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“Os marketers precisam de aprender a vender para gémeos digitais”

O marketing e a neurociência vão ficar muito mais próximos, refere Daniel Hulme, diretor global de IA do grupo WPP, em entrevista ao M&P, salientando a importância da computação neuromórfica que permite construir ‘cérebros de audiências’

Catarina Nunes
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“Os marketers precisam de aprender a vender para gémeos digitais”

O marketing e a neurociência vão ficar muito mais próximos, refere Daniel Hulme, diretor global de IA do grupo WPP, em entrevista ao M&P, salientando a importância da computação neuromórfica que permite construir ‘cérebros de audiências’

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Daniel Hulme é especialista em processos de adaptação das empresas e das marcas à inteligência artificial, enquanto diretor global de IA (‘chief AI officer’) do grupo WPP. O cargo surge na sequência da venda ao WPP, em 2021, da empresa que fundou em 2008, a Satalia, que se dedica à pesquisa e implementação de sistemas de inteligência artificial (IA).

Na Satalia, que terá sido vendida por 75 milhões de libras (€88,75 milhões, ao câmbio atual), segundo a imprensa internacional na época, Daniel Hulme mantém o cargo de CEO, em paralelo com o arranque de uma nova empresa, dentro do WPP, que está a dar os primeiros passos na área da consciência da máquina (‘machine consciousness’).

Em entrevista ao M&P, fala sobre os desafios e as oportunidades da IA, e aponta os caminhos a seguir e a evitar.

Já esteve em Portugal anteriormente. Qual é a sua perceção do mercado publicitário nacional?

Estive aqui de férias e para dar palestras. Portugal tem uma ‘vibe’ muito boa e muito talento. Vim cá pouco tempo antes de vender a minha empresa, a Satalia [pesquisa e implementação de sistemas de IA], à WPP em 2021.

Como diretor de IA do grupo WPP, penso mais globalmente sobre como o mercado se vai transformar nos próximos anos. A IA está a permitir mais e melhores conteúdos, e é capaz de os apresentar às pessoas certas no momento certo. Está a acelerar a transformação digital da nossa indústria, mas também está a ser disruptiva.

O que é que destaca no WPP em Portugal?

Sou um grande fã do talento português e o WPP expandiu a equipa nacional. Em alguns países, estamos a investir, particularmente nas universidades, em diferentes tipos de IA, não apenas em ‘machine learning’, IA generativa e preditiva. O Brasil, por exemplo, sempre foi muito consistente e forte na otimização e aqui em Portugal não é diferente.

O que encontro aqui são pessoas que são polivalentes e realmente boas no que fazem, que entendem diferentes tipos de algoritmos, mas também têm a disciplina e a capacidade para aplicar a tecnologia. Ter esta amplitude de conhecimentos é muito positivo. Noutras partes do mundo, o foco é em tipos específicos de tecnologia, mas Portugal é muito polivalente.

Aplicar algoritmos no marketing

Como é que começou a sua empresa?

Há 17 anos, a partir do meu doutoramento na University College London (UCL), focado em diferentes tipos de IA, na modelagem de cérebros de abelhas, para tentar entender o desempenho neural de diferentes algoritmos.

Percebi que existem algoritmos que são desenvolvidos no mundo académico que nunca chegam à indústria, havendo uma enorme oportunidade de trazer a pesquisa académica para a indústria.

A génese da Satalia foi trazer os principais algoritmos académicos para causar impacto na indústria. O que tenho feito nos últimos 17 anos é entender quais são os tipos de IA para resolver problemas em todas as cadeias de abastecimento, seja no retalho como no marketing, para melhorar a eficiência e a eficácia.

Com o WPP, a Satalia está a aplicar algoritmos de IA para trabalhar marketing de ponta a ponta. Mas, como o grupo trabalha a maioria das marcas mundiais, também levamos para essas empresas IA que vai além do marketing.

Qual é o seu papel no WPP?

Sou o CEO da Satalia, que continua a existir dentro do grupo, e é uma ‘deep mind’ do WPP. Somos quase 300 especialistas em IA profunda em todo o mundo. A IA não precisa de milhares de programadores, só precisa de ter um bom conhecimento profundo.

Sou também o ‘chief AI officer’ do WPP, em que supervisiono horizontalmente toda a organização, no sentido de integrar a IA para melhorar a produtividade e a cadeia de abastecimento.

Estou também a começar uma empresa com investimento do WPP, para tentar resolver a ‘machine consciousness’ com uma pesquisa profunda. Acreditamos que a consciência da máquina será muito importante na próxima década.

Porquê?

É preciso responder a algumas grandes questões sobre se devemos construir máquinas conscientes e, se construirmos, como é que isso afeta a indústria e nos ajuda a entender a perceção dos consumidores.

O negócio de media, marketing e comunicação é entender e influenciar perceções, que é uma posição muito poderosa que tem de ser tratada de forma responsável e segura. Esta é uma das grandes questões que vamos enfrentar nas próximas décadas.

Qual é a sua posição nessa matéria?

Acredito que existem, basicamente, três categorias de risco associadas à IA. A primeira é a introdução dessas tecnologias na produção de forma segura, responsável e ética, que chamo de microrriscos.

O segundo são os riscos maliciosos, prevenir que maus agentes de mercado criem patógenos e desinformação, um papel que deve ser desempenhado principalmente pelos governos.

A terceira categoria são os macrorriscos, acontecimentos que vamos enfrentar como espécie, nos próximos dez a 20 anos, aos quais temos de responder. Por exemplo, o que acontece com o impacto da IA nos empregos ou se construirmos uma super inteligência? E se criarmos um mundo de pós-verdade? E se resolvermos a morte?

Já tem respostas para essas questões?

Acho que sim. Há cerca de quatro ou cinco anos fiz uma palestra TEDx, em que argumentei que existem seis singularidades, em que a singularidade significa o ponto no tempo em que já não se consegue ver mais além.

É uma denominação que foi adotada pela comunidade de IA para se referir à singularidade tecnológica, o ponto no tempo em que construímos uma super inteligência.

Na palestra utilizei a estrutura PESTEL, que se refere à análise política, económica, tecnológica, ambiental e legislativa. A singularidade política, por exemplo, é se criamos um mundo de pós-verdade ou se criamos um mundo onde podemos autenticar conteúdos.

A importância da autenticação de conteúdos

Existe alguma singularidade no marketing e na comunicação?

Sim, o marketing e a comunicação tocam várias dessas singularidades. Ser capaz de autenticar conteúdos é muito importante, para determinar o quão arriscado e problemático é um conteúdo, seja um ‘tweet’ ou um anúncio.

Para entender como isto vai inflamar uma comunidade ou quebrar as leis, precisamos de pensar em como usar a IA para identificar esses riscos e autenticar esse conteúdo.

A nossa indústria vai desempenhar um papel importante na mitigação dos riscos em torno do mundo da pós-verdade. Também há aquilo que chamo de ‘estados e capitalismo de vigilância’, em que a ideia é que estas tecnologias são muito boas a entender e a persuadir as pessoas.

Esta é uma posição muito poderosa e temos de ser muito cuidadosos. O marketing tem refletido sobre isto desde sempre, a IA está apenas a acelerar a necessidade de enfrentar algumas dessas questões.

Estudou e trabalhou sempre nesta área em outras empresas?

Graduei-me em IA e, depois, fiz o mestrado e o doutoramento, sempre nesta área, em paralelo com o trabalho de consultor em tecnologias da informação. Na verdade, estou na área da IA há 25 anos.

Veio a Portugal como orador da conferência do WPP, ‘Portugal, um país preparado para a IA?’. Qual foi a mensagem que deixou à audiência?

A mensagem principal foi sobre a necessidade de educar as lideranças e os decisores para serem capazes de usar a IA de forma benéfica para as suas organizações, para que as tecnologias e os talentos certos sejam aplicados de forma pragmática, na resolução dos problemas das organizações.

Muitas vezes, as empresas entusiasmam-se com as novas tecnologias e fazem maus investimentos, quando não nos podemos dar a esse luxo.

Quais são as sugestões que trouxe?

Apresentei uma estrutura de trabalho para pensar como trazer a IA para as organizações, de forma segura e responsável, e falei sobre os macrorriscos e como podemos unir as pessoas e a tecnologia, aumentando o potencial humano.

Para garantir que conduzimos a humanidade para um futuro positivo, refleti sobre a responsabilidade de todos os indivíduos, empresas, governos e também os consumidores, uma vez que como indivíduos somos consumidores.

Acredito no ser humano e na criatividade, que é uma das razões pelas quais me juntei ao WPP, que é um grupo que tem o propósito de usar o poder da criatividade para um futuro melhor.

Acredito, genuinamente, que se libertarmos as pessoas para usarem a criatividade, elas irão usá-la de forma a tornar o mundo melhor. Um futuro melhor é um mundo onde as pessoas são economicamente livres para contribuir para a humanidade como quiserem.

Liberdade para criar

Qual é o lado negativo da IA na criatividade e planeamento de meios?

Não sei se há um lado negativo da IA substituir a estrutura de tarefas mundanas e repetitivas, dando às pessoas mais liberdade para criar e testar mais rapidamente novas ideias junto de audiências sintéticas, identificando os melhores momentos para expor esses conteúdos à audiência pretendida.

O que a IA vai fazer é aumentar a qualidade e a quantidade de anúncios. As pessoas vão começar realmente a gostar de anúncios, da mesma forma que gostam dos anúncios do Super Bowl, por exemplo.

Qual é então a pergunta que deve ser feita em relação à IA?

Quando se usa IA, a pergunta que deve ser feita não é o que acontece se correr mal, porque isto já sabemos: construímos salvaguardas de prevenção para que isso não aconteça. Temos é de nos perguntar o que acontece se correr muito bem.

Na indústria de marketing, usar IA na produção e definição de objetivos de anúncios que gerem retorno do investimento, implica um preconceito humano inconsciente, que é o facto de gostarmos de interagir com pessoas que soam e se parecem connosco.

O que temos de nos perguntar é quais são os desafios potenciais se a IA correr muito bem, para garantimos que a publicidade é diversa e não impõe preconceitos.

