“A estrutura que criámos é para o futuro, e o futuro não será apenas digital”

Por a 5 de Maio de 2021
Francisco Serzedello, director-geral da GR8

Francisco Serzedello, director-geral da GR8

“Não conseguimos prever quais dos eventos previstos se vão realizar, mas acredito que quase todos terão uma componente digital”. É neste contexto que é criada a GR8, agência de eventos liderada por Francisco Serzedello. Em conversa com o M&P, o responsável explica o projecto.

 

Meios & Publicidade (M&P): “A ambição da GR8 é a de ser rapidamente líder no seu segmento de mercado em Portugal e um player de relevo na Europa. Trabalhar grandes contas internacionais é um dos objectivos a curto prazo”, diziam na apresentação da empresa, no final de Fevereiro. São objectivos ambiciosos. O que distingue a GR8 das restantes empresas de eventos?

Francisco Serzedello (FS): Tudo. Começando pela forma como desenvolvemos a empresa conceptualmente. Partimos da visão e necessidades dos clientes. Isto permitiu perceber que existia um gap entre o que os clientes querem e o que o mercado oferece. O mercado dos eventos está dividido entre as agências muito criativas, mas com dificuldade na implementação e no delivery das suas promessas, e as agências muito focadas na implementação e com mais dificuldade na criatividade e no design. Nós viemos preencher esse gap, aliando a técnica à criatividade. Também ficou claro que o futuro vai sempre passar pelo phygital e nós, nascidos nesta nova realidade, estamos preparados para os seus desafios. A ambição é great mas a nossa visão também.

 

M&P: As agências não estavam a conseguir dar resposta às necessidades dos clientes, em sua opinião?

FS: Existem muito boas agências em Portugal e a operar em Portugal, e, como é natural, clientes saciados das suas necessidades. Isto não significa que estas agências consigam entregar aquilo que os clientes procuram, desejam, querem na sua plenitude. É este gap entre a oferta e a procura que precisa de uma nova abordagem.

 

M&P: Como será a vossa abordagem? Aliar técnica e criatividade vai significar, na prática?…

FS: Esse é o segredo, se fosse óbvio não tínhamos tido tanto feedback positivo de clientes que sentem na pele esta realidade. De uma forma fácil de compreender é ser great nas duas vertentes, sem deixar que qualquer uma delas tenha ascendente sobre a outra. Significa que não basta ter uma grande equipa criativa ou uma grande equipa de implementação, é preciso ter as duas e alinhadas, em pé de igualdade, e em várias fases do processo.

 

M&P: Começam com uma equipa de 14 pessoas. Em termos de perfil, como é que é constituída?

FS: É uma equipa muito grande para os standards portugueses, mas a realidade é que, para servir os clientes como nós queremos e com a qualidade queremos, temos de apostar em talento. A GR8 Events aposta em estratégia, várias equipas de gestão de eventos, criatividade 2D, 3D, criação de conteúdos, inovação multimédia, gestão e desenvolvimento de plataformas digitais.

 

M&P: Dizem querer chegar aos quatros cantos do mundo. É possível, para uma empresa de eventos nascida em Portugal? Está a pensar em alguma geografia em particular? Ou em algum cliente?

FS: A economia é global, tal como a procura e as oportunidades. Na realidade construímos uma equipa experiente e já com portfólio fora de Portugal. Não estamos presos às fronteiras, quer territoriais quer linguísticas, e já estamos a trabalhar em projectos fora de portas.

 

M&P: Em que geografias? E para que clientes, pode dizer?

FS: Trabalhamos para clientes, realizamos os seus sonhos e os seus desejos. Não nos cabe a nós revelar os projectos que ainda não aconteceram. A nossa missão é servir e proteger a confiança que depositam e esperam de nós.

 

M&P: O facto de falarmos, neste momento, de eventos digitais facilita de algum modo essa escalada?

FS: Na realidade facilita e dificulta. Facilita quando os eventos são exclusivamente digitais, mas dificulta quando os eventos são físicos e temos de lidar com dificuldades de deslocações e quarentenas.

 

M&P: Como é que prevê que sejam os eventos a curto/médio prazo? Acredita que ainda vamos ter eventos físicos este ano?

