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1991 – 2024. O que é que se passou na Global Media?

Está aberta uma nova era. A assembleia geral realizada a 19 de fevereiro, por convocatória dos acionistas minoritários José Pedro Soeiro e Kevin Ho, dá novo fôlego às publicações do […]

Cristina Dias Neves
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1991 – 2024. O que é que se passou na Global Media?

Está aberta uma nova era. A assembleia geral realizada a 19 de fevereiro, por convocatória dos acionistas minoritários José Pedro Soeiro e Kevin Ho, dá novo fôlego às publicações do […]

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Está aberta uma nova era. A assembleia geral realizada a 19 de fevereiro, por convocatória dos acionistas minoritários José Pedro Soeiro e Kevin Ho, dá novo fôlego às publicações do Global Media Group. É nomeada uma nova administração após a demissão dos administradores executivos indicados pelo acionista maioritário World Opportunity Fund e aberta a porta para a reorganização dos títulos.

A TSF, o Jornal de Notícias (JN) e O Jogo, bem como as publicações JN História, Notícias Magazine, Evasões e Volta ao Mundo ficam apalavradas para um novo grupo de investidores, constituído por Diogo Freitas, da OfficeFood Brands, empresa sediada em Ponte de Lima que se dedica à fabricação e distribuição alimentar, e mais três entidades: o Grupo Parsoc e o Grupo Ilíria, que têm em comum o estarem no negócio da distribuição de tabaco, e a empresa Mesosystems, que atua na área da cosmética. Os históricos Diário de Notícias (DN) e Açoriano Oriental mantêm-se sob gestão direta do Global Media Group (GMG), cujos sócios são Marco Galinha, José Pedro Soeiro, Kevin Ho e António Mendes Ferreira.

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De saída está o mais recente acionista, o polémico World Opportunity Fund (WOF). Os termos e os valores em que esta saída acontece não são ainda conhecidos, mas certo é que também nunca foram divulgados os termos e os valores da sua entrada.

Entretanto, Domingos de Andrade, antigo diretor do Jornal de Notícias foi indicado para diretor-geral dos títulos que passam para as mãos do grupo de empresários do Norte, liderado pela OfficeFood Brands. Também a Global Media escolheu um novo presidente executivo, Vitor Coutinho, um antigo padre que foi vice-reitor do Santuário de Fátima. Entraram também novos elementos para a administração: Diogo Queiroz de Andrade, que estava no Observador, e Rui Rodrigues, um gestor comercial da área dos media que é atualmente sócio da Spectacolor, a empresa que explora a publicidade das caixas Multibanco.

O Meios & Publicidade apurou que o objetivo é a Global Media manter uma quota de 30% na nova sociedade constituída pelo grupo de novos acionistas do JN. A ideia é conseguir explorar as sinergias que existem entre as publicações do grupo. Assim, se tudo correr de feição para a nova administração do GMG, já justificaria dar um novo nome à empresa.

O grupo que Joaquim Oliveira comprou por 300 milhões de euros à Portugal Telecom (PT) pouco ou nada tem a ver com o que é agora. Se a quota de 40% que Marco Galinha adquiriu em 2020 for valorizada pelo montante que consta que tenha despendido na sua aquisição (cerca de 10 milhões de euros, dos quais 6 milhões em injeções de capital fresco), poderá querer dizer que, em setembro de 2020, o grupo valeria uns 25 milhões de euros, apenas 8% do que era 15 anos antes.

Tendo em consideração tudo o que se tem vindo a passar no universo dos media nestes últimos anos, não se estranha que tenha acontecido uma grande desvalorização, mas justifica-se uma perda tão significativa de valor? Embora o grupo não tenha já no seu portfólio dois valiosos edifícios históricos, as sedes do Jornal de Notícias no Porto e do Diário de Notícias em Lisboa, avaliadas em 2015 em 40 milhões de euros, ainda possui uma quota bastante significativa na agência de notícias Lusa, bem como na distribuidora Vasp.

Afinal de contas, o que se passou? Como foi possível que uma empresa detentora de títulos tão fortes e prestigiados no panorama português tenha chegado a esta situação? E já depois de ter sido sangrada por três camadas de despedimentos coletivos, um ainda na Controlinveste, outro, na era dos capitais da lusofonia e, por fim, um terceiro, no consulado de Marco Galinha.

A génese do grupo Lusomundo / PT Multimedia

Não querendo recuar a meados do século XIX, quando, em 1864, o Diário de Notícias foi criado, assinalamos a data e damos um salto do tamanho de um século para lembrar como é que este título histórico foi parar à esfera da Portugal Telecom.

Quando no final da década de 1990, o Governo lançou o programa de (re)privatizações em Portugal, o tenente-coronel Luís Silva, patrão da Lusomundo e detentor de uma fortuna considerável por conta dos direitos de transmissão das principais majors norte-americanas, viu a possibilidade de adquirir alguns títulos nacionalizados no 25 de Abril, como uma oportunidade para diversificar o negócio. Assim, em 1991 comprou os jornais Diário de Notícias e Jornal de Notícias, lançando a génese do atual grupo de media.

Apesar de, na altura, haver alguma perda de brilho dos históricos títulos, fruto sobretudo da animada concorrência que emergia — O Independente, fundado em 1988, teve os anos de ouro ao longo da década de 1990 e o diário Público chegou às bancas em março de 1990 — a verdade é que o Diário de Notícias continuava a ser o jornal de referência de Lisboa e das suas elites, lugar que assumiu totalmente após a extinção do O Século e. posteriormente, do Diário de Lisboa. Na eterna cidade invicta, o Jornal de Notícias mantinha a sua senda de jornal popular, chegando várias vezes a atingir o primeiro lugar do ranking dos mais vendidos em Portugal.

Mas a era da Lusomundo Media chegou ao fim. Em 2000, o coronel Luís Silva decidiu vender os negócios e os títulos à PT Multimédia, que, recorde-se, herdou os ativos da extinta TV Cabo, que resultou, mais tarde, após imposição da Autoridade da Concorrência, numa nova operadora, a ZON, atualmente NOS. O racional que estava por detrás deste negócio era reunir os conteúdos da Lusomundo Media à infraestrutura que a PT Multimédia tinha montado para, desta forma, criar uma oferta de valor aos subscritores do cabo. Para uma empresa que tinha como objetivo criar valor acrescentado aos seus subscritores através dos conteúdos, a Lusomundo Media era de facto apetecível.

O princípio fazia sentido. Aliás, parte do plano foi concretizado. Ainda hoje, a NOS que, recorde-se, surgiu da PT Multimédia, detém uma quota de mais de 60% do mercado nos cinemas, para não falar das comunicações e media, onde detém uma quota de 30% a 40 %, dependendo do serviço prestado.

Relativamente aos jornais e outros meios de comunicação, que, entretanto, se juntaram ao grupo, cedo a PT percebeu que gerir jornais era uma dor de cabeça. Não havia vocação interna para assumir um negócio tão característico como o dos media e, por outro lado, a ideia de que a gestão poderia ter alguma influência nos conteúdos depressa foi descartada. Seja como for, foi uma época com uma certa estabilidade em que o diretor, Mário Bettencourt Resendes, representava o Diário de Notícias (entre 1993 e 2004) junto das altas instâncias lisboetas, e Frederico Martins Mendes assegurava bem o Jornal de Notícias, no Porto.

Entrada da Controlinveste

Estamos em 2005. A Portugal Telecom, liderada por Miguel Horta e Costa, vende o negócio de media, por 300 milhões de euros, a Joaquim de Oliveira, dono da Olivedesportos, empresa concessionária da publicidade nos jogos de futebol da Primeira Liga. Joaquim de Oliveira, tal como o seu irmão António Oliveira, treinador de futebol, é um conhecido empresário do norte de Portugal, detentor de uma fortuna oriunda da negociação de direitos de transmissão futebolísticos. Ainda hoje, Joaquim Oliveira detém interesses na Sport TV. Na altura, o negócio foi bastante comentado. Não se percebia porque estava um empresário do futebol interessado no negócio da comunicação social, até porque já se anteviam problemas no setor. E sabia-se que o empresário do futebol tinha contraído uma dívida importante para adquirir títulos muito fortes, mas que nem à PT, à época ainda com golden share do Estado, servia. Além disso, o título com mais impacto na capital já mostrava sinais de forte instabilidade, o diretor do Diário de Notícias tinha saído pouco antes, tendo sido difícil encontrar alguém para o lugar. Entre 2004 e 2007, ocuparam o posto nada menos do que seis diretores, dois dos quais interinos, à média de seis meses no posto. O Jornal de Notícias não teve a vida tão difícil. Leite Pereira manteve-se no posto entre 2005 e 2011. Aliás é de justiça referir que o Jornal de Notícias é, até hoje, a joia da coroa comercial grupo.

Mal ou bem, o certo é que no DN, a direção só voltou a estabilizar quando João Marcelino ocupou o lugar, entre 2007 e 2014. Estabilizou, mas não o suficiente para recuperar o brilho do passado. Na era de Marcelino, talvez à imagem dos jornais de onde vinha, o Correio da Manhã e anteriormente o Record, o Diário de Notícias optou por uma abordagem mais rápida e simples da atualidade, procurando novos leitores num segmento menos tradicional. Não perdeu leitores, mas também não os recuperou.