A Google anunciou um aumento de 48% das emissões de carbono devido à IA. Isto não é negativo?

Esse é um tópico muito quente. As grandes empresas de tecnologias estão a avaliar como é que conseguem mitigar esse impacto energético. É preciso pensar duas coisas: qual é a energia economizada em outras partes da cadeia de abastecimento?

Porque se estão a ser usados algoritmos mais inteligentes e melhores, isso reduz o custo de produção de bens e serviços noutros lados. Alguém tem de fazer esta pesquisa e ter isto em conta.

O segundo aspeto é que, de facto, os grandes modelos de linguagem trazem um consumo energético intensivo, mas alguma da tecnologia emergente que tem surgido no mundo académico – modelada pelo funcionamento dos cérebros humanos – operam apenas com a energia de uma lâmpada, com soluções muito mais eficientes do ponto de vista energético.

As empresas poupam, mas para o consumidor final qual é o benefício do marketing com IA?

Há um artigo da Harvard Business Review, de 2016, chamado ‘Pirâmide de valor do consumidor’, que mapeou 40 coisas que os consumidores valorizam na Pirâmide de Necessidades de Maslow.

Valorizam mais acesso a bens de forma mais rápida, melhor e mais barata, mas também valorizam o que os faz sentir nostálgicos e conectados, o que os educa e lhes traz valor, e o que os faz sentir que contribuem positivamente para a humanidade.

Há estes valores mais elevados que valorizamos e que a IA é capaz de desbloquear e identificar, criando conteúdos que ressoem com eles, mas também dar às pessoas acesso a bens e serviços que enriquecem as suas vidas.

Bens e serviços que não tínhamos há 10 ou 20 anos e éramos felizes. Ou não éramos?

Sim, alguns sim. Há muitas pessoas que vivem com um dólar por dia, que vivem na pobreza. Se pudermos fazer com que essas pessoas tenham acesso a mais bens e serviços para enriquecer as suas vidas, é uma coisa boa. Gostaria de ver a IA a tornar esses bens mais económicos, elevando-as dessas restrições económicas.

Um estudo recente da LG Digital Solutions indica que apenas 38% dos consumidores considera que o uso de IA na publicidade agrega valor às marcas. O que é que isto significa?

Não conheço o estudo. A pergunta que faço é se eles são especialistas. Pode-se obter uma visão populista, pode-se fazer ‘crowdsource’ para obter uma resposta, mas a realidade é algo diferente.

Faria ‘crowdsource’ de aulas de balé para os seus filhos? Provavelmente não. Iria procurar um especialista. A pergunta que faria é se essa é a verdadeira visão dos consumidores ou se é apenas a perceção que têm. É verdade que, por vezes, a perceção equivale à realidade, mas precisamos de testar essa hipótese.

É urgente a IA ser regulamentada?

Qualquer avanço tecnológico que tenha um impacto material na vida das pessoas, em qualquer setor, tem sido fortemente regulado, e a IA pode e vai ter esse impacto. O que significa que não precisa apenas de ser regulada, precisa ser regulada de forma sensata. É uma tecnologia incrivelmente poderosa e, se for usada da maneira certa, pode elevar a humanidade a outro nível.

O que fazemos no WPP é autorregulação, em que as pessoas com as quais trabalho preocupam-se profundamente em garantir que estão a usar essas tecnologias da maneira certa. Não quer dizer que a autorregulação é a resposta, é preciso haver regulamentação global sobre o impacto holístico da IA.

No WPP, procuramos garantir que não estamos a aproveitar grandes modelos de linguagem, dos quais não entendemos a proveniência dos dados, e que não violamos direitos de autor, sendo muito cuidadosos ao criar anúncios que podem recorrer a pessoas falsas, por exemplo. O que vejo em geral na nossa indústria é uma atitude positiva em relação ao uso cuidadoso de IA.

Quais são os maiores erros que as marcas estão a cometer com o uso de IA?

Não são apenas as marcas, todos nós estamos entusiasmados com as tecnologias emergentes e muitas vezes há investimentos errados, na suposição de que as tecnologias podem resolver todos os problemas.

Há três coisas que diferenciam uma empresa no mundo da IA, uma delas são os dados, que sejam diferentes e melhores do que os dos concorrentes.

A segunda é ter acesso a conhecimentos profundos de IA, como conhecimentos ‘deep mind’, para permitir a construção de inovações diferenciadas dos concorrentes.

E a terceira é que a liderança entenda o poder transformativo dessas tecnologias e seja pragmática na sua aplicação na empresa. O erro que as marcas cometem é não perceberem que os dados são importantes e pensarem que podem contratar o seu próprio talento de IA e retê-lo.

Que tipo de IA é a mais decisiva na indústria da criatividade e do planeamento de meios?

Os grandes modelos de linguagem permitem criar conteúdos e entender como o público perceciona os conteúdos, mas não são bons a fazer previsões, por exemplo, a prever cliques, gostos e vendas, nem a fazer planeamento de meios.

Há mais opções de planeamento do que átomos

É possível prever gostos e partilhas?

Sim, mas existem tecnologias que permitem uma melhor previsão do que os grandes modelos de linguagem, que não usaria para construir algoritmos preditivos.

Quando se trata de planeamento de meios, se tenho, por exemplo, cinco conteúdos para alocar em cinco canais, existem 120 soluções possíveis. Se tiver 15 conteúdos alocados em 15 canais, há um trilião de soluções possíveis. Se tiver 60 conteúdos para alocar em 60 canais, há mais soluções do que os átomos que existem no universo.

O que resolve este problema não são os grandes modelos de linguagem, nem ‘machine learning’, é a otimização, em que Portugal é muito forte, e que no passado costumava ser denominada como pesquisa operacional.

Otimização não é um modelo de IA?

Olhar para a IA através de definições de tecnologias não é conveniente. Construí uma carreira inteira em torno da definição de IA, que tem um significado popular que acho fraco, que é fazer com que os computadores façam coisas que os humanos fazem.

Há uma melhor definição de IA que vem do conceito de inteligência, que é um comportamento adaptativo direcionado a objetivos. Isto são sistemas que tomam decisões, aprendem se essas decisões são boas ou más, adaptam-se e da próxima vez tomam melhores decisões.

O que fazemos no WPP é olhar para a IA através de aplicações, e não estou a falar de apps para telemóveis. Há seis categorias de atrito que existem em todos os negócios e cadeias de abastecimento de qualquer setor, que podem ser mapeados para uma dessas seis aplicações.

A tomada de decisões complexas é uma das aplicações, que provavelmente usa algoritmos de otimização.

Além do que já se sabe, como é que as marcas podem tirar proveito da IA?

É muito importante saber para onde estamos a ir. Há muitas críticas em relação às ‘alucinações’ dos grandes modelos de linguagem, que são um pouco como um licenciado, que durante o ano seguinte irá formar-se para ter o mestrado e ser capaz de raciocinar, e assim sucessivamente até chegar a professor.

Temos de nos interrogar, partindo do princípio de que essa capacidade vai evoluir nos próximos cinco anos, como é possível usar essa inteligência para acelerar a transformação digital e fazer uma disrupção na indústria.

Algumas indústrias são imunes à disrupção, mas a nossa indústria vai ser e está a ser completamente rompida. Não estamos a usar essas tecnologias apenas para revolucionar a nossa indústria nem para acelerar a transformação digital.

Estamos a usá-las para romper connosco próprios. As marcas devem pensar na trajetória da IA e como isso pode ser capitalizado na empresa.

Os seus clientes estão cientes da necessidade de integração de IA nas campanhas, ou sentem-se divididos por causa dos riscos?

Os clientes querem ter conteúdos que os diferenciem dos seus concorrentes. É irrelevante se a origem dos conteúdos é a IA ou um ser humano.

Mas acredito que o conteúdo mais criativo é, e será durante algum tempo, gerado por seres humanos. O que me entusiasma, em particular no WPP, é dar às pessoas acesso a ferramentas que lhes permitam explorar o cenário criativo e ultrapassar as fronteiras da criatividade.

É super emocionante ver as coisas loucas que as pessoas vão inventar nos próximos 10 anos.

Como chefe do departamento de IA, sente que o WPP investe o suficiente nessa área?

O WPP comprometeu-se com um investimento em IA de 250 milhões de libras (€295,5 milhões) por ano, mas começou a investir nas fundações da IA em 2018, ainda antes da aquisição da Satalia, em 2021.

É o montante certo para acelerar a nossa transformação e sermos disruptivos, dada a dimensão da nossa organização e a natureza do mercado em mudança. Vamos ver como as coisas evoluem.

Quais são as prioridades na alocação do orçamento de IA?

Desenvolvemos um conjunto de equipas como a de investigação e desenvolvimento profundos, para romper os limites das tecnologias, e a que faz desenvolvimento de soluções de produtos com IA, com a WPP Open, que é a plataforma de marketing de ponta a ponta que é usada por cerca de 20 mil pessoas dentro do grupo e WPP e também por clientes, como a Coca-Cola, em que a IA é implantada em toda a organização.

Construímos uma solução de IA empresarial que é capacitada para IA e estamos a prototipar o que denominamos como ‘cérebros’, que é a camada de inteligência da WPP Open.

Temos pessoas a trabalhar diretamente com clientes, a implantar IA em toda a organização e temos praticamente todas as empresas de tecnologia a usar o WPP para materializar as tecnologias nas suas grandes conferências, como a Microsoft, a Google e a Nvidia, com ‘showcases’ do WPP.

Como é que a integração de gémeos digitais com IA generativa se aplica na publicidade?

A Satalia está a construir gémeos digitais há mais de 10 anos e existem três tipos diferentes. Um é um gémeo digital de um ativo, como um telefone ou um carro.

O segundo é o gémeo digital de toda uma cadeia de abastecimento, que, caso haja uma campanha de marketing que aumente em 10% a procura de produtos, permite projetar questões como, por exemplo, se os fornecedores têm capacidade para dar resposta, se há espaço nos armazéns ou se há pessoas suficientes para fazer o atendimento nas lojas.

