Comunicar em tempos de incerteza

Rodolfo Oliveira, managing partner da BloomCast Consulting
Mudança. Disrupção. Transformação. Termos que vemos utilizados com regularidade, mas que, de tantas vezes repetidos, parecem pouco para descrever esta nova realidade em que o modelo de sociedade em que vivemos foi profundamente alterado. Como sempre em alturas de crise, estabelecer gabinete de crise e revisitar planos, sejam de negócio ou de marketing, e reavaliar a estratégia, estão na ordem do dia. Uma mudança de planos sem estratégia definida é potencialmente ineficaz, se não existir uma equipa focada em implementar e acelerar as decisões seguramente um mau caminho.
No essencial, qualquer empresa ou marca deverá operar a dois níveis de prioridade na interlocução com os seus colaboradores, clientes e parceiros. No primeiro nível, deverá assegurar que os planos de contingência e de adaptação a esta nova realidade foram implementados, e que conseguiu reorganizar-se para manter a sua operação com um mínimo de disrupção. Essa fase já deverá estar terminada ou em fase de finalização na grande maioria das organizações, assim como definidas iniciativas de apoio e ligação às equipas, ao ecossistema e à comunidade em que organização se integra.
O segundo nível deverá centrar-se no médio prazo e em perceber como apoiar os seus clientes e consumidores, mostrando a capacidade de inovar e apresentar ideias, produtos e serviços que permitam responder a esta nova realidade, que obriga a mudar para utilizar todos os canais digitais disponíveis, seja para trocar pontos de venda físicos por digitais, seja para manter o contacto e responder às dúvidas e questões dos clientes. A transformação digital será acelerada como nunca o foi até agora, e as empresas ver-se-ão forçadas a fazê-lo para conseguirem manter a sua operação.
Este pensamento a dois níveis, e o foco neste segundo, é essencial porque começa a desenhar-se no horizonte uma transição, que se adivinha não ser o regresso à normalidade, mas sim à normalidade possível, um novo normal, termo amplamente utilizado para definir a realidade que emergiu da crise financeira e recessão iniciada em 2008, e que será seguramente mais digital, menos presencial, e mais distribuída, criando novos desafios, mas também muitas oportunidades, aos negócios que saibam inovar.
Esta abordagem deverá ser também uma realidade na comunicação. Para além da renovação e reforço dos canais próprios, o forte aumento do consumo de notícias dos órgãos de comunicação social cria oportunidades. Que tipo de investimento poderá ser potenciado? Claramente, o branded content e os tradicionais media relations / earned media têm um forte potencial. E, neste contexto, que tipo de informação deverá ser colocada como prioridade? Assegurar a continuidade do negócio para o mercado, mostrar uma preocupação e proximidade à comunidade, assegurar a divulgação de propostas digitais, dar a conhecer a visão estratégica de crescimento e evolução para lá do momento actual são todas ideias válidas, assim como novos produtos e procjetos. Ou seja, comunicar focando no médio prazo e naquilo que caracteriza e distingue a empresa.
Numa altura em que estamos tanto tempo ligados ao computador, também os conteúdos de email sofisticados, objetivos e curtos deverão ser potenciados como ferramenta útil, assim como as redes sociais. A pior opção é seguramente reduzir ou deixar de comunicar, porque esta decisão cria uma óbvia incerteza no mercado, e um espaço para que outros possam ganhar a necessária visibilidade.
No fundo, esta realidade obriga-nos a recentrar no fundamental. Sejamos consumidores, clientes ou fornecedores, todos somos emocionais, procuramos estabelecer relações de longo prazo, apreciamos a sinceridade, transparência e quem está ao nosso lado e nos apoia nos momentos em que procuramos orientação e apoio. Esta mudança será um momento de transformação, com as inevitáveis consolidações e problemas para quem não se conseguir ou puder adaptar, mas quem souber inovar na sua oferta, e comunicar essa diferença, serão seguramente os que irão sair vencedores.
*Por Rodolfo Oliveira, managing partner da BloomCast Consulting