Todos são bem-vindos
O lançamento da “Focus”, inserida no segmento das revistas de grande informação, é mais um sinal do desenvolvimento económico e social que tem assolado o nosso país nos últimos dez anos. Já está longe o dia em que, sempre que se falava de Portugal em termos culturais, era para o colocar na cauda da Europa. Hoje tudo se alterou. Se não, como poderíamos explicar a tiragem semanal de cerca de 160 mil exemplares do “Expresso”? Ou de cerca de 165 mil da “Visão”? Ou mesmo de 150 mil exemplares de uma revista que acaba de ser lançada? Hoje, os portugueses querem estar informados, querem saber, discutir e participar. Nos círculos em que se movimentam já não se sentem á vontade se não souberem citar de cor o nome dos novos membros do Governo, discorrer sobre a descida/subida das taxas de juro, contar as voltas que o Clinton deu á Sala Ogival e insurgir-se contra o genocídio de Timor. O êxito da Expo’98, o desempenho, com grande sucesso, de elevados cargos europeus por parte de compatriotas nossos, a realização do logotipo humano pelo Euro 2004 e a responsabilidade de organizar este evento catapultam Portugal para o centro da Europa. Toda esta mudança de mentalidade se traduz no aumento do grau de exigência, a que o mercado editorial responde com o lançamento de revistas que vão preenchendo as necessidades dos leitores. E está descoberto um negócio extremamente rentável, pelas verbas que mobiliza, quer em termos de vendas, quer em termos de receitas publicitárias. Grandes grupos económicos se desenvolvem, fundem e reproduzem. Quatro megagrupos controlam o pensamento nacional na forma escrita – Lusomundo, Media Capital, ACJ+Sojornal e Impala – e até se diz que conseguem eleger Presidentes da República? Mas continua a haver concorrência, e esta é saudável, como sempre foi. Se tal máxima se aplica a outros mercados (banca, seguros, detergentes), por que não aplicar-se ao mercado editorial? A prova é que, antes de o comum mortal ouvir falar da “Focus”, já se sentia uma forte agitação nos seus principais concorrentes. Ninguém ficou indiferente e todas as acções de marketing se centraram na fidelização dos seus leitores. “O Independente”, culminando a reestruturação realizada no primeiro semestre do ano, iniciou a publicação regular de quatro revistas. O “Expresso”, discretamente, reestruturou alguns dos seus cadernos. Mas a reacção mais expressiva, como se esperava, foi a da “Visão”, que fez ressurgir das trevas o velho sucesso das décadas de setenta/oitenta – o Se7e -, deu-lhe nova roupagem (formato de revista) e desenvolveu, paralelamente, uma agressiva campanha de assinaturas. E havia razão para receios, porque a “Focus” é, claramente, uma revista com lugar garantido no segmento onde se inseriu, pelo layout adoptado, pelos temas analisados, pelo dia de publicação, pelo jornalismo de investigação a ombrear com o jornalismo mais ligeiro (p. ex. O Roteiro, o Desfile e o Focusinho nos olhos). Como todos os projectos que são lançados, precisa de proceder a alguns ajustes, mas vai, sem dúvida, pelo caminho certo. E quem, em primeira instância, acaba por ganhar é o leitor, que vê as suas revistas e jornais melhorarem de número para número. Quem ganha, também, são os anunciantes, que cada vez mais têm montras com maior qualidade para mostrarem os seus produtos, divulgarem as suas mensagens. E ganhamos nós, os designados media specialists, que podemos cumprir melhor a nossa missão, dispondo de um leque de suportes abrangentes e de qualidade, que dão um cunho de maior rigor e objectividade ao nosso trabalho.