De lembrar que 2009 foi um ano de recessão para toda a imprensa, tal como 2012, pelo que a recuperação do jornal esteve sempre adiada. Os negócios da Olivedesportos também não correram de feição, com o aparecimento de outros players no mercado. Nesses anos, o grupo Controlinveste endividou-se cada vez mais.

O Período Lusófono Eixo Angola – Macau

No final de 2013, a chegada de novos rostos ao grupo editorial reveste-se de pompa e circunstância. Acredita-se num recomeço. No capital da Controlinveste entram novos sócios, aliviando Joaquim de Oliveira que, entretanto, via a fortuna a começar a esvair-se no pagamento de dívidas. O angolano António Mosquito, homem ligado à petrolífera angolana Sonangol, com interesses vários em Portugal, com destaque para uma participação na construtora Soares da Costa, novo protagonista a entrar em cena, passa, então, a controlar 27,5% do grupo, a mesma porção de capital mantém Joaquim de Oliveira. Como acionista estreia-se também Luís Montez, o conhecido empresário da rádio e dos espetáculos, que assume 15% do capital, bem como os bancos BES e BCP, cada um com 15%, por conta da dívida de Oliveira.

Para gerir a empresa são contratados Victor Ribeiro, gestor saído do grupo Amorim, e José Carlos Lourenço, vindo do grupo Impresa onde exercia funções de administrador executivo para a área comercial. A presidência da empresa é entregue ao conhecido advogado Daniel Proença de Carvalho. E é esta equipa de luxo que anuncia uma forte reestruturação do grupo, a começar pelo nome que passa a chamar-se Global Media Group, uma alusão às suas ambições internacionais. A estratégia anunciada passava por uma internacionalização da marca no espaço lusófono, otimizando o negócio sobre a língua portuguesa.

Com este desígnio em mente, é realizada uma reestruturação bastante significativa dos principais títulos, que inclui a entrada de novos diretores: André Macedo para o Diário de Notícias e Afonso Camões para o Jornal de Notícias. Segue-se o redimensionamento e um novo layout dos jornais, o lançamento de uma nova grelha na TSF e o reforço das equipas de marketing e digital do grupo. Tudo isso enquanto se efetiva um processo de despedimento coletivo que leva à saída de mais de 200 pessoas e a um emagrecimento geral da estrutura operacional.

Em entrevista ao Meios & Publicidade, José Carlos Lourenço explica, nessa altura, que, após a reestruturação do grupo, tenciona ter as contas equilibradas em 2015. Mal ou bem, o certo é que o Global Media Group, que tinha um EBITDA [lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações] negativo de 8 milhões em 2014, conseguiu gerar um EBITDA positivo de 186 mil euros.

Pode dizer-se que 2016 foi de consolidação da estratégia do grupo. Foram várias as iniciativas postas em marca, como o lançamento de uma área de branded content e a aposta em grande no digital. Viveu-se um clima de muito dinamismo na área dos eventos com parcerias com grandes anunciantes, como o Continente e o Millenium BCP, pela mão do conhecido diretor comercial Luís Ferreira e a sua equipa, que atualmente está na Medialivre, antiga Cofina.

Em março desse ano, anunciou-se a venda da emblemática sede do Diário de Notícias, na Avenida da Liberdade e a sua transferência no final do ano para novos escritórios nas Torres de Lisboa. O valor oficial da venda não é divulgado, mas os meios de comunicação social avançam o valor de 20 milhões. O ano de 2016 termina com um EBITDA de 2,4 milhões de euros,. Mas, apesar do encaixe com a venda do edifício, a empresa continua com prejuízos superiores a quatro milhões e uma dívida aos bancos de 35 milhões de euros.

Novos acionistas

Em março de 2017, talvez pela necessidade de capital decorrente da perda de poder de compra dos angolanos na sequência da quebra do preço do petróleo, é a vez de entrarem novos acionistas no grupo. Desta vez, vindos do Extremo-Oriente. O grupo macaense KNJ Global Holdings, que atua na construção civil e está ligado ao empresário Kevin Ho, identificado na imprensa local como sobrinho de Edmund Ho, conhecido político macaense, que foi chefe do executivo de Macau entre 1999 e 2009, é o novo acionista. Chega através de uma injeção de 15 milhões de euros, ficando com uma quota de 30%.

“A Global Media Group informa que os seus accionistas chegaram a acordo com o empresário de Macau Kevin Ho, nos termos do qual este empresário aportará ao capital da empresa holding do Grupo o montante de 15 milhões de euros, passando o novo investidor a deter 30% do capital social da sociedade. O capital investido no grupo vai ser utilizado, fundamentalmente, em projetos destinados a reforçar a liderança do consórcio no digital e à sua internacionalização especialmente nas geografias onde se fala português e junto das nossas comunidades no estrangeiro”, adianta a empresa.

Em simultâneo, as participações que eram de António Mosquito e de Luís Montez são transferidas para José Pedro Soeiro, empresário e gestor angolano com participação em empresas portuguesas, angolanas e do Reino Unido. Nesta fase, dá-se nova alteração da estrutura acionista através de um aumento de capital, findo o qual fica assim a composição: KNJ, com 30%, J P Soeiro, com 30%, Oliveira, com 20%, e BCP e BES com 10% cada. A comissão executiva é reconduzida, mas entra um novo administrador executivo em representação de Kevin Ho. Paulo Rego, ex-jornalista da LUSA e fundador do jornal bilingue plataforma Macau, é o novo vice-presidente da comissão. Em comunicado, afirma: “Por um lado, a GMG descobriu recentemente a estabilidade económica, por meio da reestruturação financeira bem-sucedida, permitindo que a GMG se concentre no crescimento futuro. Por outro lado, uma migração digital forte, combinada com uma nova ambição em todos os mercados portugueses também contribui para o interesse da operação”.

A KNJ é uma empresa privada de investimentos com sede em Macau, afirma, justificando: “Nós procuramos o lucro e este negócio não é diferente. Esta injeção de capital será utilizada para aumentar o valor de participação. Mas também somos pessoas de Macau e sentimo-nos felizes em contribuir, ajudando a Região Administrativa Especial de Macau a ser conhecida, em todo o mundo, como uma plataforma entre a China e os Países de Língua Portuguesa”. Criava-se, assim, um círculo virtuoso de língua portuguesa agora a valer 55 milhões de euros.

Tempos conturbados

O ano de 2018 é particularmente dinâmico. Além da saída José Carlos Lourenço para a ZAP, operadora da ZON em Angola, logo em abril, avançam investimentos por iniciativa dos sócios chineses, nomeadamente nas áreas de gaming e gambling, como o lançamento de uma plataforma de jogos e apostas online ou o lançamento do projeto de vídeo V, nenhum dos quais com retorno a curto prazo. É também tomada a decisão de tornar o Diário de Notícias um jornal semanal, reforçado com novos suplementos e jornalistas. A CFO, Maria Teresa da Graça sai em setembro, sendo substituída por Guilherme Pinheiro. O alerta da tesouraria é dado no Natal de 2018, quando a empresa se atrasa no pagamento do subsídio aos colaboradores.

Começa outra vez a ouvir falar-se em reestruturação e na entrada para breve de um novo acionista. Ao que parece o círculo virtuoso lusófono não vingou. Se, em 2017, os prejuízos ainda se mantêm nos 4,5 milhões de euros, em 2018 duplicam para 9 milhões. A dívida continua elevada, na casa dos 60 milhões de euros. No final do ano, Paulo Rego, que, para além dos novos negócios tinha assumido a área de operações, em substituição de José Carlos Lourenço, deixa o grupo. Poucos meses mais tarde, já em 2019, antes do final do seu mandato que tinha sido renovado em 2017, é a vez do CEO Victor Ribeiro se ir embora.

De acordo com o semanário Expresso, o Global Media Group estaria à espera de financiamento bancário para avançar com novos despedimentos. A injeção de capital serviria ainda para financiar a mudança da redação do portuense JN do histórico edifício da baixa da cidade invicta, vendido recentemente, para se instalar numa antiga garagem. Segundo a revista Sábado, o imóvel foi vendido a uma sociedade detida por gerentes da KNJ, do empresário macaense Kevin Ho, para aí construir um hotel de luxo.

Finalmente, no último trimestre de 2019, os accionistas KNJ e José Pedro Soeiro adquirem a quota dos bancos no grupo. Não se sabe oficialmente o valor do negócio, mas, segundo o jornal Eco, estes conseguem um desconto superior a 80%. Mais uma vez, é alterada a estrutura acionista, agora com os chineses e José Pedro Soeiro, cada um com cerca de 40% e Oliveira com cerca de 20%.

O Período Galinha

Primeiro, são apenas rumores, depois confirma-se. Em 2020, dá-se a entrada de um novo sócio no grupo. Marco Galinha, um empresário de Alcobaça com interesses em várias áreas das quais se destaca a distribuição e a logística, compra uma participação de 40%, pelo valor de 4 milhões de euros e faz uma injeção de 6 milhões de euros. Galinha é um conhecido self-made man, que fez crescer a pulso o seu grupo Bel e passa a ser conhecido do público português pela sua participação no programa de televisão “Shark tank” ao lado de outros empresários, como Mário Ferreira.

