Opinião

Os Zillenials: nem carne nem peixe, mas com filtro vintage

Conhecem a frustração de esperar que um vídeo carregue no YouTube em 240p, mas agora ficam impacientes se um TikTok demora mais de cinco segundos a começar

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Os Zillenials: nem carne nem peixe, mas com filtro vintage

Conhecem a frustração de esperar que um vídeo carregue no YouTube em 240p, mas agora ficam impacientes se um TikTok demora mais de cinco segundos a começar

Sobre o autor
Pedro Filipe-Santos

Se há uma tribo geracional que merece uma atenção cuidada das marcas é a dos Zillenials. Mas atenção, não confundir com Millennials nem com Gen Z — são um híbrido peculiar, uma espécie de ‘beta testers’ da transição digital.

Cresceram numa era em que ainda se fazia ‘download’ de músicas uma a uma no Limewire, mas adaptaram-se rapidamente ao ‘streaming’ infinito do Spotify. Lembram-se de um mundo sem redes sociais, mas não sabem viver sem elas. Em suma, são a ponte entre a nostalgia analógica e a velocidade digital.

Os Zillenials são aqueles que passaram tardes no MSN Messenger, mas que hoje dominam a arte de enviar notas de voz de dois minutos no WhatsApp. Conhecem a frustração de esperar que um vídeo carregue no YouTube em 240p, mas agora ficam impacientes se um TikTok demora mais de cinco segundos a começar.

Têm um pezinho na era da paciência e outro na cultura da gratificação instantânea. Se os Millennials são acusados de serem demasiado sentimentais e a Gen Z demasiado pragmática, os Zillenials vivem num limbo de contradições emocionais: são céticos, mas adoram astrologia; querem ser sustentáveis, mas não resistem a uma compra por impulso na Shein.

A relação deles com a tecnologia é especialmente interessante. Foram os primeiros a criar perfis no Facebook quando era ‘a’ novidade, mas também os primeiros a abandoná-lo, quando perceberam que só os tios e os pais ainda lá estavam.

São os responsáveis pelo ‘boom’ do Instagram, mas agora assistem perplexos à ascensão meteórica do TikTok, como se fossem imigrantes digitais numa nova terra de ‘trends’ indecifráveis. E, claro, continuam a ter um carinho especial pelos filtros vintage, porque um bom toque de sépia faz qualquer ‘brunch’ parecer saído de um álbum de 2008.

No mercado de trabalho, os Zillenials são um enigma para os departamentos de recursos humanos. Querem flexibilidade, mas também estabilidade. Valorizam a ‘cultura de empresa’, mas não hesitam em enviar um email de despedida com um GIF irónico.

Adoram um bom ‘team building’, mas preferem que seja remoto e sem câmara ligada. Para os empregadores, contratar um Zillenial é como comprar um ‘gadget novo’: cheio de potencial, mas com um manual de instruções confuso e em letras minúsculas.

E o consumo de conteúdo? Ah, esse é um verdadeiro espetáculo. Os Zillenials são aqueles que ainda se lembram de ver séries na televisão generalista, mas que agora fazem ‘binge-watching’ como se cada temporada fosse uma maratona de sobrevivência.

Cresceram com Harry Potter e agora debatem no Twitter se a nostalgia está a ser demasiado explorada pelo capitalismo. São fãs de podcasts, mas também de ‘threads’ no Twitter, que resumem qualquer livro de 500 páginas em três ‘bullet points’. Têm um carinho especial por ‘memes’ que só fazem sentido para quem viveu a transição do VHS para o ‘streaming’.

Os Zillenials são a última geração a saber o que é rebobinar uma cassete com uma caneta, mas também os primeiros a aderir ao Apple Pay, sem pestanejar. São o elo perdido entre o passado e o presente, entre o FOMO dos Millennials e a indiferença ‘cool’ da Gen Z. No fundo, são um lembrete de que a tecnologia pode evoluir, mas a necessidade de criar identidade — com ou sem filtro vintage — é eterna.

Sobre o autorPedro Filipe-Santos

Pedro Filipe-Santos

Codiretor executivo e sócio da Snack Content Portugal
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