O estímulo diário
Raul Vaz, 43 anos, foi director adjunto da “Invista”, de “O Independente”, director do “Semanário” e editor de política do “Público”. Agora, assume as funções de subdirector do “Diário Económico” (“DE”), cargo que acumula com a função de comentador político da Antena 1.
O que destaca nos seus 20 anos de jornalismo? É uma profissão que nos vai oferecendo, no dia-a-dia, o confronto com coisas novas, com uma realidade que não é estática. É evidente que tive a oportunidade de trabalhar nalguns sítios que me marcaram, particularmente dois: o meu relacionamento profissional com Victor Cunha Rêgo e com outras pessoas no “Semanário” — Marcelo Rebelo de Sousa, José Miguel Júdice e um número de colegas jornalistas mais de banca, da tarimba, que de facto foram absolutamente irrepetíveis. Também estive quase cinco anos no “Público”, um marco na imprensa portuguesa, onde cresci profissionalmente, e a seguir, de uma forma que teve aspectos com alguma dor, a minha última passagem pelo “Semanário”. A seguir, com o meu amigo Vicente Jorge Silva, fiz uma aventura comum numa revista mensal, a “Invista”, que durou um ano. E agora estou aqui, com a mesma vontade de fazer jornalismo…
Começou na imprensa generalista e passou para a especializada com a “Invista” e o “DE”. Porquê? São coisas que acontecem. É um facto que sempre estive ligado á imprensa generalista, no fundo é o terreno onde me sinto mais á vontade. Aliás, a minha reacção ás coisas é uma reacção mais diária, no máximo semanal. O projecto mensal onde estive antes de vir para o “DE” tinha esse handicap, ou seja, não tinha o estímulo diário de que preciso para reagir ás coisas. Considero que a minha passagem pela “Invista” foi um equívoco.
Quais são as suas funções enquanto subdirector? Sempre fiz o meu percurso jornalístico de uma forma mais ou menos ligada á política. Com alguma experiência de direcção que tenho, acho que esse trajecto pode ter essa expressão no “DE”. Não é que o “DE” pretenda tornar-se num jornal diferente daquilo que é, pode abrir um bocadinho o seu espaço de acção e aí a minha formação político-jornalística pode contribuir para isso.
O jornal cresce para os leitores. Com um público predominantemente masculino, não se poderá tornar numa publicação para homens? Não acredito que o “DE” corra o risco de se tornar sexista em termos de consumo. Acho que há um movimento precisamente contrário. Temos noção de que quem nos lê mais são os homens. De qualquer das formas, há um movimento em curso em que as mulheres estão a assumir cargos de decisão.
O que pensa do fenómeno das revistas masculinas? Acho que o problema que se põe é ao nível de quantas pessoas estarão disponíveis para reagir a isso. O público português lê pouco, compra pouco e a publicidade não chega para todos esses desafios. A “Invista” foi o único produto que, mal ou bem, ousou ter uma matriz nacional, própria. Os outros produtos são importados, o que provavelmente facilitará a recolha de informação porque têm produtos para reeditar em Portugal.