Entre a reputação e a criatividade: o marketing que liga tudo
“A criatividade já não está onde sempre esteve. Está em quem souber explorá-la. Está no ‘copy’ inteligente que se viraliza, no ‘pitch’ certeiro que cruza dados com intuição, na ideia que nasce da escuta ativa de comunidades”

Durante anos, as agências de PR foram vistas como as guardiãs da reputação. Trabalhávamos nos bastidores, a construir pontes com os media e a zelar pela credibilidade das marcas. Mas o palco mudou — e nós também. Hoje, nas agências de PR, somos pensadores estratégicos, criadores de histórias e planeadores de experiências que combinam criatividade e tecnologia. Porque num mundo onde todos gritam, ganha quem ouve, interpreta e propõe algo com valor.
O marketing vive uma mudança de paradigma. E a evolução das agências é o espelho dessa transformação. De um lado, as agências de publicidade e criatividade procuram relevância para além do impacto visual; do outro, as agências de PR expandem o seu território natural — a escuta, a estratégia e a influência — para ocupar um espaço novo: o da criatividade com propósito.
Durante muito tempo, PR e publicidade caminharam de forma paralela: enquanto umas afinavam o discurso das marcas com os media, outras desenhavam campanhas para chamar a atenção do consumidor. As primeiras eram associadas à credibilidade, as segundas à criatividade. Mas o mercado mudou — e os comportamentos também. O consumidor tornou-se mais exigente, mais informado e mais fragmentado. A confiança passou a depender tanto da coerência quanto do impacto criativo. A atenção, por sua vez, já não se conquista só com impacto visual, mas com histórias que façam sentido. Não há espaço para soluções isolada: há é a necessidade de um pensamento integrado, com equipas que saibam navegar entre canais, dados, comunidades e cultura, com propósito.
A criatividade já não está onde sempre esteve. Está em quem souber explorá-la. Está no ‘copy’ inteligente que se viraliza, no ‘pitch’ certeiro que cruza dados com intuição, na ideia que nasce da escuta ativa de comunidades. A criatividade, afinal, é a capacidade de conexão. De ligar pontos entre o que as marcas querem dizer e o que as pessoas precisam/querem ouvir.
É por isso que o ‘branded content’ — cada vez mais híbrido entre publicidade, influência e entretenimento — não pode ser só ruído. Marcas que falam para si próprias perdem espaço. Já as que escutam, cocriam e contam histórias relevantes para as suas audiências ganham influência real. O entretenimento não é um fim em si, mas antes um veículo de proximidade emocional. E essa proximidade nasce quando as marcas se comportam como narradoras atentas, criando conteúdos que informam, envolvem e acrescentam.
Documentários, podcasts e videocasts são hoje ferramentas poderosas para esse diálogo — não pela forma, mas pela intenção. Quando bem usados, não servem para ocupar espaço, mas para criar valor e construir relações reais, ao acompanharem os consumidores no seu dia-a-dia.
E a tecnologia? A inteligência artificial, os dados e os algoritmos são hoje aliados indispensáveis. Mas não resolvem tudo. A IA não substitui o talento humano — potencializa-o. A diferença está em saber usá-la como ferramenta estratégica, não como atalho criativo. É aí que o marketing encontra o seu ponto de revolução: quando a análise de dados, o conteúdo de marca e a empatia se cruzam para gerar impacto.
Vivemos num tempo em que marcas e comunidades estão em diálogo constante. Um tempo em que a reputação já não se gere só com comunicados de imprensa, nem a criatividade vive só no spot TV ou no OOH. O marketing eficaz é aquele que integra: ‘earned, owned, paid e shared’. É aquele que desenha ideias para múltiplos canais, formatos e públicos, com consistência e propósito.
O futuro das agências não é escolher um lado. É saber trabalhar entre eles. Ser ponte, radar, laboratório e palco. Mais de um século depois de nascer como disciplina, o marketing continua a evoluir. E hoje, mais do que nunca, é feito por quem entende que não basta escrever ou falar bem — é preciso pensar melhor. Ouvir mais. Propor mais. E, acima de tudo, criar com coragem.
Feliz Dia Internacional do Marketing!