RTP: 44 anos de “estórias”
Este Março é o mês em que se comemoram 44 anos de emissões regulares da RTP. Uma vida plena de recordações
Para muitos portugueses, o dia 4 de Setembro de 1956 ficou gravado na memória. Foi nesta data que “a caixa que mudou o mundo” entrou no nosso quotidiano… para nunca mais sair. A emissão experimental, transmitida a partir da Feira Popular de Lisboa, transformou-se na porta de entrada para um inimaginável mundo novo. E nada foi como antes.
No ano seguinte começam as emissões regulares do Canal 1 e em 1968 é inaugurado o segundo canal. Ao longo dos anos, a RTP alarga os seus horizontes com a criação da RTP Madeira, em emissões regulares desde 6 de Agosto de 1977, e RTP Açores, desde 18 de Dezembro do mesmo ano. A enorme comunidade portuguesa residente além-fronteiras justifica ainda a criação da RTP Internacional, cujas emissões começam a 10 de Junho de 1992, bem como o nascimento da RTP-África, criada em 1998 e testemunha da histórica ligação que nos une a este continente.
O papel da RTP na evolução da sociedade portuguesa é algo de inquestionável, acompanhando o devir da sua História. Os dias da ditadura podem ser ilustrados com imagens do nacional cançonetismo ou, já no virar da década de 60, pelas “Conversas em Família” apresentadas por Marcelo Caetano. Contudo, seria também um programa de televisão, contemporâneo deste cenário, a denunciar, discretamente, os ventos de mudança. Recuemos ao ano de 1969…
Uma fantástica trindade constituída por Carlos Cruz, Fialho Gouveia e Raul Solnado apresentam no palco do Teatro Villaret um programa que mudará o modo de fazer televisão em Portugal. O “Zip-Zip”, pois claro.
Logo no primeiro programa assiste-se á fulgurante presença de Almada Negreiros, naquela que foi a sua última aparição televisiva. O Mestre imprimiu tal força á sua intervenção que, como Carlos Cruz recentemente admitiu, quase levou a uma alteração no formato do programa.
O “Zip-Zip” mudou o modo de fazer televisão em Portugal
A lista de convidados dos programas seguintes espelha bem a mudança de regime que já se pressentia: Francisco Fanhais, José Barata Moura ou António Vitorino de Almeida assinam prestações que ficaram na história da música e da cultura portuguesas do século XX.
Já no ano de 1978 chegaria a Portugal um formato destinado a deixar a sua marca no panorama televisivo: a telenovela “Gabriela Cravo e Canela” inaugurava um género que é, ainda hoje, um dos mais queridos do grande público. Alguns anos depois, a produção portuguesa arriscava a sua estreia com “Vila Faia”, a primeira de várias incursões nesta forma de contar uma história.
Muitos são os nomes e os programas que marcaram a história da televisão em Portugal. Das leituras de poesia feitas por João Villaret á inesquecível presença de Vitorino Nemésio (que entre 1969 e 1975 apresentou o incomparável “Se Bem Me Lembro”); das tardes de domingo animadas por Júlio Isidro ao jovem Fernando Pessa (“E esta, hein?”); do enérgico “1-2-3” pela mão de Carlos Cruz ás maravilhas gastronómicas do Chefe Silva; do humor devastador de Ivone Silva (quem não se lembra da rábula “Olívia Costureira e Olívia Patroa”) ou Vasco Santana (o mais famoso cábula do cinema português) á encenação quase onírica que Mário Viegas imprimiu aos mais marcantes poemas portugueses. Já para não falar de algumas maratonas televisivas como a transmissão da chegada do homem á Lua, os vários dias de música que foram o Live Aid ou a noitada em que Carlos Lopes fez ecoar o hino nacional. A lista seria interminável, mas a certeza é só uma: já fazem parte da nossa História.