O grupo sofre nova reestruturação, que implica o já antecipado despedimento coletivo de 81 colaboradores, dos quais 17 jornalistas.

São nomeados novos diretores para as principais publicações: Rosália Amorim para o Diário de Notícias e Inês Cardoso para o Jornal de Notícias. Domingos Andrade lidera a TSF, acumulando o cargo com as funções de diretor editorial do grupo.

A redação foi reforçada com a entrada de vários jornalistas: Alexandra Tavares-Teles, Bruno Horta, Isabel Laranjo e Manuel Catarino integram o grupo. A revista Evasões abandona o formato em papel e transforma-se num caderno destacável do DN e do JN. O mesmo acontece com a Notícias Magazine, que acaba no formato de revista e passa a ser suplemento do JN. Pedro Lucas, até então diretor das revistas Men’s Health e Women’s Health Portugal, passa a assumir a coordenação da revista Volta ao Mundo, acumulando a coordenação de todas as revistas do GMG. Ainda no final do ano, o DN é relançado e volta a ter edição diária em papel.

Em fevereiro de 2021, é a vez de ser apresentada uma nova administração com Marco Galinha à frente. Domingos de Andrade e Guilherme Pinheiro ficam como administradores executivos. O elenco de vogais sem funções executivas integra António Manuel Frade Saraiva, João Pedro Alves Ventura Silva Rodrigues, José Pedro Carvalho Reis Soeiro, Kevin King Lun Ho, Philip Manuel Eusébio Yip, Rui Fernando Baptista Moura, Maria Inês Cardoso e Rosália Maria Amorim.

Apesar de todas as mudanças, não se pode dizer que o grupo estivesse finalmente em paz, pois mantinham-se as fortes restrições financeiras e os cortes de despesas. Recorde-se que, a acrescer a todas as restrições existentes, estamos em plena crise pandémica da covid-19. A partir de 15 de maio, o grupo informa que vai aderir ao regime de apoio à retoma progressiva, o que implica a redução do horário de trabalho e cortes efetivos nos ordenados acima de 2 mil euros brutos, bem como outras limitações e benefícios fiscais.

Rapidamente, surge um primeiro sinal de que as coisas podem não estar a correr bem. As diretoras Rosália Amorim e Inês Cardoso demitem-se da administração em solidariedade com os respetivos conselhos de redação, no mês de junho de 2021. Estes insurgem-se contra medidas tomadas por Marco Galinha, como prescindir que todos os cronistas politicamente expostos recebessem pelos artigos de opinião, bem como pelo facto de a administração ter acedido às passwords das páginas de redes sociais dos títulos sem conhecimento prévio da direção.

A cavalgar este descontentamento, inicia-se uma guerra, que ainda hoje subsiste com o Bloco de Esquerda e Mariana Mortágua, que inicia com a acusação feita ao empresário de querer silenciar a líder do BE ao prescindir das suas crónicas remuneradas no JN e continua com acusações do órgão de comunicação oficial do partido, o Esquerda.net, a Galinha, insinuando que as suas ligações familiares à Rússia – Marco Galinha é casado com a filha de um empresário russo radicado em Portugal – não são inocentes.

No entanto, no final do ano, segundo Galinha, o esforço feito parece ter sido recompensado. De acordo com um comunicado do grupo, a administração afirma que o EBITDA voltou a estar positivo em 2021, comparado com um EBITDA negativo de 5 milhões em 2020. Informa que o grupo cresceu em vendas 9% e teve 35 milhões de lucros operacionais.

O ano de 2022 parece regressar com boas notícias no campo das audiências. Logo em janeiro, o grupo volta a ser auditado pelo ranking de audiência digital netAudience da Marktest e consegue números muito positivos. Regressa com entrada direta para a liderança, somando 4 milhões e 427 mil pessoas alcançadas pelas suas plataformas digitais. O Jornal de Notícias fica em primeiro lugar, à frente do Correio da Manhã, na categoria generalistas; o Dinheiro Vivo em segundo lugar, a seguir ao Jornal de Negócios na categoria económicos e a TSF entra também para primeiro do ranking das rádios.

Externa e internamente, a conjuntura complica-se: 2022 é também o ano do início da guerra da Rússia na Ucrânia, do aumento do preço do petróleo, bem como da escalada da inflação. Por isso, a pressão não esmorece. A contestação continua quando é anunciado um programa de rescisões por mútuo acordo. Desta vez, é a comissão sindical que expressa a sua indignação sugerindo que o grupo já está nos limites em termos de recursos humanos. Mesmo o aumento dos salários mais baixos do grupo, não esmorece a contestação. Todas as decisões editoriais tomadas por Galinha e a sua equipa, num ambiente de restrição são sempre altamente contestadas pelos órgãos representativos dos jornalistas e trabalhadores. É o caso da contratação da jornalista Alexandra Borges para o cargo de diretora de grande reportagem, com equipa própria. A decisão de reforçar as participações na distribuidora Vasp também parece não ser pacífica, sugerindo que Marco Galinha tencionava favorecer o seu grupo Bel com a única rede de distribuição de meios de comunicação social nacional. Por fim, o facto de o empresário ser casado com uma russa e viver numa continua troca de acusações públicas e agressivas com Mariana Mortágua – acusações essas que chegaram mesmo aos tribunais – num ambiente de guerra e crispação, não contribuem para a paz social, nem para a paz mediática.

Neste corrupio, 2023 traz mais um sócio para o grupo: António Mendes Ferreira, dono da United Resins, uma indústria exportadora da Figueira da Foz que fica com 10% do capital. Poucos meses depois, é a vez de Marco Galinha liderar uma operação de reestruturação do capital, que é reduzido em 20 milhões de euros, para fazer face a prejuízos acumulados de anos anteriores. Dessa forma, o empresário aumenta a sua participação em mais 1,5 milhões de euros. É agora acionista maioritário da empresa, com 50,2%.

Nos dias quentes do verão do ano passado, começa a soar no mercado que estará para surgir novo investidor, um fundo desconhecido que dá pelo nome de World Opportuny Fund. Segundo o Jornal Económico, o WOP compra 37% da empresa Páginas Civilizadas, o que lhe dá acesso ao controlo do GMG. O valor da venda não foi divulgado. No mês seguinte, o GMG e o Grupo Bel, de Marco Galinha, anunciam a intenção de vender a participação que detêm na agência Lusa. O Estado português é o comprador natural. Em setembro do ano passado, é anunciada uma nova comissão executiva, constituída pelo jornalista João Paulo Fafe, ex-diretor do jornal Tal & Qual, Diogo Agostinho e Filipe Nascimento. A partir daí, a história ainda do GMG está fresca na memória de todos.

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A análise incide sobre conteúdos associados às candidaturas partidárias publicados nas plataformas Facebook, X, Instagram, TikTok e Youtube.

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O trabalho de monitorização realizado pela equipa do LabCom-UBI arrancou a 18 de abril e irá decorrer até ao dia das eleições, 18 de maio.

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“Nos últimos meses, tornou-se claro que não me será permitido continuar a dirigir o programa como sempre fiz. Tomar decisões independentes com base no que é correto para o ’60 Minutes’ e para o público”, escreve Bill Owens, numa mensagem interna dirigida à equipa, a que o New York Times teve acesso. “É por isso que, depois de ter defendido o programa e aquilo por que lutamos, de todos os ângulos, ao longo do tempo e com todas as minhas forças, me demito para que o programa possa continuar”, conclui o produtor executivo.

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No início de fevereiro, Bill Owens tinha assegurado à equipa que não pediria desculpas em tal eventualidade, como revela o New York Times.

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Cândido Costa é o novo embaixador do Banco Montepio

A parceria será visível em várias iniciativas que a instituição bancária planeia lançar ainda durante 2025. A escolha do ex-futebolista, acrescenta a marca, resulta da sua participação numa iniciativa interna do banco

O Banco Montepio anuncia a nomeação de Cândido Costa como o novo embaixador da marca. A colaboração tem como objetivo reforçar a presença do banco na comunidade e estreitar a ligação com os portugueses, “promovendo uma comunicação mais próxima, autêntica e humana”, segundo o comunicado de imprensa.

A parceria será visível em várias iniciativas que a instituição bancária planeia lançar ainda durante 2025, acrescenta o Montepio.

Pedro Leitão, CEO do Banco Montepio, acredita que esta colaboração não só irá reforçar a imagem da instituição bancária, mas também fortalecer a relação com os clientes. “O Cândido traz consigo uma abordagem genuína que se alinha com os nossos objetivos e valores. A sua capacidade de se conectar com as pessoas faz dele o embaixador ideal para a nossa marca”.

A marca explica ainda que a escolha de Cândido Costa como embaixador resultou da sua participação numa iniciativa interna, “onde se evidenciou a sua simplicidade e autenticidade”.

Sobre esta parceria, Cândido Costa, cliente do Montepio há mais de duas décadas refere que “é fundamental estarmos lado a lado com as pessoas, partilhando momentos significativos e experiências que possam melhorar as suas vidas, porque todos sabemos que o Montepio é o Banco de Causas”, conclui o novo embaixador da marca.

