‘Há pessoas que falam ao microfone, know how de rádio é outra coisa’
Pedro Tojal, sócio-maioritário e fundador do grupo Digifi, em entrevista ao M&P, fala dos seus projectos para o grupo que arranca com uma nova rádio, a FI FM, mas que […]

Ana Marcela
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Pedro Tojal, sócio-maioritário e fundador do grupo Digifi, em entrevista ao M&P, fala dos seus projectos para o grupo que arranca com uma nova rádio, a FI FM, mas que vai acolher nas futuras instalações, em Alfragide, a área digital e a nova agência de Margarida Quinta, a Quintália, entre outras áreas de negócio. O responsável não revela valores de investimento, “ainda não fiz as contas” é “prematuro avançar valores”, mas o break-even está previsto a três anos.
Meios & Publicidade (M&P): Diz que a FI FM não vai ser nem uma rádio de música, nem uma rádio de palavra. Vai ser o quê?
Pedro Tojal (PT): A roda está inventada há muito tempo, não se pode nunca esperar uma coisa manifestamente diferente, apesar de na rádio em Portugal haver ainda muita coisa por fazer. Quando digo que não vai ser de música ou de palavra, quero dizer que não vai ser uma rádio cuja essência é música, mas vai ter muita música, nem cuja essência é a palavra, porque sabemos de antemão que as rádios de palavra têm muitos problemas. Então vamos arriscar e fazer um mix de uma rádio com música e com mais palavra do que normalmente costuma ter e, obviamente, com outro tipo de assuntos a serem abordados.
M&P: Pela descrição quase parece o Rádio Clube.
PT: Não sei qual o posicionamento do RCP. Sei quando o fiz, essencialmente uma rádio musical, quando a Prisa entrou é que passou o RCP para uma rádio de palavra, essencialmente de notícias, que teve o resultado que teve, agora não sei o que vão fazer. Uma coisa é certa: o que vou fazer eu sei, não sei se estão num caminho semelhante.
M&P: Em antena a estação assenta muito no nome Pedro Tojal ou tem outros nomes ‘sonantes’ que o acompanham neste projecto?
PT: Tenho pessoas que me acompanham, agora nomes ‘sonantes’…
M&P: Pergunto porque, por exemplo, recentemente a Rádio Comercial anunciou a contratação de Nuno Markl.
PT: Seguramente que vamos ter em antena profissionais já com provas dadas, mas a antena é consequência de um conjunto de trabalho. Há muita gente da equipa que vai começar a ter a formação na empresa. No meio rádio em Portugal há muito pouca gente com know how para irmos buscar e começar de imediato a trabalhar. Aprender por aprender prefiro ensinar a gente mais nova e que está a começar para o projecto arrancar de uma forma perfeitamente centrada. Tudo o que vamos fazer aqui é novo, não é receitas já feitas. E há esse problema da rádio em Portugal: há muita falta de know-how sério. Há pessoas que falam ao microfone, know how de rádio é outra coisa completamente diferente. Obviamente há excelentes profissionais, mas não é um mercado dinâmico como lá fora. Aqui a tendência é ficarem muito tempo no mesmo sítio e isso, a meu ver, não é muito bom, as pessoas começam a acomodar-se. Por outro lado, não havendo essas pessoas, para as ir buscar temos de pagar muito mais do que ganham, normalmente em rádios nacionais já ganham bastante bem, e consegue-se, a meu ver, melhores ou tão bons resultados de uma forma completamente diferente: buscando gente nova, aprendendo técnicas novas, começando a construir o conhecimento dentro do próprio grupo.
M&P: Não receia que isso possa ser um factor de não atractividade para os anunciantes e para os ouvintes? Por alguma razão as estações chamam nomes conhecidos, evidentemente para trazer mais ouvintes.
PT: Conheço muitos nomes sonantes que são mais nomes sonantes dentro do próprio meio do que de fora e, mesmo sendo fora, não trazem essa audiência. O que vai trazer a audiência é um projecto que foi pensado e estudado, fizemos um estudo grande sobre o mercado, percebendo as necessidades das pessoas e correspondemos a essas necessidades.
M&P: Diz que esta estação poderia conquistar audiência à RFM, Comercial ou à M80. De acordo como Bareme Rádio, no terceiro trimestre a RFM obteve 14,8 por cento de Audiência Acumulada de Véspera, a Comercial 7,7 por cento e a M80 2 por cento. Em que patamar coloca a FI FM?
PT: Não faço profecias. Até porque o estudo da Marktest não mede audiência directa, mede lembrança, o que é completamente diferente. Não é só por ter uma boa programação que a rádio tem audiência, se não for comunicada as pessoas não sabem e não vão lá, e não é só não irem lá, é irem e memorizarem, porque a Marktest o que pergunta é ‘que rádio ouviu ontem?’ Se as pessoas estão habituadas a ouvir muito a RFM a primeira marca que vem à cabeça é a RFM, mas se calhar ouviram outra rádio.
