“Em Portugal pode haver uma Autoeuropa de estúdios de televisão”
Do Netflix ao potencial da produção de televisão em Portugal. Pedro Boucherie Mendes, autor do livro Ainda Bem Que Ficou Desse Lado, ajuda a fazer a radiografia do meio TV […]
Rui Oliveira Marques
News Now, novo canal 9 do cabo, arranca no início do verão. Concorre diretamente com CMTV, também da Medialivre
Criatividade ao serviço de um alfabeto em extinção
RTP transmite jogos do UEFA Euro Feminino Sub-17 em direto
Crescer sozinha e em parceria não é uma contradição
Clube da Criatividade apresenta programa do 26º Festival CCP 2024 e da Semana Criativa de Lisboa
Sónia Araújo e Mário Daniel são mecânicos por um dia em campanha da Mercedes (com vídeo)
Perfect Storm produz nova campanha internacional da Coca-Cola (com vídeo)
Carlos Maciel assume direção da Caras e da Caras Decoração. Mariana Correia de Barros convidada a dirigir Activa
APECOM continua a crescer em número de associados
Microagências de comunicação estão a mudar paradigma
Do Netflix ao potencial da produção de televisão em Portugal. Pedro Boucherie Mendes, autor do livro Ainda Bem Que Ficou Desse Lado, ajuda a fazer a radiografia do meio TV
Pedro Boucherie Mendes, director de planeamento estratégico da SIC e director da SIC Radical, lançou o livro Ainda Bem Que Ficou Desse Lado, que tem como subtítulo “Como ser um melhor espectador de televisão na era das séries, da Netflix e da escolha infinita” (edição Escritório). Um pretexto para o ouvir enquanto espectador e profissional da televisão.
Meios & Publicidade: Por que há tão poucos livros sobre televisão em Portugal? Um dos últimos foi a autobiografia do Júlio Isidro…
Pedro Boucherie Mendes (PBM): O Carlos Cruz publicou uma biografia há um ano ou dois, nem era sobre a Casa Pia, era sobre a sua história e carreira. Ele foi director de programas da RTP e a decisão, na minha opinião, mais importante que tomou na sua carreira foi comprar a Gabriela, para exibir em 1977 na RTP, que nesse livro merece uma frase. Os próprios protagonistas da televisão portuguesa não têm grande distanciamento em relação à televisão. O livro autobiográfico do Júlio Isidro também não reflecte sobre a televisão, conta histórias e episódios. Temos dois ou três livros do Cintra Torres, na colecção de livros da Fundação Francisco Manuel dos Santos, que são óptimos, que já têm alguma reflexão e pensamento do autor. Mesmo nas publicações da especialidade fala-se muito pouco de televisão. Fala-se um pouco de audiências, mas depois dá-se a ideia de que qualquer pessoa que abra uma agência de decoração de pacotes de açúcar merece um grande destaque. Claro que merece, mas a televisão é uma coisa esmagadoramente maior que decorar pacotes de açúcar. Nunca falam connosco de um ponto de vista mais profissional. Nas próprias publicações do trade ou nas da especialidade, que só ligam aos divórcios e traições, o fenómeno televisivo não é debatido ou pensado.
M&P: É algo especificamente português?
PBM: É em todo o lado. Lá fora também não há muitos livros sobre televisão. Não há uma História da televisão, por exemplo.
M&P: No seu livro também se debruça pouco sobre a situação portuguesa. Por sermos poucas pessoas não quis criar problemas?
PBM: Há um lado defensivo, mas quis primeiro falar da televisão como algo que faz parte das nossas vidas. Não quis ir ao mercado português da televisão com coisas que só interessariam a meia dúzia de pessoas. Há uma História dos 50 anos da RTP e não há muito mais. Gostava de um dia escrever uma História da Televisão Portuguesa. Porque não? Tentaria ser historiador e não tanto insider, até porque algumas decisões são tomadas em função de contextos.
M&P: Vamos à História da televisão. Refere no livro uma perspectiva de que nunca tinha ouvido antes, a que a decisão de exibir a telenovela Gabriela esteve também relacionada com o facto de o autor ser alguém bem visto pelo regime da altura.