 

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“Vislumbrei que seria possível crescer, mas nunca vislumbrei uma multinacional nos quatro continentes”

Com uma faturação de €70 milhões em 2024, metade no Médio Oriente, a Multilem prepara-se para abrir, na China, o nono escritório fora de Portugal

Catarina Nunes

Pedro Castro e o irmão, José Castro, começam a Multilem em 1986, com os stands de apresentação no Palácio de Cristal, no Porto, das empresas nacionais com relações comerciais com o Reino Unido e vice-versa, por ocasião da visita a Portugal dos Príncipes de Gales. Nenhum dos dois tinha experiência nem conhecimento da área.

Em entrevista exclusiva ao M&P, Pedro Castro, CEO da Multilem, explica como é que faz evoluir o negócio dos stands para a atual abordagem centrada na experiência de marca, incluindo eventos e ativações para marcas. Fala ainda sobre a internacionalização, com o reforço da aposta nos Estados Unidos, iniciada em 2024, e a abertura de um escritório na China.

Aponta ainda o maior desafio e oportunidade no setor das experiências de marca – a falta de espaços para eventos em Lisboa – e assume os valores pelos quais se rege: o cumprimento de prazos, a qualidade dos acabamentos e a felicidade e bem-estar dos funcionários da Multilem.

Recentemente, a Mutilem ganha dois prémios na China, com o Festival Lai Ba Saudi Travel, e outro em Los Angeles, com o expositor da Embratur na Travel & Adventure Show. São prémios aos quais vocês se candidatam?

Não, são prémios atribuídos, raramente nos candidatamos. Os prémios na China [Promoção Anual de Turismo no Estrangeiro, atribuído pela Jiemian News; e Melhor Caso de Marketing Transfronteiriço (2023-2024), pela Advertising Billboard] foram com o maior evento de sempre que já fizemos, em Pequim, no Temple of Heaven, que é um símbolo da cidade. Já tínhamos feito vários stands e trabalhos na China, mas não da relevância deste.

Foi para que cliente e o que é que fizeram?

O cliente era o turismo da Arábia Saudita, para apresentar o país como destino turístico na China. Houve várias atuações de bandas de música local e da Arábia Saudita, e stands de apresentação de cerca de 30 destinos na Arábia Saudita.

São destinos turísticos que estão em construção, com ‘resorts’ de ultra-luxo construídos do zero, com todas as comodidades possíveis e imaginárias, cidades inteiras, hotéis e spas. O evento principal teve 500 mil pessoas e incluiu discursos do ministro do turismo da Arábia Saudita e do ministro do governo chinês.

A Multilem existe desde 1986. A cadência de prémios tem sido constante ao longo destes 39 anos ou o reconhecimento demorou a chegar?

Demorou. Começámos de uma forma engraçada: com um anúncio que vimos num jornal. Vinham a Portugal os príncipes de Gales, o príncipe Carlos e a princesa Diana, para celebrar os 500 anos da Aliança Portugal-Inglaterra.

Ia ser feita uma exposição com empresas portuguesas que trabalhavam com a Inglaterra e empresas inglesas que trabalhavam com Portugal. O anúncio pedia uma empresa que pudesse concorrer a isso. A Multilem é criada para concorrer a esse evento no Palácio de Cristal, que ganhámos.

Qual é a origem da denominação Multilem?

Na altura, a maneira melhor e mais comum de fazer stands era com perfis de alumínio e havia um muito revolucionário, o LEM System, que permitia fazer múltiplos ângulos.

Como é que evolui para uma agência de experiência de marca e ativações?

A atividade de stands de alumínio não é muito criativa, mas rapidamente percebemos que a nossa praia era criar, fazer projetos personalizados. Ganhámos um primeiro cliente muito bom, a Revigrés, e passámos a fazer-lhes os eventos e os stands para as feiras internacionais. O crescimento da Multilem foi muito mais com empresas do norte e centro do que de Lisboa.

Da Rank Xerox para as feiras

Funda a Multilem com o seu irmão. O que é que faziam antes?

Comecei na Rank Xerox a vender fotocopiadoras e o meu irmão tinha outra empresa, que hoje em dia é a holding das nossas empresas, e dedicava-se à construção e obras de renovação de interiores, que continuamos a fazer, mas só para escritórios de empresas que sejam nossos clientes.

Qual é o aspeto mais distintivo da Multilem?

A qualidade de acabamentos e o cumprimento de prazos. Por exemplo, se a feira abre a uma quarta-feira, na terça-feira de manhã temos tudo pronto.

Em todas as atividades, em princípio, o prazo não é decisivo. A obra de uma loja ou de um escritório se não fica pronta numa semana, fica na semana seguinte. Num evento não podemos dizer ao Presidente da República “se não se importa, venha antes amanhã porque houve aqui um problema com a alcatifa”.

“Eu e o meu irmão estamos a começar a desligar, porque é preciso juventude e frescura em todas as áreas da empresa”, avança Pedro Castro, CEO da Multilem

Quando viu o anúncio no jornal largou a Rank Xerox e qual foi a ideia que teve?

Depois da Rank Xerox, ainda trabalhei numa empresa de móveis de escritório e depois é que mudei realmente para a Multilem. Depois do evento dos príncipes de Gales, não sabíamos se íamos continuar, porque era um mercado que desconhecíamos em absoluto.

Mas, com o dinheiro que ganhámos, dava para iniciar a atividade e abrimos um escritório no Porto, que era mais forte em feiras do que Lisboa. Na altura ganhámos clientes no Porto e no centro, da zona da Anadia, como a Sanitana e a Revigrés, e o mercado de feiras no Porto mais rapidamente se tornou apetecível para fazer ‘stands’ personalizados do que Lisboa. Até que ganhámos a Renault França, que foi um cliente decisivo e aprendemos imenso com eles.

O que é que aprenderam com a Renault?

Na altura, levávamos as madeiras e os materiais e construíamos os stands na própria feira. Os franceses disseram: “não pode ser assim, não é como nós construímos. É preciso levar as coisas já feitas e o ideal é terem sido pré-montadas”.

Isto era completamente revolucionário, ninguém fazia isso. A primeira vez com a Renault não correu bem, porque nos atrasámos. Foi com eles que aprendemos o que é o último dia do prazo: eles diziam, na brincadeira, que o último dia é para comer camarão tigre.

Como é que se dá o início da expansão com escritórios fora de Portugal?

Sempre fizemos stands para empresas portuguesas em feiras no estrangeiro. A internacionalização começa em 2009, quando ganhamos um trabalho para o AICEP: o pavilhão de Portugal na FILDA, uma feira multissetorial em Angola. Quando a FILDA acaba, ganhamos o prémio de melhor stand e o diretor da feira disse que não íamos sair de Angola e que íamos criar a Multilem Angola.

Angola continua a ser um mercado relevante?

Temos um escritório com 35 pessoas, mas o mercado já não é o que era. Trabalhamos muito com a Teixeira Duarte, fazemos os ‘showrooms’ da Toyota e stands em feiras para empresas petrolíferas, por exemplo.

O início no Dubai com a Visa

A Multilem está com projetos e escritórios no Dubai e na Arábia Saudita. É uma opção deliberada ou é resultado de uma circunstância?

Foi uma circunstância. Um amigo disse-nos que a sobrinha dele, que tinha trabalhado com stands na Líbia, ia viver para o Dubai com o marido e sugeriu-nos abrir a Multilem no Dubai. Fomos lá conhecer a sobrinha dele e um potencial sócio, um alemão que vivia no Dubai. Não gostámos nada do alemão, mas gostámos imenso dela e abrimos a Multilem com ela. Tínhamos zero clientes.

Qual foi o vosso primeiro cliente?

A Visa, o cartão de crédito, que ainda hoje é um dos nossos melhores clientes. Fazemos para eles grande parte dos eventos no Médio Oriente, que é onde a Visa investe mais dinheiro, mas também na EMEA, que inclui a Europa e África, além do Médio Oriente. Continuamos a fazer eventos em África, onde a Visa é patrocinadora do campeonato de futebol Taça das Nações Africanas (CAN).

Como é que evolui dos stands para as experiências de marca e eventos?

Chegámos à conclusão que tínhamos de ter uma equipa permanente, que respondesse aos desafios das montagens dos eventos. Começámos a ter uma equipa grande – porque não só desenhamos, como concebemos, produzimos, montamos e acompanhamos –, o que nos trouxe outro problema: não há praticamente feiras em julho, agosto e setembro, e tínhamos de dar trabalho às pessoas.

A sazonalidade das feiras fez com que começássemos a fazer eventos, que é uma extensão do que já estávamos a fazer. Sobretudo porque tínhamos o mais importante: o rigor com os prazos e a confiança dos clientes.

Nessa época, a Multilem tinha um perfil mais discreto, comunicava menos o que fazia?

Comunicávamos pouco, porque andávamos sempre atrás do próximo evento e não havia tempo. Ainda hoje é muito difícil. Começámos há muito pouco tempo com uma equipa de marketing.

Antes da LLYC, já tinham trabalhado com outra agência de comunicação?

