‘O Cotonete tem 50 mil músicas, queremos começar com um milhão’

Por a 29 de Janeiro de 2010

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My Way é o primeiro projecto da Waymedia. A empresa fundada por Carlos Marques, antigo director comercial geral da MCR e o nome por trás da criação do Cotonete, com Joaquim Paulo e Nuno Virgílio, arranca no dia 1 de Fevereiro com o site de música online que, diz, tem disponível nesta plataforma o maior catálogo do país: um milhão de músicas. O projecto vai também produzir conteúdos em formato texto, áudio e vídeo para a área de música do MSN e do Clix. Brasil, Angola, Moçambique são outros dos mercados que querem atingir com este serviço que, entre outras funcionalidades, permite a compra e download de temas para telemóveis e PC.

Meios & Publicidade (M&P): Um site de música online é um negócio financeiramente sustentável? Como é que o MyWay vai garantir a sua viabilidade?

Carlos Marques (CM): A nossa previsão é que entre 70 a 80 por cento do negócio seja suportado por publicidade e 10 a 20 por cento pela subscrição de serviços. Pela experiência que temos de outros projectos idênticos sabemos o que vale um projecto deste tipo e temos todas as ambições de que o projecto é viável. Achamos que o online tem um enorme potencial em Portugal, até porque a quota de mercado que tem hoje em dia está bastante abaixo da média de outros países europeus. Se pensarmos no Reino Unido, onde a publicidade online vale 25 por cento do bolo, verificamos que em Portugal estamos muito atrás porque esse valor ronda os 5 por cento. Há um caminho muito grande a percorrer. Portugal também precisa de evoluir do lado da oferta, não só em quantidade como em qualidade, e portanto, se essa oferta vier, com a procura dos anunciantes por novas soluções, a tendência internacional e o alinhamento internacional que as marcas têm que ter em termos de investimento… Há aqui uma tentativa de começar a fazer com que o mercado português tenha comportamentos idênticos aos de fora de Portugal.

M&P: Falou na questão da oferta aos anunciantes. O que é que o MyWay traz de novo desse ponto de vista?

CM: Queremos posicionar o nosso projecto ao nível dos grandes projectos internacionais, ao lado de sites como o Pandora, o Spotiy, o Grooveshark, sites com uma base de milhões de utilizadores e serviços muito avançados ao nível de interactividade. Queremos construir em Portugal um projecto que tenha funcionalidades idênticas aos grandes players internacionais.

M&P: Pode concretizar?

CM: Sim. O Cotonete tem 50 mil músicas, nós queremos começar com um milhão. Portanto, logo aí os portugueses vão poder aceder a um catálogo que nunca conseguiram. Não é que não existam sites estrangeiros com um catálogo até maior, a questão é que não estão acessíveis a partir de Portugal.

M&P: Pela descrição que tinha feito do projecto ao M&P, este não iria viver só do mercado português.

CM: Vamos começar por Portugal. Vamos querer testar a plataforma, e depois vamos crescer, primeiro para o mercado de língua portuguesa, nomeadamente Brasil, Angola e Moçambique. No caso do Brasil já temos um parceiro seleccionado…

M&P: Que é?

CM: Não podemos ainda divulgar. Estamos a ponderar durante este ano, mais no segundo semestre, evoluir para o Brasil e depois Angola e Moçambique, praticamente em simultâneo, e depois queremos internacionalizar o projecto. A internacionalização tem a ver com o licenciamento com as editoras, parceiros fundamentais para nós.

M&P: Sendo que parte do vosso modelo de negócio assenta em serviços de subscrição, considera que os consumidores portugueses, e mais tarde os brasileiros, estão dispostos a esse pagamento?

CM: Se pensarmos que existem centenas de milhares de utilizadores em Portugal que subscrevem serviços de ringtones por quatro a cinco euros mensais, porque não subscrever um serviço de música que lhes dá acesso a milhões de músicas de forma instantânea no PC ou no telemóvel? Não temos os valores fixos [que vamos cobrar], mas mediante as funcionalidades deverá ficar entre os 4 e os 9,99 euros. A pessoa faz um pagamento mensal, faz uma subscrição por um ano, por um mês, recebe uma referência multibanco para fazer o pagamento e utiliza o serviço.

M&P: Diz que na internacionalização do projecto coloca-se a questão da negociação do licenciamento com as editoras, o que deverá ter também sucedido para o mercado português. Houve receptividade por parte das editoras?