PBM: A Gabriela foi importada para Portugal não como um folhetim para entreter as pessoas, mas sim como uma obra cultural de um autor amigo do regime revolucionário que se começava a desenhar, que era o Jorge Amado, que era comunista como sabemos. O que os portugueses tiveram foi o privilégio de ver a grande obra de Jorge Amado adaptada à televisão. Não foi pôr uma coisa em prime time para entreter a malta. Os revolucionários deviam estar tão ocupados a revolucionar que nem repararam que uma das séries estreadas em 77 ou 78, a Família Bel Ami, era profundamente conservadora e de direita, com patrões e criados que gostavam de ser criados. Sempre houve umas coisas estranhas na televisão portuguesa mas o regime não controlou tudo. Outra coisa que se elogia, eu próprio cheguei a dizê-lo, é o facto de se legendar as séries e filmes, que aprendemos inglês a ver televisão. Até saiu esta semana um estudo que diz que os países que legendam sabem melhor inglês. No entanto, Portugal tinha muitos milhões de analfabetos. Significa que essas pessoas não podiam ver televisão. O regime de Salazar já legendava, mas o regime revolucionário, se estivesse tão preocupado com o povo, podia ter dobrado a televisão porque incluía mais pessoas. Foi esse o gatilho de Gabriela, de súbito as pessoas tinham televisão falada em português. Um pastor, agricultor ou empregada doméstica que não soubesse ler sentava-se em frente à televisão a ver o Espaço 1999, a Família Bel Ami ou Sandokan e não percebia.
M&P: Numa História da televisão portuguesa, além da Gabriela ou do Big Brother, que outros momentos mais recentes devem constar?
PBM: A ida à Lua. Os directos da RTP a partir do hospital da Cruz Vermelha quando Salazar caiu da cadeira. Claramente o apoio à Revolução do 25 de Abril — e ainda bem. A introdução da cor. Mais contemporâneo, em 1991, com o José Rodrigues dos Santos e a primeira guerra do Iraque em que faz uma emissão em directo pela noite toda, antes das privadas. Ele está a apresentar o 24 Horas e depois surgem as notícias do bombardeamento de Bagdad, que estão a ser relatadas por telefones satélite a partir de lá por jornalistas da CNN. Depois o surgimento das televisões privadas. A SIC, nos primeiros meses não correu bem, mas depois mostrou um novo entretenimento e uma nova informação a Portugal, portanto um jornalismo que já havia na TSF e que passou a haver nas privadas. Depois quando as novelas portuguesas começam a ganhar às novelas brasileiras, em 2000-2001. Claramente o primeiro Big Brother, mais por ser algo que depois se percebeu que mudou as regras do jogo do que pelo programa em si. O aparecimento da SIC Notícias em 2001. A disseminação dos canais de cabo. Mais recentemente as boxs que gravam e que dão para puxar para trás e, claro, os Netflix da vida. Há depois os filmes Pato com Laranja e o Império dos Sentidos exibidos pela RTP, por questões de costumes, e o Lusitânia Expresso e a questão de Timor-Leste em que a televisão foi importante para que os portugueses aderissem à causa.
M&P: No meio de tantos exemplos há poucas referências a formatos ou ficção criados em Portugal.
PBM: É verdade. É mais simples para nós que fazemos televisão adaptar formatos internacionais porque normalmente trabalhamos sob enorme pressão. Os canais principais, RTP, TVI e SIC, são muito competitivos no bom sentido da palavra. Estamos constantemente atentos, tomamos decisões rápidas, trabalhamos com poucos meios, queremos ter mais audiência, melhores programas, melhores convidados, melhores formatos. Isso não permite que tenhamos tempo ou espaço mental para ter formatos originais. Tivemos um caso recente, o D’Improviso, do César Mourão [formato vendido para o canal espanhol Antena 3]. Há outras variantes, O Programa da Cristina é uma coisa feita por portugueses, tal como o Você na TV. Os grandes formatos internacionais acabam por ser mais simples porque os anunciantes também aderem melhor a marcas internacionais. Se disser ao anunciante que vou fazer o Ídolos ele percebe melhor a importância e se calhar investe mais do que se fizer um programa chamado Apanha da Azeitona. O anunciante ficará mais reticente. Só as pessoas que não trabalham em televisão é que têm a noção de que a televisão tem de arriscar. A televisão é um meio conservador. O Tonight Show existe desde os anos 50. O 60 Minutes existe há anos.
