Diz-me como compras, dir-te-ei quem és
Filas incontornáveis, lojas cheias, descontos loucos e um ambiente tenso. É assim que se pode descrever o mês de novembro, profundamente caracterizado por um único dia, que, ao longo dos anos, se veio a alargar a semanas, ou ao período mensal completo: a Black Friday. A tradição americana, entretanto exportada para todo o mundo, fomenta o consumismo, a euforia, os gastos extraordinários e as compras por impulso.
Em termos ambientais, este dia, esta semana, ou este mês, trazem inúmeras consequências. A necessidade de aumentar a capacidade de resposta e acelerar todos os processos ao longo da cadeia de distribuição, por exemplo, gera um aumento das emissões de carbono. Por outro lado, estes modelos de consumo promovem o encurtamento dos ciclos de vida dos produtos em prol do imediatismo, gerando um descarte mais rápido, maior rotatividade e, inevitavelmente, maior utilização de recursos e produção de resíduos.
Perante este cenário, existem duas questões essenciais: a sensibilização para a compra consciente, por parte do consumidor, e a reflexão crítica que deve ser fomentada nas empresas sobre o peso desta vertente comercial nas políticas internas de sustentabilidade. De que vale apregoar preocupações crescentes com a conservação do ambiente e do planeta, se se deita tudo a perder nesta altura do ano?
Em primeiro lugar, é preciso parar para pensar e questionar. Deve existir uma grande reflexão entre qualidade, preço e necessidade. Muitas vezes, a tentação de comprar barato é enorme, mas é necessário perguntar: “Preciso realmente disto?”, “vai fazer diferença na minha vida?”, “vai ter utilidade a longo prazo?”. Uma das formas de combater a compra impulsiva é fazer uma lista daquilo que realmente é necessário, com o objetivo de tirar partido das promoções com base na utilidade e não na gratificação imediata. Depois, definir um orçamento e priorizar as marcas sustentáveis, ou lojas de artigos em segunda mão, que se dedicam a dar uma segunda vida a produtos que, de outra forma, seriam desperdiçados. Para além de comprar de forma consciente, o consumidor estará a apoiar negócios com uma pegada de carbono mais reduzida e que se regem por valores e políticas de responsabilidade social corporativa com um grande impacto no planeta.
Por outro lado, as empresas devem refletir sobre os valores pelos quais se regem e, sendo a sustentabilidade um tema incontornável nos dias de hoje, incluído por muitas organizações nas suas estratégias de negócio, por vezes o apelo ao consumo pode criar incompatibilidades e contrassensos. A comunicação, neste caso, é crucial: por que não mudar o paradigma desta época e apelar ao consumo consciente, ainda que com promoções a decorrer? Por que não tornar esta Black Friday num dia mais verde e menos nocivo para o planeta?
Num contexto de alterações climáticas cada vez mais acentuadas, é importante pensar naquilo que está ao nosso alcance fazer para reduzir a nossa pegada ambiental, quer sejamos consumidores quer sejamos empresas. A Black Friday é uma época que merece a nossa especial atenção, pelo negativo impacto ambiental que representa. Cabe-nos, por isso, a todos contribuir com a nossa reflexão crítica e com os nossos comportamentos para que este dia se torne efetivamente mais sustentável.
Artigo de opinião de Cláudia Pinheira, gestora de marketing e comunicação na Phenix Portugal