Os meios e os públicos

Por a 24 de Outubro de 2008

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Televisão, rádio, jornais, revistas, livros, cinema e internet fazem parte do quotidiano da nossa sociedade. Mas afinal como olham os consumidores para eles? Como e para que os usam? São estas algumas perguntas às quais o Estudo de Recepção de Meios de Comunicação Social, elaborado pela ERC, pretende responder

A televisão é o meio mais visto e a rádio o mais credível, embora seja nos jornais que os leitores sabem exactamente o que procuram. São estas algumas das conclusões a que podemos chegar através do trabalho levado a cabo pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), seleccionado para a sua realização pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC). O Estudo de Recepção dos Meios de Comunicação Social, que teve amostra total de 2205 indivíduos, 958 do sexo masculino e 1247 do sexo feminino, pretende desvendar a forma como os meios afectam os seus públicos e como estes os usam e criticam. As formas de consumo variam entre os diversos meios e os diferentes segmentos analisados.

Consumo de meios

A televisão destaca-se pela grande penetração nos públicos, uma vez que é o meio mais utilizado pelos portugueses, com um registo de visionamento próximo dos 100 por cento. Se tivermos em conta o factor idade, a utilização da rádio, dos jornais, das revistas, dos livros, do cinema e dos computadores registam quedas significativas a partir dos 50 anos. Até esse segmento, a rádio regista valores próximos dos 80 por cento de utilização, os jornais dos 65 por cento, as revistas da ordem dos 51 por cento, os livros dos 50 por cento, o cinema dos 56 por cento e os computadores a mesma percentagem, mas com um valor inferior nos indivíduos até 30 anos e superior nos indivíduos dos 31 aos 50 anos. A partir daí “lê-se menos, vai-se menos ao cinema e, quanto a computadores, o seu uso é quase residual”, descreve o estudo. As descidas re­gistadas nas idas ao cinema são semelhantes às da utilização de computadores. Se mudarmos para o género, o consumo de televisão e de livros é muito similar em ambos. No entanto, os homens lêem mais jornais (68,8 por cento em oposição aos 47,8 por cento nas mulheres), ouvem mais rádio (76,4 para 67,6 por cento), vão mais ao cinema (43,2 para 36,6 por cento) e utilizam mais o computador (42,7 para 33,8 por cento), mas pelo contrário as mulheres são quem consome mais revistas (46,1 contra 37,7 por cento). Isto mostra a elevada penetração das revistas cor-de-rosa neste segmento e também as disparidades entre o quotidiano dos homens e das mulheres. Em relação ao consumo de media consoante os anos de escolaridade, nota-se um crescimento proporcional em ambos os sexos, sendo a rádio menos afectada por essa variável. No caso dos jornais, este número passa dos 69,4 para os 79,6 por cento nos mesmos segmentos. Nas revistas assiste-se a um aumento dos 44,6 para os 66,9 por cento. Mas os grandes crescimentos em relação ao nível de escolaridade registam-se nas idas ao cinema e na utilização do computador. A primeira actividade sobe de 44,2 para 70,2 por cento, nos casos de 12 anos de escolaridade ou mais, enquanto a utilização do computador regista um crescimento mais acentuado, passando dos 37 por cento nos casos de cinco a nove anos de escolaridade, para os 86,4 por cento nos casos de mais de 12 anos de ensino. Em relação à função que os órgãos exercem aos olhos dos inquiridos, a informação é a mais escolhida, com 94,8 por cento dos homens a referirem a televisão, 88,9 por cento a rádio e 89 por cento os jornais como importante fonte de informação. No sexo feminino as percentagens ficam-se em 95,5, 86,7 e 88,1 por cento, respectivamente. A televisão desce na função de educar para cerca de 80 por cento, mantendo-se no entanto na liderança.

