Oscar Wilde era um génio visionário, não era?

Vítor Cunha, administrador da JLM&A
O mundo está muito preocupado com os efeitos da utilização massiva de instrumentos com recurso à inteligência artificial (IA), o que se compreende, dada a cada vez mais evidente crise da inteligência humana (IH).
Adoramos as máquinas que trabalham por nós e para nós enquanto as percebemos e controlamos. A partir daí, como somos naturalmente medrosos, o Adamastor adquire feições catastróficas e as profecias do fim do mundo impelem ao terror: e não é que nós, os seres vivos mais inteligentes e capazes, que nunca fomos derrotados por vírus e bactérias, podemos ser agora controlados e dominados por um computador? Algo não bate certo. É preciso salvar o mundo como o conhecemos.
“No vasto horizonte da era digital, a IA emerge como uma força poderosa, transformando o cenário dos meios de comunicação. A IA se insinua sorrateiramente pelas redações e estúdios, despertando um mix de expectativas e preocupações. É como se a máquina estivesse pronta para assumir o palco, enquanto os humanos observam com fascinação e apreensão.”
O parágrafo acima é da autoria do já famoso ChatGPT, que escreve como se tivesse nascido em Salvador da Baía. Pedi-lhe carinhosamente (esta parte ele não terá percebido, ou então é sonso) que redigisse um texto com 3.600 carateres sobre IA com recurso a citações de autores famosos: “Assim como disse Arthur C. Clarke, ‘Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da magia’. A inteligência artificial, com sua capacidade de aprendizado e análise de dados, parece transcendental. Com algoritmos que decifram padrões e identificam tendências, ela tem o potencial de revolucionar a maneira como consumimos informações.”
O texto continua num português do Brasil impecável, e a contagem de carateres esteve perfeita. Eis senão quando, no final, surge algo desconcertante: “Em suma, a inteligência artificial está deixando sua marca indelével no mercado de mídia, desencadeando uma revolução tanto promissora quanto desafiadora. À medida que exploramos suas possibilidades, devemos nos lembrar das palavras de Oscar Wilde: ‘A inteligência artificial é tão limitada quanto a inteligência humana que a criou’. Somos nós, seres humanos, que devemos guiar o curso dos meios de comunicação, utilizando a IA como uma ferramenta para ampliar nossa criatividade e alcançar novos horizontes.”
Oscar Wilde (1854-1900) escreveu muito sobre muitos temas – e até sobre a utilização de máquinas que substituiriam no futuro o trabalho humano –, mas nunca pensei que pudesse ter sido capaz de tão significativo aforismo. “A inteligência artificial é tão limitada quanto a inteligência humana que a criou”. Que génio precoce e visionário. Que presciência. Que talento.
Oscar Wilde nunca escreveu sobre inteligência artificial. Na dúvida, pesquisei rapidamente a obra menos conhecida do escritor: nada. Em desespero de causa, perguntei ao ChatGPT. O mentiroso confirmou que Oscar Wilde nunca escreveu sobre o conceito que só viria popularizar-se um século depois. E podemos confiar em quem já nos enganou?
Nova pesquisa: Pedro Adão e Silva, ministro da Cultura: “Além de sua carreira acadêmica, Pedro Adão e Silva está envolvido na política portuguesa. Ele tem desempenhado um papel ativo como estrategista político e assessor de comunicação para vários partidos políticos, incluindo o Partido Socialista (PS) em Portugal.”
Luís Montenegro: “É um político português que foi membro do Partido Social Democrata (PSD). Ele nasceu em 1973 em Viana do Castelo. (…) Em 2010, Luís Montenegro foi eleito líder da bancada parlamentar do PSD, cargo que ocupou até 2017. (…) É importante notar que Luís Montenegro deixou de ser membro do PSD em 2020 e fundou o movimento político Nova Democracia. Desde então, tem estado envolvido em iniciativas políticas fora do partido.”
Já levo caracteres a mais, mas uma coisa vos digo: não façam o teste de História com recurso ao ChatGPT.
Artigo de opinião assinado por Vítor Cunha, administrador da JLM & Associados