Opinião

A prioridade inadiável do civismo com estatuto de marca

Assim como reconhecemos as campanhas disto e daquilo, o civismo merece igual reconhecimento no imaginário coletivo português

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A prioridade inadiável do civismo com estatuto de marca

Assim como reconhecemos as campanhas disto e daquilo, o civismo merece igual reconhecimento no imaginário coletivo português

José Bomtempo
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José Bomtempo

Tal como o turismo ou a segurança rodoviária, o comportamento cívico precisa de uma identidade reconhecível que unifique esforços e transforme hábitos.

Confesso que a gota de água foi um episódio banal: um passageiro no comboio da linha de Cascais, confortavelmente instalado com as patas ocupando um segundo assento (na foto), alheio aos olhares reprovadores dos que sofrem a pagar impostos.

Este pequeno momento cristaliza um problema maior: a erosão do civismo no nosso espaço público – um país onde aprendemos a partilhar ‘stories’ do Insta, mas não os bancos de comboio. Não se trata de saudosismo, mas de uma constatação objetiva: a qualidade da nossa vida coletiva deteriora-se quando o espaço comum é tratado com negligência.

Continuamos a investir milhões em infraestruturas sem abordar o elemento humano – como construir autoestradas para condutores que consideram os piscas um acessório decorativo ou a janela do carro um cinzeiro.
Portugal investe regularmente em campanhas de sensibilização e por que não aplicar recursos semelhantes ao fortalecimento do comportamento cívico?

Uma iniciativa nacional de promoção do civismo necessitaria de uma identidade forte – uma marca nacional – capaz de unificar diversas ações. Assim como reconhecemos as campanhas disto e daquilo, o civismo merece igual reconhecimento no imaginário coletivo português, antes que ‘comportar-se como gente’ se torne competência digna de destaque no LinkedIn. Os céticos perguntarão: vale a pena? A resposta é afirmativa.

Um Portugal mais cívico é, primeiro, um país mais saudável para os próprios portugueses. E naturalmente, também mais atrativo para visitantes. Cidades como Viena e Singapura, reconhecidas pelo elevado civismo, proporcionam melhor qualidade de vida e captam turismo de maior valor – gente que usa caixotes do lixo sem GPS.

Os custos de manutenção diminuiriam significativamente. Cidades com maior índice de civismo registam custos até 40% inferiores – dinheiro que poderia ser investido em coisas mais úteis.

Se a teoria ‘Broken Windows’ demonstra que ambientes bem cuidados incentivam comportamentos responsáveis, pergunto-me quantos milhões são gastos na reparação de vandalismos? Uma redução de apenas 10% justificaria o investimento.

Quando observo aquele passageiro com as patas no banco, vejo mais que uma infração – vejo um sintoma de desconexão social, um esquecimento da interdependência coletiva. Portugal encontra-se numa encruzilhada: continuar a lamentar a falta de civismo, ou reconhecer que os comportamentos são moldáveis através de educação consistente.

A qualidade da democracia mede-se também pela forma como habitamos o espaço comum. Um país que valoriza o civismo respeita-se a si próprio – e torna-se mais respeitado internacionalmente.

No fundo, o civismo é um caminho direto para a felicidade coletiva. Imaginem Portugal onde cada espaço seja realmente partilhado com respeito; onde o bem comum seja valorizado. Esta transformação não é utópica – começará quando dermos ao civismo a mesma importância que damos a outras prioridades. Porque um país mais cívico é, simplesmente, um país melhor.

Sobre o autorJosé Bomtempo

José Bomtempo

Cofundador e diretor criativo executivo da Bar Ogilvy
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