Credibilidade e qualidade

Os resultados mostram que os media têm um elevado grau de credibilidade junto dos portugueses. Curiosamente, é a rádio, que é apontada como tendo menor importância informativa, o media considerado mais credível. No segmento dos jornais são os títulos semanais (Expresso, Sol, Sábado, Visão e Focus) os mais credíveis, em comparação com os jornais diários nacionais (24Horas, Correio da Manhã, Diário de Notícias, Público, Jornal de Notícias e Primeiro de Janeiro), excepto nos indivíduos com menos de quatro anos de escolaridade. Em conclusão, 81 por cento dos homens afirmam confiar na informação da rádio, 77,8 por cento na da televisão, 72,7 por cento dos jornais/revistas semanais e 69,2 por cento dos jornais diários. No sexo feminino estes valores passam para os 79,1, 79,3, 74,7 e 69,2 por cento. Consoante o aumento das habilitações literárias, regista-se uma maior desconfiança em relação aos media, mais marcada na televisão. É neste meio que os inquiridos acreditam haver maior influência do poder político, seguido pelos jornais e pela rádio. 61,7 por cento dos homens referem uma intervenção dos governos na informação da televisão, número superior aos 39,6 por cento que afirmam o mesmo em relação à rádio. Nas mulheres estes números descem para os 48,3 e para os 30,2 por cento, respectivamente. A interferência nos conteúdos dos jornais por parte dos governos é referida por 41,7 por cento dos indivíduos do sexo masculino e por 43,6 por cento do sexo feminino. A perda de qualidade dos conteúdos é ainda referida por 61,7 por cento dos homens e 48,3 por cento das mulheres como causa da concorrência na televisão. O estudo aponta esta vulnerabilidade como a razão que leva 66 por cento dos homens inquiridos a defenderem um serviço público de televisão, valor superior aos 57,7 por cento que afirmam o mesmo para a rádio. Nas mulheres os valores baixam para os 60,5 e para os 53,6 por cento.

Os preferidos

Em relação ao canal que os portugueses mais vêm, a TVI é referida em 37 por cento das respostas, a SIC em 31,6 por cento, a RTP1 em 22,7 e a RTP2 em 4,1 por cento. Também aqui se conclui que não é ser mais ou menos visto que torna um canal mais ou menos credível; pelo contrário. A RTP1 é considerada a mais e a TVI a menos credível, excepto no segmento dos indivíduos com cinco a nove anos de escolaridade, em que se prefere a TVI em detrimento da SIC. Assim, 79,2 por cento dos homens confiam na informação da RTP1, 76 por cento afirmam confiar na SIC, situando-se nos 71 por cento os que afirmam o mesmo para a TVI. Na mesma ordem, no lado das mulheres os valores registam 80,9, 77,8 e 76 por cento. Os telespectadores que preferem a estação estatal são sobretudo homens (61,7 por cento) com menos de quatro anos de escolaridade (48,3 por cento) e mais de 64 de idade (30,1, um valor próximo dos 29,1 por cento que afirmam o mesmo entre 31 e os 50 anos e dos 27,9 por cento na faixa etária dos 51 aos 64 anos). Por seu lado, 56,7 por cento dos indivíduos que afirmam ver mais a SIC são do sexo feminino, 34,4 por cento têm entre cinco e nove anos de escolaridade, enquanto 29,8 por cento têm até quatro anos de ensino e 39,9 por cento têm entre 31 e 50 anos de idade, valor próximo dos 34,9 por cento registados na amostra até 30 anos. É esta a estação vista por maior percentagem de indivíduos com mais de 12 anos de escolaridade, 13,9 por cento, em oposição aos 8,7 e 9,5 por cento registados na TVI e na RTP1, respectivamente. Por fim, em relação aos que afirmam ver mais a TVI, 62,3 por cento são do sexo feminino, 42,3 por cento têm até quatro anos de escolaridade (31,5 por cento entre cinco e nove anos) e 33,1 por cento têm uma idade entre os 31 e os 50 anos, enquanto o valor dos que têm menos de 30 anos atinge os 32,8 por cento. Em relação ao cabo, o telespectador que o prefere “inscreve-se num grupo minoritário de estatuto social acima da média, enquanto a grande maioria dos telespectadores se contenta com o que lhes é oferecido”. Assim, das pessoas que afirmam que a televisão por cabo é a que mais vêem, 67 por cento são do sexo masculino, 45,9 por cento têm entre 31 e 50 anos e 31,6 por cento têm mais de 12 anos de escolaridade. O estudo mostra que a maioria dos inquiridos se encontra satisfeita com a programação em horário nobre, mas quanto maior o nível de escolarização menor o de satisfação. As mulheres são as mais satisfeitas, com 72,3 por cento a afirmá-lo; entre os homens o valor desce para os 58,9 por cento. Mais conteúdos educativos, culturais, documentários, filmes/séries de qualidade, menos publicidade e menos novelas, formato referido em segundo lugar como o mais visto pelos públicos da SIC e da TVI, são alguns dos pedidos para aumentar a qualidade da televisão. No segmento rádio, a Renascença e a RFM são as mais citadas em primeiro lugar, referidas em 21,4 e 18,8 por cento dos casos. A Antena 1, a Rádio Cidade e a Rádio Comercial não registam grandes diferenças, situando-se na casa dos 8 por cento de referências. Tal como se concluiu na televisão, a elevada referência a uma estação não significa elevada credibilidade. Na verdade, a Antena 1 e a TSF (esta última com uma preferência nos 4,4 por cento) têm elevados níveis de credibilidade, superando na maioria dos segmentos a credibilidade atribuída à Rádio Renascença. Assinala-se a descida geral da confiança com o aumento da escolaridade, nomeadamente em relação ao Rádio Clube.

