equipa de resiliência.
M&P: Em que ponto está a internacionalização? Está previsto avançar com o BackDoor para outros países?
CR: Sim, o Backdoor está a entrar no segundo ano. Hoje em dia já é o maior canal de humor do México. Já tem dois mil milhões de views. É uma loucura. Já preparamos uma nova série, para o Amazon Prime, que se chama Harina, com o Tenente que é a personagem mais conhecida no México, é um polícia corrupto. [O vídeo Harina, publicado em Agosto de 2019 no canal Backdoor do YouTube, tem quase 58 milhões de visualizações]. Até ao final do ano anunciaremos mais um país onde vamos entrar.
M&P: Está previsto algum projecto para Portugal?
CR: Já apresentamos cá o Portátil [espectáculo de comédia de improvisação da Porta dos Fundos]. Hoje cerca de cinco por cento da audiência de YouTube é de Portugal. Temos 17 milhões de utilizadores, portanto cinco por cento é muita gente. Estamos sempre atentos. Temos muito carinho por Portugal, somos muito bem recebidos. Agora mesmo o Fábio [Porchat] está aqui, o Kibo [António Tabet]) está vindo, o Gregório [Duvivier) vai ter uma peça em breve. São tudo projectos próprios mas como Porta temos as portas abertas para fazer coisas em Portugal.
M&P: O próprio Christian tem passado temporadas em Portugal. Como é que vê o panorama do audiovisual e dos conteúdos criados no nosso país?
CR: Um lugar que está em desenvolvimento é uma oportunidade. Vejo Portugal a reinventar-se, muito aberto a perceber que, para fazer parte da Europa, vai ter de abrir a mente.
M&P: Não falou da questão do audiovisual português. Há muitos talentos ligados ao humor em Portugal mas não existe, neste momento, nada semelhante a um projecto de produção como o do Porta dos Fundos. Quais são as razões para o sucesso do Porta dos Fundos, ao ponto de ter sido comprado pela Viacom?
CR: O Brasil tem a vantagem do mercado interno, que é muito grande. Além disso, o nosso idioma, semelhante ao de Portugal, é muito característico. No mercado espanhol ou no mercado latino cada um fala um espanhol diferente do outro, o que cria algumas dificuldades, por exemplo, para o conteúdo do México chegar a outros países da América Latina, porque é falado num espanhol mexicano. A outra questão é que o Porta tem vindo a quebrar regras. Não tem a preocupação em seguir um modeling role, uma receita do que se deve fazer, tem vindo a desbravar, a ser disruptivo. É aqui que Portugal tem um espaço. Sinto que o mercado audiovisual daqui tem experimentando coisas. Há muita gente a experimentar coisas. Elas são mainstream? Ainda não, mas tudo bem, faz parte do processo. É um país que tem mais pessoas velhas do que novas. No Brasil é ao contrário. À medida que as coisas vão sendo experimentadas e a cultura se vai misturando com outras, a questão de ser mais conservador, de não querer quebrar regras — que é algo que tem muito aqui e eu tenho família daqui — vai mudando. Como em todos os lugares, há pessoas com a cabeça fechada que querem manter igual, mas também tem muita gente com a cabeça aberta e com intenção de experimentar.