Canal acidental

Por a 15 de Outubro de 1999

O Canal de Notícias de Lisboa (CNL) é um sopro de ar fresco na panorâmica da televisão nacional. Só é pena que seja na TV Cabo. Imagino que o cliente TV Cabo seja um espectador sofisticado, na medida em que vê muita televisão. Deve ter os seus hábitos nocturnos, as suas preferências bem definidas. Vê sempre os Ficheiros Secretos na TVI, o Jornal da SIC e, eventualmente, o Herman José á terça-feira na RTP. É profissional. Subscreveu o cabo porque acha que assim tem mais escolha, mas dificilmente consegue mudar. Faz zapping, mas acaba por escolher o produto nacional. Basta ver as audiências. Neste contexto, é difícil vingar com um canal tão modesto como é o CNL. Mas, para quem não é profissional da televisão, não tem hábitos bem definidos, passar acidentalmente uma noite com o CNL é uma experiência deveras interessante. Primeiro, porque finalmente se vê gente nova na televisão. Não só os apresentadores, locutores e jornalistas como também os convidados. Embora algumas das escolhas sejam infelizes e, por vezes, a falta de experiência seja manifesta, há sempre boas surpresas, tanto entre os vários jornalistas como entre os apresentadores. A Luísa Castel-Branco, gostem ou não do seu estilo, tem muito jeito. Faz lembrar a Teresa Guilherme nos seus primórdios. E, de um modo geral, os convidados para os vários programas são óptimos. Falam imenso, acham imensas coisas, não têm medo de nada. Não estão presos nem a instituições nem ao seu bom nome. É que é bom ouvir falar um bombeiro, uma dona de casa, um mpresário. É refrescante. Estamos todos fartos de ouvir falar os mesmos. Mas não há bela sem senão. Também é interessante e, por vezes, frustrante observar as falhas. Nas Legislativas, por exemplo, o trabalho jornalístico foi denegrido porque faltava público na plateia, as pessoas abanavam-se com os papéis, deixando perceber que estava um calor horrível no estúdio. Depois, há outras coisas básicas: a roupa que é da mesma cor do cenário, os planos esquisitos, as pessoas a olharem constantemente para a equipa de filmagens com um ar espantado, enfim, faltam uns arranjinhos… Valia a pena corrigir estas falhas porque embora o experimentalismo em termos editoriais e de recursos humanos possa constituir uma mais-valia para o canal, já a falta de profissionalismo em termos técnicos não é admissível. Mas falemos de coisas boas. Na terça-feira, quando foi anunciada a aceitação da candidatura portuguesa para a organização do Euro 2004, a diferença foi evidente. Não, não se via o Vale e Azevedo e o Roquette no canto do ecrã. Não, não era possível entrevistar o Carlos Cruz em directo. Mas o CNL teve dois ilustres convidados em estúdio: a Ana Matias, da All Sports Marketing (Bates), organizadora do logotipo humano, e o amigo Fialho Gouveia. Tão ou mais responsáveis pela vitória do que qualquer uma daquelas personalidades. Os dois choravam compulsivamente. O apresentador deu-lhes uns Kleenex. Enternecedor. Melhor que o Jay Leno. Parabéns.

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