Um gémeo digital permite simular isto, que a maioria das organizações não consegue projetar em toda a cadeia de abastecimento. O terceiro gémeo digital são as pessoas, em que é possível ter um assistente de IA no telemóvel, com o qual se interage e que vai aprendendo sobre a própria pessoa e que, em certos aspetos, se torna o seu gémeo digital.

O interessante é que esses gémeos digitais serão criados para a vida pessoal como para a vida profissional e serão usados para tomar decisões. Os marketers não precisam apenas de aprender a vender para as pessoas. Precisam de aprender a vender para gémeos digitais.

 

Computação neuromórfica é o próximo paradigma

Há algum aspeto da IA que não esteja a ser utilizado por anunciantes nem agências de meios?

Há o conceito de computação neuromórfica, que é IA modelada de forma muito mais aproximada ao funcionamento dos cérebros biológicos, que vai ser um novo paradigma.

O que vai acontecer nos próximos cinco anos é que o marketing e a neurociência vão ficar muito mais próximos. A nossa capacidade de compreender a perceção e de poder influenciar as pessoas de forma segura, responsável e transparente vai tornar-se muito importante.

Estar próximo da pesquisa em neurociência é fundamental, o que será possível através da computação neuromórfica, que é IA orientada para o funcionamento do cérebro.

É uma evolução do neuromarketing, que já existe desde os anos 1990?

Sim, com a compreensão das pessoas, da psicologia comportamental e de todas as coisas que nos ajudam a entender quem somos como ser humano.

Que aplicações é que a computação neuromórfica pode ter no marketing e na publicidade?

A computação neuromórfica permite construir ‘cérebros de audiências’, que representam a forma como as pessoas percecionam os conteúdos.

Poderemos construir cérebros que recriam o que as pessoas pensam e sentem em relação a determinada coisa, o que permitirá criar um conteúdo melhor.

Mas também prever com mais precisão como é que esse conteúdo levará a cliques, gostos, vendas e resultados. A computação neuromórfica pode desbloquear a capacidade de entender mais profundamente a perceção das audiências.

Com a IA, as ferramentas de pesquisa ficarão obsoletas e desaparecerão?

Não estou em posição para falar sobre isso. A questão será se o tipo e modelo tradicional de pesquisa existirá daqui a cinco ou 10 anos, porque as pessoas vão fazer perguntas nas ferramentas de IA.

A Google é uma empresa muito inteligente e tenho certeza de que com o Gemini terá mecanismos para permitir que as pessoas acessem a informações, que sejam monetizáveis.

Vejo um futuro em que as pessoas se envolvem com grandes modelos de linguagem, criando conteúdos, em que haverá bens e serviços a serem oferecidos nesses conteúdos.

Os motores de busca ainda fazem sentido no futuro onde a IA vai dominar?

Um motor de busca tenta ser o mecanismo mais eficaz para obter acesso a informações. Se há um novo canal para isso, que são os grandes modelos de linguagem, tenho a certeza de que o Google vai entender como aproveitar essa tecnologia.

O fim dos anúncios nos motores de pesquisa?

O que vai acontecer à publicidade de pesquisa, que é uma fonte de receita para os motores de busca e um suporte publicitário relevante para os anunciantes?

Estaremos sempre à procura de bens e serviços e, ou vamos falar com grandes modelos de linguagem, ou os nossos gémeos digitais vão interagir com eles, havendo uma oportunidade de colocar à nossa frente bens e serviços que nos enriquecem. É apenas um tipo diferente de mecanismo para nos expor às marcas.

Com as pessoas a migrar para o ChatGPT, Gemini e outras ferramentas de IA, o valor da publicidade nos motores de busca diminuirá?
Ainda é muito cedo, os grandes modelos de linguagem só existem há alguns anos.

Estamos para ver como isso vai desafiar os motores de pesquisa. Vejo um futuro em que nos envolvemos com os conteúdos com menos atritos. Mas isso tem de ser pago e é provável que os conteúdos tenham publicidade incorporada.

O ChatGPT e o Gemini são o próximo Google, enquanto novo media para publicidade digital?

Penso que sim, da mesma forma que quando falamos com a Alexa, por exemplo, também é um novo media. Essas organizações vão ser inteligentes e garantir que esses conteúdos têm produtos e serviços. Não sei se já há empresas ou marcas que estejam a utilizar grandes modelos de linguagem como suporte publicitário.

Talvez o Perplexity esteja a fazer isso, não tenho a certeza, e pode haver mais algumas organizações que estejam a começar a incorporar publicidade nos seus grandes modelos de linguagem.

Alternativas para os ‘cookies’

Quais são os desafios que o fim dos ‘cookies’ de terceiros traz? Há um papel para a IA nesta transição?

Para os nomes, endereços e datas de nascimento, por exemplo, há ‘proxies’ que compreendem o comportamento humano.

Mas a forma como alguém perceciona algo não depende da data de nascimento, mas se a pessoa está apaixonada ou com fome, do tempo e da hora do dia, e se a sua equipa de futebol ganhou ou perdeu no jogo no fim de semana.

Entender os dados que são necessários, que representam a perceção de uma audiência, é que é a grande questão, não são os nomes, endereços e os ‘cookies’. Dominar os dados necessários para entender o comportamento humano ainda é uma arte.

Como é possível saber essa informação?

Pode usar-se os ‘proxies’. Sabemos qual é o dia de pagamento para a maioria das pessoas, sabemos o tempo e os acontecimentos que se passam no mundo.

Com menos dados, como é que se chega a essas pessoas?

Através de canais como a pesquisa do Google, a Amazon, o TikTok, os ‘outdoors’ e os anúncios do Super Bowl. Há muitos e muitos canais por aí.

Sem cookies de terceiros é mais difícil?

Não acho. Existem alternativas num mundo sem ‘cookies’ de terceiros, como esta ideia de usar IA para entender o público sem precisar de entender indivíduos específicos.

As avaliações de produtos da Amazon, por exemplo, contêm uma enorme quantidade de informações sobre como o público percebe os produtos, que permite criar melhores anúncios.

Acha que no futuro vai perder o seu posto de trabalho para a IA?

Não sei, espero que sim. [risos] O meu trabalho é facilmente substituído por um gravador. Se me gravar a falar sobre IA durante uma hora, isso é 90% do meu trabalho.

Terei de pensar nas tecnologias que estão a surgir no meio académico, a rapidez com que serão adotadas pela indústria, como vão resolver certos problemas em toda a cadeia de abastecimento, etc.

Mas há trabalho para alguém que pensa sobre essas tecnologias emergentes, mas provavelmente não é o meu trabalho. O facto, por exemplo, de a IA jogar xadrez melhor do que um humano não impede as pessoas de continuarem a jogar.

Na verdade, há hoje mais pessoas a jogar xadrez do que nunca. Só porque a IA pode fazer algo não significa que o vai fazer efetivamente.

Mas, se isso acontecer, o que vai fazer a seguir?

Exatamente o que faço agora. Estou muito feliz numa indústria que está na iminência de usar essas tecnologias para a transformar, numa empresa que adoro, que me dá liberdade para explorar a consciência da máquina e outras questões importantes.

Quero tornar isto acessível às pessoas. Se aplicarmos a IA da maneira certa, podemos permitir que as pessoas façam aquilo que amam.

*com Daniel Monteiro Rahman

Sobre o autorCatarina Nunes

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Cofundador do Instagram diz que Meta negou recursos à rede social e a considerou uma ameaça

Kevin Systrom foi chamado a depor pela Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos no julgamento em que a Meta está a ser acusada de abuso de posição dominante no domínio das redes sociais

O cofundador do Instagram, Kevin Systrom, testemunhou em tribunal que a rede social poderia ter sido facilmente bem-sucedido mesmo que não tivesse sido adquirido pela Meta, por mil milhões de dólares (€877,9 milhões), em 2012, acrescentando que Mark Zuckerberg, CEO da Meta, considerou o crescimento do Instagram uma “ameaça” e negou recursos à rede social após a ter adquirido.

Kevin Systrom foi chamado a depor pela Comissão Federal de Comércio (FTC) dos Estados Unidos num julgamento que começou a 14 de abril, no qual a Meta está a ser acusada de abuso de posição dominante no domínio das redes sociais.

Durante cerca de dois meses, vão ser ouvidos os argumentos a favor e contra a alegação de que a Meta terá monopolizado ilegalmente o setor das redes sociais através das aquisições do Instagram e do WhatsApp.

O cofundador do Instagram declarou ainda que, antes da proposta de aquisição de Mark Zuckerberg, o número de utilizadores da rede social estava a crescer de forma exponencial e estava confiante de que a aplicação acabaria por lançar funcionalidades como o vídeo, as mensagens privadas e os anúncios, sem a ajuda do Facebook.

O testemunho sustenta o argumento central da FTC de que a Meta empregou uma estratégia de “comprar ou enterrar” para evitar que redes sociais emergentes, como o Instagram e o WhatsApp, constituíssem uma ameaça direta ao seu império. A FTC está a pressionar para que o Instagram e o WhatsApp sejam alienados.

Meta pode perder 7 mil milhões de dólares em receitas publicitárias

A Meta pode perder até 7 mil milhões de dólares (€6,1 mil milhões) em receitas publicitárias este ano devido às tarifas impostas por Donald Trump, de acordo com uma nova estimativa da empresa norte-americana de análises financeiras MoffettNathanson, noticia o The Wall Street Journal. Embora a Meta não opere na China, as redes sociais da empresa são usadas por anunciantes chineses, incluindo a Temu e a Shein, com o objetivo de alcançar os consumidores norte-americanos.

No entanto, as novas tarifas de 145% sobre as importações chinesas tornam praticamente impossível para as empresas chinesas venderem os produtos nos Estados Unidos, o que vai levar estas empresas a reduzirem os investimentos publicitários nas plataformas da Meta.

As receitas da Meta provenientes da China ascendem a 18,4 mil milhões de dólares (€16,2 mil milhões) em 2024, o que representa cerca de 10% das receitas totais da empresa, no valor de 165 mil milhões de dólares (€145,3 mil milhões), de acordo com os resultados financeiros da tecnológica.