M&P: Em várias passagens do livro refere que as pessoas são muito críticas em relação à televisão, mas também sublinha que as próprias pessoas que trabalham no meio não vêem televisão.
PBM: Ler um livro é uma coisa 100 por cento positiva, apesar de haver milhões de livros que não valem nada. Ir a um museu é uma coisa 100 por cento positiva mas há museus péssimos. Ir ao teatro a mesma coisa. Ver televisão é sempre uma actividade conformista, secundária, mas quando vamos ver a final da Champions, o primeiro jogo do Ronaldo na Juventus ou o primeiro programa de não sei quem, a televisão deixa de ser televisão para passar a ser nomeada. Sempre que assistimos a qualquer coisa em televisão, deixa de ser televisão para ser essa coisa. Fica-se em casa para ver um filme muito bom na SIC. Não é para ver televisão, é para ver o filme muito bom.
M&P: No arranque de 2019 está a haver grande efervescência entre canais que as pessoas seguem com atenção. Mas depois são essas mesmas pessoas que têm um discurso muito negativo em relação ao que é exibido pelos canais.
PBM: É uma coisa que compreendo mas acho lamentável que muitos de nós nos esqueçamos que temos uma população profundamente envelhecida, com poucos rendimentos, com reformas baixas, e das poucas coisas que têm na vida é ver televisão. São pessoas que não têm arcaboiço para ver o Narcos no Netflix, que se calhar não conseguem ler legendas e vêem os programas da manhã da RTP, SIC e TVI. É preciso respeitar as escolhas. Nenhum dos programas da manhã está ligado a uma religião, credo ou ideologia, misturam entretenimento, com alguma emoção. Se calhar são uma companhia para milhares de pessoas todos os dias. Às vezes devemos ser mais solidários. Não é só plantar árvores em Pedrógão. Será culpa da televisão que Portugal seja pouco culto e haja reformas baixas? Eventualmente sim, mas há outros responsáveis.
M&P: Com o Netflix não está a haver um divórcio entre gerações face à televisão?
PBM: Não concordo.
M&P: Um divórcio em função das classes sociais?
PBM: A televisão sempre foi uma questão tecnológica. Os Lumière eram empresários, não eram dois irmãos que discutiam na cave que queriam fazer um filme. A televisão não foi inventada por alguém que queria entreter as velhinhas com baixas reformas de todo o mundo. Não, foi um desafio tecnológico, que foi evoluindo. Em Inglaterra, as pessoas da BBC Radio odiavam as da televisão, que estavam a um canto. A primeira emissão em directo de televisão é feita a partir do Alexandra Palace, quando havia uns 400 televisores em Londres. Na América quem pega na televisão e a dissemina são as estações de rádio, as NBC e as CBS. No pós-guerra quando os americanos começaram a ter dinheiro começaram a comprar receptores de televisão. Em Portugal a grande explosão da venda de televisões aconteceu com a Gabriela. Antes da Gabriela as pessoas iam a casa umas das outras ou ao café espreitar a televisão. Com a Gabriela, as pessoas não podiam ir para casa do primo todos os dias. Na América é possível ver a evolução da venda das televisões. Nos anos 50 a principal produção electrónica na América era de televisores. Os chamados canais de cabo surgem porque o espaço hertziano era limitado. Depois houve os satélites e agora há a internet, banda larga, a maior parte das casas estão ligadas por fibra. O curioso é que nenhum partido político tenta legislar sobre o Netflix. Há um acordo tácito entre os Netflixs e os governos, de não pôr pornografia ou conteúdos discriminatórios. Aquilo não está regulamentado. Assinas o Netflix, pagas e ponto. No entanto, a SIC Radical está regulamentada.
