ChatGPT bate à porta do marketing, mas será que o marketing o deve deixar entrar?

Por a 9 de Fevereiro de 2023

O ChatGPT tem causado um enorme sobressalto nas equipas de marketing e todo o tipo de profissionais ligados às tecnologias da informação. Apenas mais um programa de inteligência artificial (IA), pensam uns; uma autêntica revolução tecnológica, afirmam outros. Há até quem receie que seja o fim da sua profissão. O que, no meio de toda a discussão, tem ficado por esclarecer é, afinal, para o comum mortal que trabalha com meios digitais, que benefícios pode ter este novo chatbot e de que forma pode ajudá-lo efetivamente nas suas tarefas diárias.

Antes de mais, importa explicar em que consiste esta nova tecnologia de que todos falam. O ChatGPT (Chat Generative Pre-Trained Transformer) é um software programado para gerar textos numa linguagem natural, de maneira semelhante a um humano. Funciona como um bot de conversação ao qual é possível fazer perguntas e obter respostas que podem parecer surpreendentemente humanas em poucos segundos, com uma particularidade interessante: se quisermos que transmita uma sensação positiva, de alegria, entusiasmo ou, opostamente, de tristeza ou ansiedade, basta dar-lhe essa instrução.

Assim, o programa é capaz de ajudar a obter informações de forma rápida e eficiente, bem como automatizar algumas tarefas que normalmente são realizadas por humanos.

Pode ser útil em várias áreas, nomeadamente na escrita, correção de códigos de programação e até na tradução, uma vez que consegue dar respostas em várias línguas de uma só vez. Podemos beneficiar do seu potencial na criação de conteúdo, por exemplo, tornando-a um processo mais rápido, fácil e eficiente. De que forma? Vejamos.

O ChatGPT pode reduzir o tempo que gastamos a pesquisar sobre determinado assunto e fazer a compilação das informações mais importantes, bem como outras tarefas manuais de criação de conteúdo. Tem a capacidade de resumir longos trechos de texto em pedaços mais curtos e fornece ainda insights poderosos para otimizar o conteúdo para os motores de pesquisa. O seu recurso de pesquisa de palavras-chave permite que encontremos rapidamente palavras-chave populares relacionadas ao tópico em questão, para que possamos otimizar o texto para SEO. Além disso, economiza tempo ao criar novas páginas web, gerando automaticamente títulos otimizados, meta descrições, tags, etc., com base em palavras-chave ou frases inseridas pelo utilizador.

Resumindo, com o ChatGPT torna-se mais fácil criar conteúdo relevante, envolvente e otimizado para os motores de pesquisa, diminuindo o tempo que “tradicionalmente” demoraríamos a fazê-lo. Este novo software de IA também possui uma variedade de ferramentas analíticas que fornecem informações sobre o desempenho do conteúdo de um site e dos sites concorrentes em termos de tráfego orgânico, tempo na página, taxa de rejeição, etc., o que ajuda a identificar pontos de melhoria. Além do mais, graças à sua interface intuitiva, qualquer pessoa pode usá-lo sem conhecimento prévio, experiência com SEO ou ferramentas de pesquisa de palavras-chave.

A análise de grandes volumes de dados não estruturados é outra das funcionalidades do ChatGPT, que consegue extrair insights importantes de vastas coleções de feedback do consumidor, publicações em redes sociais e muito mais, oferecendo às empresas dados úteis sobre as preferências dos seus clientes, que podem ser aproveitados para aprimorar produtos e serviços. O programa é também passível de ser usado para automatizar o atendimento ao cliente, o que possibilita que os profissionais de marketing libertem tempo na sua agenda para se concentrarem em tarefas mais complexas.

Não obstante, claro que existem alguns perigos ao recorrer ao ChatGPT para o trabalho em marketing. Por exemplo, alguns especialistas argumentam que confiar demasiado em processos automatizados pode levar à falta de criatividade na criação de conteúdo e nas estratégias de marketing. Adicionalmente, como a própria ferramenta (ainda em beta) indica, pode gerar informação incorreta, produzir informações prejudiciais ou tendenciosas, além de desconhecer factos recentes (foi alimentada com dados apenas até finais de 2021). Não tem acesso a dados em tempo real (ainda) ou a capacidade de navegar na internet e procurar respostas, cruzando informação.

Obviamente, não podemos aceitar o que o programa nos diz como a verdade absoluta, devendo manter um olhar crítico sobre cada resposta que nos dá, até porque sabemos que os modelos de computação não entendem as palavras nem as frases como os humanos. A nossa capacidade de processamento e noção cultural faz com que tenhamos a habilidade de olhar para os inputs como um todo, algo que estes sistemas ainda não têm capacidade de fazer. Por mais “esperta” que seja a máquina, ainda não é humanamente inteligente – isso é certo.

Quanto à iminência de a IA poder vir a substituir por completo o trabalho humano, saiba que, para o ChatGPT gerar respostas corretas, os inputs têm de ser precisos. Ora, isto significa que designers, redatores, profissionais de SEO, entre outros, podem ficar descansados porque, à partida, os clientes não saberão dar à máquina esses inputs com a precisão necessária para ter um resultado satisfatório. Ao olharmos para o ChatGPT como algo completamente revolucionário que marca uma rutura com tudo aquilo que conhecemos, considerando-o causador da substituição de uma profissão ou do fim da arte, estamos a desvalorizar um pouco a capacidade humana, não? Estamos a descartar tudo o que nós, humanos, temos no nosso cérebro social que não é traduzível para texto – e esse tudo ainda nos diferencia das máquinas.

Em jeito de conclusão, o ChatGPT é uma ferramenta que qualquer pessoa que trabalha com meios digitais deve considerar explorar. Portanto, à questão colocada no título, eu respondo: deixemo-lo entrar!

Artigo de opinião assinado por Marco Gouveia, consultor de marketing digital

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