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ERC e LabCom-UBI colaboram para identificar desinformação nas legislativas

A análise incide sobre conteúdos associados às candidaturas partidárias publicados nas plataformas Facebook, X, Instagram, TikTok e Youtube. Monitorização decorre até ao dia das eleições, 18 de maio

Com o objetivo de analisar e identificar conteúdos de desinformação publicados nas redes sociais no contexto das eleições legislativas 2025, a ERC – Entidade Reguladora para a Comunicação Social, assina um protocolo de cooperação com o LabCom – Unidade de Investigação em Ciências da Comunicação da Universidade da Beira Interior.

A análise incide sobre conteúdos associados às candidaturas partidárias publicados nas plataformas Facebook, X, Instagram, TikTok e Youtube.

“A parceria que estabelecemos com o LabCom-UBI para a monitorização das redes sociais em contextos eleitorais reafirma o nosso compromisso com a defesa do direito à informação dos cidadãos e da liberdade de imprensa, valores nucleares e essenciais à proteção da integridade dos processos democráticos», sublinha Helena Sousa, presidente da ERC, citada em comunicado de imprensa.

O trabalho de monitorização realizado pela equipa do LabCom-UBI arrancou a 18 de abril e irá decorrer até ao dia das eleições, 18 de maio.

João Canavilhas, investigador do LabCom-UBI, também destaca a importância de combater a desinformação: “Este protocolo surge na sequência de uma primeira colaboração com a ERC nas eleições Europeias de 2024 e espera-se que permita aperfeiçoar o processo de identificação de conteúdos desinformativos. O objetivo do LabCom é contribuir para uma sociedade melhor usando a sua investigação”, conclui.

 

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Bill Owens, principal responsável pelo programa de investigação norte-americano, justifica a decisão com a perda da independência jornalística. “Estou a afastar-me para que o programa possa seguir em frente”

Bill Owens, o produtor e principal responsável pelo programa de investigação norte-americano ’60 Minutes’, anuncia a demissão, numa altura em que o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, lança uma batalha legal contra o programa.

“Nos últimos meses, tornou-se claro que não me será permitido continuar a dirigir o programa como sempre fiz. Tomar decisões independentes com base no que é correto para o ’60 Minutes’ e para o público”, escreve Bill Owens, numa mensagem interna dirigida à equipa, a que o New York Times teve acesso. “É por isso que, depois de ter defendido o programa e aquilo por que lutamos, de todos os ângulos, ao longo do tempo e com todas as minhas forças, me demito para que o programa possa continuar”, conclui o produtor executivo.

O programa semanal, que atrai cerca de dez milhões de telespetadores todos os domingos para assistir a reportagens marcantes sobre a sociedade americana ou de zonas de guerra, é um dos mais visados por Trump, contra os meios de comunicação social.

O litígio tem como pano de fundo o projeto de fusão entre a Paramount, empresa-mãe da CBS News, e a Skydance, que tem de ser aprovado pela Autoridade Reguladora das Telecomunicações, presidida por Brendan Carr, aliado de Donald Trump.

Com Donald Trump a reclamar 20 mil milhões de dólares (€17,5 mil milhões) de indemnização à CBS, a possibilidade de uma mediação entre a Paramount e o republicano é frequentemente evocada.

No início de fevereiro, Bill Owens tinha assegurado à equipa que não pediria desculpas em tal eventualidade, como revela o New York Times.

No final de 2024, a ABC News aceitou pagar 15 milhões de dólares (€13 milhões) para um fundo destinado a financiar “uma fundação e um museu” dedicados a Donald Trump, a fim de evitar um processo por difamação contra o republicano, uma concessão vista como uma vitória para o presidente americano.

 

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Cândido Costa é o novo embaixador do Banco Montepio

A parceria será visível em várias iniciativas que a instituição bancária planeia lançar ainda durante 2025. A escolha do ex-futebolista, acrescenta a marca, resulta da sua participação numa iniciativa interna do banco

O Banco Montepio anuncia a nomeação de Cândido Costa como o novo embaixador da marca. A colaboração tem como objetivo reforçar a presença do banco na comunidade e estreitar a ligação com os portugueses, “promovendo uma comunicação mais próxima, autêntica e humana”, segundo o comunicado de imprensa.

A parceria será visível em várias iniciativas que a instituição bancária planeia lançar ainda durante 2025, acrescenta o Montepio.

Pedro Leitão, CEO do Banco Montepio, acredita que esta colaboração não só irá reforçar a imagem da instituição bancária, mas também fortalecer a relação com os clientes. “O Cândido traz consigo uma abordagem genuína que se alinha com os nossos objetivos e valores. A sua capacidade de se conectar com as pessoas faz dele o embaixador ideal para a nossa marca”.

A marca explica ainda que a escolha de Cândido Costa como embaixador resultou da sua participação numa iniciativa interna, “onde se evidenciou a sua simplicidade e autenticidade”.

Sobre esta parceria, Cândido Costa, cliente do Montepio há mais de duas décadas refere que “é fundamental estarmos lado a lado com as pessoas, partilhando momentos significativos e experiências que possam melhorar as suas vidas, porque todos sabemos que o Montepio é o Banco de Causas”, conclui o novo embaixador da marca.

 

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“Vislumbrei que seria possível crescer, mas nunca vislumbrei uma multinacional nos quatro continentes”

Com uma faturação de €70 milhões em 2024, metade no Médio Oriente, a Multilem prepara-se para abrir, na China, o nono escritório fora de Portugal

Catarina Nunes

Pedro Castro e o irmão, José Castro, começam a Multilem em 1986, com os stands de apresentação no Palácio de Cristal, no Porto, das empresas nacionais com relações comerciais com o Reino Unido e vice-versa, por ocasião da visita a Portugal dos Príncipes de Gales. Nenhum dos dois tinha experiência nem conhecimento da área.

Em entrevista exclusiva ao M&P, Pedro Castro, CEO da Multilem, explica como é que faz evoluir o negócio dos stands para a atual abordagem centrada na experiência de marca, incluindo eventos e ativações para marcas. Fala ainda sobre a internacionalização, com o reforço da aposta nos Estados Unidos, iniciada em 2024, e a abertura de um escritório na China.

Aponta ainda o maior desafio e oportunidade no setor das experiências de marca – a falta de espaços para eventos em Lisboa – e assume os valores pelos quais se rege: o cumprimento de prazos, a qualidade dos acabamentos e a felicidade e bem-estar dos funcionários da Multilem.

Recentemente, a Mutilem ganha dois prémios na China, com o Festival Lai Ba Saudi Travel, e outro em Los Angeles, com o expositor da Embratur na Travel & Adventure Show. São prémios aos quais vocês se candidatam?

Não, são prémios atribuídos, raramente nos candidatamos. Os prémios na China [Promoção Anual de Turismo no Estrangeiro, atribuído pela Jiemian News; e Melhor Caso de Marketing Transfronteiriço (2023-2024), pela Advertising Billboard] foram com o maior evento de sempre que já fizemos, em Pequim, no Temple of Heaven, que é um símbolo da cidade. Já tínhamos feito vários stands e trabalhos na China, mas não da relevância deste.

Foi para que cliente e o que é que fizeram?

O cliente era o turismo da Arábia Saudita, para apresentar o país como destino turístico na China. Houve várias atuações de bandas de música local e da Arábia Saudita, e stands de apresentação de cerca de 30 destinos na Arábia Saudita.

São destinos turísticos que estão em construção, com ‘resorts’ de ultra-luxo construídos do zero, com todas as comodidades possíveis e imaginárias, cidades inteiras, hotéis e spas. O evento principal teve 500 mil pessoas e incluiu discursos do ministro do turismo da Arábia Saudita e do ministro do governo chinês.

A Multilem existe desde 1986. A cadência de prémios tem sido constante ao longo destes 39 anos ou o reconhecimento demorou a chegar?

Demorou. Começámos de uma forma engraçada: com um anúncio que vimos num jornal. Vinham a Portugal os príncipes de Gales, o príncipe Carlos e a princesa Diana, para celebrar os 500 anos da Aliança Portugal-Inglaterra.

Ia ser feita uma exposição com empresas portuguesas que trabalhavam com a Inglaterra e empresas inglesas que trabalhavam com Portugal. O anúncio pedia uma empresa que pudesse concorrer a isso. A Multilem é criada para concorrer a esse evento no Palácio de Cristal, que ganhámos.

Qual é a origem da denominação Multilem?

Na altura, a maneira melhor e mais comum de fazer stands era com perfis de alumínio e havia um muito revolucionário, o LEM System, que permitia fazer múltiplos ângulos.

Como é que evolui para uma agência de experiência de marca e ativações?

A atividade de stands de alumínio não é muito criativa, mas rapidamente percebemos que a nossa praia era criar, fazer projetos personalizados. Ganhámos um primeiro cliente muito bom, a Revigrés, e passámos a fazer-lhes os eventos e os stands para as feiras internacionais. O crescimento da Multilem foi muito mais com empresas do norte e centro do que de Lisboa.

Da Rank Xerox para as feiras

Funda a Multilem com o seu irmão. O que é que faziam antes?

Comecei na Rank Xerox a vender fotocopiadoras e o meu irmão tinha outra empresa, que hoje em dia é a holding das nossas empresas, e dedicava-se à construção e obras de renovação de interiores, que continuamos a fazer, mas só para escritórios de empresas que sejam nossos clientes.

Qual é o aspeto mais distintivo da Multilem?

A qualidade de acabamentos e o cumprimento de prazos. Por exemplo, se a feira abre a uma quarta-feira, na terça-feira de manhã temos tudo pronto.

Em todas as atividades, em princípio, o prazo não é decisivo. A obra de uma loja ou de um escritório se não fica pronta numa semana, fica na semana seguinte. Num evento não podemos dizer ao Presidente da República “se não se importa, venha antes amanhã porque houve aqui um problema com a alcatifa”.

“Eu e o meu irmão estamos a começar a desligar, porque é preciso juventude e frescura em todas as áreas da empresa”, avança Pedro Castro, CEO da Multilem

Quando viu o anúncio no jornal largou a Rank Xerox e qual foi a ideia que teve?

Depois da Rank Xerox, ainda trabalhei numa empresa de móveis de escritório e depois é que mudei realmente para a Multilem. Depois do evento dos príncipes de Gales, não sabíamos se íamos continuar, porque era um mercado que desconhecíamos em absoluto.

