Os olhos é que comem!
O “food stylism” e os “mockups” constituem os pilares de um universo onde o que parece não é: alimentos manipulados, ou recriados, para parecerem mais apetitosos
Se num anúncio de roupas, o ar saudável dos modelos é crucial, quando se trata de alimentos, uma aparência apetitosa nem se discute. Mas como as condições técnicas em que se produz uma sessão de filmagens ou de fotografia — as luzes, o calor, a demora e outros factores — não ajudam nada á manutenção desse aspecto suculento, há que manipular os alimentos.
Cristina Maya trabalha como “food stylist”, que é como quem diz, trabalha os alimentos para que eles ganhem a capacidade de parecerem apetitosos. Preocupações como o tamanho dos legumes que irão ser colocados numa salada, a tonalidade da maionese — por exemplo, na sessão que visionámos foi “baptizada” com refresco em pó — ou a laminagem do atum são o dia-a-dia destes estilistas muito especiais.
«Um dos aspectos importantes para quem trabalha nesta área é ter algumas noções de culinária, para saber qual a aparência real de um prato», explica-nos, enquanto submete uma perna de borrego besuntada em azeite e colorau á acção de um secador superpotente, «para parecer que acabou de sair do forno». Seguir-se-ia uma salada russa, onde a preocupação máxima era o brilho das azeitonas, honra seja feita ao azeite, uma vez que a água seca excessivamente depressa. Alguns alimentos apresentam mais dificuldades do que outros, nestas coisas de ficarem bonitos para o retrato. Exemplos: os cogumelos — «ficam muito escuros em pouco tempo» — ou o peixe cozido — «é muito difícil mantê-lo rijo», justifica Cristina Maya.
Mas se no caso de Cristina a arte está em alindar um alimento, outros casos há em que, de comida… nem cheiro. Uma bolacha que nunca o foi, um apetitoso iogurte que nunca poderá ser saboreado ou um gelado concebido só para ser visto são alguns dos exemplos dos chamados “mockups”, autênticas peças de cenografia «mais reais do que a realidade», como nos diz Augusto Sérgio, que os fabrica há já vários anos.
«Como muitos dos alimentos são perecíveis, há que criar uma imagem tridimensional de um objecto que o substitua. Por exemplo, um pudim, por muito bem feito que seja, não aguenta muito tempo sob as luzes.» Outras vezes trata-se da questão da escala, que não permite tirar todo o partido em termos de imagem. Esferovite, polipoleno ou acrílico são alguns dos materiais utilizados para servir estes propósitos.
Portanto, da próxima vez que vir num outdoor um delicioso gelado, lembre-se de que se pode tratar apenas de uma porção de banha com farinha. Ou melhor: tente não pensar nisso.