Opinião

Não é a deficiência que os define. Então, por que não os vemos na publicidade?

As pessoas com deficiência também são consumidoras dos mais variados produtos e serviços

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Não é a deficiência que os define. Então, por que não os vemos na publicidade?

As pessoas com deficiência também são consumidoras dos mais variados produtos e serviços

Sobre o autor
Paula Cosme Pinto

Uma mulher sem um braço surge num cartaz publicitário da Transport for London (TfL), a passar o bilhete na máquina. Mas não se trata de uma campanha sobre acessos a pessoas com deficiência, é uma imagem meramente informativa sobre novas tarifas na rede de transportes daquela cidade (na foto).


O que é que a torna tão importante? Porque faz do universo publicitário um veículo de normalização da existência destas pessoas, para além da sua deficiência. Elas e eles fazem parte da sociedade, têm sonhos, empregos, famílias e rotinas, como qualquer outra pessoa.

Serem, portanto, reduzidas às suas incapacidades quando são representadas no espaço mediático é uma forma bastante redutora de rotularmos as suas vidas. Vidas que não se resumem à deficiência, vidas que têm tantas dimensões quanto as de qualquer outro cidadão.

Esta imagem, que faz parte de uma série de cartazes com fotografias de diferentes utilizadores da TfL, já tem uns anos, mas continua a dar-me que pensar quando olho para as campanhas desenvolvidas por cá.

Por que é que não vemos imagens destas espalhadas no espaço público, quando sabemos que cerca de 11% da população total residente em Portugal (com cinco ou mais anos) tem pelo menos uma incapacidade? Desde a visão à audição, passando pela mobilidade ou a cognição/memória, entre outras, são 1,1 milhões de pessoas. Contudo, a invisibilidade a que estão votadas é gritante.

Trazê-las para a nossa cultura visual, elencadas em imagens do dia a dia, ajuda a esbater uma pré-conceção assistencialista e condescendente quanto ao potencial das pessoas com deficiência.

Que, sim, também andam de transportes públicos, também fazem compras no supermercado, também vão à escola, também gostam de ir jantar fora com amigos, também namoram, também fazem planos de futuro, também vão de férias.

Este ‘também’ podia ocupar várias páginas, mas deixo-vos com um que é deveras pertinente para as marcas: as pessoas com deficiência também são consumidoras dos mais variados produtos e serviços. Então, por que não as vemos a ilustrar imagens publicitárias, campanhas digitais, vídeos promocionais?

Num momento em que o país mais influente do mundo vai abolindo de forma atroz departamentos de equidade e inclusão, é essencial que as empresas não embarquem neste retrocesso. E que, pelo contrário, sejam proativas a elevar a relevância da diversidade dentro de portas, mas também junto dos seus clientes. Isto pode acontecer com estratégias tão simples quanto contribuir para a normalização da visibilidade desta fatia da população.

Há duas semanas, realizou-se em vários pontos do país a sétima Marcha pela Vida Independente, que juntou nas ruas milhares de pessoas com deficiência, em protesto por uma vida mais justa. Por emprego, educação, habitação, transportes, autonomia, visibilidade e poder de decisão. A independência e a dignidade desta parte da nossa população não pode ser um privilégio apenas de quem tem dinheiro, tem de ser um direito de todos e todas.

Como se ouviu nos discursos finais da marcha: “é a prova de que temos voz, que temos corpo, que conseguimos estar aqui a dizer o que queremos para as nossas vidas”. Espero que o mundo empresarial também oiça bem isto.

Sobre o autorPaula Cosme Pinto

Paula Cosme Pinto

Comunicadora pela igualdade de género e temas sociais
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