Crónica no feminino
Maria Carlota Álvares da Guerra foi directora de várias revistas femininas e passou pelo mundo da rádio. Fomos recordar com ela…
Redactores precisam-se para revista feminina”. Quando leu este anúncio no jornal, Maria Carlota Álvares da Guerra ainda não sabia que iria ficar para sempre ligada ao jornalismo. Tratava-se da Crónica Feminina, título do qual chegaria a directora, anos mais tarde. A edição deste título foi uma aposta da Agência Portuguesa de Revistas (APR), empresa dirigida por Mário de Aguiar.
«Tivemos uma longa conversa e, como ele gostou muito de mim, fiquei ligada ao projecto», conta-nos Maria Carlota.
Em Outubro de 1982, Isabel Meireles, então directora da Mamãs e Bebés, uma outra revista editada pela APR, abandona as suas funções e Maria Carlota sucede-lhe, acumulando com a chefia de redacção da Crónica Feminina. «O convite foi-me feito pelo próprio Mário [de Aguiar], que foi ter comigo a uma estreia da minha filha [a actriz Maria do Céu Guerra] para me fazer a proposta», recorda.
Escreveu então no seu primeiro editorial: «No Outono é bom começar… Embora sem contradição com a Natureza, a mulher, no Outono, gosta de fazer coisas novas. Enquanto a primeira se despe, soltando os últimos ouros do Verão, a segunda procura vestir-se, não só de peles, como de ideias e renovação que afloram naturalmente a cada espírito(…)».
Mais tarde, com os filhos já adolescentes, é ela que lança o desafio ao homem que então definia os destinos da APR, António Dias. «Fui ter com ele e disse-lhe: Agora é que vamos fazer uma revista para gente nova.» Nascia assim, a Miúda, lançada no mercado no primeiro dia de Fevereiro de 1983. Se, por um lado, as capas espelhavam um Portugal tradicional (imagens de uma florista ou reportagens sobre uma escola de bordados), também é verdade que alguns rasgos de modernidade queriam já dar-se ao manifesto.
Não será por acaso que, logo no segundo número, se fala dos modelos de… Ana Salazar.
Em 1987 a Crónica Feminina fechou as portas, ainda com Maria Carlota na direcção da revista. Em 1991 haveria uma nova tentativa de resga-tar a publicação, pela mão de Carlos Barbosa, empresário da comunicação social, mas que seria de muito curta duração.
O percurso profissional de Maria Carlota contempla também a rádio, com passagem pela Rádio Renascença e pelo Rádio Clube Português, experiência que recorda com prazer: «Escrever para a rádio ajuda muito a quem escreve também para as revistas, porque há uma grande preocupação em que as pessoas entendam aquilo que se quer dizer.»
Vários são os nomes que recorda desses dias: «O Armando Marques Ferreira, o Fernando Peres, o Joaquim Pedro ou o Vasco de Lima Couto, que chegava a telefonar-me ás três da madrugada para me ler
um poema que tinha feito.»
Hoje com 77 anos, Maria Carlota não perdeu o bichinho destas coisas da escrita. Com o olhar de quem ainda sabe sonhar afirma-nos: «Gostava de dirigir outra revista, e quase tenho a certeza de que era capaz de o fazer bem feito.»