Mas, com o dinheiro que ganhámos, dava para iniciar a atividade e abrimos um escritório no Porto, que era mais forte em feiras do que Lisboa. Na altura ganhámos clientes no Porto e no centro, da zona da Anadia, como a Sanitana e a Revigrés, e o mercado de feiras no Porto mais rapidamente se tornou apetecível para fazer ‘stands’ personalizados do que Lisboa. Até que ganhámos a Renault França, que foi um cliente decisivo e aprendemos imenso com eles.

O que é que aprenderam com a Renault?

Na altura, levávamos as madeiras e os materiais e construíamos os stands na própria feira. Os franceses disseram: “não pode ser assim, não é como nós construímos. É preciso levar as coisas já feitas e o ideal é terem sido pré-montadas”.

Isto era completamente revolucionário, ninguém fazia isso. A primeira vez com a Renault não correu bem, porque nos atrasámos. Foi com eles que aprendemos o que é o último dia do prazo: eles diziam, na brincadeira, que o último dia é para comer camarão tigre.

Como é que se dá o início da expansão com escritórios fora de Portugal?

Sempre fizemos stands para empresas portuguesas em feiras no estrangeiro. A internacionalização começa em 2009, quando ganhamos um trabalho para o AICEP: o pavilhão de Portugal na FILDA, uma feira multissetorial em Angola. Quando a FILDA acaba, ganhamos o prémio de melhor stand e o diretor da feira disse que não íamos sair de Angola e que íamos criar a Multilem Angola.

Angola continua a ser um mercado relevante?

Temos um escritório com 35 pessoas, mas o mercado já não é o que era. Trabalhamos muito com a Teixeira Duarte, fazemos os ‘showrooms’ da Toyota e stands em feiras para empresas petrolíferas, por exemplo.

O início no Dubai com a Visa

A Multilem está com projetos e escritórios no Dubai e na Arábia Saudita. É uma opção deliberada ou é resultado de uma circunstância?

Foi uma circunstância. Um amigo disse-nos que a sobrinha dele, que tinha trabalhado com stands na Líbia, ia viver para o Dubai com o marido e sugeriu-nos abrir a Multilem no Dubai. Fomos lá conhecer a sobrinha dele e um potencial sócio, um alemão que vivia no Dubai. Não gostámos nada do alemão, mas gostámos imenso dela e abrimos a Multilem com ela. Tínhamos zero clientes.

Qual foi o vosso primeiro cliente?

A Visa, o cartão de crédito, que ainda hoje é um dos nossos melhores clientes. Fazemos para eles grande parte dos eventos no Médio Oriente, que é onde a Visa investe mais dinheiro, mas também na EMEA, que inclui a Europa e África, além do Médio Oriente. Continuamos a fazer eventos em África, onde a Visa é patrocinadora do campeonato de futebol Taça das Nações Africanas (CAN).

Como é que evolui dos stands para as experiências de marca e eventos?

Chegámos à conclusão que tínhamos de ter uma equipa permanente, que respondesse aos desafios das montagens dos eventos. Começámos a ter uma equipa grande – porque não só desenhamos, como concebemos, produzimos, montamos e acompanhamos –, o que nos trouxe outro problema: não há praticamente feiras em julho, agosto e setembro, e tínhamos de dar trabalho às pessoas.

A sazonalidade das feiras fez com que começássemos a fazer eventos, que é uma extensão do que já estávamos a fazer. Sobretudo porque tínhamos o mais importante: o rigor com os prazos e a confiança dos clientes.

Nessa época, a Multilem tinha um perfil mais discreto, comunicava menos o que fazia?

Comunicávamos pouco, porque andávamos sempre atrás do próximo evento e não havia tempo. Ainda hoje é muito difícil. Começámos há muito pouco tempo com uma equipa de marketing.

Antes da LLYC, já tinham trabalhado com outra agência de comunicação?

Tivemos antes uma agência de comunicação, mas eles ligavam e nós não tínhamos tempo. Durante muitos anos, era eu, o meu irmão e um ‘account’. Hoje temos dez ou 12 ‘accounts’. Tinha coisas boas e más. Tínhamos menos clientes, mas com um maior volume de faturação, o que é perigoso quando se perde um cliente.

Nunca investimos nem tivemos muito tempo para a comunicação, o que é pena, porque as pessoas não fazem ideia de uma empresa sediada na Azambuja, que tem oito escritórios no mundo.

O que é que muda para sentir essa necessidade de comunicar? Há mais concorrência?

Não é bem isso. Há mais concorrência, mas para o nicho e serviços que prestamos não há muita concorrência. Não quero ser arrogante, mas estamos num nicho de mercado de grande qualidade de acabamentos e preocupação com o impacto que as coisas têm. Ou seja, temos a concorrência de uma agência que cria, mas depois não constrói. Isto dá-nos algum benefício.

A Multilem também faz a parte estratégica?

Exatamente, que os clientes pedem cada vez mais. Mesmo que uma empresa tenha uma equipa própria, acaba por se viciar no mesmo olhar. Temos 20 e tal designers e existe sempre uma frescura diferente. Mesmo assim, às vezes, o trabalho pode ser repetitivo.

Mudámos completamente o paradigma. Quando começámos, as empresas que havia construíam stands, nem sequer criavam. Começámos a criar, fomos os primeiros a contratar designers, que fomos buscar às agências. Depois fomos sendo conhecidos ou reconhecidos pelo público, mas nunca ligámos muito à comunicação.

Por que razão instalou a Multilem na Azambuja?

Precisávamos de um lote grande e não tínhamos dinheiro, porque o que fazemos é com o dinheiro que vamos ganhando. Nem o meu irmão nem eu estamos ricos, nem é esse o objetivo. Temos estado sempre a investir.

No ano passado, abrimos nos Estados Unidos, agora vamos abrir na China. O dinheiro que vem e sobra é sempre reinvestido, para tentar gerar mais riqueza e dar melhores condições aos funcionários.

Quem é que são os acionistas da Multilem?

Eu, o meu irmão e o Luís Matos Chaves, que trabalhava no BPI, depois foi para o Deutsche Bank e mais recentemente estava em Nova Iorque, também a trabalhar na banca. Eu e o meu irmão estamos a começar a desligar, porque é preciso juventude e frescura em todas as áreas da empresa.

Dividimos a empresa em unidades de negócio independentes, com um CEO, e temos uma holding, onde o Luís é o CEO do negócio de Portugal. Na holding, sou o CEO, o meu irmão é o presidente e o Luís é o CFO.

Não tenho preconceitos com a idade, mas a maneira de trabalhar e de comunicar, e a idade e a cabeça dos nossos clientes, não são a minha cabeça. Faz muito mais sentido que haja uma abordagem de juventude.

Expansão no pós-pandemia

Como é que atravessam a pandemia com as feiras e os eventos cancelados a nível mundial?

A pandemia foi decisiva. Ninguém fazia eventos e tínhamos cento e tal funcionários. Parámos a 100% e falámos com as pessoas: “despedimos parte das pessoas ou ficamos todos, baixamos um bocadinho os ordenados e esperamos para ver o que é que acontece?”. Toda a gente disse que não se despede ninguém e ficámos todos, mesmo as pessoas que estavam a prazo.

O que é que acontece a seguir?

O Estado ajudou com o lay-off simplificado, mas mesmo assim tínhamos de pagar uma parte e assumir uma data de custos terríveis, porque queremos ter bons profissionais e a maioria das pessoas não quer viver na Zambuja – porque têm os maridos, as mulheres ou os filhos que trabalham ou estudam em Lisboa. Portanto temos uma frota de carros enorme, um custo que tivemos de assumir.

Começámos a fazer eventos online, meio a brincar, nunca tínhamos feito nem deu muito dinheiro. Mas deu para as pessoas trabalharem e depois a pandemia passou, estávamos ávidos por trabalhar e a faturação mais do que dobrou no primeiro ano a seguir.

Este período também permitiu, a mim e ao meu irmão – que tem 68 anos e é um pouco mais velho do que eu, que tenho 65 anos –, pensarmos que, mais tarde ou mais cedo, a empresa não pode ser nossa e precisamos de sangue novo.

Qual é a razão da abertura de um escritório na China, o nono país da Multilem?

Fizemos o evento na China com um sucesso enorme e fomos desafiados por um parceiro local, que é sempre o nosso modelo: ter alguém local que puxe a carroça e que se saiba mexer. Não vamos à louca para um sítio, tirando os Estados Unidos, onde não temos um sócio local, mas há uma pessoa que é nossa sócia que se vai mudar para lá.

Já estamos em Miami com um armazém, oficina e escritório, e temos algum negócio. Em 2024, faturámos €3 milhões, só nos Estados Unidos. Mas no ano passado sofremos imenso. Foi de cá um ‘stand’ com mil metros quadrados para uma feira de petróleos no Brasil – um dos nossos grandes clientes é o Governo do Brasil – e os contentores atrasaram. À última da hora, tivemos que adjudicar e fazer lá um ‘stand’ de raiz, com um prejuízo de €600 mil.

Nos Estados Unidos, com a guerra comercial e de tarifas, a Multilem vai fazer os ‘stands’ lá, em vez de os enviar feitos em Portugal?

Já estamos a fazer isso. Ainda agora fizemos, em Boston, a Seafood, que é uma feira grande de marisco.

Que outros clientes têm nos Estados Unidos?

São muitas empresas brasileiras da APEX [Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos], que é o equivalente ao nosso AICEP e fazemos todos os ‘stands’ e visitas de chefes de Estado do Brasil e ministros à América do Norte – inclui Canadá, Estados Unidos e México –, na Europa e em África.

Fazemos coisas como a Casa Brasil, em que nos pedem, por exemplo, para arranjar um espaço em Nova Iorque, onde durante uma semana ou dez dias se promovem produtos de marcas brasileiras. Já fizemos também em Londres e em Lisboa, em 2024.

Metade da faturação é no Médio Oriente

Qual é o peso dos mercados externos na faturação e quanto é que representa cada geografia?

