António Carrapatoso ao M&P: “Tudo indica que não teremos, dentro desta configuração de negócio, de solicitar mais dinheiro aos acionistas”
Cerca de 6,5 milhões de euros. Foi quanto terá faturado o Observador no último ano, segundo avança ao M&P António Carrapatoso, naquela que é a primeira entrevista do empresário enquanto presidente do conselho de administração do meio de comunicação social que ajudou a fundar. Números que colocam o projeto, numa altura em que completa oito anos, o mais próximo do break even desde que foi lançado. Uma meta que, acredita o também acionista do Observador, deverá ser alcançada, mantendo-se a atual configuração do negócio, no final deste ano. Em entrevista ao M&P, que poderá ler na íntegra na edição deste quinzena, António Carrapatoso fala pela primeira vez sobre o projeto de comunicação social que idealizou juntamente com José Manuel Fernandes e Rui Ramos e que, depois do alargamento à rádio, não exclui vir a entrar também na área da televisão.
Meios & Publicidade (M&P): Quando o Observador arrancou, em 2014, o plano de negócio previa que o break even fosse atingido no espaço de três anos. Aproximam-se pela primeira vez dessa meta numa altura em que o projeto completa oito anos de vida. O que justifica o atraso?
António Carrapatoso (AC): Aumentámos muito o grau de ambição. Quando fizemos as projeções iniciais era para uma dimensão mais pequena, ao nível da organização e da atividade. Uma vez que fomos tendo bons resultados, fomos ganhando confiança e aumentando a nossa ambição. Tivemos uma evolução, nomeadamente para a rádio, que não estava prevista no plano inicial. Além disso, é difícil em Portugal lançar um projeto de raiz na área da comunicação social que seja rentável. O mercado é relativamente pequeno, não facilita a entrada de novos projetos e há certos fatores de distorção da concorrência.
M&P: Que fatores de distorção são esses?
AC: Têm a ver com o facto de o mercado ser bastante concentrado. Há dois ou três players incumbentes que têm uma dimensão grande e, naturalmente, têm sinergias e vantagens por esse facto. Mas depois também há dificuldades noutras áreas, derivadas da legislação existente, que por vezes não está atualizada, por exemplo na rádio, com os licenciamentos necessários. E depois há grupos e projetos de comunicação social que continuam a subsistir com prejuízos sucessivos. Isso dificulta a entrada de outros players que têm de se afirmar e que rapidamente têm de atingir o break even. Há ainda um caminho a percorrer na regulação do mercado. Naturalmente, esperamos que a ERC e Autoridade da Concorrência estejam atentas a esses vários fatores, mas para nós não é uma desculpa. É algo que temos de gerir, mas o nosso projeto é suficientemente forte e diferenciado para se conseguir afirmar. Termos ficado próximos do break even em 2021 já foi um grande feito porque não é comum, na área da comunicação social em Portugal, um projeto deste tipo conseguir tornar-se sustentável em oito anos.
M&P: Como foram exatamente os resultados de 2021?
AC: Tivemos um crescimento das vendas na ordem dos 23 por cento e faturámos cerca de 6,5 milhões de euros. É de salientar que, nos últimos cinco anos, crescemos a uma média de 25 por cento ao ano, isto sem contar com os primeiros anos em que se cresce sempre mais. O EBITDA foi de 231 mil euros negativos, no ano anterior tinha sido de 544 mil euros negativos. Lançámos a rádio em 2019 e, nesse ano, sofremos o impacto desse investimento. Só agora, com o crescimento gradual da rádio, começa a ser possível voltar a melhorar os resultados. Antes da entrada na rádio já nos estávamos a aproximar do break even. Esse investimento fez com que fossem necessários mais três anos para isso voltar a acontecer.
M&P: Qual era o EBITDA antes do lançamento da rádio?
AC: Em 2018 vínhamos com 560 mil euros negativos. Em 2019, com o arranque da rádio, tivemos 1,1 milhões de euros negativos. Portanto, teríamos avançado mais rapidamente para o break even logo nesse ano e em 2020. Não aconteceu devido à nossa entrada na rádio, que foi uma aposta estratégica e com a qual estamos muito satisfeitos.
M&P: Isso explicará, em parte, essa aproximação mais demorada ao break even. Ainda assim, os projetos que refere arrancaram todos após os primeiros quatro anos do projeto, altura em que, segundo o plano inicial, o break even já teria sido alcançado. Há outros motivos?
AC: É isso e a nossa expansão. Repare, alcançámos em 2021 uma média de 7,5 milhões de visitantes únicos por mês e 21 milhões de visitas. O projeto inicial não tinha nada destes valores. Mesmo olhando apenas para o jornal, alcançámos números superiores aqueles que eram a nossa ambição. Isso faz com que tenhamos uma equipa também maior, mais qualificada.
M&P: Em 2014 avançavam que o total de capital colocado no projeto pelos acionistas rondaria os três milhões de euros, verba que permitiria suportar o investimento inicial e sobreviver dois anos abaixo do break even. Os cinco anos adicionais obrigaram a reforçar esse investimento. Em quanto?
AC: O projeto aumentou muito em dimensão, desde logo no número de colaboradores. No projeto inicial tínhamos previsto chegar aos 40 colaboradores, no final do ano passado tínhamos cerca de 130. Os acionistas investiram em capital cerca de sete milhões, e com prestações suplementares mais dois milhões. Nove milhões no total, sendo que grande parte das prestações suplementares ainda temos em caixa, o que significa um investimento efetuado até agora de sete milhões de euros.
M&P: Quantos reforços foram necessários?
AC: Foram dois reforços. O investimento inicial foi um pouco superior a três milhões e depois houve mais dois reforços. Agora repare, uma das coisas de que nos orgulhamos e que faz parte da nossa visão é sermos o jornal de referência de base digital, focado na informação generalista, mas também líder em independência, qualidade, inovação, capaz de ter um maior impacto na sociedade e influência face aos recursos que foram utilizados. Quando olhamos para o impacto e influência que tem hoje o Observador, o valor que trouxe para o setor da comunicação social ao longo destes oito anos, e comparamos com o investimento feito pelos acionistas, vemos que foi um retorno brutal em termos de impacto e de influência positiva na sociedade. Isso justifica plenamente o projeto.
M&P: É isso que motiva os acionistas a suportarem os prejuízos?
AC: Nós, acionistas, sempre encarámos este projeto como algo que tinha de ser minimamente rentável, sustentável. Queríamos um projeto em que não fosse permanentemente requerido mais dinheiro aos acionistas, como existem outros projetos, os tais que dão prejuízos sucessivos…
Leia a entrevista completa na edição desta quinzena do M&P