António da Silva Gomes (1937-2017)
Faleceu o nome histórico da publicidade portuguesa António da Silva Gomes aos 79 anos de idade. Esteve ligado à área da publicidade durante 36 anos, 24 dos quais no grupo McCann-Erickson, tendo chegado a vice-presidente sénior da McCann-Erickson Europa. Deixa dois livros publicados sobre publicidade e comunicação: “Publicidade Sem Espinhas – 40 Anos de Histórias” (edição Oficina do Livro) e “Publicidade e Comunicação” (Texto Editora). É na sua autobiografia que conta: “Eu ‘fiz’ uma agência de publicidade que foi líder de mercado durante mais de vinte anos. Mas, mais do que o orgulho de um recorde, tenho orgulho no modo como o consegui – sem nunca, pelo menos em consciência, ter agredido a dignidade de ninguém”.
Começou o seu percurso na publicidade em 1964 na então G. Thibaud & Cia (depois Lintas e Lowe), que era a agência do grupo Unilever. Dois anos depois transita para a Manuel Martins da Hora, agência que, como relata no livro “Publicidade Sem Espinhas”, tinha “dois patrões e quatro empregados – a saber: um criativo em part-time, um paquete (não confundir com account executive, um funcionário para-todo-o-serviço e uma secretária”, recorda Silva Gomes na sua auto-biografia”. Estagia em Londres na agência de relações públicas Garland Compton. Regressa a Lisboa já como sócio da Manuel Martins da Hora. Esta agência viria a estabelecer uma relação com a McCann Erickson Worldwide em 1977. Três anos depois, a McCann compra a agência portuguesa. Silva Gomes mantém-se como director geral e, depois, presidente da agência que se manteve na liderança do mercado por muitos anos.
Viria a receber o Healy Award em 1988, entregue anualmente pelo grupo Interpublic a um única pessoa entre os 30 mil colaboradores do grupo espalhados pelo mundo. Em 1992 foi eleito um dos Top 10 Worldwide Leader da McCann pelo seu desempenho profissional nos cinco anos anteriores. Deixa o grupo McCann em 2001.
Em entrevista ao M&P em 2008, António da Silva Gomes recordava alguns dos momentos históricos do seu percurso profissional. “Por exemplo, o lançamento da Coca-Cola em Portugal é um marco, obviamente. Depois, ter conseguido aquilo que tinha sido o meu objectivo, ou seja, a possibilidade de fazer publicidade com os recursos que uma grande multinacional dá e que foi aquilo que procurei durante uma série de anos. Antes de fazer o acordo com a McCann e a venda posterior da Manuel Martins da Hora, consultei uma série de outras agências internacionais que me levaram a vários sítios e entendimentos. Isso foi o cumprimento de um plano. Isso é gratificante. Aquilo que me marcou são estas coisas. Fiz aquilo que quis fazer no campo da publicidade. Formámos o primeiro grupo em Portugal a funcionar com equipas próprias nas várias áreas, desde design, relações públicas…”
António da Silva Gomes fundou em 2000 o Festival Internacional de Língua Portuguesa, que teria edições na Figueira da Foz, Espinho, Portimão e Lisboa, e que pretendia ser um ponto de ligação entre os criativos lusófonos. Adepto ferrenho do Benfica, Silva Gomes integrou a direcção de Manuel Vilarinho que substituiu a de Vale e Azevedo. Foi pai por duas vezes, tendo deixado como herdeiro na publicidade Rodrigo Silva Gomes, fundador e CEO da agência Normajean.
Na sua autobiografia, já no fim, deixa uma mensagem para os dias de hoje: “Quero que o meu velório seja uma coisa gira e diferente, própria de um publicitário. Com pouca gente. Um velório como deve ser é uma festa íntima. Só quero amigos à minha volta”.