M&P: A legislação não acompanhou essas mudanças tecnológicas?
PBM: Nem estou a dizer que deva acompanhar porque sou um liberal, mas porque é que a SIC Mulher ou o Porto Canal têm de ser regulamentados e depois competem com o Netflix, que não tem nenhuma obrigatoriedade por operar em Portugal de ter produção nacional? Não investe na nossa indústria, só a canibaliza.
M&P: Quem trabalha na televisão em Portugal já sabe o peso real do Netflix?
PBM: Não se sabe. Há algumas centenas de milhar de contas activas. Sabe-se que quando as pessoas se casam, se juntam ou têm filhos têm menos disponibilidade para o Netflix e vêem mais televisão de fluxo. Os humanos precisam de temas em comum com os nossos amigos, namoradas ou tios. Se estamos num jantar de Natal de família é mais provável que falemos de televisão, nem que seja de uma entrevista do Bruno Carvalho, do que de uma série do Netflix. Cabe às televisões encontrar formas de desviar espectadores do Netflix. Quem trabalha em televisão tem de ter esse engenho.
M&P: O Netflix tem ajudado à explosão das séries, um género que em Portugal não tem grande expressão em termos de audiências nos canais generalistas.
PBM: Uma série normal do Netflix com qualidade, bem filmada e com bons actores custa meio milhão de euros por episódio. Isso é impensável para a televisão portuguesa, não temos esse dinheiro. Temos de ser mais engenhosos. Acredito que dentro de um, dois, cinco anos teremos mais séries na televisão portuguesa. A RTP já começou esse caminho. Fizemos um estudo há pouco tempo sobre outro tema em que uma das informações que saiu é que a maior parte das pessoas que viu A Casa de Papel em Portugal viu em pirataria, apesar de o Netflix ser relativamente barato. Essa é uma grande ameaça. O elefante na sala são aqueles aparelhómetros, aqueles media centers em que há sempre um amigo que tem um código. O director da Sport TV terá muito a dizer sobre o assunto. É uma coisa que afecta o negócio, a indústria e a criatividade.
M&P: Até agora o Netflix não anunciou qualquer produção portuguesa. É algo que beneficia os canais de televisão?
PBM: Não. Será sempre bom para a indústria se o dinheiro americano for investido na produção portuguesa, mas não me surpreende. Portugal não é um mercado prioritário para o Netfilx. O espanhol também não era mas o sucesso de A Casa de Papel, uma série da Antena 3 que não teve boas audiências, fez com que o Netflix decidisse fazer um hub de produção em Espanha. Perceberam que eles sabiam fazer séries.
M&P: Mas Portugal sabe fazer bem televisão, em comparação com os outros países?
PBM: Sim, mas o espectador do Netflix, apesar de querer um local flavour, quer uma bitola internacional: bons actores, um protagonista forte, texto complexo e ao mesmo tempo simples de perceber.
M&P: “Nunca a televisão foi tão boa como agora”, escreve no livro. A mesma afirmação aplica-se a Portugal?
PBM: Sim, mas se for jantar a minha casa uma vez e for servido um prato de sonho fica convencido que em minha casa se come muito bem. Se for a minha casa jantar 60 vezes em dois meses, a dada altura vai-se cansar. Tem a ver com a abundância de escolha. Os nossos canais de notícias são bons, motivados e engenhosos. Podemos criticar, mas não é fácil estar à porta de um ministério estar a encher sobre os grevistas e o ministro.
M&P: É um tipo de directos que não se vê nos canais de informação internacionais.
PBM: Se calhar não. A televisão portuguesa expõe-se mais. Um americano rebolava-se a rir meia hora se tivesse de fazer uma novela com as verbas com que nós fazemos. Mas nós fazemos e até conseguimos vender para outros países. Devíamos reconhecer que fazemos as coisas bem.
M&P: Outra frase retirada do livro e que parece que se enquadra no momento que se está a viver: “É facílimo perder audiências e dificílimo recuperá-las. O espectador quer a mesma coisa, mas jura que quer coisas novas e por isso (regra geral) canais que mudam constantemente de oferta é porque a gestão está em sarilhos e tentam subir as audiências.”
