O pesadelo americano
O ‘bad buzz’ em torno do ‘Uncle Sam’ significa perdas de 18 mil milhões de dólares em gastos de visitantes internacionais, até ao final de 2025, que podem ascender a 64 mil milhões de dólares

Muito se tem falado e escrito sobre o impacto das tarifas no comércio mundial, esquecendo o efeito na reputação da marca-país e, por arrasto, no turismo, que representa cerca de 2,5% do PIB norte-americano. Isto sem contar com o efeito multiplicador no consumo local.
No terceiro país do mundo mais visitado haverá uma contração entre 5% a 6% do fluxo de visitantes internacionais, em 2025, segundo as previsões mais recentes do World Travel & Tourism Council (WTTC). A perceção de segurança, a hostilidade das políticas de fronteira e a imagem negativa que se consolida com as medidas de Donald Trump contribuem para a queda.
O ‘sonho americano’ historicamente vendido é agora um pesadelo, amplificado pelos algoritmos das redes sociais, que influenciam a confiança de potenciais visitantes e as decisões de destinos de viagem. O desafio é reverter esta perceção. O WTTC projeta que em 2026 haja uma recuperação gradual, com o turismo a crescer entre 2% e 3%, tendo em linha de conta eventuais mudanças na gestão das fronteiras e no marketing da ‘Brand USA’.
A reputação é um ativo intangível e espelha fatores políticos, sociais e económicos, com reflexos tangíveis. Multiplicam-se as notícias sobre o cancelamento de viagens aos Estados Unidos. Nova Iorque, Miami e Los Angeles, cidades de entrada no país, são as mais afetadas. A Accor, por exemplo, revela uma diminuição de 25% das reservas de turistas europeus para os Estados Unidos, este verão.
O ‘bad buzz’ em torno do ‘Uncle Sam’ significa perdas de 18 mil milhões de dólares em gastos de visitantes internacionais, até ao final de 2025, que podem ascender a 64 mil milhões de dólares, se for tido em conta o valor total da economia das viagens, segundo o Oxford Economics. Reverter a perceção dos Estados Unidos enquanto marca é uma urgência, mas depende de uma eventual mudança de políticas. Uma agência de ‘branding’ não é a solução.