Tivemos antes uma agência de comunicação, mas eles ligavam e nós não tínhamos tempo. Durante muitos anos, era eu, o meu irmão e um ‘account’. Hoje temos dez ou 12 ‘accounts’. Tinha coisas boas e más. Tínhamos menos clientes, mas com um maior volume de faturação, o que é perigoso quando se perde um cliente.

Nunca investimos nem tivemos muito tempo para a comunicação, o que é pena, porque as pessoas não fazem ideia de uma empresa sediada na Azambuja, que tem oito escritórios no mundo.

O que é que muda para sentir essa necessidade de comunicar? Há mais concorrência?

Não é bem isso. Há mais concorrência, mas para o nicho e serviços que prestamos não há muita concorrência. Não quero ser arrogante, mas estamos num nicho de mercado de grande qualidade de acabamentos e preocupação com o impacto que as coisas têm. Ou seja, temos a concorrência de uma agência que cria, mas depois não constrói. Isto dá-nos algum benefício.

A Multilem também faz a parte estratégica?

Exatamente, que os clientes pedem cada vez mais. Mesmo que uma empresa tenha uma equipa própria, acaba por se viciar no mesmo olhar. Temos 20 e tal designers e existe sempre uma frescura diferente. Mesmo assim, às vezes, o trabalho pode ser repetitivo.

Mudámos completamente o paradigma. Quando começámos, as empresas que havia construíam stands, nem sequer criavam. Começámos a criar, fomos os primeiros a contratar designers, que fomos buscar às agências. Depois fomos sendo conhecidos ou reconhecidos pelo público, mas nunca ligámos muito à comunicação.

Por que razão instalou a Multilem na Azambuja?

Precisávamos de um lote grande e não tínhamos dinheiro, porque o que fazemos é com o dinheiro que vamos ganhando. Nem o meu irmão nem eu estamos ricos, nem é esse o objetivo. Temos estado sempre a investir.

No ano passado, abrimos nos Estados Unidos, agora vamos abrir na China. O dinheiro que vem e sobra é sempre reinvestido, para tentar gerar mais riqueza e dar melhores condições aos funcionários.

Quem é que são os acionistas da Multilem?

Eu, o meu irmão e o Luís Matos Chaves, que trabalhava no BPI, depois foi para o Deutsche Bank e mais recentemente estava em Nova Iorque, também a trabalhar na banca. Eu e o meu irmão estamos a começar a desligar, porque é preciso juventude e frescura em todas as áreas da empresa.

Dividimos a empresa em unidades de negócio independentes, com um CEO, e temos uma holding, onde o Luís é o CEO do negócio de Portugal. Na holding, sou o CEO, o meu irmão é o presidente e o Luís é o CFO.

Não tenho preconceitos com a idade, mas a maneira de trabalhar e de comunicar, e a idade e a cabeça dos nossos clientes, não são a minha cabeça. Faz muito mais sentido que haja uma abordagem de juventude.

Expansão no pós-pandemia

Como é que atravessam a pandemia com as feiras e os eventos cancelados a nível mundial?

A pandemia foi decisiva. Ninguém fazia eventos e tínhamos cento e tal funcionários. Parámos a 100% e falámos com as pessoas: “despedimos parte das pessoas ou ficamos todos, baixamos um bocadinho os ordenados e esperamos para ver o que é que acontece?”. Toda a gente disse que não se despede ninguém e ficámos todos, mesmo as pessoas que estavam a prazo.

O que é que acontece a seguir?

O Estado ajudou com o lay-off simplificado, mas mesmo assim tínhamos de pagar uma parte e assumir uma data de custos terríveis, porque queremos ter bons profissionais e a maioria das pessoas não quer viver na Zambuja – porque têm os maridos, as mulheres ou os filhos que trabalham ou estudam em Lisboa. Portanto temos uma frota de carros enorme, um custo que tivemos de assumir.

Começámos a fazer eventos online, meio a brincar, nunca tínhamos feito nem deu muito dinheiro. Mas deu para as pessoas trabalharem e depois a pandemia passou, estávamos ávidos por trabalhar e a faturação mais do que dobrou no primeiro ano a seguir.

Este período também permitiu, a mim e ao meu irmão – que tem 68 anos e é um pouco mais velho do que eu, que tenho 65 anos –, pensarmos que, mais tarde ou mais cedo, a empresa não pode ser nossa e precisamos de sangue novo.

Qual é a razão da abertura de um escritório na China, o nono país da Multilem?

Fizemos o evento na China com um sucesso enorme e fomos desafiados por um parceiro local, que é sempre o nosso modelo: ter alguém local que puxe a carroça e que se saiba mexer. Não vamos à louca para um sítio, tirando os Estados Unidos, onde não temos um sócio local, mas há uma pessoa que é nossa sócia que se vai mudar para lá.

Já estamos em Miami com um armazém, oficina e escritório, e temos algum negócio. Em 2024, faturámos €3 milhões, só nos Estados Unidos. Mas no ano passado sofremos imenso. Foi de cá um ‘stand’ com mil metros quadrados para uma feira de petróleos no Brasil – um dos nossos grandes clientes é o Governo do Brasil – e os contentores atrasaram. À última da hora, tivemos que adjudicar e fazer lá um ‘stand’ de raiz, com um prejuízo de €600 mil.

Nos Estados Unidos, com a guerra comercial e de tarifas, a Multilem vai fazer os ‘stands’ lá, em vez de os enviar feitos em Portugal?

Já estamos a fazer isso. Ainda agora fizemos, em Boston, a Seafood, que é uma feira grande de marisco.

Que outros clientes têm nos Estados Unidos?

São muitas empresas brasileiras da APEX [Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos], que é o equivalente ao nosso AICEP e fazemos todos os ‘stands’ e visitas de chefes de Estado do Brasil e ministros à América do Norte – inclui Canadá, Estados Unidos e México –, na Europa e em África.

Fazemos coisas como a Casa Brasil, em que nos pedem, por exemplo, para arranjar um espaço em Nova Iorque, onde durante uma semana ou dez dias se promovem produtos de marcas brasileiras. Já fizemos também em Londres e em Lisboa, em 2024.

Metade da faturação é no Médio Oriente

Qual é o peso dos mercados externos na faturação e quanto é que representa cada geografia?

A maior de todas, em 2024, foi o Médio Oriente, que é um ‘hub’ que inclui o Dubai e a Arábia Saudita. No ano passado, a Multilem consolidada faturou à volta de €70 milhões e o Médio Oriente, onde começámos há dez anos, representou 50%.

Portugal representa cerca de 40% e depois os restantes 10% divide-se entre Angola, Espanha, Inglaterra, Estados Unidos – que é o maior nestes 10% – e Brasil. No ano passado, grande parte da faturação dos Estados Unidos foi faturada em Portugal, porque estávamos a constituir a empresa, só tínhamos o escritório e o armazém, e não estávamos prontos a faturar. Em Espanha ainda não conseguimos crescer ao ritmo que queríamos.

Qual é o problema em Espanha, que normalmente é mais fácil pela proximidade geográfica?

Não é preguiça nossa. Fomos para Espanha desafiados, mas andávamos sempre a correr. Tínhamos um grande cliente em Espanha, a Vodafone, para quem fizemos dois stands no Mobile World Congress, em Barcelona, e depois eles deixaram de ir.

Tínhamos outro grande cliente, a Google Espanha, que é completamente fora da caixa e com uma relação de confiança total: chegam e dizem “tenho este dinheiro, quero fazer isto e aquilo, faz-me o projeto”.

Mas devíamos ter tempo e meios para explorar mais. A Google no Reino Unido faz imensos trabalhos, mas nunca nos dedicámos especialmente a isso. Há dois anos, abrimos o escritório de Londres, que também entra nos 10% da faturação que referi, e terá faturado cerca de €1,5 milhão.

Como é que chegam à Arábia Saudita e se conseguem distinguir?

A história é engraçada. Ganhámos a Saudi Arabian Military Industries (SAMI) e fizemos vários eventos que correram bem. Na Arábia Saudita existe um ministro único para o turismo e para a defesa – só na Arábia Saudita é que isto pode acontecer.

Propusemos ao ministro que nos consultasse, para fazermos uma feira de turismo, uma vez que eles nunca tinham participado numa feira de turismo.

Com tantas restrições, nomeadamente no que diz respeito às mulheres, fazia sentido promover o turismo?

Já não há assim tantas restrições. A certa altura, o MBS [Mohammed bin Salman], o príncipe que manda, decidiu abrir a Arábia Saudita ao mundo, porque o petróleo vai acabar e eles têm de começar a fazer qualquer coisa. O país é lindo, absolutamente incrível.

Como fazíamos os eventos de defesa, fomos a uma reunião com o CEO da Saudi Tourism Authority mostrar o nosso portefólio e ele disse: “é isto que vocês querem fazer para nós? Acham que alguma uma vez vamos adjudicar-vos alguma coisa? Nunca fomos a uma feira de turismo, acham que é isto que vamos querer? Isto é super ‘boring'”.

Dissemos que fazemos tudo aquilo que os clientes pedem: se eles pedem ‘boring’, fazemos ‘boring’. Mas, se pedirem outra coisa, fazemos. Eles queriam ir à maior feira de turismo do mundo, a ITB em Berlim, mas já não havia espaço. O único espaço que a feira deu era fora dos pavilhões, num parque de estacionamento.

