Sobrevivência da Euronews em português poderá passar pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros
Os accionistas da estação não estão dispostos a financiar a língua portuguesa, pelo que, finda a parceria com RTP “ou alguma entidade a assume, ou a língua portuguesa acaba”.

Elsa Pereira
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Uma das medidas previstas pelo plano de reestruturação da RTP prende-se com a denúncia do contrato que estabelece a parceria entre a estação pública e a Euronews, que expira a 31 de Janeiro de 2013. A continuidade do serviço em português no canal noticioso poderá estar comprometida. Ora, para lá dos postos de trabalho – além dos 16 profissionais dos quadros são cerca de 30 os colaboradores nacionais em regime flutuante que trabalham na televisão – em causa está “a projecção da nossa língua no mundo”. Nas palavras de Maria Barradas, responsável pela equipa portuguesa da Euronews, cuja sede se fixa na cidade francesa de Lyon, é uma questão de “identidade nacional que é suprapartidária”. O ministério dos Negócios Estrangeiros poderá assumir-se como a tábua de salvação para o serviço, tendo já decorrido um encontro com o director-geral da Euronews, Michael Peters.
Há 12 anos, Portugal tornou-se no sexto país a integrar o canal de notícias, fundado em 1993 por Reino Unido, França, Alemanha, Itália e Espanha, e que hoje conta com 11 línguas representadas. O contrato, renovado de três em três anos, implica o pagamento de 1,6 milhões de euros anuais, ao que acrescem mais 365 mil euros para a participação accionista de 1,4 por cento, quantia esta que, de acordo com Maria Barradas, “é inferior à despendida em qualquer programa de produção própria ou campanha turística”. No entanto, para a responsável, “acabar com a parceria entre a RTP e a Euronews não é o mais grave”, antes “o fim do serviço em língua portuguesa”, quando a “língua é uma questão estratégica para o país”. Maria Barradas já solicitou uma reunião com o ministro dos Assuntos Parlamentares, que tem a tutela da Comunicação Social, e garante “que há caminhos que se perfilam” para “salvaguardar o que levamos de Portugal ao mundo e do mundo a Portugal”. “É verdadeiramente uma alternativa à informação”, frisa a responsável, que classifica a RTP Internacional como um “enigma”. A relação entre a RTP e a Euronews vem sendo pautada “por dificuldades”, assegura Maria Barradas, “independentemente das direcções que por lá passaram”. “Existe um sentimento de concorrência desleal em relação a nós” que impede o “fomentar de sinergias”. Como tal, a Euronews “não é um bom negócio para a RTP”, pois “nunca fez uma boa gestão deste produto”, ou dele retirou proveito. Para validar a importância que reconhece ao serviço português da Euronews, a profissional recupera uma declaração proferida por Cavaco Silva, em entrevistal aquando do seu primeiro mandato enquanto Presidente da República: “Vocês são verdadeiros embaixadores de Portugal no mundo”. Aliás, um dos próximos passos nesta campanha para salvar o serviço será contactar também o chefe de Estado.
Os accionistas da estação não estão dispostos a financiar a língua portuguesa, não encarando Portugal como um mercado core, pelo que, finda a parceria com RTP “ou alguma entidade a assume, ou a língua portuguesa acaba”, sintetiza Maria Barradas.
Michael Peters, director-geral da Euronews, enumera, por seu turno, um leque de razões para que o serviço português da Euronews não termine. “Dizer que 2 milhões de euros é muito caro para um serviço de tradução é um bom argumento para animar a política”, ironiza o responsável. Porém, começa por explicar, “o serviço português é o preço mais barato que praticamos”. “Se novos parceiros entrarem, e temos muitas solicitações, os contratos agora rondam os 6 milhões de euros”. Por outro lado, prossegue Michael Peters, “os jornalistas portugueses que estão aqui fazem lobby pelo seu país”, assegurando conteúdos que de outra forma não teriam visibilidade. Também a participação de Portugal no board de accionistas é, segundo o director-geral, uma ferramenta “com um poder extraordinário”. E chegando a Euronews a 100 milhões de lares, reforça, “a língua portuguesa está onde quer que a Euronews esteja”. A título de curiosidade, o responsável sublinha que, segundo um estudo realizado pela EMS, “Portugal é o único país do mundo no qual a Euronews é mais conhecida do que a BBC ou a CNN”, gozando de 97 por cento de índice de notoriedade por terras lusas.
Trata-se de um canal que emite informação internacional 365 dias por ano, 24 horas por dia, que tem investido cada vez mais em produção própria e co-produções, salienta. Tendo apresentado estes mesmos fundamentos, o director-geral afiança: “Recebemos uma boa atenção na reunião que tivemos no Ministério dos Negócios Estrangeiros”, pelo que a solução para a permanência de Portugal na Euronews poderá continuar a envolver o Estado, mas, desta feita, através de um financiamento adjudicado pela esfera da pasta a cargo de Paulo Portas, em detrimento daquela chefiada por Miguel Relvas. “Grupos de crédito, fundações, Estado ou até privados” – seria a primeira vez na história da Euronews e teria que ser aprovado pelos accionistas – constituem, todas, opções legítimas para comparticipar a permanência portuguesa na Euronews, frisa Michael Peters, adiantando ainda que a empresa, que lançou recentemente a primeira pedra para uma nova sede, conta com 70 milhões de euros para produzir em 11 línguas.
O mito da tradução
A ideia, não raras vezes propalada, que faz corresponder a presença lusa na Euronews a um trabalho de mera tradução, afigura-se como algo redutor. Aliás, o convite da estação para que três jornalistas portugueses visitassem as suas instalações surgiu sobretudo para mostrar o funcionamento de toda a sua estrutura. Como o M&P pôde comprovar, o serviço português da Euronews é garantido pelos jornalistas portugueses que, portanto, não se limitam a replicar para a nossa língua trabalho alheio. A redacção é composta por cerca de oito desks ou secções, sendo que cada é composta por 11 elementos de nacionalidades diferentes. Definida a matéria noticiosa com o editor, os textos são elaborados de forma diferenciada e independente por cada um dos profissionais, aos quais cabe também mixar o texto com as imagens fornecidas pelas agências, emprestando a sua voz. O tronco comum aos 11 serviços da Euronews assenta nas imagens.