Hábitos de leitura

Podemos ler no estudo que “a leitura não faz parte dos hábitos quotidianos de grande parte dos residentes em Portugal”. Perto de 40 por cento dos inquiridos com menos de 30 anos e de 70 por cento com 64 anos ou mais nunca lê jornais. Também 20 por cento dos indivíduos com escolaridade superior não têm o hábitos de ler jornais e apenas 11,5 por cento dos indivíduos da faixa etária entre os 15 e os 17 anos os lêem com alguma frequência. Podemos concluir que 43 por cento dos leitores do Correio da Manhã (CM) têm entre cinco e nove anos de escolaridade e 27,2 por cento têm menos de quatro. No Jornal de Notícias estes valores descem para os 36,7 por cento com menos de quatro anos de escolaridade e para os 35,7 por cento com entre cinco e nove anos de ensino. O Diário de Notícias (DN) regista 39,6 por cento de leitores com cinco a nove anos de escolaridade e 37,7 por cento entre os 10 e os 12 anos de ensino. O Público destaca-se entre os indivíduos com mais de 12 anos de escolaridade (37,1 por cento), tendo a maior fatia nos indivíduos com dez a 12 anos de ensino (44,1 por cento). Os seus leitores são os mais novos, pois 31,2 por cento dos leitores têm menos de 30 anos e 41,1 por cento têm entre 31 e 50 anos. O público do DN é composto por 68,2 por cento de indivíduos entre 31 e 64 anos. O CM e o JN têm leitores mais velhos. Em género, o DN é o único com predominância feminina, um total de 52,6 por cento de leitoras. Apesar destes dados, 21,8 por cento dos indivíduos que dizem ler jornais não passam da primeira página, uma situação também registada em 32 por cento dos indivíduos com menos de 30 anos, idade em que 44,1 por cento não lêem mais que os títulos. Concluindo, 21,3 por cento dos homens que afirmam ler frequentemente ficam-se pela primeira página e 28,1 por cento lêem apenas os títulos. Nas mulheres estes números aumentam para os 22,2 e os 31,6 por cento. Ao contrário da televisão e da rádio, onde se conclui que os indivíduos não ligam os aparelhos por causa de determinado programa, entre 45 e 62,9 por cento dos leitores, consoante os segmentos, vão directamente à secção que lhes interessa. “Diversos crimes, acidentes de estrada, etc.”, “desporto”, “saúde e ambiente”, foram os temas preferidos, ficando para último “economia e trabalho”. Nos títulos semanais, 32,9 por cento dos inquiridos com mais de 12 anos de escolaridade afirmam ter lido ou folheado um semanário nacional nos últimos 30 dias. Este número ascende aos 45 por cento dos indivíduos na faixa etária dos 31 aos 50 anos, a maioria do sexo masculino (55,1 por cento). O Expresso é o preferido (50,8 por cento), seguido da Visão (19,5 por cento), do Sol (8,9 por cento), da Sábado (8,3 por cento) e da Focus (3,7 por cento).

O papel da internet

A internet é apontada como razão da alteração das relações interpessoais em todos os segmentos. Em relação a substituir a leitura dos jornais as opiniões já oscilam. Nos grupos com entre cinco e nove anos de escolaridade ou menos de 31 anos, as opiniões dividem-se praticamente ao meio. A partir dos 10 anos de escolaridade e dos 31 de idade essa ideia começa a diminuir. A sua utilização cresce consoante o aumento de anos de estudo, pois enquanto 39,7 por cento dos que afirmam usar raramente a internet têm uma escolaridade de cinco a nove anos, apenas 13,5 por cento têm 12 anos ou mais. Pelo contrário, quanto mais idade menos utilização. 53,8 por cento dos indivíduos que usam diariamente a internet têm menos de 30 anos, 36,7 por cento têm entre 31 e 50 anos, enquanto apenas 8,6 por cento têm entre 51 e 64 anos. Os homens são quem mais afirma usar a internet diariamente (57,1 por cento), enquanto 50,2 por cento dos que assumem usá-la frequentemente são mulheres, segmento em que 60,6 por cento afirmam usá-la raramente.

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