Impresa
Marcha rumo ao digital Multimédia, multiplataforma e digital são as palavras de ordem na Impresa e têm empurrado as recentes aquisições no grupo de Pinto Balsemão 8.679 milhões de euros […]
Ana Marcela
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Marcha rumo ao digital
Multimédia, multiplataforma e digital são as palavras de ordem na Impresa e têm empurrado as recentes aquisições no grupo de Pinto Balsemão
8.679 milhões de euros foram os resultados líquidos do grupo Impresa registados no primeiro semestre deste ano. Valor que representa um aumento de 23,6% face a igual período do ano passado. Ainda segundo o relatório e contas, as receitas consolidadas do grupo fixaram-se nos seis primeiros meses deste ano nos 138,1 milhões de euros, o que indica uma subida de 9% face ao primeiro semestre de 2006. Resultados que talvez expliquem o ponderado optimismo do patrão da Impresa face ao actual momento do sector de media. “Positivo” é a forma como Pinto Balsemão o classifica. “A actividade dos media está directamente relacionada com o crescimento da economia. Deste modo, com a recuperação da economia portuguesa, o sector começa a ter uma renovada capacidade de crescimento. Por outro lado, os grupos de media, que se têm reestruturado nos últimos anos, estão agora mais bem preparados para aproveitar esta nova vaga de crescimento”, justifica.
Rumo ao digital
Reestruturação parece igualmente ser a palavra de ordem pelos lados de São Francisco de Sales. Outra é multimédia. “A Impresa vai deixar de ser um grupo de media para ser um grupo de multimédia” afirmou Pinto Balsemão, aquando da apresentação pública dos produtos digitais do grupo em Julho. A aposta na migração para o digital foi a mensagem do grupo, considerando o presidente da Impresa que o multimédia poderá vir a representar em apenas dois anos um décimo das receitas totais. O declínio do papel e o facto de, em mercados mais maduros que o português, as receitas geradas pelo multimédia e a publicidade online estarem já a colher fatias significativas de investimento dos anunciantes justificam a marcha da Impresa rumo ao digital. Uma estratégia que decorre em várias frentes de combate. A primeira é a transposição de títulos para o universo online. Além do Expresso, recentemente objecto de uma reformulação, publicações como a Turbo, AutoSport ou Blitz têm apostado na sua passagem para a world wide web. Uma voragem que atingiu igualmente a Caras e a Exame que preparam as suas edições online, estando na forja um portal dirigido ao target feminino reunindo os conteúdos do grupo para este target.
O investimento da Impresa no digital passa igualmente por uma política de aquisições que tem assumido uma cadência regular. A compra da AEIOU SA (detentora do portal AEIOU), da New Media, da InfoPortugal e, recentemente, do negócio NetJovens são disso indiciadores. O grupo tem ainda apostado na diversificação dos seus serviços, sendo a criação do Digital Guest Service (que fornece conteúdos a unidades hoteleiras e tem a internacionalização nos seus planos) disso um exemplo. A disponibilização dos conteúdos em plataformas diversificadas é outro dos vértices da estratégia de crescimento do grupo. Na SIC essa linha de pensamento já fez escola (os projectos SIC Online, SIC Mobile e SIC Multimédia são disso sintomáticos), mas esta chegou igualmente aos projectos em papel. A rede MyGames, projecto que reúne uma revista, a Hype, um portal e um programa de televisão transmitido na SIC Radical, é uma espécie de lança no território multiplataforma no que se refere às revistas. O projecto surge inserido na Impresa Digital. Além da rede MyGames, a unidade acolhe o projecto MyVideos, o AEIOU, o Digital Guest Services e detém uma participação na Impresa Turismo e Lazer, entidade constituída este ano e que prepara o lançamento de um portal de turismo e lazer, reunindo conteúdos georeferenciados da InfoPortugal e do Expresso.
Negócios tradicionais
No negócio do papel, o grupo tem conseguido manter a liderança em segmentos como o dos jornais semanários onde o Expresso, um ano depois do surgimento de um novo player, regista uma média de circulação paga acima dos 100 mil exemplares. No entanto, como se pode ler no relatório e contas do grupo, na área Jornais “no segundo trimestre as receitas de circulação desceram 3,8%, apesar da subida generalizada em todos os títulos, que não compensou o efeito de redução do preço de capa do Expresso, efectuada em Setembro de 2006.” Apesar da quebra, as receitas totais da área Jornais subiram 3,5% nos primeiros seis meses do ano, fixando-se nos 28,1 milhões de euros, o que representou uma variação positiva face a período homólogo.
Para a área de revistas as notícias não são tão positivas. De Janeiro a Junho deste ano, as receitas totais da área atingiram 18,5 milhões (representativas de 50% da facturação global da Edimpresa), o que significou uma descida de 5,7% em relação aos seis primeiros do ano passado. “No segundo trimestre, as receitas totais desceram 9,6%, visto que o crescimento das receitas de publicidade não compensou as descidas na venda de publicações e nas outras receitas.” A quebra percentual mais significativa nas contas da Edimpresa foi mesmo no item Outros, na ordem dos 44,5% no segundo trimestre, derivado das “menores vendas relacionadas com os produtos associados.”
É igualmente na Edimpresa, negócio detido em partes iguais pela Impresa e pela Edipresse, que as dúvidas teimam em persistir. Apesar de constantemente negadas pelos principais responsáveis, no mercado é dada como certa a existência de negociações entre as partes para a venda da participação. A saída de Miguel Costa Gomes, director-geral da Edimpresa, foi entendida, como a corporização desse ruído de fundo. Um dado considerado pelo novo responsável máximo da Edimpresa, Mário Lopes, em entrevista ao M&P, como “fumo de um incêndio que não existe.” Entenda-se, o fim do “casamento' entre a Impresa e a Edipresse, algo que afiança o responsável não está em cima da mesa.
O negócio da televisão, por seu turno, parece viver momentos agridoces. Se o relatório e contas dá conta de um aumento das receitas da SIC de 13,1% no primeiro semestre deste ano, o mesmo não se aplica às audiências onde a estação não tem conseguido aproximar-se da líder TVI. Consequência disso é que o crescimento do canal de Carnaxide registado no primeiro semestre foi muito à conta das receitas não publicitárias que subiram 41,8%, representando já 35,3% da facturação total da SIC.
A estratégia de Francisco Penim parece ser bater a TVI no seu próprio jogo: a ficção nacional. Com resultados díspares pois, se a primeira série de Floribella se transformou num fenómeno mediático, a aposta sucessora, Chiquititas, não está a conseguir o mesmo impacto em termos de audiências. Esta última novela é também a primeira sob a alçada da Terra do Nunca, produtora televisiva criada por via de um acordo entre a SIC e a Teresa Guilherme Produções, estando nos planos do braço de ficção da estação colocar em grelha já no próximo ano projectos televisivos originais.
No campo audiovisual o próximo desafio chama-se TDT. A possibilidade do surgimento de um novo canal no pacote free-to-air da televisão digital terrestre é algo que a Impresa, tal como a Media Capital, não encara de forma positiva. Quanto ao futuro, Pinto Balsemão mostra-se optimista. “O maior desafio do grupo Impresa é como aproveitar as oportunidades que a internet vai permitir explorar. É um desafio muito aliciante. E este desafio é ainda maior, para um grupo multimeios como a Impresa”.