Fizemos um projeto de €4 milhões, todo ‘prá frentex’, completamente diferente. Montámos tudo, mas a feira foi cancelada por causa da pandemia. Pensei que íamos falir porque não nos iam pagar. Nenhum saudita foi lá ver, porque entretanto fecharam as fronteiras, mas pagaram-nos e engraçaram connosco. Daí para a frente já fizemos sete grandes feiras.

O que é que aconteceu ao pavilhão?

Guardámos os móveis, aquilo que dava para aproveitar, e o resto foi para lixo.

O stand do Turismo da Árabia Saudita realizado em 2020 para a feira ITB, em Berlim, que não chega a abrir, por causa da pandemia

As feiras estão em queda. Quais são as oportunidades nos eventos e nas ativações de marca?

As feiras estão em queda em Portugal, lá fora continuam a bombar. Tem a ver com o nosso mercado, que é muito pequeno e os custos são grandes. Há uma feira boa em Portugal, talvez, a BTL – porque dependemos muito de turismo –, e depois há pequenas feiras setoriais, mas não há investimento na criatividade.

É o espaço com uma alcatifa no chão e pouco mais. As feiras estão mais concentradas naquelas que são as mais reconhecidas e é onde as grandes empresas investem. Não fazemos coisas só nas feiras, também fazemos, por exemplo, em museus, como um projeto que fizemos para a APEX. Clientes do Brasil, trabalhamos também a Embratur, que é a parte turística, e fazemos todos os stands do Brasil nos Estados Unidos e na Europa.

O desafio da falta de espaços para eventos

Existem oportunidades para crescer em Portugal?

A grande oportunidade de negócio em Portugal – e nunca nos quisemos meter nisso nem vamos – é arranjar espaços. Se fosse mais jovem, antes de ir para outro país, ia arranjar espaços cá que possam acolher todo o tipo de eventos, sobretudo corporativos, que é a nossa área.

Estamos com um problema com a Google, que quer fazer um evento cá num dia específico em maio, e o único sítio que arranjámos é na antiga Carris, no Arco do Cego, mas não conseguimos encaixar lá 800 pessoas, mesmo montando tendas. Estamos em risco de não fazer este mega evento e há vários eventos que saem de Portugal porque não há espaços.

Se a Multilem não vai apostar em espaços, quais são as apostas?

É consolidar. O objetivo é os Estados Unidos, que abrimos no final de 2024, e consolidar essa aposta. Temos um problema com os vistos, que são muito difíceis e que com o novo presidente Trump mais difíceis ficaram.

Isto pode gerar algum problema porque precisamos de levar para lá alguns portugueses imbuídos do nosso ADN, dos valores da confiança, cumprimento dos prazos, qualidade de acabamentos e melhorar o trabalho sempre até ao fim. Nunca nada está pronto.

Se temos tempo para fazer ainda melhor, temos de o fazer, mas fazê-lo por nós. Muitas vezes digo “isto aqui não está bem, faça não sei o quê” e dizem-me “isso está escondido, ninguém vê” e eu digo “vejo eu”. Temos de ter brio naquilo que fazemos e não sei se o freguês vai ver ou não, mas preciso de estar contente com o resultado. Este ADN é essencial e mais ainda num país novo.

Quais são os outros objetivos?

Abrir na China. Já fizemos o contrato e vamos funcionar nas instalações do nosso sócio local, que é uma empresa destas áreas, porque precisamos de assegurar o conhecimento do mercado. Temos um evento absolutamente megalómano em cima da mesa, que estamos na final, ainda não ganhámos, que há de ser o primeiro grande cliente na China.

Vai deixar Portugal para segundo plano?

Portugal não está em segundo plano, continuamos a querer trabalhar com marcas e já trabalhamos com grandes marcas, como a Fundação Francisco Manuel dos Santos, a Fundação Oceano Azul, a Jerónimo Martins e o grupo José de Mello, por exemplo.

Qual é o cliente mais recente e quando é que entrou na Multilem em Portugal?

Talvez seja o ‘revival’ do Novo Banco no ano passado – já tínhamos trabalhado o Banco Espírito Santo – e a TAP.

Atração de talento, sustentabilidade e IA

Entre os temas na ordem do dia, há a questão da retenção e atração de talento. Na sua área é uma dificuldade?

É um desafio porque a retenção de talento é decisiva, e juro que isto não é conversa, porque a Multilem são as pessoas. Não sou eu nem os outros acionistas quem está em Boston, Xangai, Londres, Azambuja e Lisboa a fazer montagens.

Como é que faz para atrair talento?

É difícil, o mercado de trabalho está esgotado, não há pessoas disponíveis e temos imensa dificuldade em recrutar, sobretudo na área comercial e da criatividade. É uma área muito exigente. Tivemos pessoas fantásticas que davam a vida pela Multilem, mas que são casadas e têm filhos, e não podem estar o tempo todo fora de casa.

Temos pessoas que num ano dormem 250 noites fora de casa, porque andam em montagens ou em eventos. A nível de remuneração tentamos pagar melhor, este ano conseguimos dar um 15º mês de salário. Temos o compromisso de repartir parte do lucro da empresa por todos os trabalhadores.

Faz isso porque também não tem acionistas a exigir dividendos?

Não exigimos e gostávamos, mas há coisas mais importantes, como gerar algum bem-estar e alegria às pessoas que trabalham na Multilem, em vez de tirarmos dividendos. Tiramos no ano seguinte ou a meio do ano.

Na Multilem no Médio Oriente, por exemplo, recebemos os dividendos de 2023 esta semana, que vão ser para investir nos Estados Unidos e na China, ou para pagar alguns empréstimos que íamos fazendo, para financiar a atividade.

O Festival Lai Ba Saudi Travel, no Temple of Heaven, em Pequim, é um dos projetos da Multilem que Pedro Castro coloca entre os mais marcantes

Os stands têm muito desperdício e impacto ambiental. O que é que fazem a nível da sustentabilidade?

Temos uma grande preocupação com a reciclagem. Os bons clientes nunca querem ficar com nada. Tudo o que é audiovisuais, que é uma grande componente, são reutilizáveis e tentamos reutilizar os materiais de construção, as estruturas metálicas e as madeiras, em outros trabalhos.

Às vezes até sai mais caro reutilizar do que fazer de novo, mas temos essa consciência da sustentabilidade. Cada vez mais usamos materiais sustentáveis e com o menos possível de plástico e de pegada. Os clientes também já pedem propostas sustentáveis.

Não ser sustentável já não é aceitável?

Sim, para o tipo de clientes que temos. Se for num nicho de mercado mais baixo, em que a única coisa que interessa ao cliente é pagar menos, é completamente indiferente. Para as grandes empresas portuguesas e internacionais é absolutamente decisivo que digamos o que é que vamos fazer com o stand.

Estamos a tratar das certificações de que somos sustentáveis, para mostrar aos clientes que os restos dos stands não são lixo, não deixam uma pegada. Isso faz parte da consciência enquanto cidadão.

De que formas a inteligência artificial está a contribuir para a criatividade e crescimento do negócio da Multilem?

A inteligência artificial (IA) está a transformar profundamente a criatividade e o crescimento da Multilem, acelerando processos e ampliando as capacidades da equipa criativa. No design 3D e na construção de ‘storytelling’, por exemplo, a IA permite experimentar ideias rapidamente, explorar novos estilos e criar narrativas visuais mais coesas.

Por outro lado, a IA está a revolucionar as experiências de marca, tornando-as mais interativas e personalizadas. Mas na Multilem, a IA não substitui a criatividade humana, acelera a sua aplicação, possibilitando resultados mais rápidos e eficientes.

Com a integração da tecnologia no processo criativo, a empresa consegue oferecer experiências mais inovadoras, imersivas e significativas, elevando a relação das marcas com os públicos. Na parte da estratégia e da apresentação da proposta, do texto a explicar o projeto, também utilizamos.

O altar do Papa Bento XVI, no Terreiro do Paço, em Lisboa, é um dos projetos da Multilem de que Pedro Castro mais se orgulha

Quando começa a Multilem, projetava transformá-la no que é hoje?

Não. Quando fizemos os primeiros stands personalizados, ou seja, sem serem em perfis de alumínio, e começámos a perceber que os clientes confiavam em nós, vislumbrei que seria possível crescer, mas nunca vislumbrei uma multinacional nos quatro continentes – quer dizer, já fizemos umas coisas pequenas na Austrália.

Até gostava de poder dizer que estamos nos cinco continentes, mas ainda não fomos porque não temos meios, é preciso tempo para formar as pessoas. Sem ter esse ADN, é dar um passo em falso. Para os Estados Unidos, por exemplo, vai uma pessoa que trabalha connosco há dez anos, que é a Ana Fontes, que vai ser nossa sócia.

Não tenho estes recursos todos para ir abrir em mais sítios. Também queria abrir em França, que é um mercado fortíssimo em eventos. O nosso ‘calcanhar de Aquiles’ é Espanha. E não é só por não ter lá recursos, os espanhóis também são muito bairristas, adjudicam às empresas espanholas.

De que formas é que o seu percurso pessoal e profissional o moldaram e à Multilem?

