Ricardo Tomé, director coordenador da Media Capital Digital
A cura das fake news está afinal na engenharia e não no jornalismo?
A comunidade jornalística, e bem, advoga que uma primeira medida é defender o bom jornalismo, para continuar a manter a boa reputação das marcas e separar o que são meios credíveis dos que não são. Mas… e se tal não for suficiente?
Meios & Publicidade
Criatividade ao serviço de um alfabeto em extinção
RTP transmite jogos do UEFA Euro Feminino Sub-17 em direto
Crescer sozinha e em parceria não é uma contradição
Clube da Criatividade apresenta programa do 26º Festival CCP 2024 e da Semana Criativa de Lisboa
Sónia Araújo e Mário Daniel são mecânicos por um dia em campanha da Mercedes (com vídeo)
Perfect Storm produz nova campanha internacional da Coca-Cola (com vídeo)
Carlos Maciel assume direção da Caras e da Caras Decoração. Mariana Correia de Barros convidada a dirigir Activa
APECOM continua a crescer em número de associados
Microagências de comunicação estão a mudar paradigma
Oliveira da Serra explica importância de renovar, reciclar e reaproveitar com ajuda da McCann Lisboa (com vídeo)
Entre a ficção e a realidade, publique-se a ficção! Muitas notícias falsas emergem e ‘funcionam’, alcançando milhares de leitores (e infelizmente ‘crentes’), simplesmente porque apelam ao sentimento da “validação de crenças”, ou seja, dizendo aquilo que muitos querem acreditar que seja a verdade. Basta notar num recente estudo no MIT conduzido por três autores (Soroush Vosoughi, Sinan Aral e Deb Roy), que comprovou que as falsas notícias são 70 por cento mais prováveis de serem partilhadas no Twitter do que notícias reais/verdadeiras (curioso notar que esta é a rede desde sempre mais utilizada pelo actual presidente dos EUA, Donald Trump).
Uma das clarificações a fazer sobre fake news é a de que há um erro sobre o tema: tem prevalecido em vários fóruns e sido despejado em muitos comentários nas redes sociais que a culpa das notícias falsas é dos bots. Certo. Esses podem gerar notícias falsas. Mas infelizmente é a partilha feita depois por utilizadores humanos, perfis activos validados (ou seja: você e eu e os nossos amigos no Facebook ou no Twitter ou no WhatsApp) que “validam” aquelas notícias falsas, ao partilhar aquele link com mais amigos. Mesmo que a notícia seja falsa e gerada por uma máquina, é a validação humana pelas partilhas que depois a torna ‘validada’.
Já todos nós que trabalhamos nesta área vivemos exemplos disso. Há uns meses ligaram-nos a pedir a remoção de uma peça online porque aviltava contra o bom nome de um presidente da câmara, numa acusação injusta e da qual ele já havia sido ilibado. Fomos ver o link que nos enviaram do post no Facebook, e de facto os comentários eram muitos e apontavam o dedo crítico à nossa empresa. Mas ao reparar na data vimos que aquele post tinha mais de 3 anos (!). Estavam a ligar-nos e a comentar sobre uma notícia e um post datados… Quem terá gerado o equívoco não soubemos, mas foi perceptível que muitos seguiram a acreditar em tamanha “injustiça”.
Então como resolver isto?
A comunidade jornalística, e bem, advoga que uma primeira medida é defender o bom jornalismo, para continuar a manter a boa reputação das marcas e separar o que são meios credíveis dos que não são. Mas… e se tal não for suficiente?
A resposta pode estar na tecnologia. Talvez a cura para as fake news esteja também na engenharia e não só no jornalismo.
O mesmo Sinan Aral, professor no MIT referido acima, reforça que se isto fosse um tema de bots a resposta estaria apenas na tecnologia. Mas como o tema se mistura com comportamento humano, as duas vertentes têm de ser unidas. E é daqui que chegamos à blockchain.
A vantagem da blockchain é que permite ‘validar’ e equilibrar o sistema, ao permitir que a reputação de uma notícia seja retirada/baixada ou no oposto reforçada/subida.
A blockchain permite a descentralização da validação. Em vez de um comité de sábios, cabe à comunidade, num sistema de crowdsource, ir validando as notícias. Desta forma também validam a credibilidade de cada origem, ou fonte, ou marca. Se uma notícia oferece reservas, a fonte perde algumas gramas da sua idoneidade e credibilidade. O que se repercutirá na força com que mais à frente será vista pelos demais leitores. Ou seja, imagine um sistema onde em cada notícia consegue obter num só clique um índice de ‘credibilidade’ daquela fonte e daquela notícia, sendo que o brilhante é que tudo terá sido originado por um complexo sistema assente em validação de milhares, difícil de corromper e com o passado como índice reputacional forte, ao contrário de hoje, onde uma notícia publicada pelo “joe-nobody-anónimo” e no site recém-criado valem “o mesmo” que a marca de notícias mais credível.
Foi desta forma que surgiram muitos ecossistemas de notícias baseados em blockchain. A ideia é que cada autor receba um “token”. Melhores reviews de credibilidade, mais tokens. O que vai ao longo do tempo reforçando quem são as fontes credíveis. É, por exemplo, uma das soluções apresentadas no mercado por uma empresa de nome Trive. Mas não só. A esta juntou-se a Primas, num sistema de metadados baseados em blockchain que a empresa espera que venha a ser o standard para metadados de conteúdos. Neste caso, até registando quem e onde foi referido ou republicado o artigo – para além de assegurar a validade da fonte que escreveu a notícia, isto pode vir a ajudar também à luta contra o plágio, permitindo aos autores do original subirem nesse ranking e aos autores ‘validados’ como copiões de cair no mesmo.
O tema não se fica por aqui. Há mais soluções a caminho. A Civil ou a Publiq são mais duas, apostando de novo no crowdsource da blockchain como forma de assegurar esta validação permanente e isenta, não controlável por qualquer poder e eficaz ao mesmo tempo. A base, sem dúvida, está no bom jornalismo. Mas a seguir precisamos de um sistema que o defenda e promova. Porque de nada vale ser. Nem parecer. Além de ser e parecer também tem de convencer (sobretudo à rede).
Artigo de opinião assinado por Ricardo Tomé, director coordenador da Media Capital Digital