Regresso ao aeroporto
Artigo de opinião assinado por Vítor Cunha, administrador da JLM & Associados

Meios & Publicidade
Agências norte-americanas repensam Cannes devido às políticas de Trump
Audiências semanais: SIC reforça liderança
Marcas reagem à eleição do Papa Leão XIV
GirodMédias compra APS Media
Sugestões para ler e escutar da edição 979 do M&P
Maria Cerqueira Gomes é a nova embaixadora da Solverde.pt
Nos é a empresa que mais investiu em inovação em 2023
Campanha da Lacoste reinventa ícones da moda e do ténis
Centromarca defende legislação europeia eficaz contra práticas comerciais desleais
Adidas, Nike, Puma e Under Armour pedem isenção de tarifas a Trump
Vítor Cunha, administrador da JLM&A
O gosto pela viagem, pela partida e pelo regresso, o amor ao nomadismo e à procura foram brutalmente interrompidos naqueles meses de confisco legal da liberdade. Mesmo assim vivi com conforto esses tempos de reclusão. Primeiro porque tinha internet e família e amigos em todo o lado. Depois, porque tive um entendimento extensivo da letra da lei sanitária e nunca permiti que o fascismo dominante tomasse conta de mim (e tive cuidados para que essa minha liberdade não trouxesse mal aos outros nem à dos outros).
De repente o senhor Putin relativizou esse mal e trouxe um muito maior. Mas nessa altura a viagem já tinha ganho vida e aqui estou eu: de volta aos Estados Unidos, aos aviões e ao “jet lag”, sem máscaras, sem afastamento, sem preconceito nem conceito.
Aqui na América de Biden e de Trump – e de outras centenas de milhões pessoas para quem ambos são meros incidentes processuais – os efeitos secundários da crise sentem-se em todo lado, exceto nas TVs, que lhes dedicam pouco tempo.
Há lojas e restaurantes fechados e abandonados, mas outros a nascer como cogumelos. Os preços atingiram o Everest e quase nada parece valer o que custa. Em muitos estados há falta de pessoas para trabalhar. O preço do trabalho aumenta e traz ainda mais inflação. Na Florida, na distribuição, há quem ganhe 10 mil dólares por mês, dizem. Nas ruas de South Beach há ofertas em dezenas e dezenas de lojas. Nos restaurantes e nos hotéis a crise é igual. Vive-se uma espécie de vitória dos underdog, finalmente recompensados. Aliás, nota-se a alegria e sentimento de vingança em algumas conversas com imigrantes felizes por serem aceites, queridos e pagos.
Ocean Drive é há muitos anos um sítio muito particular onde se juntam faunas e freaks dos mundo inteiro. Aparentemente neste mercado de excrescências (no sentido de excesso, não de tumor) também não há crise. Pelo contrário, a loucura vai de vento em popa. Como também não há crise nos bares apinhados de gentes seminuas ou semi vestidas que bebem tão avidamente margaritas como eu bebo água Serra da Estrela. A diferença é que as bebidas adocicadas e mal feitas custam 25 dólares cada. Meninas disformes e outras conformes exibem dotes e fazem “lap dance” sensual aos namorados e namoradas e até a quem não tenha nada a ver com o tema, tudo num ambiente Philippe K. Dick, mas com música impensável aos gritos. Não sou um rapaz de ideias muito predefinidas nem preso a estereótipos. Na verdade, ando desde a estreia do filme a sonhar como poderia participar numa cena do “Total Recall” (de Paul Verhoeven, com Schwarzenegger e Sharon Stone). Finalmente consegui e não houve necessidade de implante do chip (ao que parece também há falta).
O clima de festa demencial que por aqui se vive nestes dias faz-me pensar no que se dizia sobre o pós Grande Guerra. A cocaína e o champagne deram lugar a pastilhas e shots. O mundo diverte-se desalmadamente. Não sei se o problema é meu, ou deles. Mas que há aqui qualquer coisa estranha, lá isso há.
**
Miami é uma terra com sorte, apesar dos furacões. Vale a pena passar por www.margulieswarehouse.com para perceber do que falo. Num enorme armazém, Martim Margulies, um homem rico, pôs à disposição deste mundo cruel uma coleção de arte fabulosa, onde se notam muito bem algumas, largas, dezenas de peças de Anselm Kiefer. Tive a sorte (pura) de poder fazer uma visita guiada pelo próprio Margulies, uma viagem pelo amor que alguém pode dedicar à arte dos outros.
Agora segue-se New Orleans e o regressado festival de jazz. Aposto que será menos agitado que a movida de Miami. Enquanto não chega oiço pela milésima vez o último disco de Elvis Costello, “The boy named if”, à espera de o ver na sexta-feira para depois voltar sabendo que posso voltar a partir.
Artigo de opinião assinado por Vítor Cunha, administrador da JLM & Associados