A maior de todas, em 2024, foi o Médio Oriente, que é um ‘hub’ que inclui o Dubai e a Arábia Saudita. No ano passado, a Multilem consolidada faturou à volta de €70 milhões e o Médio Oriente, onde começámos há dez anos, representou 50%.

Portugal representa cerca de 40% e depois os restantes 10% divide-se entre Angola, Espanha, Inglaterra, Estados Unidos – que é o maior nestes 10% – e Brasil. No ano passado, grande parte da faturação dos Estados Unidos foi faturada em Portugal, porque estávamos a constituir a empresa, só tínhamos o escritório e o armazém, e não estávamos prontos a faturar. Em Espanha ainda não conseguimos crescer ao ritmo que queríamos.

Qual é o problema em Espanha, que normalmente é mais fácil pela proximidade geográfica?

Não é preguiça nossa. Fomos para Espanha desafiados, mas andávamos sempre a correr. Tínhamos um grande cliente em Espanha, a Vodafone, para quem fizemos dois stands no Mobile World Congress, em Barcelona, e depois eles deixaram de ir.

Tínhamos outro grande cliente, a Google Espanha, que é completamente fora da caixa e com uma relação de confiança total: chegam e dizem “tenho este dinheiro, quero fazer isto e aquilo, faz-me o projeto”.

Mas devíamos ter tempo e meios para explorar mais. A Google no Reino Unido faz imensos trabalhos, mas nunca nos dedicámos especialmente a isso. Há dois anos, abrimos o escritório de Londres, que também entra nos 10% da faturação que referi, e terá faturado cerca de €1,5 milhão.

Como é que chegam à Arábia Saudita e se conseguem distinguir?

A história é engraçada. Ganhámos a Saudi Arabian Military Industries (SAMI) e fizemos vários eventos que correram bem. Na Arábia Saudita existe um ministro único para o turismo e para a defesa – só na Arábia Saudita é que isto pode acontecer.

Propusemos ao ministro que nos consultasse, para fazermos uma feira de turismo, uma vez que eles nunca tinham participado numa feira de turismo.

Com tantas restrições, nomeadamente no que diz respeito às mulheres, fazia sentido promover o turismo?

Já não há assim tantas restrições. A certa altura, o MBS [Mohammed bin Salman], o príncipe que manda, decidiu abrir a Arábia Saudita ao mundo, porque o petróleo vai acabar e eles têm de começar a fazer qualquer coisa. O país é lindo, absolutamente incrível.

Como fazíamos os eventos de defesa, fomos a uma reunião com o CEO da Saudi Tourism Authority mostrar o nosso portefólio e ele disse: “é isto que vocês querem fazer para nós? Acham que alguma uma vez vamos adjudicar-vos alguma coisa? Nunca fomos a uma feira de turismo, acham que é isto que vamos querer? Isto é super ‘boring'”.

Dissemos que fazemos tudo aquilo que os clientes pedem: se eles pedem ‘boring’, fazemos ‘boring’. Mas, se pedirem outra coisa, fazemos. Eles queriam ir à maior feira de turismo do mundo, a ITB em Berlim, mas já não havia espaço. O único espaço que a feira deu era fora dos pavilhões, num parque de estacionamento.

Fizemos um projeto de €4 milhões, todo ‘prá frentex’, completamente diferente. Montámos tudo, mas a feira foi cancelada por causa da pandemia. Pensei que íamos falir porque não nos iam pagar. Nenhum saudita foi lá ver, porque entretanto fecharam as fronteiras, mas pagaram-nos e engraçaram connosco. Daí para a frente já fizemos sete grandes feiras.

O que é que aconteceu ao pavilhão?

Guardámos os móveis, aquilo que dava para aproveitar, e o resto foi para lixo.

O stand do Turismo da Árabia Saudita realizado em 2020 para a feira ITB, em Berlim, que não chega a abrir, por causa da pandemia

As feiras estão em queda. Quais são as oportunidades nos eventos e nas ativações de marca?

As feiras estão em queda em Portugal, lá fora continuam a bombar. Tem a ver com o nosso mercado, que é muito pequeno e os custos são grandes. Há uma feira boa em Portugal, talvez, a BTL – porque dependemos muito de turismo –, e depois há pequenas feiras setoriais, mas não há investimento na criatividade.

É o espaço com uma alcatifa no chão e pouco mais. As feiras estão mais concentradas naquelas que são as mais reconhecidas e é onde as grandes empresas investem. Não fazemos coisas só nas feiras, também fazemos, por exemplo, em museus, como um projeto que fizemos para a APEX. Clientes do Brasil, trabalhamos também a Embratur, que é a parte turística, e fazemos todos os stands do Brasil nos Estados Unidos e na Europa.

O desafio da falta de espaços para eventos

Existem oportunidades para crescer em Portugal?

A grande oportunidade de negócio em Portugal – e nunca nos quisemos meter nisso nem vamos – é arranjar espaços. Se fosse mais jovem, antes de ir para outro país, ia arranjar espaços cá que possam acolher todo o tipo de eventos, sobretudo corporativos, que é a nossa área.

Estamos com um problema com a Google, que quer fazer um evento cá num dia específico em maio, e o único sítio que arranjámos é na antiga Carris, no Arco do Cego, mas não conseguimos encaixar lá 800 pessoas, mesmo montando tendas. Estamos em risco de não fazer este mega evento e há vários eventos que saem de Portugal porque não há espaços.

Se a Multilem não vai apostar em espaços, quais são as apostas?

É consolidar. O objetivo é os Estados Unidos, que abrimos no final de 2024, e consolidar essa aposta. Temos um problema com os vistos, que são muito difíceis e que com o novo presidente Trump mais difíceis ficaram.

Isto pode gerar algum problema porque precisamos de levar para lá alguns portugueses imbuídos do nosso ADN, dos valores da confiança, cumprimento dos prazos, qualidade de acabamentos e melhorar o trabalho sempre até ao fim. Nunca nada está pronto.

Se temos tempo para fazer ainda melhor, temos de o fazer, mas fazê-lo por nós. Muitas vezes digo “isto aqui não está bem, faça não sei o quê” e dizem-me “isso está escondido, ninguém vê” e eu digo “vejo eu”. Temos de ter brio naquilo que fazemos e não sei se o freguês vai ver ou não, mas preciso de estar contente com o resultado. Este ADN é essencial e mais ainda num país novo.

Quais são os outros objetivos?

Abrir na China. Já fizemos o contrato e vamos funcionar nas instalações do nosso sócio local, que é uma empresa destas áreas, porque precisamos de assegurar o conhecimento do mercado. Temos um evento absolutamente megalómano em cima da mesa, que estamos na final, ainda não ganhámos, que há de ser o primeiro grande cliente na China.

Vai deixar Portugal para segundo plano?

Portugal não está em segundo plano, continuamos a querer trabalhar com marcas e já trabalhamos com grandes marcas, como a Fundação Francisco Manuel dos Santos, a Fundação Oceano Azul, a Jerónimo Martins e o grupo José de Mello, por exemplo.

Qual é o cliente mais recente e quando é que entrou na Multilem em Portugal?

Talvez seja o ‘revival’ do Novo Banco no ano passado – já tínhamos trabalhado o Banco Espírito Santo – e a TAP.

Atração de talento, sustentabilidade e IA

Entre os temas na ordem do dia, há a questão da retenção e atração de talento. Na sua área é uma dificuldade?

É um desafio porque a retenção de talento é decisiva, e juro que isto não é conversa, porque a Multilem são as pessoas. Não sou eu nem os outros acionistas quem está em Boston, Xangai, Londres, Azambuja e Lisboa a fazer montagens.

Como é que faz para atrair talento?

É difícil, o mercado de trabalho está esgotado, não há pessoas disponíveis e temos imensa dificuldade em recrutar, sobretudo na área comercial e da criatividade. É uma área muito exigente. Tivemos pessoas fantásticas que davam a vida pela Multilem, mas que são casadas e têm filhos, e não podem estar o tempo todo fora de casa.

Temos pessoas que num ano dormem 250 noites fora de casa, porque andam em montagens ou em eventos. A nível de remuneração tentamos pagar melhor, este ano conseguimos dar um 15º mês de salário. Temos o compromisso de repartir parte do lucro da empresa por todos os trabalhadores.

Faz isso porque também não tem acionistas a exigir dividendos?

Não exigimos e gostávamos, mas há coisas mais importantes, como gerar algum bem-estar e alegria às pessoas que trabalham na Multilem, em vez de tirarmos dividendos. Tiramos no ano seguinte ou a meio do ano.

Na Multilem no Médio Oriente, por exemplo, recebemos os dividendos de 2023 esta semana, que vão ser para investir nos Estados Unidos e na China, ou para pagar alguns empréstimos que íamos fazendo, para financiar a atividade.

O Festival Lai Ba Saudi Travel, no Temple of Heaven, em Pequim, é um dos projetos da Multilem que Pedro Castro coloca entre os mais marcantes

Os stands têm muito desperdício e impacto ambiental. O que é que fazem a nível da sustentabilidade?

Temos uma grande preocupação com a reciclagem. Os bons clientes nunca querem ficar com nada. Tudo o que é audiovisuais, que é uma grande componente, são reutilizáveis e tentamos reutilizar os materiais de construção, as estruturas metálicas e as madeiras, em outros trabalhos.

Às vezes até sai mais caro reutilizar do que fazer de novo, mas temos essa consciência da sustentabilidade. Cada vez mais usamos materiais sustentáveis e com o menos possível de plástico e de pegada. Os clientes também já pedem propostas sustentáveis.

Não ser sustentável já não é aceitável?

Sim, para o tipo de clientes que temos. Se for num nicho de mercado mais baixo, em que a única coisa que interessa ao cliente é pagar menos, é completamente indiferente. Para as grandes empresas portuguesas e internacionais é absolutamente decisivo que digamos o que é que vamos fazer com o stand.

Estamos a tratar das certificações de que somos sustentáveis, para mostrar aos clientes que os restos dos stands não são lixo, não deixam uma pegada. Isso faz parte da consciência enquanto cidadão.

De que formas a inteligência artificial está a contribuir para a criatividade e crescimento do negócio da Multilem?