Sou aquilo que as pessoas com quem tenho trabalhado me ensinaram a ser e me pediram que fosse. Não fui só eu que fiz a Multilem, foi tudo o que fizemos juntos, os desafios que vivemos e ultrapassámos. Este espírito de família tornou-me na pessoa que sou, com defeitos e qualidades, e uma enorme gratidão por todas as pessoas que trabalharam na Multilem, que é um bocadinho a minha vida.

Onde é que é imagina a Multilem no futuro?

Imagino uma empresa mesmo global, uma multinacional, que onde quer que o cliente esteja e precise, possamos responder-lhe. Já acontece em quatro continentes e gostava que isso pudesse acontecer no mundo inteiro, de uma forma suave, e que as pessoas tivessem melhor qualidade de vida. Quando há um de nós que vai embora porque a vida que tem põe em causa a sua vida familiar, para mim é uma grande tristeza.

Gostava muito de conseguir resolver esse problema, de repartir melhor esse esforço. Porque, às vezes, quanto melhor é a pessoa, mais confiança temos e mais pedimos. Gostava que as pessoas tivessem orgulho, fossem felizes e tivessem uma boa qualidade de vida  é a regra número um -, que é mais importante do que distribuir os dividendos.

“Mercado de eventos é muito mais forte do que as ativações de marca”

De todos os projetos que a Multilem já fez, qual é o mais emblemático?

O que teve mais impacto, para mim e para muitas das pessoas que trabalharam na Multilem, foi o altar do Papa Bento XVI no Terreiro do Paço, porque foi arrasador. Fora de Portugal são os stands da Saudi Tourism e o evento na China.

Trabalham eventos, expositores e ativações de marca. Qual destas áreas está com mais procura?

As ativações têm muita procura, mas não têm o mesmo volume. Temos feito o Super Bock Super Rock, a parte da decoração do espaço, imagem e estratégia, mas é um volume muito mais pequeno. Fizemos o Novo Banco no Nos Alive no ano passado e vamos fazer este ano.

É mais ativações na área da música, mas para o Banco Espírito Santo já fazíamos os balcões e sobretudo eventos, como o BES Photo, o Estoril Open, os encontros de quadros e a assembleia geral.

Quais são as tendências nos eventos, stands e ativações, que considera relevantes ou que os clientes procuram mais?

Sobretudo no Médio Oriente, existe muito a guerra pelos audiovisuais, em que o metro quadrado de ecrã é o mais importante. Gostam porque tem mais luz, é mais brilhante, tem movimento e vida, que para eles é importante. Temos milhares de metros quadrados de ecrãs LED no stand do Turismo da Arábia Saudita.

O mercado de feiras tem vindo a baixar e tem subido muito o mercado de eventos e de ativação de marca. Não sei se foi da pandemia, mas cada vez há mais eventos. Em Lisboa, é impossível arranjar uma sala. Estamos a fechar espaços para 2026 e há uma data de espaços que já não estão disponíveis.

Qual é a área mais forte, os eventos ou as ativações de marca?

O mercado de eventos é muito mais forte do que as ativações de marca, porque muitas vezes as ativações de marca têm sítios específicos que acontecem num lugar, onde já há um evento principal. É mais fácil fazer porque já existe o espaço e já está marcado para o evento principal. Por isso, os eventos são de longe a área que cresce mais e que tem mais tendência para crescer.

Na Multilem, quanto é que os eventos cresceram em 2024 face a 2023?

Cresceram 40%. No ano passado fizemos um evento para a Teleperformance com 15 mil pessoas, só de Portugal. Antigamente, isto era impensável, não existia este tipo de eventos, é um mercado novo.

Sobre o autorCatarina Nunes

Catarina Nunes

Diretora do Meios&Publicidade
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JCDecaux e Maybelline New York transformam o acesso ao Colombo numa experiência imersiva

Para lançar o novo batom da marca de cosmética, a JCDecaux, com a colaboração da agência Publicis, criou um ‘takeover’ vibrante no túnel de acesso ao centro comercial Colombo

A JCDecaux junta-se à agência de publicidade Publicis para lançar o novo batom da Maybelline New York, o Super Stay Teddy Tint, com uma campanha imersiva no túnel de acesso ao centro comercial Colombo, o maior do país, com 25 milhões de visitantes anuais.

A iluminação em tons intensos de rosa e a decoração em vinil com elementos gráficos inspirados no Teddy Tint são os elementos mais marcantes. Segundo o comunicado de imprensa, a marca assume os ecrãs digitais da JCDecaux (100% de ‘share of time’) no local, numa solução desenvolvida à medida pelo departamento interno de ‘creative solutions’.

Gustavo González, responsável pela área de soluções criativas da JCDecaux Portugal, destaca a transformação do espaço urbano em experiências impactantes: “Esta colaboração com a Maybelline New York é um exemplo perfeito de como a JCDecaux pode reinventar ambientes do quotidiano, como o caso dos centros comerciais, e transformá-los em oportunidades ideais para despertar a curiosidade, incentivar decisões de compra e amplificar o alcance das marcas junto de audiências valiosas”.

A iniciativa reflete a aposta da JCDecaux Portugal em transformar espaços urbanos em experiências que conectem emocionalmente as pessoas às marcas, reforçando a notoriedade das marcas e a eficácia da mensagem publicitária nas principais cidades, centros comerciais e aeroportos do país.

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Helena Coelho é a escolha da Eletta para o Dia da Mãe

A campanha da marca relojoeira, que faz 75 anos, foi desenvolvida pela dupla André Brito e Diogo Azenha da Rocha, estando a ser divulgada no Facebook, Instagram, Google e YouTube

A influenciadora Helena Coelho (na foto) protagoniza a campanha da Eletta para o Dia da Mãe. Desenvolvida pela dupla André Brito e Diogo Azenha da Rocha e filmada no hotel Verride Palácio de Santa Catarina, em Lisboa, está a ser divulgada no Facebook, Instagram, Google e YouTube, além do site e dos pontos de venda físicos da marca relojoeira portuguesa.

Com 782 mil seguidores no Instagram, 375 mil no TikTok e 110 mil no Facebook, Helena Coelho colabora pela segunda vez com a marca, após a campanha de Natal de 2024, promovendo a nova linha de relógios Vintage, inspirada no design da década de 1950.

“A nossa proposta visual transmite a capacidade da linha de se adaptar aos diferentes momentos do quotidiano feminino, do mais casual ao mais elegante, refletindo a rotina multifacetada da mulher moderna”, explica a Eletta, marca que comemora os 75 anos em 2025.

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“Somos mais que as mães”: expressão dá vida à campanha da Sonae Sierra

Ana Galvão, Catarina Raminhos e Sónia Morais Santos juntam-se à nova campanha dos centros comerciais da Sonae Sierra, que destaca a importância das redes de apoio no universo da maternidade

A nova campanha dos centros comerciais geridos pela Sonae Sierra, sob o mote “Somos mais que as mães”, destaca a importância das redes de apoio no universo da maternidade. A campanha, com a criatividade assinada pela agência Born, estará presente nos canais digitais dos centros, incluindo redes sociais e websites, sendo reforçada por uma estratégia de marketing de influência.

Destaque para a iniciativa ‘Mother Talks’, onde figuras públicas como Ana Galvão, Catarina Raminhos e Sónia Morais Santos (do blogue ‘Cocó na Fralda’), partilham as suas experiências sobre a maternidade, num ambiente informal. Os vídeos com as figuras públicas serão publicados nas redes sociais do NorteShopping, Nova Arcada, ArrábidaShopping, GaiaShopping, Centro Colombo, CascaiShopping, Centro Vasco da Gama e AlgarveShopping.

“Quisemos celebrar não só as mães, mas algo que sempre existiu e que raramente celebramos: as suas redes de apoio. São estas pessoas que fazem a diferença todos os dias, tornando a maternidade mais leve e partilhada”, afirma Mariana Quelhas, coordenadora de marca e marketing Ibéria da Sonae Sierra. “Esta iniciativa está alinhada com a nossa estratégia omnicanal e aposta na comunicação digital, que assume um papel central na forma como queremos chegar às pessoas”, conclui.

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Leitão & Irmão quer aumentar exportações

A empresa, que acaba de lançar uma coleção em parceria com o Museu do Tesouro Real, aposta nas redes sociais, em campanhas digitais e no marketing de influência, para alavancar a internacionalização

A Leitão & Irmão, empresa joalheira liderada por Jorge Leitão (na foto, à dir.) que acaba de lançar uma coleção de joias em parceria com o Museu do Tesouro Real (à esq.), em Lisboa, está a reforçar a estratégia de vender fora de Portugal, a partir do site.

A aposta é em campanhas nas redes sociais e em motores de busca, que nos próximos meses serão amplificadas através de marketing de influência para aumentar as vendas nos países onde regista maior procura, como os Estados Unidos, o Reino Unido, a Áustria e o Luxemburgo, estando também de olho no Médio Oriente.

“Estamos a iniciar a abordagem exploratória, para percebermos como é que lá chegamos e se é um target que se justifica em termos de aposta estratégica”, revela ao M&P Sofia Almeida, diretora de marketing da Leitão & Irmão.