Com as rádios novas primeiro que as pessoas comecem a memorizar… Não tem a ver com o produto em si, mas com a forma como se comunica, por isso não faz sentido dizer que vamos ter não sei quantos por cento daqui a não sei quanto tempo.
M&P: Qual é então a vossa estratégia para conquistar audiências?
PT: Comunicar. É importante estarmos permanentemente a comunicar porque é a forma de estarmos presentes na memória das pessoas.
M&P: O que torna mais oneroso o lançamento do projecto.
PT: Claro que sim, mas isso está previsto no business plan. De qualquer forma, a comunicação não é só a pagar em que contratamos uma agência e depois vamos para mupis, etc. A rádio tem formas de comunicar em que muitas vezes pode ganhar dinheiro.
M&P: Quer precisar?
PT: Tem a ver com promoções bi-direccionais. É curioso ver que os jornais gratuitos começaram a fazer isso. Uma das linhas de receita é fazerem actividades paralelas à distribuição do jornal que venderam. Estão a capitalizar a própria marca, porque as pessoas ficam com interesse de ir buscar o jornal porque vão ganhar qualquer coisa e, simultaneamente, estão a ganhar dinheiro.
M&P: Os anunciantes em Portugal são tradicionalmente conservadores relativamente a novos projectos. O que poderá levar um anunciante a apostar na FI FM e não na RFM?
PT: Diferentes abordagens de comunicação, soluções e áreas de comunicação. Vão certamente existir spots tout court, mas queremos auxiliar os anunciantes com um conjunto de características que têm a ver com a própria rádio e, em função da comunicação que querem fazer, ajudá-los nessa comunicação, e isso é um factor distintivo. As rádios não vão muito por ai, aceitam as campanhas, colocam no ar e pouco mais do que isso. Nós podemos e vamos fazer muito mais. A própria essência do grupo é muito importante, porque tem a ver com a área da sustentabilidade e aí vamos ser especialistas a desenvolver comunicação dentro dessa área. É uma área onde as empresas estão com um investimento grande, com certeza vão fazer comunicação noutros meios, mas isso tem a ver com a nossa essência e, como tal, teremos mais capacidade para desenvolver projectos que correspondam a essas necessidades.
M&P: E no digital? Vão lançar um micro-site…
PT: Começando com uma rádio só em Lisboa é fundamental estar na internet para ser ouvido em todo o sítio onde a internet chega. Estamos ainda a desenvolver um site, com muito mais capacidades do que só o site de uma rádio. Vai ter muito mais áreas, para ser encarado como uma área de negócio séria.
M&P: Mas a aposta tem somente a ver com o arranque do site da rádio ou…
PT: Tem a ver com o grupo Digifi, de desenvolver outras áreas, até ao nível de vendas online.
M&P: Venda de música online? Quer precisar?
PT: Não, é noutras áreas. Ainda é prematuro.
M&P: E onde é que em tudo isto encaixa a Quintália, a agência da Margarida Quinta, da qual são sócios minoritários?
PT: Encaixa, como encaixa a internet. São áreas que percebemos que eram muito interessantes para começar em simultâneo e para desenvolver porque o posicionamento era semelhante. Achamos interessante aliarmos-nos a alguém que já deu mais do que provas no seu percurso profissional, para fazer uma coisa completamente diferente que tem a ver com o nosso projecto. É uma das estruturas do grupo.
M&P: E o papel?
PT: Estamos com conversações, mas são projectos muito interessantes. Podem inclusivamente ultrapassar mais rapidamente do que pensávamos as nossas fronteiras.
M&P: Falamos de parcerias? De projectos já no mercado
PT: Parcerias, claro. Alguns dos projectos já estão no mercado, outros são novos. Têm sempre a ver com o nosso posicionamento e com a nossa visão na área da sustentabilidade. Não vamos entrar em áreas de negócio que não tenham a ver com a nossa visão.
M&P: Daqui a três anos diz querer lançar um canal de televisão. Dado o mercado e o próprio investimento envolvido, parece-lhe exequível?
PT: Acho que é obviamente um objectivo exequível. Esse é o nosso objectivo, agora se daqui a três anos há mercado ou não, não faço ideia, nem ninguém faz. Em função do conhecimento que temos hoje, penso que sim porque acho que é rentável e basta olhar para as grandes empresas que cada vez mais estão a comunicar nesta área [da sustentabilidade]. Se for esse o nosso core business, a nossa essência, se calhar faz sentido, mais do que qualquer outro tipo de projecto.
M&P: Detém 51 por cento do Digifi. Quem são os outros sócios?
PT: Não são empresas que façam parte da área da comunicação social, têm outro tipo de actividades.
M&P: Não quer revelar quem são?
PT: Não vejo que seja importante.