A inteligência artificial (IA) está a transformar profundamente a criatividade e o crescimento da Multilem, acelerando processos e ampliando as capacidades da equipa criativa. No design 3D e na construção de ‘storytelling’, por exemplo, a IA permite experimentar ideias rapidamente, explorar novos estilos e criar narrativas visuais mais coesas.

Por outro lado, a IA está a revolucionar as experiências de marca, tornando-as mais interativas e personalizadas. Mas na Multilem, a IA não substitui a criatividade humana, acelera a sua aplicação, possibilitando resultados mais rápidos e eficientes.

Com a integração da tecnologia no processo criativo, a empresa consegue oferecer experiências mais inovadoras, imersivas e significativas, elevando a relação das marcas com os públicos. Na parte da estratégia e da apresentação da proposta, do texto a explicar o projeto, também utilizamos.

O altar do Papa Bento XVI, no Terreiro do Paço, em Lisboa, é um dos projetos da Multilem de que Pedro Castro mais se orgulha

Quando começa a Multilem, projetava transformá-la no que é hoje?

Não. Quando fizemos os primeiros stands personalizados, ou seja, sem serem em perfis de alumínio, e começámos a perceber que os clientes confiavam em nós, vislumbrei que seria possível crescer, mas nunca vislumbrei uma multinacional nos quatro continentes – quer dizer, já fizemos umas coisas pequenas na Austrália.

Até gostava de poder dizer que estamos nos cinco continentes, mas ainda não fomos porque não temos meios, é preciso tempo para formar as pessoas. Sem ter esse ADN, é dar um passo em falso. Para os Estados Unidos, por exemplo, vai uma pessoa que trabalha connosco há dez anos, que é a Ana Fontes, que vai ser nossa sócia.

Não tenho estes recursos todos para ir abrir em mais sítios. Também queria abrir em França, que é um mercado fortíssimo em eventos. O nosso ‘calcanhar de Aquiles’ é Espanha. E não é só por não ter lá recursos, os espanhóis também são muito bairristas, adjudicam às empresas espanholas.

De que formas é que o seu percurso pessoal e profissional o moldaram e à Multilem?

Sou aquilo que as pessoas com quem tenho trabalhado me ensinaram a ser e me pediram que fosse. Não fui só eu que fiz a Multilem, foi tudo o que fizemos juntos, os desafios que vivemos e ultrapassámos. Este espírito de família tornou-me na pessoa que sou, com defeitos e qualidades, e uma enorme gratidão por todas as pessoas que trabalharam na Multilem, que é um bocadinho a minha vida.

Onde é que é imagina a Multilem no futuro?

Imagino uma empresa mesmo global, uma multinacional, que onde quer que o cliente esteja e precise, possamos responder-lhe. Já acontece em quatro continentes e gostava que isso pudesse acontecer no mundo inteiro, de uma forma suave, e que as pessoas tivessem melhor qualidade de vida. Quando há um de nós que vai embora porque a vida que tem põe em causa a sua vida familiar, para mim é uma grande tristeza.

Gostava muito de conseguir resolver esse problema, de repartir melhor esse esforço. Porque, às vezes, quanto melhor é a pessoa, mais confiança temos e mais pedimos. Gostava que as pessoas tivessem orgulho, fossem felizes e tivessem uma boa qualidade de vida  é a regra número um -, que é mais importante do que distribuir os dividendos.

“Mercado de eventos é muito mais forte do que as ativações de marca”

De todos os projetos que a Multilem já fez, qual é o mais emblemático?

O que teve mais impacto, para mim e para muitas das pessoas que trabalharam na Multilem, foi o altar do Papa Bento XVI no Terreiro do Paço, porque foi arrasador. Fora de Portugal são os stands da Saudi Tourism e o evento na China.

Trabalham eventos, expositores e ativações de marca. Qual destas áreas está com mais procura?

As ativações têm muita procura, mas não têm o mesmo volume. Temos feito o Super Bock Super Rock, a parte da decoração do espaço, imagem e estratégia, mas é um volume muito mais pequeno. Fizemos o Novo Banco no Nos Alive no ano passado e vamos fazer este ano.

É mais ativações na área da música, mas para o Banco Espírito Santo já fazíamos os balcões e sobretudo eventos, como o BES Photo, o Estoril Open, os encontros de quadros e a assembleia geral.

Quais são as tendências nos eventos, stands e ativações, que considera relevantes ou que os clientes procuram mais?

Sobretudo no Médio Oriente, existe muito a guerra pelos audiovisuais, em que o metro quadrado de ecrã é o mais importante. Gostam porque tem mais luz, é mais brilhante, tem movimento e vida, que para eles é importante. Temos milhares de metros quadrados de ecrãs LED no stand do Turismo da Arábia Saudita.

O mercado de feiras tem vindo a baixar e tem subido muito o mercado de eventos e de ativação de marca. Não sei se foi da pandemia, mas cada vez há mais eventos. Em Lisboa, é impossível arranjar uma sala. Estamos a fechar espaços para 2026 e há uma data de espaços que já não estão disponíveis.

Qual é a área mais forte, os eventos ou as ativações de marca?

O mercado de eventos é muito mais forte do que as ativações de marca, porque muitas vezes as ativações de marca têm sítios específicos que acontecem num lugar, onde já há um evento principal. É mais fácil fazer porque já existe o espaço e já está marcado para o evento principal. Por isso, os eventos são de longe a área que cresce mais e que tem mais tendência para crescer.

Na Multilem, quanto é que os eventos cresceram em 2024 face a 2023?

Cresceram 40%. No ano passado fizemos um evento para a Teleperformance com 15 mil pessoas, só de Portugal. Antigamente, isto era impensável, não existia este tipo de eventos, é um mercado novo.

Sobre o autorCatarina Nunes

Catarina Nunes

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JCDecaux e Maybelline New York transformam o acesso ao Colombo numa experiência imersiva

Para lançar o novo batom da marca de cosmética, a JCDecaux, com a colaboração da agência Publicis, criou um ‘takeover’ vibrante no túnel de acesso ao centro comercial Colombo

A JCDecaux junta-se à agência de publicidade Publicis para lançar o novo batom da Maybelline New York, o Super Stay Teddy Tint, com uma campanha imersiva no túnel de acesso ao centro comercial Colombo, o maior do país, com 25 milhões de visitantes anuais.

A iluminação em tons intensos de rosa e a decoração em vinil com elementos gráficos inspirados no Teddy Tint são os elementos mais marcantes. Segundo o comunicado de imprensa, a marca assume os ecrãs digitais da JCDecaux (100% de ‘share of time’) no local, numa solução desenvolvida à medida pelo departamento interno de ‘creative solutions’.

Gustavo González, responsável pela área de soluções criativas da JCDecaux Portugal, destaca a transformação do espaço urbano em experiências impactantes: “Esta colaboração com a Maybelline New York é um exemplo perfeito de como a JCDecaux pode reinventar ambientes do quotidiano, como o caso dos centros comerciais, e transformá-los em oportunidades ideais para despertar a curiosidade, incentivar decisões de compra e amplificar o alcance das marcas junto de audiências valiosas”.

A iniciativa reflete a aposta da JCDecaux Portugal em transformar espaços urbanos em experiências que conectem emocionalmente as pessoas às marcas, reforçando a notoriedade das marcas e a eficácia da mensagem publicitária nas principais cidades, centros comerciais e aeroportos do país.

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Helena Coelho é a escolha da Eletta para o Dia da Mãe

A campanha da marca relojoeira, que faz 75 anos, foi desenvolvida pela dupla André Brito e Diogo Azenha da Rocha, estando a ser divulgada no Facebook, Instagram, Google e YouTube

A influenciadora Helena Coelho (na foto) protagoniza a campanha da Eletta para o Dia da Mãe. Desenvolvida pela dupla André Brito e Diogo Azenha da Rocha e filmada no hotel Verride Palácio de Santa Catarina, em Lisboa, está a ser divulgada no Facebook, Instagram, Google e YouTube, além do site e dos pontos de venda físicos da marca relojoeira portuguesa.

Com 782 mil seguidores no Instagram, 375 mil no TikTok e 110 mil no Facebook, Helena Coelho colabora pela segunda vez com a marca, após a campanha de Natal de 2024, promovendo a nova linha de relógios Vintage, inspirada no design da década de 1950.

“A nossa proposta visual transmite a capacidade da linha de se adaptar aos diferentes momentos do quotidiano feminino, do mais casual ao mais elegante, refletindo a rotina multifacetada da mulher moderna”, explica a Eletta, marca que comemora os 75 anos em 2025.

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“Somos mais que as mães”: expressão dá vida à campanha da Sonae Sierra

Ana Galvão, Catarina Raminhos e Sónia Morais Santos juntam-se à nova campanha dos centros comerciais da Sonae Sierra, que destaca a importância das redes de apoio no universo da maternidade

A nova campanha dos centros comerciais geridos pela Sonae Sierra, sob o mote “Somos mais que as mães”, destaca a importância das redes de apoio no universo da maternidade. A campanha, com a criatividade assinada pela agência Born, estará presente nos canais digitais dos centros, incluindo redes sociais e websites, sendo reforçada por uma estratégia de marketing de influência.

Destaque para a iniciativa ‘Mother Talks’, onde figuras públicas como Ana Galvão, Catarina Raminhos e Sónia Morais Santos (do blogue ‘Cocó na Fralda’), partilham as suas experiências sobre a maternidade, num ambiente informal. Os vídeos com as figuras públicas serão publicados nas redes sociais do NorteShopping, Nova Arcada, ArrábidaShopping, GaiaShopping, Centro Colombo, CascaiShopping, Centro Vasco da Gama e AlgarveShopping.

“Quisemos celebrar não só as mães, mas algo que sempre existiu e que raramente celebramos: as suas redes de apoio. São estas pessoas que fazem a diferença todos os dias, tornando a maternidade mais leve e partilhada”, afirma Mariana Quelhas, coordenadora de marca e marketing Ibéria da Sonae Sierra. “Esta iniciativa está alinhada com a nossa estratégia omnicanal e aposta na comunicação digital, que assume um papel central na forma como queremos chegar às pessoas”, conclui.

