Consultores e media
Há dois meios que foram recentemente alterados – Rádio Nostalgia e jornal “A Capital” – e que, ao que percebi, envolveram no processo o trabalho de consultores. Aliás, esta deve ser uma tarefa muito interessante. Trabalham sobre a prática, mas em teoria. O problema é que muitas vezes a teoria não se revê na prática. Um bom consultor tem, necessariamente, que trabalhar em conjunto com aqueles que praticam. Trabalhar num meio adverso, com recursos limitados e objectivos definidos. Perceber bem a realidade circundante e os recursos existentes. A meu ver, só assim conseguem ser uma mais-valia intelectual no trabalho diário. Não sei qual foi o método de trabalho dos consultores nestes novos projectos, mas tenho uma opinião formada. A Rádio Nostalgia está muito pior e “A Capital” muito melhor. A primeira está muito pior por uma razão muito simples. E limito-me a analisar o estilo musical, que é ou deve ser, julgo eu, a marca da estação. Tendo em consideração o target – pessoas de meia-idade (35-55) e classes sociais A e B -, os consultores acharam por bem restringir o universo musical de duas mil para 700 canções, escolhendo música dos anos 60 e 70 e deixando o resto para segundo plano. Ora, esqueceram-se de uma coisa: que as pessoas de meia-idade também evoluíram, ou seja, não gostam necessariamente só das músicas que ouviam na sua juventude. Eventualmente, preferem um certo tipo de arranjos e orquestração, mas não estão limitadas no tempo. Depois, mesmo que seja este o objectivo – estagnar no tempo musical -, então convém lembrar aos consultores que em Portugal os anos 60 também foram marcados por outro tipo de música, nomeadamente a música francófona ao estilo de Charles Aznavour ou Jacques Brel, coisa que eu nunca ouvi na Nostalgia. Por outro lado, a limitação do universo musical é maçadora para o ouvinte. É desagradável ouvir sempre as mesmas músicas. É que se 20 horas de emissão músical correspondem a cerca de 1200 minutos, e se imaginarmos que uma música tem, em média 3,5 minutos, teremos que ouvir a mesma música pelo menos quatro vezes ao dia. E, como é lógico, dá-se por isso. A rever. Já “A Capital” parece-me um projecto feliz. O grafismo é inegavelmente mais apelativo. Conseguiram com uma nova maqueta e com uma impressão mais afinada (embora utilizando a mesma rotativa) fazer um jornal muito melhor. Por outro lado, ao optar por torná-lo num verdadeiro “vespertino da capital” evitaram dar tiros no escuro. É que nesta área cada vez é mais certo que mais vale ser o primeiro dos segundos (neste caso, os vespertinos e metropolitanos) do que ser o último dos primeiros (neste caso, os matutinos e nacionais). “A Capital” tornou-se numa boa alternativa, num jornal com personalidade própria. Não duvido que vá vingar. Concluindo, isto da consultoria tem muito que se lhe diga. Deve ser como tudo. Depende do tempo, da disposição e das pessoas.