Grupo Renascença Multimédia e Media Capital Rádios juntos na contestação à alteração nas quotas de música
Os dois principais grupos de rádios do país escreveram, em conjunto, uma carta aberta a Graça Fonseca, ministra da Cultura, na qual contestam o aumento da quota de música portuguesa para 30%. Uma decisão que as rádios afirmam ter rejeitado no diálogo mantido com Nuno Artur Silva e que terá agora sido uma “imposição em cima da hora”, da qual tiveram conhecimento no dia em que foi anunciada. “É de facto o pior dos momentos para a Senhora Ministra da Cultura anunciar medidas tão ineficazes quanto injustas”, garantem as rádios.
Leia a carta da íntegra:
“Exma. Senhora Ministra da Cultura
Dra. Graça Fonseca
A Senhora Ministra da Cultura, Graça Fonseca, anunciou em conferência de imprensa um novo valor para a quota de difusão da música portuguesa nas rádios, que passará a ser de 30%. Disse que se tratava de uma atualização. Defendeu que este era o melhor momento para o fazer. E disse que o fez também em diálogo com as rádios.
Perante estas declarações e decisões da Senhora Ministra da Cultura relativas ao agravamento da quota de difusão de música portuguesa, os grupos Renascença Multimédia e Media Capital Rádios entendem esclarecer o seguinte:
- No diálogo mantido com o Senhor Secretário de Estado, Nuno Artur Silva, as rádios foram unânimes na total rejeição do aumento de quota de difusão da música portuguesa.
- Ao dizer que dialogou com as rádios, a Senhora Ministra omitiu o facto de não ter obtido acordo do setor da rádio para esta medida.
- Solidários com os artistas portugueses, que precisam de rádios fortes e dinâmicas, foram sugeridas por estes grupos de rádio soluções diferentes, ironicamente, com maior ganho económico para autores, compositores e artistas.
- O Secretário de Estado considerou tais propostas construtivas e, até, originais.
- Pouco antes do Natal, o Senhor Secretário de Estado pediu, em nome da Senhora Ministra da Cultura a estes grupos de rádios, uma pausa no processo de diálogo sobre tais soluções, para reflexão.
- No dia 14 de janeiro, dia da conferência de imprensa, o Senhor Secretário de Estado limitou-se a avisar as Rádios sobre a decisão que a Senhora Ministra da Cultura se preparava para anunciar.
- Para que todo este processo se chamasse diálogo, seria preciso haver compromissos e consensos e não imposições em cima da hora.
- As Rádios sempre fizeram, fazem e farão o melhor que sabem e podem para ajudar os artistas portugueses. Aliás, não há outras instituições e/ ou organismos no nosso país que apoiem mais os artistas portugueses do que as Rádios.
- Dos beneficiários financeiros desta medida governamental, só uma ínfima parte serão os artistas portugueses, que se invoca serem os grandes beneficiários da medida.
- O caminho de imposição de quotas de música é anacrónico. Impor quotas de música na rádio é uma medida política do século passado que não tem em conta o mundo digital das plataformas de música internacionais, livres de quotas e de imposições que limitem a sua liberdade de programar.
- A essas plataformas o governo não consegue impor limitações de gosto. Só o faz com as rádios, impondo regras do passado que não têm em conta o presente e, muito menos, o futuro.
- Para a Senhora Ministra, a rádio parece ser uma expressão de cultura menor.
- De outro modo, a Senhora Ministra da Cultura teria aproveitado o momento para apresentar medidas que defendessem o mundo da Rádio.
- De outro modo, a Senhora Ministra saberia que, até Novembro de 2020, o setor da Rádio perdeu quase 30% das suas receitas publicitárias.
- E a senhora Ministra da Cultura saberia também que nos meses de Abril e Maio de 2020 a quebra das rádios chegou a ultrapassar os 70% das receitas, cifras que não gostaríamos de ver agora repetidas.
- Contra todas as dificuldades impostas por mais de nove meses de pandemia, a rádio em geral, e estes dois grupos em particular, têm feito todo o possível para cumprir as suas obrigações com o seu público e com os seus trabalhadores e continuarão a fazê-lo, mas tomarão todas as medidas para se oporem a uma decisão iníqua, de mera propaganda, que não resolve o problema dos artistas e agrava o problema das rádios.
- Ao contrário do que afirmou, este é de facto o pior dos momentos para a Senhora Ministra da Cultura anunciar medidas tão ineficazes quanto injustas.
- Os Grupos Media Capital Rádios e Renascença Multimédia continuarão sempre disponíveis para dialogar com quem for necessário, num diálogo efetivamente construtivo e consequente que pretenda unir e não dividir, ainda que artificialmente, os agentes da Cultura.
Depois de enviada ao gabinete de Vossa Excelência, e devido à gravidade dos factos, os dois grupos de rádio signatários não deixarão de dar conhecimento público desta tomada de posição.”
Uma posição conjunta dos dois grupos é inédita e segue-se a reações divergentes, já assumidas na sexta-feira pela Associação Portuguesa de Radiodifusão, Associação Fonográfica Portuguesa e pela Associação para a Gestão e Distribuição de Direitos.