Os culpados e os media

António Cunha Vaz, presidente da CV&A
Este texto vem a propósito de tudo. Em tudo, muitos encontram culpados. Para expiar suas próprias culpas ou falhas e apenas porque é mais fácil culpar outrem do que assumir responsabilidades. Apenas porque é mais popular. Atrai mais “seguidores” ou “likes” ser populista, ser extremista, do que contribuir para a solução, do que construir. Traz mais audiência dizer mal, denegrir, acusar pessoas de terem cometido, ou supostamente terem cometido, crimes de colarinho branco do que arranjar provas e entregar ao Ministério Público a correspondente denúncia.
Há, também, quem diga que enquanto acusamos outros distraímos a atenção sobre nós e os nossos pecados mundanos. Muitas vezes, creio, será assim.
E mais fácil é quando se acusam pessoas que, no momento da acusação, não têm o mesmo palco para se poderem defender. E isto é a propósito de tudo. Não é só a propósito de política, de economia, de saúde, de guerras, é a propósito de tudo, até por meros ódios pessoais.
O princípio é: “Eles” ou “elas” são os culpados, “eu” ou “nós” somos os inocentes. Temos um recente exemplo de uma das acusadoras do reino mediático que, afinal, parece ter uns acertos a fazer nas suas declarações relativas a bens imobiliários. A mesma que recebia em casa uma “sobrinha” que era filha de alguém muito importante e, de repente, descobriu que a dita era uma ladra. Curiosamente, fê-lo quando o pai da sobrinha deixou de ser importante. A mesma pessoa acusa, sempre de forma retorcida para evitar processos crime, lança insinuações torpes sobre uma série de pessoas, mostrando a ignorância dos temas sobre os quais fala, mas tem eco. Tem audiência. É-lhe dado espaço. Mas não é culpada de nada. Pertence ao grupo dos outros.
Os culpados são os que não têm espaço para se defender no mesmo momento em que são atacados nem o mesmo destaque nos media quando são ilibados das acusações de que são alvo. Um dia excedi-me: disse o que pensava sobre a senhora em causa e prontamente fui insultado por uma chusma de seguidores da sua candidatura à Presidência da República. Claro que me retratei da expressão que utilizei, porque a mesma me fez descer ao nível da senhora em causa, mas rapidamente percebi que “os outros”, isto é, todos os seus seguidores, cresceram perante mim, o culpado, apenas por ter dito a verdade.
Mas, como esta citada há mais. É fácil insinuar. É fácil denegrir. Também sei fazê-lo e sei que traz apoiantes e, até, votos. Se há quem diga que há um partido que é uma federação de descontentes com o estado em que está o nosso país, seria bom que os media dessem uma ajudinha e banissem dos seus ecrãs, microfones e páginas, aqueles que acusam sem provas, pois talvez ajudassem a que federações de descontentes perdessem a força.
Artigo de opinião assinado por António Cunha Vaz, presidente da CV&A