PBM: Quanto mais estável for a grelha de programação de um canal, mais audiências tem. Em equipa que ganha não se mexe. Se o programa x está no ar há 15 anos na RTP é porque o resultado de audiências satisfaz. A televisão, e não é uma frase minha, é uma indústria de fracassos. Se há uma série de hospitais, vou fazer uma série de hospitais para bater aquela série porque se percepciona que as pessoas estão interessadas em séries de hospitais. A televisão segue tendências e quando muda radicalmente é porque as coisas não estavam bem. Se tenho um programa que faz 25 por cento às sete da tarde é evidente que não o vou mudar. As pessoas podem estar fartas do Preço Certo, mas funciona.
M&P: Tem um discurso muito positivo em relação à situação do meio televisão. Não há nada que critique, que mereça ser alterado ou que mereça reflexão por parte da indústria?
PBM: A indústria compreende mal a televisão e o seu poder. A indústria adora youtubers e instragramers, não quer a SIC Radical mas quer um post da Sofia com um pacote de fiambre. Se calhar, se eu fosse marca faria a mesma coisa mas não consigo entender bem porque não se fazem mais coisas em televisão. É difícil a televisão convencer as marcas a estarem onboard connosco. Temos de explicar tudo. Não consigo entender porque há tanta pós-graduação em digital e em apanha da azeitona, sempre com os mesmos formadores, que são pessoas de agências que no ano passado tinham outro nome. Nunca há formações sobre ser melhor espectadores de televisão. Ninguém se lembrou mas também ninguém se inscreveria numa pós-graduação em séries. Ninguém me convida ou aos meus colegas para irmos a uma empresa explicar o comportamento dos públicos. Não há nada mais bem medido do que a televisão. Ninguém conhece melhor os públicos do que um decisor de televisão. Já disse antes numa entrevista que fui eu que trouxe o Shark Tank para Portugal. Achei que tinha o lado curioso dos negócios e os jurados que eram críticos. A ideia não era ajudar o país e tecido económico. O programa foi um sleeper, demorou a arrancar na SIC Radical, mas quando o pus diário explodiu. Nunca fui convidado por nenhuma associação empresarial ou de startups. Não me estou a queixar, mas para as pessoas era óbvio que o Shark Tank, o Anthony Bourdain ou o Ramsay tinham de estar na televisão portuguesa. Não é nada óbvio. A televisão portuguesa tem defeitos, mas não tem assim tantos defeitos. Esta indústria portuguesa não compreende a televisão, não a valoriza e não nos diz como podíamos melhorar.
M&P: O que podia fazer o Estado para apoiar a indústria?
PBM: Um dia teremos de olhar para a televisão como uma actividade industrial, como os sapatos, o azeite, o vinho ou o têxtil. Israel ou Holanda exportam formatos de televisão em barda. Em Inglaterra uma das indústrias ameaçadas pelo Brexit é a do audiovisual, porque eles vendem formatos, talentos e programas. Vendem tal como nós nos orgulhamos do azeite ou da Autoeuropa. Estou disponível para ir almoçar com um ministro para explicar que em Portugal pode haver uma Autoeuropa de estúdios de televisão. Da mesma forma que montamos os carros dos alemães, também podemos montar as séries dos alemães. Temos clima, situação geográfica ímpar, entre a Europa e a América, as pessoas sabem falar inglês e são desenrascadas, que nesta actividade é fundamental. Não há sindicatos, não há paralisações.
M&P: Recentemente houve uma greve na Plural.
PBM: Sim, mas quando há uns anos houve a greve dos argumentistas na América as séries pararam. As pessoas perguntavam porque é que não se punha outras pessoas a escrever. Há regras do sindicato. Só se pode escrever para a série se se estiver inscrito no sindicato dos argumentistas. Era nesse sentido que estava a dizer. Portugal é um país seguro, tem bons acessos, tem boa luz e os nossos jovens podem ter empregos em que ganham mais de mil euros.