As fake news em ano eleitoral
“Fizemos nós já o necessário benchmarking para absorvermos as lições aprendidas noutros países sobre interferências externas?”
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As fake news e o fact checking em ano eleitoral (europeias, regionais, legislativas) foram o tema de um encontro que juntou, no dia 22 de Fevereiro, mais de três dezenas de profissionais ligados à área da comunicação política. O lugar, dado a conspirações, foi o Palácio da Independência, também designado Palácio da Restauração por ter sido aí que D. Antão de Almada e 40 conjurados planearam a derradeira reunião que deu origem à restauração da nossa independência em 1640.
Não foi, no entanto, a vontade de derrubar o que quer que seja que nos reuniu ali até porque havia entre nós – especialistas dos diversos quadrantes políticos desde o PCP ao Chega passando pelos partidos do designado ‘arco do poder’ – assessores do actual Governo (inserir smile). Mas sim uma ideia para a qual convidei a juntar-se o Fernando Esteves, director do Polígrafo, site exemplar dedicado inteiramente ao fact checking e ao desmontar de falsidades diversas. A ideia era a de, em conjunto, encontrarmos a resposta à seguinte pergunta: É desta que a propósito dos momentos eleitorais que vamos viver em 2019, iremos efectivamente sofrer o ataque das fake news? E em caso afirmativo, como combatê-las?
A resposta maioritária foi negativa à primeira pergunta. Embora eu e o Fernando acreditemos que sim, ou seja, que será já no enquadramento destas legislativas que o ataque virá, tal não foi a opinião da maioria dos participantes por duas razões substantivas: porque em Portugal se trata amadoristicamente da comunicação política em geral e nas redes sociais em particular e, também, porque a nossa irrelevância geoestratégica não capta ainda a atenção dos interesses por detrás dos ataques à democracia verificados noutras paragens.
Já para a resposta à segunda pergunta, foi determinante a participação como orador convidado do João Miguel Annes, especialista em cibersegurança e protecção de dados e ali a título meramente pessoal. Apesar de se ter classificado como “peixe fora da água” entre comunicadores e jornalistas, lançou vários contributos da maior pertinência. Depois de ter alertado para o crescimento destas ameaças na maioria dos países da UE e membros ou aliados da NATO, que justificam um conjunto de medidas preventivas para proteger as instituições democráticas, nomeadamente os processos eleitorais, Annes provocou-nos com uma série de desafios que justificam por si só a publicação deste artigo, à consideração também de todos os profissionais que não puderam estar presentes na referida tertúlia:
• Fizemos nós já o necessário benchmarking para absorvermos as lições aprendidas noutros países sobre interferências externas nos processos eleitorais?
• Em caso de suspeita de ataques a partidos ou políticos, sabemos a que entidade devemos dirigir-nos, consoante o incidente em causa?
• Realizámos ou pensamos realizar formações de sensibilização dos colaboradores e dirigentes em cibersegurança, como o projecto ‘Cidadão Ciberseguro’ do CNCS? (https://lms.nau.edu.pt/courses/course-v1:CNCS+CC101+2018_T1/about)
• Temos um conjunto de medidas a adoptar no sentido de protegermos os nossos clientes na área política e a sua/nossa informação?
• Temos um plano de gestão de crises para reagir a ataques massivos de fake news?
• Esse plano contempla meios digitais, a criação de conteúdos de “contra-campanha” por exemplo? Há capacidade para responder em poucas horas?
• Existe algum fórum onde os profissionais de comunicação possam trocar informação e boas práticas para melhor protegermos o nosso ecossistema quanto a este tema?
• Estão os profissionais de comunicação disponíveis para conversar no sentido de se criarem boas práticas, para que não se normalize o recurso a fake news e desinformação por parte das campanhas no combate eleitoral?
Atrevo-me a dizer – e salvaguardando excepções que não conheça – que a resposta é negativa à quase totalidade destas questões. E que mesmo que a maioria dos participantes no jantar/tertúlia venha a ter razão e ainda não seja desta que ataques organizados venham a existir, tal não invalida que caminhemos para que existam as regras e os procedimentos suficientes para evitar o provérbio da “casa roubada, trancas à porta”.
Como expressou mais eruditamente um outro participante citando Maquiavel: “Os homens são tão simplórios e obedientes às necessidades imediatas que aquele que engana sempre encontrará quem se deixe enganar“. Sucedendo que nós, os profissionais da comunicação, não somos ou pelo menos não devemos ser nem simplórios nem obedientes, pesa sobre nós essa responsabilidade que advém de um poder, mesmo que delegado; o de aconselharmos e protegermos quem a nós recorre. Saibamos pois prosseguir este diálogo agora iniciado e trabalharmos no sentido de que possamos orgulhar-nos de sermos um contributo válido em todos os aspectos para o processo democrático e o entendimento dos cidadãos sobre o que está, cada vez mais, em causa.
Artigo de opinião assinado por João Villalobos, consultor de comunicação