Numa altura em que 20% da produção vai parar ao estrangeiro, apesar de muitas das peças serem adquiridas em Portugal por turistas nas três lojas físicas que a marca tem em Lisboa e no Estoril, a empresa pretende aumentar o volume de exportações.

“A internacionalização assenta na internet, onde estamos a fazer um forte investimento, com campanhas de ‘brand awareness’. Temos tido um aumento de encomendas nos Estados Unidos. Ainda não são centenas de peças, mas o número tem vindo a crescer e o objetivo, este ano, é crescermos na base dos dois dígitos, dentro de valores entre os 20% e os 30%”, refere Jorge Leitão, sócio-gerente e sexta geração na liderança da Leitão & Irmão.

A intenção é impulsionar o negócio, após uma quebra de 10% da faturação em 2024, face a 2023. A profissionalização do marketing, trabalhado até 2022 “de forma empírica”, sem recurso a análises de dados e estratégias estruturadas, é um dos planos da empresa, para voltar aos níveis de faturação que tinha antes da pandemia.

O desenvolvimento de coleções colaborativas, como a que acaba de lançar em parceria com o Museu do Tesouro Real, depois de colaborações com clubes como o Sporting CP e o SL Benfica e figuras públicas como Débora Montenegro, Nathalie Castro e Carolina Curado, é outra das apostas para rejuvenescer a marca.

Ao longo dos 203 anos de atividade da empresa, artistas de renome como Columbano Bordalo Pinheiro, Salvador Dalí, René Lalique, José Aurélio e Graça Costa Cabral também colaboraram com a marca no desenvolvimento de peças e coleções.

Centro de produção no Bairro Alto

Fundada em 1822, no Porto, pelo ourives José Pinto Leitão, que em 1873 é nomeado ourives da casa imperial brasileira. Em 1887, após a nomeação como joalheiro da coroa portuguesa, a Leitão & Irmão muda-se para o Bairro Alto, em Lisboa, onde ainda hoje mantém o centro de produção.

“À época, as marcas tinham uma cara e um nome. Em regra, o do fundador. As grandes marcas do mundo mantêm essa tradição”, diz Jorge Leitão, que tinha seis anos quando tomou noção da marca familiar. “Foi numa viagem a Fátima com o meu pai, num 13 de maio, porque fomos nós que fizemos a coroa da imagem de Nossa Senhora de Fátima”, recorda.

Membro da Laurel, Associação Portuguesa de Marcas de Excelência, a Leitão & Irmão tem nas joias femininas, nos botões de punho e nas bases de garrafas os produtos mais vendidos.

Além das campanhas digitais nas redes sociais e de email marketing, a empresa, que tem a Companhia das Soluções como agência de comunicação e ativação de marca, também está a reforçar a aposta em marketing de influência através de personalidades com ligações à marca, como a apresentadora Ana Rita Clara e a designer Maria Barros. O investimento em marketing anual é entre 3% e 7% da faturação, que a Leitão & Irmão opta por não revelar.

Sobre o autorLuis Batista Gonçalves

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Quiosque desenvolve campanha integrada dos 75 anos da Mustela em Portugal

Em paralelo, os Laboratoires Expanscience, que detêm a marca Mustela, estão a preparar o lançamento de uma nova marca, centrada no conceito de envelhecimento positivo, revela ao M&P Inês Barreto, diretora de marketing e vendas dos Laboratoires Expanscience

Catarina Nunes

Para assinalar os 75 anos da Mustela em Portugal, a agência Quiosque PR & Communication está a desenvolver, em conjunto com a marca de cuidados dermatológicos para bebés, uma campanha de comunicação 360º. Em paralelo, os Laboratoires Expanscience, que detêm a marca Mustela, estão a preparar o lançamento de uma nova marca, centrada no conceito de envelhecimento positivo.

A trabalhar com a Quiosque PR & Communication desde 2024, Inês Barreto, diretora de marketing e vendas dos Laboratoires Expanscience em Portugal, considera que “esta parceria tem sido fundamental para garantir uma comunicação integrada e alinhada com os valores da marca. A abordagem multicanal da agência tem permitido maximizar o impacto das campanhas e criar uma proximidade constante com o público-alvo”.

A campanha dos 75 anos procura consolidar o posicionamento da marca junto de públicos estratégicos, com a Quiosque PR & Communication a contribuir com a criatividade e planeamento de meios. A estratégia inclui “relações públicas, influência digital e uma campanha de media online, garantindo consistência de mensagem e maximização de visibilidade”, avança ao M&P Roberto Esteves, diretor de clientes da Quiosque PR & Communication. A nível de ações junto de meios de comunicação, a abordagem tem como objetivo reforçar a notoriedade e a dimensão institucional da marca.

Roberto Esteves salienta que “um dos principais desafios é garantir que a comunicação mantenha a autenticidade e a conexão emocional com o público” FOTO DR

A criação de ‘engagement’ orgânico e relevante nas redes sociais, por seu lado, é impulsionado com o envio de um kit comemorativo a perfis de referência no universo da maternidade, entre macroinfluenciadoras, micro e nano – ainda por definir -, que comungam dos valores da marca: sustentabilidade, parentalidade positiva e inovação. O Instagram oficial da marca (@mustelaportugal) será o principal canal digital da campanha, na comunicação e amplificação dos conteúdos criados em parceria com as influenciadoras e a comunidade Mustela.

“Um dos principais desafios é garantir que a comunicação mantenha a autenticidade e a conexão emocional com o público, enquanto se destaca a importância dos 75 anos de história da marca. É fundamental equilibrar o legado da Mustela com uma abordagem contemporânea e relevante, para atrair tanto as gerações mais jovens como as famílias mais experientes”, argumenta Roberto Esteves, salientando a necessidade de sincronizar e adaptar as mensagens, para garantir a consistência da identidade da marca em todos os formatos e pontos de contacto.

Canais digitais reinam, TV está fora da estratégia

Fora da estratégia está a televisão, com a Mustela a preferir reforçar a presença nos canais digitais, devido ao crescimento da preponderância do digital em termos de consumo de media. “A televisão, apesar de ser um meio de grande alcance e impacto emocional, deixou de ser tão prioritária, pois os canais digitais oferecem uma segmentação mais precisa, a flexibilidade necessária para criar mensagens personalizadas e medir, em tempo real, o impacto das campanhas e permitem uma comunicação interativa e personalizada”, justifica Inês Barreto, escusando-se a revelar o orçamento alocado à campanha dos 75 anos.

A campanha irá estender-se ao longo do ano, com ativações faseadas de janeiro a dezembro. “O objetivo é prolongar o impacto da celebração, reforçando continuamente a ligação da Mustela às famílias e à maternidade”, justifica Roberto Esteves. “A campanha terá maior expressão a nível de digital, em canais como YouTube e ‘display’, para trabalhar fases do funil de conversão mais voltadas para ‘awareness’ de marca. Com ‘social media ads’ vamos trabalhar a repetição da mensagem, com formatos de ‘feed’ e ‘story’ para trabalhar fases mais de conversão. O Google Search apoia esta comunicação com ‘keywords’ de marca”, explica o diretor de clientes da Quiosque PR & Communication.

Para Inês Barreto, “a televisão, apesar de ser um meio de grande alcance e impacto emocional, deixou de ser tão prioritária” FOTO DR

Foco nas famílias e no envelhecimento positivo

Em relação ao percurso da marca conhecida pelo ‘cheirinho a bebé’ e que está em Portugal desde 1950, Inês Barreto, diretora de marketing e vendas dos Laboratoires Expanscience, destaca que “beneficia de 75 anos de estudos e da inovação científica sobre a pele delicada e frágil dos bebés e do ‘know-how’ exclusivo da Expanscience na extração de ingredientes vegetais”.

Depois da introdução no portefólio de soluções específicas para todos os tipos de pele de bebé e criança (normal, seca, sensível ou com tendência atópica), com ou sem fragrância, biológicos e para futuras e recém-mamãs, a aposta mais recente é em produtos para toda a família, em resposta à crescente procura por produtos versáteis e de uso partilhado.

“As famílias procuram cada vez mais produtos que combinem eficácia, segurança e sustentabilidade. Este aumento da exigência está a moldar a estratégia da Mustela, que se foca no desenvolvimento de fórmulas com 96% de ingredientes de origem natural, em média, práticas agrícolas responsáveis e produtos dermatologicamente testados. A marca está a reforçar a aposta em linhas específicas e com certificação BIO, e em inovações que venham responder às necessidades e dúvidas dos pais”, refere Inês Barreto.

Quanto à nova marca centrada no envelhecimento positivo, a diretora de marketing e vendas dos Laboratoires Expanscience avança que terá uma gama dedicada à mobilidade e ao desconforto articular, com soluções baseadas em estudos clínicos rigorosos.

“Num contexto em que a taxa de natalidade continua a diminuir e Portugal se destaca como o segundo país do mundo com a maior percentagem de população acima dos 45 anos per capita, a aposta neste segmento surge como uma resposta ao aumento de uma população sénior mais informada. Este público tem vindo a procurar, cada vez mais, produtos que promovam a saúde e o bem-estar de forma holística, preventiva e positiva”, justifica Inês Barreto.

Sobre o autorCatarina Nunes

Catarina Nunes

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