FS: Isso é pergunta para um milhão ou para quem tem bola de cristal. Na realidade ninguém sabe muito bem o que vai acontecer, tanto a curto como a médio prazo. Sobre estas matérias só posso partilhar a minha intuição. O phygital, os eventos com digital ou híbridos, vieram para ficar. O mundo mudou. A forma como comunicamos, como trabalhamos e como nos relacionamos mudou e isso tem consequências nos eventos, que são feitos de pessoas para pessoas. O digital ganhou o seu espaço e mudou a forma como vemos a comunicação e os eventos. O digital tem desvantagens que as organizações precisam de suprir rapidamente. A cultura das empresas, o networking, o sentimento de pertença a uma corporação/uma marca foram largamente atingidos com o teletrabalho compulsivo. A incerteza em que vivemos só piora todos estes efeitos, o que vai ter impacto na produtividade e, acima de tudo, na retenção de talento dentro das organizações. Os eventos são uma ferramenta privilegiada para combater estas questões e essenciais no arsenal dos responsáveis por estas questões nas organizações. Deste modo, acredito que a importância dos eventos sai reforçada a cada dia que passa. Por outro lado, o digital também tem vantagens e as organizações vão tirar partido disso. Nós cá estaremos para ajudar neste processo. Quanto a termos eventos físicos este ano, eu acredito. Tenho a plena noção de que não depende só das agências e dos clientes e que é preciso que as autoridades competentes, quer legislativas, decisoras e fiscalizadoras, façam a sua parte para garantir que os eventos possam continuar a gerar riqueza para o país. Temos tido a sorte de realizar alguns eventos físicos e temos muitos marcados para este ano. Acreditamos que os eventos vão voltar em breve porque são uma necessidade. Não conseguimos prever quais dos eventos previstos se vão realizar, mas acredito que quase todos terão uma componente digital.

 

M&P: Os eventos digitais têm também um custo mais reduzido. Esse factor pesará, no futuro, na decisão das empresas?

FS: Os eventos digitais têm por norma um custo mais reduzido quando comparados com os eventos físicos, mas têm o seu preço. O investimento em espaços, cenografia, catering e deslocações poderá ser francamente inferior. Nos eventos digitais continua a ser preciso escolher parceiros de confiança e soluções com garantias. Tenho visto muitas loucuras a serem feitas e com resultados catastróficos. Os eventos digitais precisam ainda mais de sistemas de backup e redundâncias de equipamento e isso muitas das vezes não é feito. No entanto, no phygital temos de lidar com as duas situações em simultâneo, e isso tem custos. Acredito que os decisores das empresas tirarão proveito das mais valias e avaliarão os custos de forma a encontrar o equilíbrio. Para mim é claro que o custo pode não ser só financeiro.

 

M&P: Que tipo de eventos previsivelmente vão passar a digitais e quais é que retomarão o modelo físico?

FS: Isso só com uma análise caso a caso, os eventos são todos diferentes, têm targets diferentes, clientes diferentes e com objectivos diferentes. Não consigo ter uma resposta simples a essa pergunta.

 

M&P: Fez este mês um ano que os eventos físicos foram suspensos. Como é que tem visto a adaptação das agências tradicionais, e também dos diferentes fornecedores, a esta nova realidade?

FS:  O sector foi muito atingido, ainda nem sabemos bem os resultados desta pandemia. É muito bom ver as empresas, que mostraram resiliência, que se transformaram, que inovaram e continuam a fazer eventos. Preocupam-me duas situações. Primeiro, as agências que desapareceram, que continuam nos modelos antigos a tentar aguentar até que passe. Temo por eles. Por outro lado, preocupam-me também as que lutam todos os dias para continuar a trabalhar, a inovar, a fazer. Isto porque tenho consciência de que a situação não é sustentável.

 

M&P: Não é sustentável?

FS: Os eventos digitais são um balão de ar, mas não viabilizam grande parte das agências de eventos.

 

M&P: Foram surgindo também novas agências. Há espaço para todas? Como é que vê o mercado das agências de eventos a curto/médio prazo?

FS: Não tenho a certeza de que tenham surgido muitas agências. Têm aparecido algumas, mas com pessoas que estavam noutras agências e procuram ser felizes num outro local.

 

M&P: Parece ser o caso da GR8. Como é que surgiu a ideia de lançar a agência?

FS: A visão é criar uma agência preparada para os novos desafios, mas sem os vícios do passado. A GR8 foi criada nesta realidade, está preparada para ela, mas não se esgota nela. A estrutura que criámos é para o futuro, e o futuro não será apenas digital. Felizmente estamos em contra-ciclo, enquanto a grande maioria das agências está a desinvestir e a tentar sobreviver, nós estamos a investir e a contratar. Temos imensa preocupação com os colegas do sector, temos tentado ajudar parceiros e até concorrentes, procurando sinergias e partilha de know how. São tempos difíceis e tentamos partilhar o nosso bom momento com aqueles conseguimos ajudar.

 

M&P: O desafio de lançar a agência terá sido proposto por Carlos Cardim e João Pinto Gonçalves. O que é que lhe foi pedido?

FS: Foi muito simples, pediram-me para fazer algo em bom. Bom para os accionistas, bom para os colaboradores, bom para os parceiros e bom para os clientes. Perguntaram-me o mesmo que perguntei a todas as pessoas que convidei para o projecto, “como te podemos fazer feliz?”

 

M&P: O lançamento da GR8 implica um investimento de que montante? Quando é que esperam atingir o break-even?

FS: O break-even depende da situação do país, mas será atingido ainda em 2021. Felizmente estamos muito acima das expectativas, já com grandes projectos ganhos e outros muito bem encaminhados que nos permitem sorrir.

* A entrevista faz parte da edição nº 880 do M&P

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