CM: Estamos licenciados tanto pela entidade que representa as editoras (Audiogest), como pela SPA e GDA (que representam os artistas). São negociações demoradas mas sentimos que as editoras estão abertas a falar e a encontrar soluções para que em Portugal também seja possível termos projectos idênticos aos que existem internacionalmente. Com as editoras não está tudo fechado. Para os serviços mais avançados, como a possibilidade de uma pessoa ouvir uma música específica ou o áudio-on-demand, estamos a negociar

M&P: E acha que estão reunidas as condições técnicas e de mercado para um projecto como o vosso crescer? Até há pouco havia apenas o Cotonete…

CM: Mas o Cotonete tem o problema do catálogo. Qualquer um dos projectos internacionais tem milhões de músicas, ou seja, o Spotify tem quase oito milhões, o Pandora também à volta desse número, o Last.Fm tem seis ou sete milhões, estamos a falar de um projecto com um catálogo muito pequeno, para qualquer português era mais interessante ir a um site estrangeiro e tentar ouvir toda a música do que ir a um site limitado em termos de catálogo. O que estamos a tentar fazer é criar as mesmas condições dos grandes projectos e o catálogo é fundamental. É importante que em termos de experiência do utilizador não traga frustração nenhuma, que a pessoa encontre o que realmente quer. Estamos a tentar que este seja um serviço fácil e intuitivo, com qualidade de som próxima do CD, muito rápido, sem interrupções. A aposta foi também na plataforma para que as pessoas tenham boas experiências de utilização. Nos nossos vídeos não nos vamos socorrer do YouTube, vão estar na nossa plataforma de serviços em alta-definição. Não vamos depender de terceiros para a evolução do nosso negócio. Vamos também estar em dois dos maiores portais em Portugal.

M&P: O Sapo e o Clix?

CM: O Clix e o MSN.

M&P: É no site de música online que centra o grosso da expectativa de receita?

CM: Temos três áreas de actuação. Uma de fornecimento e difusão de conteúdos, onde se insere este projecto, outra área de retail media, que são soluções de fornecimento de música ambiente para espaços comerciais. Não só música ambiente mas também conteúdos que produzimos e fornecemos a empresas, de todas as dimensões. Essa é uma área de negócio importante para nós e nas receitas deverá ter um peso substancial, mas que só iremos começar no segundo ou terceiro trimestre deste ano.

M&P: Ainda não tem acordos estabelecidos nessa área?

CM: Temos já alguns acordos fechados. Tenho um centro comercial de grande dimensão na Grande Lisboa a trabalhar connosco. E temos uma terceira área de negócio que é fornecimento de conteúdos para redes internas de televisão, para corporate TV. Esse será mais tarde.

M&P: No MyWay agregam igualmente conteúdos vídeo. São vocês que os produzem ou recorrem a entidades externas?

CM: Temos uma equipa própria para produzir e equipamento para editar e difundir vídeo. Vai ser uma das grandes apostas no site, vamos fazer muita reportagem e making-ofs com bandas portuguesas, entrevistas mesmo com artistas internacionais que venham a Portugal, cobertura e transmissão de concertos. A plataforma que temos, estamos a trabalhar com a Microsoft, é baseada na Silverlight, tecnologia idêntica ao Flash e que está optimizada para vídeo e áudio, e todos os conteúdos que vamos ter no site serão em alta-definição. Quem tiver uma boa ligação à internet pode ver todas as nossas reportagens em alta-definição, no caso da pessoa ter uma má ligação o próprio sistema passa a transmitir num formato mais adequado.

M&P: É um embrião do projecto de web TV musical que está vossos planos?

CM: No segundo semestre, sim. É um projecto que queremos autonomizar até porque a ideia é avançar para o cabo. Estamos já a falar com operadores de IPTV e, eventualmente, o cabo. A questão é que queremos fazer um canal de música interactivo e o cabo tem algumas limitações a esse nível, queremos uma plataforma que nos permita uma maior interacção.

M&P: Nas plataformas IPTV há o Meo, o Clix… É com esses que estão a negociar?

CM: Não tenho autorização das entidades para revelar negociações. Estamos a falar com operadores e há interesse da parte deles em ter um canal musical.

M&P: Os canais de música não têm tido muito sucesso em Portugal. O Sol acabou, a MTV mudou internacionalmente o posicionamento para um canal de entretenimento, há o VH1… Há capacidade financeira para suster um projecto destes?

CM: Não vamos fazer apenas um canal de vídeoclips e reportagens porque sabemos que tem havido outras experiências que não resultaram. O que queremos somar a essas coisas é a interactividade com os telespectadores e penso que aí é que está a chave para o sucesso do canal.

M&P: Qual o investimento para todo este projecto e para quando prevê o seu retorno?

CM: Temos um investimento inicial de 400 mil euros, o investimento para os primeiros dois anos rondará o milhão de euros. O nosso plano prevê o break-even a três anos e o retorno a cinco.

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