WAN: Estariam os media melhor se o Google não existisse?
O congresso da World Association of Newspapers (WAN) terminou ontem na Índia. Conheça as temas quentes do último dia que juntou a indústria de media internacional
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“Por favor não atirem sobre mim. Estou desarmado e venho em paz”. Foi esta a reacção de David Drummond, senior vice president & chief legal counsel do Google, ao tema do debate espelhado nos ecrãs da sala do congresso da WAN-IFRA: What do We do about Google?, a decorrer durante esta semana em Hyderabad, Índia.
O responsável do Google entrou, como disse Gavin O’Reilly, CEO do Independent News & Media, na “cova do leão”, e com palavras esgrimiu os argumentos que, durante os quatro dias do congresso, de uma forma quase omnipresente, foram apresentados reflectindo o verdadeiro debate que opõe a indústria de media ao gigante tecnológico. E arrancou com a pergunta: “Estaria a indústria de media em melhor situação se o Google não existisse?”. E, sendo advogado por formação, Drummond prestou-se a consolidar a sua defesa. Argumento 1: o motor de busca “oferece uma fonte de promoção a milhões, e deixem-me frisar milhões, de editores em todo o mundo”, dando também a milhões de leitores a oportunidade de contactar com os seus conteúdos e aos anunciantes a hipótese de os impactar com anúncios. Argumento 2: a receita obtida pelo Google com base na pesquisa de conteúdos noticiosos “é apenas uma pequeníssima fracção” das receitas do Google nesta área. A maior fatia, diz, vem de outro tipo de conteúdos de pesquisa, como a de produtos de consumo que podem gerar vendas. Portanto, os milhões de receitas do Google não são criados ‘à custa’ dos conteúdos dos editores. Argumento 3: o Google oferece serviços de tecnologia que permitem aos editores determinar o que querem fazer com os seus conteúdos (se querem ou não cobrar por eles, por exemplo). No passado dia 2 de Dezembro, a empresa anunciou que ia permitir que os sites limitassem o número de notícias disponibilizadas gratuitamente através do Google News. Mais, neste sentido, a empresa tem inclusive serviços com o Fast Flip, em parceria com diversos grupos de media, que “dá aos editores a maioria das receitas geradas”. Quarto e último argumento: perante o desafio do mobile, que surge com as possibilidades trazidas pelos smartphones – não esquecer que também têm tecnologia Android (do Google) – “juntos podemos fazer muito mais”. Portanto, à pergunta O que fazer em relação ao Google, David Drummond responde: “Trabalhem connosco”.
Do lado dos media Gavin O’Reilly, defensor do ACAP (protocolo de internet proposto por associações do sector), estabeleceu as ‘regras’ do trabalho do ponto de vista da indústria. O’Reilly defendeu a questão do copyright e a necessária e justa remuneração pelos conteúdos como base de trabalho de modo a garantir a sustentabilidade financeira do indústria. “Não dizer que não, não é o mesmo que dizer sim”, diz. “Os agregadores não devem assumir que [não havendo um não] o conteúdo é deles.” O CEO do Independent News & Media, relembrando o comentário do CEO do Google, Eric Schmidt, de que era um ” imperativo moral ajudar os jornais”, afirma: “Não estamos a defender a caridade”, mas um modelo de pagamento justo. E quanto ao tráfego que os agregadores como o Google reencaminham? “Como se pudesse levar tráfego ao meu banco”, refere, pouco convencido das virtudes deste modelo. “Não teremos uma palavra a dizer sobre o nosso modelo de negócio?”, questiona. Mais, argumenta, “porque é que o Google não está disposto a adoptar o ACAP? A não ser que o Google está a dizer, sem o dizer de facto, que tem um problema com copyright”.
Uma hipótese prontamente negada por David Drummond. Não é uma questão do Google não respeitar o copyright – “somos uma empresa de tecnologia, o nosso código tem copyright” – é uma “discordância fundamental” sobre se “a mera indexação de conteúdos na internet é uma infracção de copyright”, contra-argumenta, relembrando que inclusive a legislação norte-americana sobre esta questão admite o chamado “fair use”. O responsável do motor de busca fala da vontade de, em conjunto com os editores, chegar a uma relação de negócios que os beneficie mutuamente. Da plateia, Martha Stone alertou para o facto de muitos editores com quem tem vindo a dialogar no âmbito do projecto Shaping the Future of Newspaper da WAN-IFRA afirmarem que a partilha de receita do Google Adwords está tendencialmente a beneficiar o motor de busca, que fica com uma percentagem cada vez maior da receita. “Não penso que seja o caso. O nosso modelo é para os editores que ficam com a fatia de leão”, diz Drummond. “Ainda não fizemos o suficiente para nos envolvermos com os editores, mas estamos seriamente interessados nisso”, assegura. Da plateia surgiu o desafio: porque é que não chamam os outros agregadores, empresas como a Microsoft e juntos chegam a um acordo? Dae-Whan Chang, chairman da Maeil Business Newspaper & TV, da Coreia do Sul, devolveu com uma pergunta à plateia: “Quantos de vós têm o ACAP instalado nos vossos sites?”. O número de mãos que se levantou na sala era mínimo. “Bem, quando a própria indústria não se entende…” (foto de Gavin O’Reilly, da responsabilidade da WAN-IFRA)
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