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Leitão & Irmão quer aumentar exportações

A empresa, que acaba de lançar uma coleção em parceria com o Museu do Tesouro Real, aposta nas redes sociais, em campanhas digitais e no marketing de influência, para alavancar a internacionalização

A Leitão & Irmão, empresa joalheira liderada por Jorge Leitão (na foto, à dir.) que acaba de lançar uma coleção de joias em parceria com o Museu do Tesouro Real (à esq.), em Lisboa, está a reforçar a estratégia de vender fora de Portugal, a partir do site.

A aposta é em campanhas nas redes sociais e em motores de busca, que nos próximos meses serão amplificadas através de marketing de influência para aumentar as vendas nos países onde regista maior procura, como os Estados Unidos, o Reino Unido, a Áustria e o Luxemburgo, estando também de olho no Médio Oriente.

“Estamos a iniciar a abordagem exploratória, para percebermos como é que lá chegamos e se é um target que se justifica em termos de aposta estratégica”, revela ao M&P Sofia Almeida, diretora de marketing da Leitão & Irmão.

Numa altura em que 20% da produção vai parar ao estrangeiro, apesar de muitas das peças serem adquiridas em Portugal por turistas nas três lojas físicas que a marca tem em Lisboa e no Estoril, a empresa pretende aumentar o volume de exportações.

“A internacionalização assenta na internet, onde estamos a fazer um forte investimento, com campanhas de ‘brand awareness’. Temos tido um aumento de encomendas nos Estados Unidos. Ainda não são centenas de peças, mas o número tem vindo a crescer e o objetivo, este ano, é crescermos na base dos dois dígitos, dentro de valores entre os 20% e os 30%”, refere Jorge Leitão, sócio-gerente e sexta geração na liderança da Leitão & Irmão.

A intenção é impulsionar o negócio, após uma quebra de 10% da faturação em 2024, face a 2023. A profissionalização do marketing, trabalhado até 2022 “de forma empírica”, sem recurso a análises de dados e estratégias estruturadas, é um dos planos da empresa, para voltar aos níveis de faturação que tinha antes da pandemia.

O desenvolvimento de coleções colaborativas, como a que acaba de lançar em parceria com o Museu do Tesouro Real, depois de colaborações com clubes como o Sporting CP e o SL Benfica e figuras públicas como Débora Montenegro, Nathalie Castro e Carolina Curado, é outra das apostas para rejuvenescer a marca.

Ao longo dos 203 anos de atividade da empresa, artistas de renome como Columbano Bordalo Pinheiro, Salvador Dalí, René Lalique, José Aurélio e Graça Costa Cabral também colaboraram com a marca no desenvolvimento de peças e coleções.

Centro de produção no Bairro Alto

Fundada em 1822, no Porto, pelo ourives José Pinto Leitão, que em 1873 é nomeado ourives da casa imperial brasileira. Em 1887, após a nomeação como joalheiro da coroa portuguesa, a Leitão & Irmão muda-se para o Bairro Alto, em Lisboa, onde ainda hoje mantém o centro de produção.

“À época, as marcas tinham uma cara e um nome. Em regra, o do fundador. As grandes marcas do mundo mantêm essa tradição”, diz Jorge Leitão, que tinha seis anos quando tomou noção da marca familiar. “Foi numa viagem a Fátima com o meu pai, num 13 de maio, porque fomos nós que fizemos a coroa da imagem de Nossa Senhora de Fátima”, recorda.

Membro da Laurel, Associação Portuguesa de Marcas de Excelência, a Leitão & Irmão tem nas joias femininas, nos botões de punho e nas bases de garrafas os produtos mais vendidos.

Além das campanhas digitais nas redes sociais e de email marketing, a empresa, que tem a Companhia das Soluções como agência de comunicação e ativação de marca, também está a reforçar a aposta em marketing de influência através de personalidades com ligações à marca, como a apresentadora Ana Rita Clara e a designer Maria Barros. O investimento em marketing anual é entre 3% e 7% da faturação, que a Leitão & Irmão opta por não revelar.

Sobre o autorLuis Batista Gonçalves

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Quiosque desenvolve campanha integrada dos 75 anos da Mustela em Portugal

Em paralelo, os Laboratoires Expanscience, que detêm a marca Mustela, estão a preparar o lançamento de uma nova marca, centrada no conceito de envelhecimento positivo, revela ao M&P Inês Barreto, diretora de marketing e vendas dos Laboratoires Expanscience

Catarina Nunes

Para assinalar os 75 anos da Mustela em Portugal, a agência Quiosque PR & Communication está a desenvolver, em conjunto com a marca de cuidados dermatológicos para bebés, uma campanha de comunicação 360º. Em paralelo, os Laboratoires Expanscience, que detêm a marca Mustela, estão a preparar o lançamento de uma nova marca, centrada no conceito de envelhecimento positivo.

A trabalhar com a Quiosque PR & Communication desde 2024, Inês Barreto, diretora de marketing e vendas dos Laboratoires Expanscience em Portugal, considera que “esta parceria tem sido fundamental para garantir uma comunicação integrada e alinhada com os valores da marca. A abordagem multicanal da agência tem permitido maximizar o impacto das campanhas e criar uma proximidade constante com o público-alvo”.

A campanha dos 75 anos procura consolidar o posicionamento da marca junto de públicos estratégicos, com a Quiosque PR & Communication a contribuir com a criatividade e planeamento de meios. A estratégia inclui “relações públicas, influência digital e uma campanha de media online, garantindo consistência de mensagem e maximização de visibilidade”, avança ao M&P Roberto Esteves, diretor de clientes da Quiosque PR & Communication. A nível de ações junto de meios de comunicação, a abordagem tem como objetivo reforçar a notoriedade e a dimensão institucional da marca.

Roberto Esteves salienta que “um dos principais desafios é garantir que a comunicação mantenha a autenticidade e a conexão emocional com o público” FOTO DR

A criação de ‘engagement’ orgânico e relevante nas redes sociais, por seu lado, é impulsionado com o envio de um kit comemorativo a perfis de referência no universo da maternidade, entre macroinfluenciadoras, micro e nano – ainda por definir -, que comungam dos valores da marca: sustentabilidade, parentalidade positiva e inovação. O Instagram oficial da marca (@mustelaportugal) será o principal canal digital da campanha, na comunicação e amplificação dos conteúdos criados em parceria com as influenciadoras e a comunidade Mustela.

“Um dos principais desafios é garantir que a comunicação mantenha a autenticidade e a conexão emocional com o público, enquanto se destaca a importância dos 75 anos de história da marca. É fundamental equilibrar o legado da Mustela com uma abordagem contemporânea e relevante, para atrair tanto as gerações mais jovens como as famílias mais experientes”, argumenta Roberto Esteves, salientando a necessidade de sincronizar e adaptar as mensagens, para garantir a consistência da identidade da marca em todos os formatos e pontos de contacto.

Canais digitais reinam, TV está fora da estratégia

Fora da estratégia está a televisão, com a Mustela a preferir reforçar a presença nos canais digitais, devido ao crescimento da preponderância do digital em termos de consumo de media. “A televisão, apesar de ser um meio de grande alcance e impacto emocional, deixou de ser tão prioritária, pois os canais digitais oferecem uma segmentação mais precisa, a flexibilidade necessária para criar mensagens personalizadas e medir, em tempo real, o impacto das campanhas e permitem uma comunicação interativa e personalizada”, justifica Inês Barreto, escusando-se a revelar o orçamento alocado à campanha dos 75 anos.

A campanha irá estender-se ao longo do ano, com ativações faseadas de janeiro a dezembro. “O objetivo é prolongar o impacto da celebração, reforçando continuamente a ligação da Mustela às famílias e à maternidade”, justifica Roberto Esteves. “A campanha terá maior expressão a nível de digital, em canais como YouTube e ‘display’, para trabalhar fases do funil de conversão mais voltadas para ‘awareness’ de marca. Com ‘social media ads’ vamos trabalhar a repetição da mensagem, com formatos de ‘feed’ e ‘story’ para trabalhar fases mais de conversão. O Google Search apoia esta comunicação com ‘keywords’ de marca”, explica o diretor de clientes da Quiosque PR & Communication.

Para Inês Barreto, “a televisão, apesar de ser um meio de grande alcance e impacto emocional, deixou de ser tão prioritária” FOTO DR

Foco nas famílias e no envelhecimento positivo

Em relação ao percurso da marca conhecida pelo ‘cheirinho a bebé’ e que está em Portugal desde 1950, Inês Barreto, diretora de marketing e vendas dos Laboratoires Expanscience, destaca que “beneficia de 75 anos de estudos e da inovação científica sobre a pele delicada e frágil dos bebés e do ‘know-how’ exclusivo da Expanscience na extração de ingredientes vegetais”.

Depois da introdução no portefólio de soluções específicas para todos os tipos de pele de bebé e criança (normal, seca, sensível ou com tendência atópica), com ou sem fragrância, biológicos e para futuras e recém-mamãs, a aposta mais recente é em produtos para toda a família, em resposta à crescente procura por produtos versáteis e de uso partilhado.

“As famílias procuram cada vez mais produtos que combinem eficácia, segurança e sustentabilidade. Este aumento da exigência está a moldar a estratégia da Mustela, que se foca no desenvolvimento de fórmulas com 96% de ingredientes de origem natural, em média, práticas agrícolas responsáveis e produtos dermatologicamente testados. A marca está a reforçar a aposta em linhas específicas e com certificação BIO, e em inovações que venham responder às necessidades e dúvidas dos pais”, refere Inês Barreto.

Quanto à nova marca centrada no envelhecimento positivo, a diretora de marketing e vendas dos Laboratoires Expanscience avança que terá uma gama dedicada à mobilidade e ao desconforto articular, com soluções baseadas em estudos clínicos rigorosos.

“Num contexto em que a taxa de natalidade continua a diminuir e Portugal se destaca como o segundo país do mundo com a maior percentagem de população acima dos 45 anos per capita, a aposta neste segmento surge como uma resposta ao aumento de uma população sénior mais informada. Este público tem vindo a procurar, cada vez mais, produtos que promovam a saúde e o bem-estar de forma holística, preventiva e positiva”, justifica Inês Barreto.

Sobre o autorCatarina Nunes

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